Alguns tipos de tratamento médico podem ser tão severos e provocar tanta dor que a única alternativa para trazer alívio ao paciente é administrar opioides.
Por outro lado, os opiáceos, como também são conhecidos, são medicamentos de uso controlado e, por isso, só podem ser usados sob orientação médica.
Aqui, vale destacar o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz.
De acordo com o estudo, realizado em 2017, cerca de 4 milhões de brasileiros já fizeram uso de opiáceos pelo menos uma vez na vida, o que corresponde a 2,9% da população.
A questão que se levanta, no caso, não é tanto acerca da grande quantidade de pessoas, mas quantas delas usaram opioides sem acompanhamento de um especialista.
Quem conhece os riscos em consumir remédios por conta própria provavelmente não usaria opioides sem o aval de um médico.
Então, continue lendo este artigo e entenda quando esse medicamento deve ser usado e os perigos da automedicação para controle da dor.
O que são opioides?
Opioides são substâncias produzidas a partir da papoula e o termo também serve para referenciar as variações semissintéticas e sintéticas.
Todos eles derivam do ópio, um tipo de mistura de alcaloides, compostos elementares extraídos de certas plantas.
Embora sejam usados como analgésicos, são também consumidos de forma ilegal por seus efeitos psicoativos.
Quais são os opioides?
Entre os opioides mais comumente prescritos para tratar da dor, destacam-se:
- Hidrocodona
- Fentanil
- Oximorfona
- Tapentadol
- Hidromorfona
- Tramadol
- Morfina
- Metadona
- Oxicodona.
No entanto, existem também os chamados opioides endógenos, produzidos pelo próprio organismo e que atuam como neurotransmissores.
Entre eles, estão a beta-endorfina, encefalina, dinorfina, nociceptina e orfanina.
Eles se classificam, ainda, quanto ao seu princípio de ação, podendo ser agonistas, agonistas parciais ou antagonistas.
Basicamente, os dois primeiros são utilizados por suas propriedades sedativas, enquanto os antagonistas servem para neutralizar sua ação.
Como funcionam os opioides?
Na medicina, os opioides são, em geral, indicados para alívio da dor em tratamentos conservadores ou como anestésicos em procedimentos cirúrgicos.
Alguns deles são também prescritos para reduzir os sintomas da dependência química de psicoativos, como é o caso da metadona, substância similar à morfina.
Seja qual for o composto, o mecanismo de ação é sempre o mesmo: todos agem no nível celular por meio dos receptores opioides presentes no sistema nervoso central (SNC).
A propósito, cabe esclarecer brevemente a diferença entre opioides e opiáceos.
Os primeiros se caracterizam por serem compostos naturais, sintéticos ou semissintéticos, que se ligam aos receptores opioides, com propriedades idênticas às dos opioides endógenos.
Por sua vez, opiáceos são todo e qualquer opioide natural que seja derivado do ópio, como é o caso da morfina, por exemplo.
Na classe dos opioides agonistas, temos a diamorfina, o fentanil e a petidina, que se caracterizam por alta atividade no nível celular.
Já os agonistas parciais, como a pentazocina e a buprenorfina, ligam-se aos receptores opioides com efeitos menos intensos, se comparados aos agonistas.
Por sua vez, os opioides antagonistas, embora tenham afinidade com os receptores opioides, não apresentam atividade intrínseca. É o caso do naltrexone e o naloxone.
O que são analgésicos opioides e não opioides?
Por se ligarem ao SNC, os opioides promovem alívio ou redução significativa da dor.
Contudo, eles não são os únicos aliados da medicina quando o objetivo é induzir a um efeito antiálgico.
Por isso, os analgésicos são classificados como opioides e não opioides, dependendo da natureza da sua composição.
Os opioides, como vimos, são aqueles que, uma vez administrados, ligam-se aos receptores que temos em nosso sistema nervoso central e, a partir daí, com outras células do corpo.
Já os não opioides, também chamados de não narcóticos, são mais indicados quando a dor a ser tratada é leve ou moderada.
Essa classe de medicamentos é conhecida como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), na qual estão o ibuprofeno, o acetaminofeno e o ácido acetilsalicílico.
Classificação dos opioides
Como vimos, os opioides em geral podem ser classificados de quatro maneiras distintas, além dos mistos.
Para facilitar, vamos ver em forma de tabela como é feita essa classificação.
