Você sabe como a Cannabis medicinal pode ajudar você e as pessoas que você gosta no enfrentamento de doenças, além de proporcionar mais qualidade de vida?
Se tem dúvidas a respeito, esta é uma excelente oportunidade de aprender tudo sobre o canabidiol (CBD), o tetrahidrocanabinol (THC) e os demais canabinoides, que possuem incrível potencial terapêutico.
O primeiro passo você está dando agora. Buscar informações sobre o tema, para entender o potencial da planta no tratamento de doenças diversas, já significa bastante.
Estigmas, tabus e preconceito impedem a disseminação dos tratamentos com a Cannabis medicinal, que poderiam estar melhorando a qualidade de vida de tantos pacientes.
Porém, isso tudo só tem uma origem: a falta de informação. E é por esse motivo que sua disposição de ler este conteúdo significa tanto.
Nos parágrafos seguintes, você vai conhecer a dimensão do potencial terapêutico da Cannabis e compreender por que é um tema digno de maior atenção.
Acompanhe todas as informações e dicas deste conteúdo até o final!
O que é a Cannabis medicinal?

Tendo em vista o preconceito que ainda persiste em relação à Cannabis, utiliza-se o termo “Cannabis medicinal”, para se referir ao uso da planta com fins terapêuticos.
Embora coerente, não deixa de ser uma expressão desnecessária, já que a Cannabis é, por excelência, uma das mais ricas fontes de substâncias curativas já conhecidas.
Infelizmente, ela não desfruta da mesma reputação de ervas como a camomila, o boldo e a carqueja, ainda que seja muito mais poderosa.
Isso sem contar que as plantas dessa família são cultivadas para uso medicinal há milhares de anos, desde que as primeiras mudas foram identificadas na região onde estão hoje a Mongólia e parte da China.
A propósito, o primeiro registro escrito sobre a Cannabis data de 1.500 a.C., encontrado na farmacopeia chinesa Rh-Ya, apesar de uma lenda, também chinesa, contar que, em 2.700 a.C., o imperador Shen Nung havia descoberto as propriedades medicinais da Cannabis, assim como de dois outros pilares da medicina chinesa: o ginseng e a efedrina.
Porém, coube a O’Shaughnessy, de quem falaremos mais adiante neste conteúdo, levá-la para a Europa, no século XIX, onde também passou a ser usada para fins medicinais.
Uma breve história sobre a Cannabis medicinal
A história da Cannabis medicinal é, na realidade, a história da Cannabis. Afinal, os mais antigos registros escritos sobre a planta já mencionavam sua utilidade terapêutica no tratamento de certos sintomas e condições.
Isso bem antes de a Medicina e a pesquisa científica se estabelecerem da forma que as conhecemos. O que não significa que o uso da Cannabis medicinal não tenha apoio científico, pelo contrário, como abordaremos mais adiante.
As plantas do gênero Cannabis (Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis) existem no planeta há milhares de anos. São nativas da Ásia e sua origem se deu na região que compreende hoje a China, Mongólia e sudeste da Sibéria.
Acredita-se que elas sejam utilizadas pelo ser humano há mais de 10 mil anos, e há cerca de 6 mil anos começaram a ser cultivadas – isto é, ter suas sementes plantadas deliberadamente, para gerar novos pés.
Como comentamos antes, na medicina tradicional chinesa, a Cannabis é usada há séculos. O já citado livro Rh-Ya, do século 16 a.C, mencionava a utilidade da planta para fins de cura.
Cannabis na medicina ocidental
Em meados do século 19, os estudos do médico irlandês William O’Shaughnessy, que investigou os remédios usados nas culturas orientais, contribuíram para divulgar o uso medicinal da Cannabis no Ocidente.
A falta de métodos adequados de padronização das variedades e extratos, porém, impediu a planta de pegar o embalo do avanço da ciência farmacêutica e se difundir como um remédio consolidado na medicina contemporânea.
Soma-se a isso a discriminação contra os grupos étnicos que tinham o costume de consumir a maconha recreativa, como os imigrantes e descendentes de mexicanos nos Estados Unidos. Além disso, posteriormente, a política americana de guerra contra as drogas fez com que o assunto virasse tabu.
Nos Estados Unidos, porém, a questão já avançou bastante, e o canabidiol, um componente da Cannabis, é muito utilizado em produtos diversos, de medicamentos a cosméticos.
Só se chegou a esse estágio graças ao químico bulgo-israelense Raphael Mechoulam, que, nos anos 1960, abriu o caminho para a ciência estudar o sistema endocanabinoide e os reais benefícios da Cannabis medicinal.
O que são canabinoides?
Canabinoides é o termo usado para se referir aos compostos químicos capazes de ativar os receptores canabinoides CB1 e CB2 no organismo.
Dentre os canabinoides, estão os fitocanabinoides, compostos encontrados na planta Cannabis, como: fitocanabinoides, endocanabinoides e canabinoides sintéticos
Os fitocanabinoides são capazes de imitar ou neutralizar os endocanabinoides encontrados no corpo humano. Isso quer dizer que, quando os canabinoides se ligam a um receptor, são desencadeados eventos que causam mudanças nas atividades das células, num processo chamado de transdução de sinal.
Os principais canabinoides
Atualmente, já foram identificados mais de 100 canabinoides diferentes, dentre mais de 500 compostos presentes nas folhas, flores e caule da Cannabis. Os mais conhecidos são os já citados: canabidiol (CBD), que tem propriedades anticonvulsivantes, ansiolíticas e antipsicóticas, e o tetrahidrocanabinol (THC), que é psicoativo e tem propriedades analgésicas e antieméticas.
