A dose do canabidiol (CBD) prescrita pelo médico faz toda a diferença no tratamento de doenças diversas.
A preocupação com a dosagem, aliás, é inerente a toda e qualquer abordagem terapêutica com medicamentos, já que frequência e dosagem estão diretamente relacionadas com a sua eficácia.
Por outro lado, é preciso também considerar a própria dinâmica do sistema endocanabinoide, que é onde o CBD atua.
Afinal, cada indivíduo reage de uma maneira à medicação, o que influencia na quantidade de remédio que deve ser administrada.
Neste conteúdo, vamos conhecer melhor as diferentes formas de se dosar o canabidiol antes e durante um tratamento com base na literatura existente sobre o assunto.
Acompanhe com atenção até o final e descubra como explorar os benefícios do CBD com ainda mais eficácia.
O que é o canabidiol ou CBD?
Não é de hoje que os canabinoides extraídos das plantas do gênero Cannabis, como é o caso do canabidiol, são usados como recurso terapêutico.
Acredita-se que há pelo menos 10 mil anos o homem a utilize com os mais variados propósitos medicinais, antes mesmo de a Medicina existir como conhecemos hoje.
É dessa experiência milenar que aprendemos a usar o CBD, um dos mais de cem canabinoides já catalogados pela ciência.
3 benefícios do canabidiol para tratamento de doenças
A ação do CBD acontece quando ele é absorvido pelo organismo e, a partir daí, interage com outras células via sistema endocanabinoide.
Sabemos que esse sistema tem como característica a capacidade de se relacionar com boa parte dos tecidos do corpo humano.
Vem dessa plasticidade o amplo espectro de doenças que podem ser tratadas com os compostos da Cannabis.
Nesse contexto e sem pretender esgotar o assunto, destacamos três dos muitos benefícios já conhecidos quando se utiliza o CBD como alternativa de tratamento.
1. Relaxante muscular
De forma empírica, o homem vem usando o canabidiol como relaxante há milhares de anos.
Por isso, no estudo Evidence for the efficacy and effectiveness of THC-CBD oromucosal spray in symptom management of patients with spasticity due to multiple sclerosis, os autores investigaram as características do CBD como relaxante muscular.
Eles descobriram, entre outras propriedades, que o canabidiol:
“(…) tem pouca atividade no receptor CB1, mas maior atividade no receptor CB2. (…). Estudos também mostraram que ele pode ter efeitos anti-inflamatórios, neuroprotetores, anticonvulsivantes, relaxantes musculares, antioxidantes e antipsicotrópicos em diferentes doses.”
2. Analgésico
A ciência também já sabe que o CBD pode ser bastante eficaz como um analgésico, ou seja, agindo para reduzir ou eliminar a dor.
Um dos estudos que sugerem essa eficácia é o The Analgesic Potential of Cannabinoids, no qual os autores fazem uma ampla investigação sobre a ação dessas substâncias no combate a dores de diversos tipos.
Observou-se que o medicamento Sativex, usado no tratamento da espasticidade, foi eficaz para reduzir a dor e até como recurso para tratar de distúrbios do sono.
3. Neuroprotetor
Além das dores, dos problemas musculares e articulares, os canabinoides são também poderosos neuroprotetores.
Essa propriedade foi investigada a fundo na pesquisa intitulada Cannabidiol for neurodegenerative disorders: important new clinical applications for this phytocannabinoid?
Os autores descobriram, por exemplo, que:
“O CBD tem a capacidade de restaurar o equilíbrio entre eventos oxidativos e mecanismos antioxidantes endógenos, que são interrompidos em doenças neurodegenerativas, aumentando assim a sobrevivência neuronal.”
O que é o sistema endocanabinoide?
Parece incrível que apenas um tipo de substância tenha tantas propriedades curativas, não é?
Na verdade, essa ação deve ser creditada não só aos canabinoides em si, mas a uma das descobertas mais importantes da ciência contemporânea: a do sistema endocanabinoide, por Raphael Mechoulam.
De forma resumida, esse sistema é composto por um “exército” de receptores ligados a diversos tecidos e células do corpo, os endocanabinoides.
Os dois principais receptores são a anandamida e o 2-AG (araquidonilglicerol).
Por sua vez, eles atuam em diversos processos orgânicos, como regulação do apetite, redução de inflamações, processamento de memória e muitos outros.
Como o canabidiol age no organismo?
Os endocanabinoides e os canabinoides, em geral, precisam se ligar a receptores celulares para cumprir o seu papel.