Endógenos | Agonistas | Agonistas parciais | Antagonistas | Mistos (agonista e antagonista) |
Dinorfina | Fentanil | Buprenorfina | Naloxona | Nalorfina |
Beta-endorfina | Morfina | Pentazocina | Naltrexone | Pentazocina |
Encefalina | Petidina | Nalorfina | Nalbufina | |
Nociceptina | Diamorfina | Levalorfan |
Há ainda pesquisadores e estudiosos dos opioides que os classificam como sintéticos, semissintéticos e naturais.
No primeiro grupo, temos substâncias como petidina, fentanil, alfentanil e sufentanil.
Entre os semissintéticos, os mais conhecidos são a diamorfina, diidrocodeína e buprenorfina.
Já no grupo dos opioides naturais estão a morfina, codeína, papaverina e a tebaína.
Opioides: efeitos no corpo humano
Opiáceos são fármacos de uso controlado, o que significa que seus efeitos terapêuticos estão condicionados a certos fatores.
Logo, se forem utilizados sem acompanhamento médico, podem produzir reações narcotizantes que levam à dependência em um período de tempo relativamente curto.
Entre os efeitos esperados dos opioides, temos:
- Sedativo
- Analgésico
- Euforia
- Disforia (inquietação)
- Alucinações.
Sobre os efeitos sedativo e analgésico, talvez o opioide mais conhecido seja a morfina, que se liga ao SNC pelos receptores MOP.
Essa substância é bastante utilizada, por exemplo, em pacientes com câncer para alívio das dores intensas causadas pela quimioterapia.
Também é largamente usada para minimizar o desconforto no pós-operatório ou aliviar dores excruciantes, como as geradas por queimaduras.
Efeitos adversos dos opioides
Um aspecto importante em relação ao efeito dos opioides é que, com o tempo, o organismo tende a desenvolver tolerância e dependência a esses medicamentos.
No primeiro caso, acontece a redução na eficácia quando uma mesma dose é administrada repetidas vezes.
Entre as causas desse efeito, acredita-se estar a diminuição na produção de opioides endógenos.
Paralelamente à tolerância, eles também podem levar à dependência, condição na qual a falta do fármaco leva a pessoa a apresentar agitação, salivação excessiva, irritabilidade, cãibras, diarréia, sudorese e vômitos.
Há, ainda, o uso recreativo (e perigoso) de opioides como a diamorfina, mais conhecida como heroína.
Estima-se que, nos Estados Unidos, o uso indiscriminado de opioides, com destaque para a heroína, tenha levado à morte mais de 63 mil pessoas em 2016.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, por ano, aproximadamente 70 mil pessoas morrem por uso indevido de opiáceos.
Números que refletem um outro grave problema de saúde em nível mundial: a automedicação, responsável, segundo a OMS, por 76% das mortes por uso de drogas.
Abuso dos opioides: como acontece?
Não é de hoje que os opiáceos são utilizados de forma recreativa em virtude do efeito psicoativo que exercem.
Esse uso pode ser desencadeado até pela administração controlada, que é capaz de levar um paciente a aumentar a dosagem por conta própria, induzindo, assim, à dependência.
Outro modo de abuso de opioides é pela compra dessas substâncias no mercado ilegal de drogas, no qual os mais comercializados são a heroina e o fentanil.
Esse último, inclusive, é considerado um dos mais perigosos, já que seu efeito sedativo é 100 vezes maior do que o da morfina.
A ONU alerta, inclusive, que o risco de overdose por essa substância seja duas vezes mais alto do que o proporcionado pela heroína.
Como tratamento para a dependência química, em geral, são prescritos terapia de grupo e medicação com opioides antagonistas, como a metadona.
Sintomas do abuso de opioide?
O abuso de opioides vem sempre acompanhado de certos sintomas, ainda que, quando tomados isoladamente, nem todos indiquem essa condição.
Geralmente, a intoxicação por essas substâncias se manifesta por estupor, miose (constrição da pupila) e apneia.
Outro sintoma que as pessoas intoxicadas apresentam é a depressão respiratória, que pode acometer indivíduos com intolerância a certos opiáceos.
Com a respiração em ritmo reduzido, também diminui a frequência cardíaca, que atinge índices muito abaixo do considerado como normal.
Em casos de overdose, o abuso de opioides pode levar a complicações mais severas, como inchaço dos pulmões, hipoxemia (baixa concentração de oxigênio no sangue) e insuficiência renal.
Como acontece o diagnóstico do abuso de opioides?
Uma pessoa que passa a utilizar opioides de forma recreativa pode desenvolver dependência química rapidamente.