Além deles, veja abaixo mais alguns dos principais canabinoides existentes:
- Canabinol (CBN): é um dos motivos para que a Cannabis seja eficaz para auxiliar no sono, além de uma pesquisa ter sugerido que pode estimular o crescimento ósseo, o que, se confirmado, poderá ser útil no tratamento da osteoporose, por exemplo;
- Tetrahidrocanabivarin (THCV): sua estrutura é semelhante a do THC, mas, ao invés de estimular o apetite, o inibe. Ele também é eficaz no tratamento do vício em nicotina e no tratamento da diabetes, além de ser anticonvulsivante, tornando-se útil no tratamento da epilepsia;
- Canabigerol (CBG): é analgésico e não psicoativo. Tem eficácia no tratamento da síndrome do intestino irritável e potencial para reduzir a pressão intraocular;
- Canabicromeno (CBC): é um canabinoide não psicoativo, com propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, antifúngicas e antidepressivas.
Sistema Endocanabinoide
O sistema endocanabinoide é uma rede de receptores celulares, que se encontram em todo o corpo humano. Ele é composto por receptores canabinoides (CB1, CB2) que, em sua maioria, ficam concentrados no cérebro e controlam a atividade dos outros neurotransmissores. Além disso, os receptores canabinoides regulam diferentes funções do corpo, tais como humor, apetite, sono, memória e resposta imune.
A principal função do sistema endocanabinoide é manter o organismo equilibrado, regulando as funções, de acordo com as necessidades do corpo naquele determinado momento, para deixá-lo em um estado conhecido como homeostase.
Esse sistema tem sido amplamente estudado, pois apresenta um grande potencial para a prevenção e tratamento de diversas doenças, como ansiedade, fibromialgia, condições dermatológicas, dentre outras.
Ademais, o sistema endocanabinoide também interage com o sistema nervoso, e isso explica os motivos pelos quais a Cannabis tem efeito sobre o humor e o comportamento humano, já que os canabinoides presentes na planta reagem com os receptores presentes no organismo.
Diferença entre Cannabis para uso medicinal e recreativo

A Cannabis medicinal e a Cannabis recreativa têm usos diferentes e, portanto, têm efeitos e composições também diversas.
A Cannabis para uso recreativo, mais comumente chamada de maconha, é uma droga ilegal, usada apenas para a diversão, sem foco em benefícios à saúde. Sendo assim, ela tem maior teor de THC, um canabinoide psicoativo, que pode causar efeitos como euforia, relaxamento e sonolência.
A erva destinada a esse tipo de uso normalmente advém do tráfico, já que é estritamente proibida no Brasil, e sua composição é desconhecida.
Já a Cannabis medicinal é um termo usado para se referir aos medicamentos à base de Cannabis, portanto, a situação muda bastante de figura, tendo em vista que a finalidade é unicamente buscar benefícios à saúde.
Esses medicamentos normalmente não contêm, ou contêm níveis baixos e controlados de THC, sendo, em sua maioria, mais concentrados em CBD, componente que não possui efeitos psicoativos.
Ainda que pouco difundido no país, é possível realizar o tratamento à base de cannabis, desde que haja indicação médica para a doença.
Outra diferença importante, é que a Cannabis medicinal tem sua origem regulamentada e sua composição conhecida e bem definida, já que é preciso um certificado para o plantio, o que traz maior segurança a quem irá consumi-la.
Propriedades da Cannabis usadas para fins medicinais
A Cannabis conta com diversas propriedades, já conhecidas, que podem ser usadas para fins medicinais. As principais delas são:
- Alívio de dores;
- Controle da ansiedade;
- Anticonvulsivante;
- Anti-inflamatório;
- Alívio da pressão intraocular;
- Controle dos sintomas do HIV, como perda de apetite e peso;
- Controle da espasticidade;
- Alívio dos sintomas causados pelo tratamento de câncer, como náuseas e vômitos decorrentes de quimioterapia;
- Alívio do stress;
- Melhora da qualidade do sono.
Cannabis medicinal no Brasil: um panorama geral
No Brasil, infelizmente, a questão ainda é muito polarizada, como se fosse simplesmente um conflito entre quem defende a legalização ou a proibição da maconha.
Só que, na realidade, a defesa da Cannabis medicinal visa a preservar a saúde e o bem-estar dos pacientes e não, tem uma relação direta com a legalização da maconha que, como disse anteriormente, seria a versão da Cannabis para uso recreativo.
Especialmente nos últimos anos, porém, alguns avanços importantes na legislação dão esperança de que esse cenário pode estar mudando. Do ponto de vista prático, no entanto, muitos pacientes que buscam o tratamento com a Cannabis medicinal no país enfrentam dificuldades. Na verdade, isso se dá por conta da burocracia, por não encontrarem um médico prescritor ou devido ao custo alto do tratamento.
História da Cannabis medicinal no Brasil
Se, nos Estados Unidos, a origem do preconceito contra a planta estava no consumo recreativo de maconha pelos mexicanos, no Brasil, ela era mal vista, por ser usada por negros escravizados – não apenas de forma recreativa, mas também terapêutica.
Restringir o uso da planta era, portanto, mais uma forma de opressão e discriminação contra eles. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, foi instituída em 1830 a chamada Lei do Pito do Pango, que penalizava em três dias de cadeia os “escravos e mais pessoas” que fossem pegos fumando maconha.
Essa proibição não estava relacionada com a preocupação com a saúde das pessoas, como argumentam alguns defensores da proibição da Cannabis hoje. Na realidade, as autoridades enxergavam o costume como uma degeneração moral, o que explicitava o preconceito.
Em outros locais do Brasil, porém, era comum encontrar, até o começo do século 20, a Cannabis sendo vendida em farmácias, na forma de cigarros e xaropes, com indicação de uso contra dores, tosse, insônia, asma e outros sintomas e condições.
Foi algo que originou outro tipo de problema: a concorrência, com diferentes tipos de remédios, mais bem aceitos em classes sociais mais elevadas, o que aumentou a pressão para a proibição da planta.