Dois dos mais conhecidos deles são o CB1 e o CB2, encontrados principalmente nas células do sistema nervoso, do cérebro, do pâncreas e de outros órgãos e tecidos.
Basicamente, o que eles fazem é transmitir mensagens dos endocanabinoides de uma célula para outra, e de células exógenas para as endógenas.
É nesse processo de comunicação que o canabidiol age, ligando-se às células receptivas e promovendo os benefícios esperados.
Quais são os tipos de remédios produzidos a partir do canabidiol?

Embora a Anvisa só autorize o uso de medicamentos à base de CBD via oral ou por inalação e à base de THC desde que em proporção bem pequena, existem diversos formatos utilizados no tratamento de doenças ao redor do mundo.
A propósito, a variedade de maneiras com que se pode administrar o canabidiol vem ao encontro da sua própria plasticidade celular.
Ou seja, tal como ele se liga a diferentes células do corpo, ele também pode ser utilizado de modos distintos.
Conheça algumas delas a seguir.
Óleo de canabidiol
A forma mais comum de ingerir o CBD é como óleo.
Nesse caso, é preciso entender que os óleos de classificam conforme sua composição, o que, por sua vez, influi na maneira como ele age no organismo.
Temos, então, três tipos:
- CBD isolado: contém apenas o CBD – Canabidiol.
- Óleo full spectrum: contém todos os compostos extraídos da Cannabis, tais como óleos essenciais, terpenos e outros canabinoides
- Óleo broad spectrum: composto em que o CBD isolado se mistura ao óleo full spectrum.
Cápsulas de canabidiol
Tratamentos conservadores à base de remédios, via de regra, são prescritos na forma de comprimidos, cápsulas ou drágeas para ingestão oral.
Essa é uma das tantas possibilidades de se administrar medicamentos feitos com CBD.
Elas podem ser produzidas com extrato de canabidiol, com o componente isolado ou com outros elementos que não estão presentes na Cannabis e são adicionados sinteticamente.
Produtos de uso tópico
Entre os tantos endocanabinoides naturais em nosso organismo, os cutâneos ajudam a restabelecer as funções da pele, bem como o seu aspecto saudável.
Tendo em vista a existência desses receptores, são produzidos pela indústria farmacêutica medicamentos contendo CBD na forma de pomadas, cremes e unguentos.
Aplicados diretamente sobre a pele, eles têm ação reparadora ou cosmética, podendo ser utilizados também para tratar de pequenas infecções.
Vaporizadores
Por mais que a administração de CBD no formato de óleos e de cápsulas seja a mais difundida, nenhuma outra é tão eficaz como pela via respiratória, isto é, por inalação.
Essa eficácia tem a ver com a biodisponibilidade maior ao inalar o canabidiol por esse meio.
Assim, ele age mais rápido, uma vez que é absorvido quase instantaneamente pela corrente sanguínea.
Comestíveis
O uso do CBD na fabricação de alimentos é interessante.
E a variedade de produtos é grande: balas, chocolates, brownies e outras guloseimas são algumas das muitas opções que o mercado oferece.
Outro aspecto a ser destacado é que, na fabricação desses alimentos, em geral fica de fora o tetrahidrocanabinol (THC), o canabinoide responsável pelos efeitos psicoativos associados ao uso recreativo e ilegal da Cannabis.
Produtos de beleza
Em virtude das suas propriedades curativas e reparadoras, o CBD é usado também como composto ativo na fabricação de uma grande variedade de cosméticos.
Cremes hidratantes, máscaras, óleos, xampus, sabonetes e vários outros produtos ajudam a embelezar, relaxar a pele e os cabelos e até a combater a acne.
Quais fatores interferem na dose do CBD?
Considerando tantas propriedades do canabidiol, resta saber o que um médico leva em conta na hora de estipular uma dose.
Nesse aspecto, vale frisar quatro fatores essenciais:
- A potência do medicamento
- O peso do paciente
- O efeito esperado
- A via de administração.
Como não há uma dosagem mínima tida como padrão, em geral, médicos prescritores começam com quantidades baixas, que vão aumentando dependendo da resposta do paciente.
É bom destacar que, em se tratando do CBD, deve-se evitar a automedicação, sempre perigosa e potencialmente causadora de outros males.
Guia de canabidiol dose: como fazer corretamente?

Antes de mais nada, é importante frisar que as indicações a seguir têm caráter meramente informativo e colocá-las em prática não garante nenhum efeito terapêutico.