Essa condição, cujo código na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) é F11.2, configura-se quando o usuário passa a apresentar certos padrões de comportamento e sinais físicos, entre os quais estão:
- Síndrome de abstinência, quando se usa um opioide prescrito ou não para aliviar ou evitar os sintomas da sua falta
- Tolerância, que é a necessidade de quantidades crescentes da substância para se chegar à reação desejada, com perdas progressivas desses efeitos com o tempo
- Há um desejo de parar de usar, mas ele sempre esbarra em esforços infrutíferos de controlar o consumo ou de interrompê-lo
- O indivíduo continua a consumir, ainda que saiba dos problemas físicos e psíquicos em função do uso descontrolado de opioides, como constipação dolorosa, perda de peso, tonturas, entre outros
- A rotina da pessoa passa a ser centrada em atividades que levem a obter opioides, como consultas médicas ou mesmo viagens
- Abandono de trabalho, atividades sociais e isolamento em virtude do abuso de opiáceos.
Contudo, o diagnóstico de dependência deve ser feito exclusivamente por um médico, conforme os protocolos estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico de Saúde Mental (DSM-5).
Tratamentos para abuso dos opioides com CBD
Embora os opioides tenham seu valor enquanto medicamento, é indiscutível que eles trazem riscos ao serem administrados por períodos mais longos.
Vimos ao longo deste conteúdo que o número de pessoas que desenvolvem dependência ou têm problemas por usá-los recreativamente é bastante elevado.
Trata-se, portanto, de um sério problema de saúde pública em escala mundial.
Por esses e outros motivos, a medicina está cada vez mais voltando suas atenções para o canabidiol (CBD) como alternativa à prescrição de opiáceos.
Felizmente, já há evidências de que esse canabinoide é seguro e efetivo para tratar da dor severa tal como os opioides.
Uma delas é a pesquisa publicada pelo National Center of Biotechnology Information (NCBI) que aponta para os benefícios do canabidiol.
Entre eles, foi observado que o CBD ajuda a melhorar, além das dores crônicas, a qualidade do sono em pacientes usuários de opioides.
CBD: uma alternativa ao uso dos opioides?
Tendo em vista os potenciais riscos ao administrar opioides (mesmo de forma controlada), o CBD surge como uma esperança para redução da dor sem expor pacientes a efeitos adversos.
A respeito dessa possível substituição, o pesquisador Ethan Russo, autor de um outro estudo também publicado pelo NCBI, é enfático:
“Dados seus efeitos multimodais sobre várias vias nociceptivas, seus benefícios colaterais adjuvantes, os perfis de eficácia e segurança até o momento de preparações específicas em ensaios clínicos avançados e os mecanismos complementares e vantagens de sua combinação com terapia opioide, o futuro para a terapêutica canabinoide é muito brilhante.”
Quais doenças podem ser tratadas com o CBD?
Outra prova de que o canabidiol é um poderoso aliado da medicina é a aplicação nos mais variados tratamentos.
Ou seja, além de ser eficaz para reduzir a dor crônica ou moderada, ele também atua para restabelecer funções perdidas por causa de doenças degenerativas ou congênitas.
Conheça, a seguir, algumas dessas condições e como o CBD age para minimizar seus sintomas.
Ansiedade
Um dos distúrbios de comportamento mais recorrentes entre os brasileiros é a ansiedade.
Ela atinge cerca de 18 milhões de pessoas em todo o país, o que nos coloca na incômoda posição de líder mundial em casos registrados dessa doença, segundo a OMS.
Entre os diversos estudos que sugerem o canabidiol como uma opção segura, destaca-se uma pesquisa que traz evidências clínicas e pré-clínicas.
Seus autores concluíram:
“Em geral, as evidências pré-clínicas e clínicas existentes apóiam um possível papel do CBD como um novo tratamento para transtornos de ansiedade. Os resultados revisados neste estudo demonstram o potencial do CBD para produzir efeitos semelhantes aos ansiolíticos em modelos pré-clínicos e o potencial do CBD para induzir efeitos ansiolíticos agudos quando administrado como uma dose única em voluntários saudáveis e indivíduos com fobia social.”
Câncer
Merece destaque o papel do canabidiol no tratamento e nos cuidados paliativos de pacientes com câncer.
Nesse aspecto, ele vem sendo empregado com sucesso para evitar náuseas e vômitos decorrentes da pesada medicação administrada na quimioterapia.
Um bom exemplo disso é a emocionante história do pequeno Alexandre, diagnosticado com um câncer letal nos ossos.