Por outro lado, de lá para cá, a ciência evoluiu bastante no Brasil. O mundo se globalizou e tivemos acesso às pesquisas científicas sobre o sistema endocanabinoide e a Cannabis medicinal, além de termos começado a produzir nossos próprios estudos (veja mais a seguir).
Associações de Cannabis medicinal
Hoje, existem maneiras de os pacientes serem tratados legalmente com Cannabis, como você entenderá melhor no tópico “Regulamentação”. Mas a situação ainda não é a ideal. Na prática, o tratamento pode ser difícil ou inacessível para algumas pessoas.
Por isso, existem várias associações Brasil afora, que defendem o acesso dos pacientes ao tratamento e fomentam a pesquisa sobre o potencial terapêutico da planta.
Conheça algumas delas nos links abaixo:
- Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace)
- Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi)
- Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC)
- Associação para Pesquisa e Desenvolvimento da Cannabis Medicinal no Brasil (Associação Cannab)
- Associação Brasileira de Cannabis Medicinal (Abracam)
- Associação Brasileira para a Cannabis (ABRACannabis)
- Associação Goiana de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal (Agape)
- Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA+ME)
- Associação Terapêutica Cannabis Medicinal Flor da Vida
- AbraRio – Associação Brasileira de Acesso a Cannabis Medicinal do Rio de Janeiro
Pesquisas
Como dito antes, hoje, é comum encontrar trabalhos científicos sobre a Cannabis medicinal no Brasil.
Muitos deles são artigos de revisão de literatura científica, ou seja, compilados críticos e análise de pesquisas, que já foram publicadas sobre determinados assuntos.
Um exemplo recente é o artigo Emerging evidence for the antidepressant effect of cannabidiol and the underlying molecular mechanisms. Publicado em 2019, no Journal of Chemical Neuroanatomy, por pesquisadores da USP, o trabalho revisou a literatura relacionada aos efeitos antidepressivos da Cannabis.
Mas há também ensaios clínicos, e não é de hoje. Nos anos 1970 e 1980, o Dr. Elisaldo Carlini, da Unifesp, investigou como o canabidiol (CBD), principal composto medicinal da Cannabis, ajuda no controle de crises epiléticas. Seus estudos, inclusive, já foram citados pelo The New York Times, como uma das origens da “febre” do CBD, que é vista nos Estados Unidos hoje.
Mais recentemente, foi feita uma pesquisa com um grupo de pessoas diagnosticadas com Transtorno Ansioso Social Generalizado (TAS) e um grupo de controle. O trabalho foi realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, ambas da USP.
Metade do grupo com TAS recebeu uma dose de CBD, e a outra placebo. As pessoas que tomaram o canabidiol apresentaram um nível de ansiedade significativamente menor, antes e durante um discurso de quatro minutos, lido em frente a uma câmera de vídeo.
Portanto, além dos resultados das pesquisas serem boas notícias em si, apenas o fato de a Ciência do país estar investigando o potencial terapêutico da Cannabis já é algo a celebrar.
Regulamentação
O órgão que se ocupa de regulamentar as substâncias e medicamentos que podem ou não podem ser produzidos e comercializados no Brasil é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Apenas em 2015, ela passou a admitir o uso de produtos à base de canabidiol, “em associação com outros canabinoides”. Mas isso só é possível via importação, com prescrição médica e autorização da Anvisa, em cada caso.
As regras constam na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 17/2015, e os detalhes, vigentes atualmente, sobre o procedimento para a importação desses produtos, constam na RDC Nº 660/2020.
Já em dezembro de 2019, outra resolução da Anvisa trouxe aos pacientes brasileiros uma nova possibilidade: comprar os produtos em farmácias e drogarias do próprio país.
A RDC Nº 327/2019 “dispõe sobre os procedimentos para a concessão da Autorização Sanitária para a fabricação e a importação, bem como estabelece requisitos para a comercialização, prescrição, a dispensação, o monitoramento e a fiscalização de produtos de Cannabis para fins medicinais, e dá outras providências”.
Segundo a norma, os produtos devem conter predominantemente canabidiol, e não mais do que 0,2% de tetrahidrocanabinol, o canabinoide conhecido como THC.
Há uma única exceção, no caso de pacientes que não têm outra alternativa terapêutica ou estão em situações clínicas irreversíveis ou terminais – produtos com mais de 0,2% de THC podem ser destinados a esse tipo de paciente.
Apesar de a resolução ter sido publicada em dezembro de 2019, as regras só passaram a valer em março. Com isso, já há produtos à base de Cannabis sendo vendidos nas farmácias brasileiras.
Por enquanto, apesar de encontramos opções acessíveis, o custo médio ainda é alto. Mas a esperança é que, com o tempo e a possibilidade de fabricar os produtos internamente, o tratamento se torne mais acessível.
Qual a importância da Cannabis medicinal para a saúde?

Como qualquer outro medicamento, a Cannabis tem grande importância, quando ajuda a curar uma doença ou aliviar determinado sintoma. Afinal, é este o grande objetivo de qualquer remédio, não é?
Nesta gradual abertura que enxergamos na Medicina brasileira em relação à Cannabis medicinal, a planta ainda é muito vista como uma alternativa. A própria resolução da Anvisa diz que os “produtos de Cannabis podem ser prescritos quando estiverem esgotadas outras opções terapêuticas disponíveis no mercado brasileiro”. E muitos pesquisadores e médicos são cautelosos, a ponto de recomendar esse tipo de medicamento, apenas quando o tratamento convencional não está dando resultado.
Hoje, portanto, a importância da Cannabis medicinal está relativizada, e é menor do que poderia ser. É provável que, no futuro, com mais ensaios clínicos e menos preconceito, a Cannabis medicinal se torne cada vez mais protagonista, e não alternativa, em tratamentos diversos.