Seja qual for a condição de saúde a ser tratada, a dosagem do medicamento é personalizada.
Significa dizer que o médico vai analisar a situação do paciente, recomendar uma determinada dose de CBD e acompanhar os efeitos do óleo.
Em linhas gerais, inicia com poucas gotas do óleo, aumentando gradativamente.
Como exemplo, podemos citar a recomendação da FDA (Food and Drug Administration), órgão americano responsável pelo controle e aprovação de alimentos e medicamentos.
Segundo esta deliberação, específica para um fármaco com canabidiol empregado no tratamento da epilepsia, o tratamento começa com uma primeira dose de 5mg, que é considerada segura.
Caso o efeito esperado não se verifique, deve-se aumentá-la para 10mg, mantendo a quantidade por uma semana.
Então, se essa dosagem deixar de fazer efeito ou não apresentar os resultados esperados, aumenta-se para 15mg na terceira semana, chegando à porção máxima de 20mg na quarta semana, se necessário.
Dosagem de CBD de acordo com o tratamento de doenças específicas
A sugestão do tópico anterior, como você viu, não deve ser seguida sem que um médico aprove.
Isso porque, além dos riscos da automedicação, cada doença ou condição pede uma dosagem específica.
Portanto, um paciente em estado avançado do mal de Alzheimer, certamente, vai demandar uma dose de canabidiol maior do que um que sofra de ansiedade moderada.
Vamos ver, então, algumas possibilidades, considerando as doses indicadas em certas doenças tratáveis com CBD em estudos acadêmicos.
Ansiedade
A ansiedade é um dos distúrbios de comportamento mais comuns entre os brasileiros – a própria Organização Mundial de Saúde nos classificou como o país mais ansioso do mundo.
Sendo assim, que dosagem seria indicada para tratar desse mal que aflige tantas pessoas no Brasil?
Uma sugestão vem do estudo Anxiolytic Effects of Repeated Cannabidiol Treatment in Teenagers With Social Anxiety Disorders.
Nele, um grupo de adolescentes foi tratado do Transtorno de Ansiedade Social (SAD) com doses diárias de 300mg de óleo de CBD.
Autismo
Já em relação ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), o estudo Oral Cannabidiol Use in Children With Autism Spectrum Disorder to Treat Related Symptoms and Comorbidities traz algumas sugestões.
Com um óleo a 30% de CBD, a dose diária recomendada foi de 16mg/kg, chegando, ao máximo, de 600mg.
Para o THC, a dose diária foi de 0,8mg/kg, com máximo de 40mg.
Câncer
Como auxiliar nos cuidados paliativos em pacientes com câncer, o CBD mostra-se eficaz para reduzir náuseas, vômitos e até a anorexia.
Sobre essa última condição, o estudo The Effects of Dosage-Controlled Cannabis Capsules on Cancer-Related Cachexia and Anorexia Syndrome in Advanced Cancer Patients: Pilot Study também é bastante revelador.
As conclusões do grupo de pesquisadores são animadoras:
“(…) este estudo preliminar demonstrou um aumento de peso ≥10% em 17,6% pacientes com doses de 5mg x 1 ou 5mg x 2 cápsulas ao dia, sem efeitos colaterais significativos. Os resultados justificam um estudo maior com cápsulas de Cannabis com dosagem controlada.”
Doença de Alzheimer
Já no estudo Effects of THC-Free CBD Oil on Agitation in Patients With Alzheimer’s Disease, o objetivo foi verificar a eficácia do óleo de CBD para reduzir a agitação em pacientes com Alzheimer.
Nele, as intervenções consistiram na administração oral de 6 semanas de óleo de CBD em cápsulas, começando com doses duplas diárias de 15mg com possibilidade de porções de até 45mg duas vezes por dia.
Doença de Parkinson
Em relação à doença de Parkinson, a pesquisa Effects of acute cannabidiol administration on anxiety and tremors induced by a Simulated Public Speaking Test in patients with Parkinson’s disease sugere a dose de 300mg diárias.
Os pesquisadores verificaram, ainda, que a dosagem mínima para ter os efeitos esperados era de 150mg, não devendo ultrapassar os 600mg por dia.
Epilepsia
Por sua vez, no tratamento da epilepsia, a dosagem vai variar de acordo com a origem da doença, como sugere o estudo Use of Cannabidiol in the Treatment of Epilepsy: Efficacy and Security in Clinical Trials.