Para diminuir as dores intensas causadas pelo tratamento, a mãe desse corajoso menino recorreu ao CBD na tentativa de desmamá-lo de opioides e outros fármacos.
Epilepsia
Por suas propriedades neuroprotetoras, o CBD também se mostra eficaz para controlar as crises e convulsões características da epilepsia.
Casos de sucesso não faltam para ilustrar o valor do canabidiol, como nos mostra a impressionante recuperação do pequeno Pedro.
Por sua vez, a ciência está muito perto de encontrar respostas definitivas sobre a eficácia do CBD no tratamento dessa doença.
É o que conclui o pesquisador Emilio Perucca em seu estudo Cannabinoids in the Treatment of Epilepsy: Hard Evidence at Last.
Sua conclusão não poderia ser mais eloquente:
“Estes são tempos emocionantes para a pesquisa em canabinoides. Depois de quase quatro milênios de uso médico documentado no tratamento de distúrbios convulsivos, estamos muito perto de obter evidências conclusivas de sua eficácia em algumas síndromes de epilepsia graves. A era da prescrição baseada em evidências de um produto de Cannabis está à nossa vista.”
Doença de Alzheimer
Os relatos de recuperações “milagrosas” de doentes de Alzheimer com CBD multiplicam-se a cada dia, reforçando a boa reputação da Cannabis medicinal.
Aqui no Portal Cannabis & Saúde, contamos um desses casos, o da dona Therezinha Camargo, que voltou a andar graças ao tratamento com canabidiol.
Outro relato de recuperação emocionante é o do seu Ivo Suzin, que teve controlados os ataques de fúria somente depois de tomar o extrato de CBD produzido pelo seu filho.
Depressão
Pesquisas também já demonstraram que o CBD tem efeitos benéficos para quem sofre de depressão, condição que afeta cerca de 12 milhões de brasileiros, segundo a OMS.
A respeito dessa doença, um estudo feito por um grupo de pesquisadores brasileiros publicado na revista da NCBI concluiu:
“Estudos envolvendo modelos animais, realizando uma variedade de experimentos(…) sugerem que o CBD exibiu um efeito anti-ansiedade e antidepressivo (…).”
A lista de doenças tratadas com CBD inclui ainda:
- Artrite reumatoide
- Artrose
- Autismo
- Dependência química
- Dermatites, acne e psoríase
- Diabetes
- Doença de Parkinson
- Doenças gastrointestinais
- Dor neuropática
- Dores de cabeça
- Endometriose
- Enxaqueca
- Esclerose múltipla
- Fibromialgia
- Glaucoma
- Insônia
- HIV
- Lesões musculares
- Obesidade
- Osteoporose
- Paralisia cerebral
- Síndrome de Tourette
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
- Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)
- Doenças veterinárias.
Óleo de CBD: benefícios
Tomando como referências os estudos e os casos reais destacados, observamos que o canabidiol apresenta uma ampla gama de benefícios à saúde.
Como no Brasil a Anvisa autoriza apenas o uso de fármacos à base de canabinoides via oral, o óleo de CBD acaba sendo a alternativa mais comum.
Vale ressaltar que os efeitos terapêuticos variam em função das características do paciente, da dose e do tipo de óleo, que pode ser:
- CBD isolado: no qual só se utiliza o canabidiol sem nenhuma outra substância
- Full spectrum: produzido com todos os canabinoides, além dos terpenos encontrados na Cannabis
- Broad spectrum: misto de óleo de CBD isolado com o de espectro total.
Seja qual for o óleo, é consenso que o canabidiol age no organismo por meio do sistema endocanabinoide.
Por isso, ele é um agente natural, podendo exercer ação calmante, relaxante, neuroprotetora e, no caso dos pacientes com dores agudas, como um poderoso analgésico.
Conclusão
Em virtude das suas propriedades, o CBD é um importante aliado para quem depende de opioides para se ver livre de dores insuportáveis sem medicação.
Nesse caso, ele apresenta a vantagem de não provocar dependência nem tolerância, sendo, via de regra, bem suportado e com pouquíssimas contraindicações e efeitos adversos.
No entanto, a ciência continua evoluindo e a todo instante aparecem novos estudos para confirmar ou sugerir a eficácia do CBD como recurso terapêutico.
Para ficar por dentro desses avanços, acompanhe as publicações no Portal Cannabis & Saúde, a sua referência em conteúdo relevante sobre Cannabis medicinal.