Não apenas pelos resultados terapêuticos que ela traz, ao combater sintomas e doenças, mas também porque é muito difícil que o tratamento com produtos à base da planta cause efeitos colaterais severos.
Boa parte dos ansiolíticos (medicamentos receitados para tratar transtornos de ansiedade), por exemplo, são conhecidos por causarem reações adversas incômodas e, muitas vezes, dependência.
Estudos mostram que o canabidiol pode trazer resultados tão eficazes quanto os dos ansiolíticos tradicionais, mas sem o prejuízo da dependência e dos efeitos colaterais. E este é apenas um exemplo.
A importância da Cannabis medicinal, portanto, não se limita ao tratamento da causa da doença. A planta é uma opção terapêutica que dá maior qualidade de vida ao paciente.
Tratamentos com Cannabis medicinal x medicamentos tradicionais
A verdade é que, mesmo que seja uma ciência antiga, a medicina ainda não tem respostas para uma série de doenças, sejam elas infecciosas, autoimunes ou adquiridas.
Um exemplo disso é a epilepsia. Embora exista tratamento e os médicos em geral saibam como diagnosticá-la, suas causas ainda não são completamente conhecidas. Além disso, em alguns casos, essa é uma doença refratária, ou seja, resistente ao uso de fármacos convencionais.
Para muitos pacientes que são acometidos por essa e outras enfermidades, a falta de respostas dos tratamentos normalmente prescritos só prolonga o sofrimento. Quando isso acontece, a Cannabis medicinal pode ser a última esperança de quem já não encontra na medicina tradicional o alívio esperado.
Não podemos deixar de destacar, ainda, que grande parte dos medicamentos produzidos artificialmente apresentam efeitos colaterais severos. Se administrados por longos períodos, ansiolíticos, antidepressivos e anticonvulsivantes podem trazer sérios problemas à saúde.
Portanto, além de mais eficaz, se comparada com os fármacos de praxe, a Cannabis também é mais segura, como aponta o Critical View Report, da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Entenda o uso da Cannabis no tratamento de doenças

As plantas do gênero Cannabis têm potencial terapêutico, porque contém compostos químicos chamados canabinoides. O mais conhecido dele é o THC, mas é o canabidiol, ou CBD, o responsável pelos principais efeitos terapêuticos da planta.
Os canabinoides interagem com receptores do nosso organismo, e por aí influenciam mecanismos que regulam várias condições fisiológicas, o que explicaremos melhor mais adiante.
Desse modo, a Cannabis é capaz de tratar um grande número de doenças com suas propriedades anticonvulsivantes, anti-inflamatórias, ansiolíticas, antipsicóticas e neuroprotetoras, além de ter efeito analgésico, pois o canabidiol ajuda a aliviar sintomas como dores e náuseas.
É importante deixar claro que o uso da Cannabis no tratamento de doenças nada tem a ver com o uso recreativo da maconha. Como mencionamos antes, o principal composto terapêutico da planta é o canabidiol, e este canabinoide não causa efeitos psicoativos, ao contrário do THC – que também é utilizado pela medicina.
Muitos produtos à base de Cannabis, inclusive, têm o THC em sua composição, como os óleos de CBD de espectro completo. Só que esse canabinoide costuma estar presente em 0,3%, o que não é suficiente para causar o efeito psicoativo.
Resumindo, é preciso separar as coisas: facilitar o acesso da Cannabis medicinal aos pacientes não representa risco algum de aumentar o consumo da maconha recreativa, pois os produtos terapêuticos não causam o mesmo efeito da droga.
Quais os efeitos que o CBD e o THC produzem no tratamento de doenças?
Como já comentamos anteriormente, o CBD e o THC possuem propriedades e efeitos diferentes. Porém, ambos podem ser auxiliares no tratamento de diversas doenças.
No caso do CBD, são comprovadas suas propriedades anticonvulsivantes, que auxiliam no tratamento de epilepsia; também se verifica o potencial de ajudar no tratamento da adicção em ópio, tabaco, cocaína e outras substâncias; tem ação contra a ansiedade; ajuda no controle de dores e inflamações causadas pela artrite reumatóide; traz benefícios comportamentais, em pacientes com autismo e TDAH; retarda o avanço do Alzheimer e melhora a espasticidade, em pacientes com esclerose múltipla.
Já o THC pode auxiliar no alívio dos efeitos colaterais causados pelo tratamento do câncer, como no caso da quimioterapia, já que alivia náuseas e vômitos; e do HIV, pois estimula o apetite e controla a perda de peso. Além disso, reduz a pressão intraocular em pacientes de glaucoma e traz alívio a dores decorrentes de enxaquecas.
Como a Cannabis age no corpo?
A particularidade dos canabinoides presentes nas plantas da Cannabis é que eles interagem com os receptores canabinoides de nosso organismo. Esses receptores são parte do chamado sistema endocanabinoide, um sistema neuromodulador que está presente em todo o corpo humano. Ele desempenha papéis importantes no desenvolvimento do sistema nervoso central, na plasticidade sináptica e na resposta a insultos endógenos e ambientais.
Do pouco que foi descoberto sobre os detalhes do funcionamento do sistema endocanabinoide, sabe-se que ele tem parte na regulação de condições fisiológicas, como o sono, o apetite e a dor.
Em nosso organismo, temos os endocanabinoides, ou canabinoides endógenos, compostos semelhantes aos canabinoides encontrados na Cannabis (que são, na realidade, fitocanabinoides), mas que são produzidos internamente. Desse modo, os canabinoides da planta, como o CBD e THC, têm uma relação mimética com esses componentes que são produzidos por nosso próprio organismo.
É por isso que, como afirmamos antes, os tratamentos com Cannabis medicinal não causam efeitos colaterais como outros fármacos. É uma relação muito mais natural entre as substâncias ingeridas e o funcionamento do nosso organismo.