Testes realizados com crianças revelaram, por exemplo, que a dose ideal para portadoras de Síndrome de Dravet fica entre 10mg a 20mg diários.
Já as diagnosticadas com epilepsia intratável receberam doses entre 20mg e 450mg por dia.
Quais dosagens são seguras?
Pelos números expostos nos tópicos anteriores, dá para se ter uma ideia de quais faixas são seguras, dependendo da doença tratada.
No geral, essa dosagem começa em 10mg, podendo atingir, no máximo, 600mg diárias, como verificado no estudo com pacientes de Parkinson.
Por outro lado, nenhum deles é conclusivo o bastante para dizer que as doses testadas são definitivas, até porque cada caso pede uma abordagem individualizada.
Assim sendo, fica novamente o alerta para se evitar a automedicação e só fazer ajustes na dosagem de medicamentos sob orientação exclusiva de um médico.
O canabidiol interfere no efeito de outros medicamentos?
Já é conhecido pela ciência o chamado efeito entourage, pelo qual a eficácia do CBD é maior quando ele é administrado com compostos contendo outros canabinoides e terpenos.
No entanto, há tratamentos nos quais ele é administrado com fármacos convencionais, podendo, assim, interferir na sua eficácia, consulte aqui.
Desse modo, mais uma vez ressaltamos a importância de só ingerir medicamentos sob prescrição médica, principalmente se eles forem de uso controlado.
Canabidiol dose: quais são os efeitos colaterais?

Por falar em uso de CBD com outros medicamentos, é bom destacar também os seus possíveis efeitos colaterais.
Embora mínimos, eles existem e, em geral, são percebidos quando o canabidiol é administrado com fármacos convencionais.
Outra maneira de administrar que potencializa tais reações é ingerir o CBD em sua forma isolada.
Portanto, o efeito entourage serve não só para aumentar os impactos positivos esperados como para minimizar eventuais ações adversas.
Estudos em canabidiol dose: quais são as pesquisas em dosagem de CBD?
Vimos nos tópicos anteriores alguns estudos nos quais são sugeridas dosagens de CBD em tratamentos específicos.
Vamos, então, recapitulá-los em forma de tabela. Confira!
Doença | Dosagem | Estudo |
Parkinson | 300mg diárias (podendo ser entre 150mg e 600mg) | Effects of acute cannabidiol administration on anxiety and tremors induced by a Simulated Public Speaking Test in patients with Parkinson’s disease |
Alzheimer | Entre 15mg e 45mg diários | Effects of THC-Free CBD Oil on Agitation in Patients With Alzheimer’s Disease |
Epilepsia | Entre 10mg e 20mg, dependendo do tipo de epilepsia | Use of Cannabidiol in the Treatment of Epilepsy: Efficacy and Security in Clinical Trials |
Câncer | 5mg uma ou duas vezes ao dia | The Effects of Dosage-Controlled Cannabis Capsules on Cancer-Related Cachexia and Anorexia Syndrome in Advanced Cancer Patients: Pilot Study |
Autismo | 0,8mg a 600mg, dependendo do peso | Oral Cannabidiol Use in Children With Autism Spectrum Disorder to Treat Related Symptoms and Comorbidities |
Ansiedade | 300mg diários | Anxiolytic Effects of Repeated Cannabidiol Treatment in Teenagers With Social Anxiety Disorders |
Canabidiol comprar: formas de conseguir o CBD
A compra de fármacos à base de CBD, no Brasil, é regulamentada pela Anvisa.
Hoje, ela só autoriza a venda em farmácias de três empresas: sendo 3 apresentações do laboratório paranaense Prati-Donaduzzi, o Mevatyl da 4Bio e 2 apresentações da Nunature.
Logo, qualquer outro remédio com qualidade farmacêutica só pode ser comprado via importação que, por sua vez, deve ser previamente autorizada pelo órgão de vigilância sanitária mediante solicitação.
Veja como funciona o processo em detalhes neste vídeo.
Clique e veja como importar produtos à base de Cannabis medicinal no Brasil.
Conclusão
A dose de canabidiol precisa ser administrada com bastante cuidado, já que disso depende o sucesso em um tratamento.
Afinal, apresentar poucos efeitos colaterais não é justificativa para abusos ou, ainda pior, para se arriscar na automedicação.
Para evitar esses riscos, informação é fundamental e, nesse sentido, o Portal Cannabis & Saúde é a sua fonte número 1 de conteúdo de qualidade sobre a Cannabis medicinal.
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