E se falamos antes que ainda não se sabe tanto sobre o funcionamento do sistema endocanabinoide, não é uma contradição afirmarmos que os benefícios medicinais da Cannabis são comprovados pela Ciência? Não, pois uma coisa não anula a outra. Claro que investigar as minúcias desses mecanismos biológicos é importante, para avançar no conhecimento e prescrever tratamentos cada vez mais eficazes. Mas são os resultados da administração do CBD em ensaios clínicos – testes com voluntários humanos – e pesquisas em animais, que demonstram que existem, sim, efeitos medicinais. E não são poucos, como veremos a seguir.
Quais são os efeitos da Cannabis
Se considerarmos todos os efeitos terapêuticos da Cannabis, veremos que a planta é uma das matérias-primas mais versáteis que podemos encontrar para a fabricação de medicamentos. Afinal, apenas seu principal composto medicinal, o canabidiol, possui as propriedades listadas abaixo.
Analgésico
Existem muitas pesquisas que atestam a eficácia do canabidiol como tratamento para combater a dor em pacientes com câncer, doenças reumáticas, fibromialgia ou outro tipo de doença que cause dores crônicas.
Ansiolítico
Os transtornos de ansiedade são um mal contemporâneo, com cada vez mais pacientes diagnosticados. Produtos à base de canabidiol podem oferecer um tratamento eficaz, sem os mesmos efeitos colaterais de ansiolíticos tradicionais.
Anticonvulsivante
Entre as principais aplicações práticas da Cannabis medicinal hoje, no mundo todo, está o seu uso como medicamento preventivo de crises epiléticas e outros tipos de convulsões.
Antipsicótico
Se o hábito de fumar maconha recreativamente é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças como esquizofrenia e ocorrência de ataques psicóticos, os produtos à base de canabidiol já demonstraram ser um possível tratamento.
Anti-inflamatório
Testes com camundongos, realizados na USP, demonstraram que o canabidiol pode atuar como um potente anti-inflamatório em determinadas condições, como injúria pulmonar aguda e sua forma mais grave, a síndrome do desconforto respiratório agudo.
Neuroprotetor
Remédios à base de Cannabis também já demonstraram ser bastante eficazes na redução de sintomas, em pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla.
Antitumoral
Além de reduzir dores e náuseas, melhorando sensivelmente a qualidade de vida dos pacientes com câncer, estuda-se a capacidade antitumoral do canabidiol. Ou seja, evidências preliminares sugerem que o composto pode reduzir o crescimento das células cancerosas, acelerar sua eliminação e até inibir a metástase.
Quais doenças podem ter o auxílio da Cannabis
A lista que vamos apresentar abaixo é baseada em fatos científicos. Para cada doença citada há estudos divrrsos, que comprovam ou sugerem os efeitos terapêuticos da Cannabis no combate dos sintomas dessas doenças.
Confira:
- Ansiedade
- Artrite reumatoide
- Artrose
- Autismo
- Câncer
- Dependência química
- Depressão
- Dermatites, acne e psoríase
- Diabetes
- Doença de Alzheimer
- Doenças gastrointestinais
- Dor neuropática
- Dores de cabeça
- Endometriose
- Enxaqueca
- Epilepsia
- Esclerose múltipla
- Fibromialgia
- Glaucoma
- Insônia
- HIV
- Lesões musculares
- Obesidade
- Osteoporose
- Paralisia cerebral
- Síndrome de Tourette
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
- Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)
- Doenças veterinárias.
Alguns podem ver essa lista e achar que é bom demais para ser verdade. Se esse é o seu caso, recomendamos que você baixe nosso e-book sobre o canabidiol e confira mais detalhes sobre o uso da Cannabis como tratamento a essas doenças.
No e-book, apresentamos links para os estudos científicos, que demonstram o potencial terapêutico da planta, em cada um desses casos. Assim, você pode comprovar por conta própria, que defender que a Cannabis seja mais difundida na Medicina é tudo, menos uma crença sem fundamento.
Quais são as diferentes possibilidades de tratamento com Cannabis

A Cannabis é a planta e o canabidiol seu principal composto medicinal. Mas como, afinal de contas, ele é ingerido pelo paciente?
O formato mais comum dos produtos com CBD é o óleo, mas atualmente existem diversos tipos de produtos, nas mais variadas apresentações.
É importante lembrar que a Anvisa limita os produtos comercializados em farmácias e drogarias do país àqueles para utilização oral ou nasal. Quem pretende importar, porém, vai encontrar, em países como os Estados Unidos, um vasto leque de opções.
Óleos e tinturas
Os óleos feitos com Cannabis são receitados para administração sublingual: com a ajuda de um dosador ou conta-gotas, o paciente toma a quantidade de gotas receitada pelo médico. Esse mesmo óleo serve como base para a fabricação de muitos dos demais produtos de Cannabis.
Quanto à sua composição, os óleos podem ser classificados como:
- Óleo de CBD isolado: produtos cujo único componente advindo da Cannabis é o canabidiol
- Óleo de espectro completo: possui, em sua composição, os demais componentes da planta de Cannabis
- Óleo de espectro amplo: possui canabidiol e outros compostos presentes na planta, exceto o THC, que é removido.
Cápsulas
São produzidas com o óleo e também podem ter CBD isolado ou espectro amplo ou completo.
A principal diferença em relação ao produto administrado em gotas é que cada cápsula já tem uma dosagem predeterminada do princípio ativo.
Comestíveis
Alguns pacientes se queixam que determinados óleos de CBD têm um gosto amargo. Pensando nisso, alguns fabricantes prepararam doces com o composto.
São balas, pirulitos, chocolates, brownies e outros tipos de produtos de gosto aprazível, que podem ser mastigados e consumidos como guloseimas normais.
Bebidas
Há também fabricantes que tentam popularizar o consumo de Cannabis líquido, produzindo energéticos, pós solúveis, chás e outros formatos de bebidas que contêm canabinoides.
Produtos de uso tópico
São produtos que devem ser administrados diretamente sobre a pele (afinal, existem receptores endocanabinoides cutâneos): pomadas, cremes, adesivos transdérmicos e óleos de massagem.
A indicação pode ser para aliviar dores e desconfortos musculares, irritações e alergias ou até para fins estéticos.
Vaporizadores
Também pode ser inalado o vapor do CBD – o que, novamente, nada tem a ver com o consumo recreativo dos cigarros de maconha. O óleo é usado em uma caneta vaporizadora, que o esquenta até que ele vire vapor.
Supositórios
Com os supositórios – dispositivos inseridos no ânus do paciente –, o CBD é liberado de forma gradual, proporcionando um efeito mais duradouro. Esse formato pode ser mais eficiente para tratar sintomas e distúrbios do trato digestivo.
Cosméticos
Como afirmamos antes, entre os produtos de Cannabis de uso tópico, há também aqueles que não são medicinais, mas sim utilizados por questões estéticas. Entre os produtos de beleza que têm a planta como matéria-prima, há xampus, sabonetes, cremes hidratantes, máscaras e vários outros.
Riscos e efeitos colaterais do uso da Cannabis medicinal
A baixa ocorrência de reações adversas em pacientes que usam a Cannabis medicinal é um dos principais motivos para combatermos o preconceito e torcermos para que os tratamentos com seus produtos sejam difundidos.
Esse benefício é admitido até pela Organização Mundial da Saúde. No já citado relatório Critical Review Report, a entidade afirmou que o “CBD é geralmente bem tolerado e tem um bom perfil de segurança”.
A organização ainda esclareceu que as reações adversas, quando ocorrem, podem ser resultados de interações entre o canabidiol e medicamentos que os pacientes porventura estejam tomando. Essa segurança se deve principalmente ao que chamamos de efeito entourage.
É uma teoria segundo a qual os efeitos do CBD ou qualquer outro composto da Cannabis produzem mais benefícios quando atuam de maneira conjunta. Trata-se de uma interação complexa, um tipo de sinergia botânica, em que mesmo que os demais componentes não trabalhem ativamente contra determinada doença, sua presença junto com o composto ativo ajuda a alcançar resultados melhores e a reduzir os riscos de reações adversas.
Full spectrum: uma boa opção
É por isso que, entre os três tipos de óleos de CBD sobre os quais falamos antes, os de espectro amplo ou completo são os mais recomendáveis.
Além do canabidiol, eles são ricos em outros canabinoides, além de flavonoides, terpenos e outros tipos de compostos.
Com todos eles juntos, o medicamento é menos processado e mais natural, diminuindo a probabilidade de o organismo reagir com algum efeito colateral.
Por outro lado, o mesmo não se pode dizer da maconha recreativa, mesmo que o cigarro seja natural: a alta concentração de THC pode causar diversos efeitos colaterais, como aumento da possibilidade de desenvolver doenças mentais graves em pessoas predispostas, tonturas que podem causar quedas e desmaios, vômitos recorrentes em usuários de longo prazo, e, em caso de uso durante a gravidez, nascimento do bebê com baixo peso.
Além disso, ainda há riscos relacionados à contaminação da maconha recreativa por pesticidas, microrganismos e outras substâncias, que podem ser prejudiciais à saúde, já que seu cultivo não é regulamentado, como no caso da Cannabis medicinal.
Com a Cannabis medicinal, portanto, se surgirem reações adversas sem interação medicamentosa, elas tendem a ser leves, incluindo principalmente:
- Queda de pressão
- Sonolência
- Tontura
- Secura na boca.
Quais médicos podem prescrever tratamento com Cannabis?
Um dos marcos da luta em favor da Cannabis medicinal no Brasil foi a Resolução Nº 2.113, publicada em 2014, pelo Conselho Federal de Medicina.
Com ela, o órgão, após analisar profundamente a literatura científica sobre o uso do CBD com fins terapêuticos, autorizou o uso do composto para crianças e adolescentes com epilepsias, apenas em situações em que os métodos já conhecidos não apresentavam resultados satisfatórios.
Na época, então, a prescrição era restrita a médicos especialistas, como neurocirurgiões e psiquiatras. No entanto, a resolução da ANVISA não especifica a especialidade médica e muito menos a classe profissional.
A Anvisa apenas informa que a importação de produtos à base de Cannabis necessita da prescrição de um profissional de saúde habilitado segundo a RDC 660, o que permite aos dentistas prescreverem produtos de Cannabis.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 327/2019 não restringe a prescrição do médico a determinadas doenças, apenas mantém a determinação sobre o uso compassivo, como mostra o seu artigo 48:
“Art. 48. Os produtos de Cannabis podem ser prescritos em condições clínicas de ausência de alternativas terapêuticas, em conformidade com os princípios da ética médica.”
Qualquer médico, portanto, pode prescrever a Cannabis medicinal a seus pacientes, caso ele julgue que esse tratamento possa trazer benefícios não encontrados nos medicamentos convencionais. Isso não quer dizer que a prática seja comum entre os profissionais de medicina do país.
Avanços e retrocessos
Em outubro de 2022, foi publicada a resolução do CFM 2.324, mas foi revogada dias depois, devido a manifestações de médicos, pacientes e autoridades políticas.
Nesse sentido, uma das principais críticas a infração ao Código de Ética Médica, que defende que o profissional pode prescrever o que julgar benéfico ao paciente.
Por desconhecimento, preconceito ou insegurança, a maioria acaba não considerando o CBD como uma alternativa terapêutica. Por isso, são comuns os casos em que o paciente é que levanta a possibilidade de experimentar o tratamento.
Estudos que indicam a eficácia de tratamentos com Cannabis medicinal

Atualmente, já existem diversos estudos que indicam a eficácia da Cannabis no tratamento de algumas doenças e sintomas.
É o caso do estudo Cannabinoids as novel anti-inflammatory drugs, o qual indica que o uso de Cannabis, especialmente o canabinoide THC, age no sistema endocanabinoide de forma a regular as células T, resultando em uma resposta anti-inflamatória no organismo, podendo ser positiva no tratamento de doenças inflamatórias e autoimunes.
Já o estudo Integrating Cannabis into clinical cancer care mostrou os benefícios da Cannabis no controle dos efeitos colaterais do tratamento do câncer, combatendo as náuseas e vômitos causados pela quimioterapia, além da dor, insônia, depressão e anorexia. Além disso, a Cannabis também ajuda a aumentar o apetite desses pacientes e, muitas vezes, é o único agente antiemético que funciona para determinados pacientes.
Pesquisas também já comprovaram a eficácia da Cannabis medicinal no tratamento de pacientes com autismo, como o Lower circulating endocannabinoid levels in children with autism spectrum disorder, que sugere que o transtorno do espectro autista pode ter relação com o baixo nível de endocanabinoides no organismo e que o uso de canabinoides pode regular esses níveis e, por isso, amenizar os sintomas nos pacientes.
Por fim, o estudo The treatment of spasticity with Δ9-tetrahydrocannabinol in persons with spinal cord injury, publicado na revista Nature, concluiu que o THC é eficaz no tratamento da espasticidade, muito comum em pacientes de esclerose múltipla.
Esses são apenas alguns exemplos de estudos que já comprovaram a eficácia da Cannabis medicinal, mas a cada dia surgem novas evidências de que essa erva pode ser uma grande aliada da saúde, em diversos aspectos.
Os desafios do uso da maconha medicinal no Brasil
O principal desafio, que impede que a Cannabis medicinal ajude a melhorar a qualidade de vida de mais pacientes, ainda é o preconceito. É um fator que atrasa os avanços em várias frentes. Mas não é o único.
A pesquisa científica nas universidades – e aí não é uma particularidade dos estudos sobre Cannabis – sofrem com os constantes cortes nas verbas da Ciência.
No caso da indústria farmacêutica, que poderia investir mais, para aumentar a oferta de produtos no mercado, o interesse é limitado, por conta do preconceito e das restrições impostas pela legislação.
Da parte dos médicos, como afirmamos antes, muitos não têm conhecimento sobre os efeitos terapêuticos do canabidiol, além de não terem experiência clínica para se sentirem seguros a recomendar as dosagens.Assim, acabam preferindo os tratamentos mais conservadores, com os medicamentos, cujos resultados, posologia e efeitos adversos lhes são mais familiares.
Preconceito e desinformação dos pacientes
Por fim, temos os desafios relacionados aos pacientes. Muitos nunca ficam sabendo que existe a possibilidade de serem tratados com produtos à base de Cannabis.
Alguns ficam sabendo, mas resistem, ainda por conta da associação com o uso recreativo, mal visto como hábito social e considerado nocivo à saúde. Já os pacientes que decidem experimentar o tratamento com CBD ainda esbarram em um último desafio: o alto preço dos produtos disponíveis tanto, no mercado interno quanto para importar. Isso vem mudando ao longo do tempo, mas ainda precisamos avançar muito para que medicamentos à base da planta se tornem acessíveis a todos.
Por outro lado, ainda não é fácil encontrar um médico prescritor de canabidiol e obter a autorização da Anvisa para a importação.
O portal Cannabis & Saúde entende essa dificuldade e se coloca ao lado do paciente, para oferecer soluções a esses desafios. Para encontrar um profissional credenciado, acesse a nossa lista de médicos prescritores de CBD, classificados por especialidade e região.
Cannabis medicinal é o futuro do tratamento de doenças?
A tendência é que, quanto mais sejam estudados os efeitos terapêuticos da Cannabis medicinal, maior seja a abertura das autoridades, da comunidade médica e dos próprios pacientes ao tratamento. Isso porque as evidências científicas são majoritariamente positivas e falam por si próprias.
Em entrevista ao portal Cannabis&Saúde, o médico Eduardo Faveret, precursor na prescrição da Cannabis no Brasil, afirmou que no futuro o “médico que não prescrever Cannabis ficará para trás”.
Nos Estados Unidos, país onde comumente são lançadas tendências de mercado que, cedo ou tarde, se espalham pelo mundo, o canabidiol é praticamente uma “febre”. Lá, a maioria dos estados tem uma legislação flexível, que permite a comercialização de vários tipos de produtos que têm o CBD como componente principal.
A própria flexibilização e legalização do uso recreativo da maconha, observada nos últimos anos no estado da Califórnia, no Canadá e em cada vez mais países, deve ajudar. Apesar do consumo de cigarros de maconha não ter relação com a Cannabis medicinal, como ressaltamos anteriormente, é fato que, se ele começa a ser melhor aceito na sociedade, há menos motivos para se ter preconceito contra o uso da planta na medicina.
Quais são as vantagens do tratamento com Cannabis medicinal?
Podemos dizer que a maior vantagem do tratamento com Cannabis medicinal são os poucos e leves efeitos colaterais causados pelo uso dos medicamentos à base da erva. Como comentamos anteriormente, esses efeitos costumam ser apenas queda de pressão, sonolência, tontura e boca seca.
Outra vantagem, é que o uso da erva pode amenizar condições que caminham junto à patologia do paciente, como ansiedade, depressão ou dores. Também é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes, atuando na melhora do humor, diminuindo a agitação e dando maior disposição.
Em algumas doenças, como o Alzheimer, o uso da Cannabis medicinal pode, até mesmo, retardar a progressão da enfermidade, protegendo os neurônios contra o envelhecimento. Sendo assim, a planta pode ser usada como prevenção contra doenças neurodegenerativas.
Mitos relacionados à Cannabis medicinal
Como é de se esperar, junto ao preconceito que cerca a Cannabis medicinal, existe uma série de mitos infundados, que só ajudam a levar à desinformação. Não deixa de ser surpreendente que essas crenças persistam, mesmo que a planta seja utilizada há milhares de anos e que existam tantos estudos científicos apontando os seus benefícios.
Alguns são tão sem fundamento que, na verdade, representam o oposto da realidade. É o que acontece com os mitos que vamos esclarecer agora.
Acompanhe!
O uso da Cannabis medicinal estimula o consumo de drogas
Um dos maiores equívocos cometidos sobre a Cannabis é relacioná-la exclusivamente ao consumo recreativo. Afinal, como toda substância com propriedades medicinais, a diferença entre o veneno e o remédio pode estar na dosagem ou no modo de usar.
É o que ocorre, por exemplo, com a morfina, que, embora seja um medicamento, é frequentemente alvo de uso recreativo e, portanto, ilegal. No entanto, diferentemente da morfina, a Cannabis é uma das raras plantas medicinais que pode ser usada para controlar a adicção.
Ela já vem sendo prescrita para diminuir os efeitos da dependência química, inclusive da própria maconha. Logo, dizer que o uso da Cannabis medicinal estimula o consumo de drogas é, além de uma mentira, uma sentença que vai de encontro ao que de fato acontece.
A Cannabis medicinal pode causar overdose
Outro mito associa a Cannabis medicinal a quadros de overdose. Nada mais enganoso, se considerarmos que são raros os casos de overdose, até mesmo em pessoas que usam maconha recreativamente.
Além disso, a Cannabis medicinal se refere majoritariamente ao CBD, substância distinta do THC, esse sim psicoativo, embora também usado com finalidades terapêuticas. Logo, a possibilidade de uma overdose por uso de canabidiol é zero.
A Cannabis medicinal pode afetar as funções cognitivas
Aqui no portal Cannabis & Saúde, já relatamos alguns casos reais de pessoas que voltaram a ter uma vida relativamente normal, depois de receberem um diagnóstico pessismista, sem esperança de melhora, ou passarem por estágios críticos de doenças graves.
Um deles é o da paranaense Abigail Vosgerau. Depois de chegar a uma situação insustentável por causa do Alzheimer, em que nem conseguia mais dormir, ela voltou a viver bem, depois do tratamento com o CBD.
Como se sabe, o Alzheimer é uma condição neurodegenerativa que provoca falta de memória, com graves consequências para a cognição. Portanto, além de não afetar nenhum tipo de função cognitiva, a Cannabis pode ser uma maneira de recuperá-la, até mesmo em doenças incuráveis e progressivas.
Não há estudos suficientes sobre os benefícios medicinais da Cannabis
Talvez este seja o único mito com algum fundamento a respeito da Cannabis medicinal. De fato, a Ciência ainda não chegou a respostas conclusivas em relação ao uso terapêutico da planta, pelo menos não nos termos exigidos atualmente.
Essa é, inclusive, uma das justificativas que profissionais de saúde usam, para evitar a prescrição de medicamentos à base de Cannabis. Uma parte deles alega que, por falta de estudos conclusivos, não podem indicar o seu uso com 100% de segurança.
Por outro lado, alguns acabam ignorando que até os fármacos convencionais podem provocar efeitos adversos inesperados, mesmo com toda a confirmação científica de que dispõem.
Não podemos deixar de destacar, nesse sentido, que já existem numerosos estudos que, se não são conclusivos, deixam poucas dúvidas a respeito da eficácia da Cannabis medicinal.
Alzheimer, autismo, TDAH, depressão
Um exemplo é o estudo The Potential Therapeutic Effects of THC on Alzheimer’s Disease, que investigou o potencial terapêutico do tetrahidrocanabinol (THC) para interromper ou retardar o desenvolvimento do Alzheimer. A pesquisa concluiu que o THC pode reduzir os níveis do peptídeo Aβ em células N2a/AβPPswe, além de ser eficaz na redução dos níveis totais de GSK-3β e GSK-3β fosforilado, mesmo usado em doses baixas. Outra descoberta foi que o THC pode aumentar a função mitocondrial. Assim, segundo os responsáveis pela pesquisa, os dados sugerem que o tetrahidrocanabinol pode ser uma alternativa eficaz de tratamento para o Alzheimer.
Já o artigo Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy, publicado na revista Nature, mostra que o CBD tem propriedades que aliviam os sintomas e melhoram a qualidade de vida de pessoas autistas. O uso da substância pode melhorar a qualidade da comunicação desses indivíduos, além de distúrbios do sono, ansiedade, TDAH e convulsões. Ainda nesse sentido, o canabidiol não apresenta efeitos colaterai relevantes nos pacientes, se tornando uma ótima opção para o tratamento do transtorno.
Por fim, também podemos citar o artigo Exploração farmacológica do sistema endocanabinoide: novas perspectivas para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão?, que demonstra que a eficácia de drogas que facilitam a ação dos endocanabinoides, tal como a Cannabis medicinal, podem se tornar uma alternativa de tratamento para distúrbios psicológicos, como a ansiedade e a depressão.
Cannabis medicinal: depoimentos de pacientes que fizeram o tratamento
A experiência científica não teria validade se, na prática, ela não pudesse ter uma comprovação. Nesse aspecto, a Cannabis medicinal vai muito bem, a julgar pelos diversos casos de pacientes, que se recuperaram de condições e doenças gravíssimas, com a ajuda do CBD.
Uma das pessoas que tiveram suas “preces” ouvidas foi o carioca Otto Soares. Com uma grave compressão medular, ele correu um sério risco de perder a vida por conta da lesão, que lhe trouxe dores atrozes, por vários anos.
Porém, tudo mudou depois que ele aderiu à Cannabis, que, como mágica, reduziu as dores a níveis toleráveis.
Outro caso impactante é o da pequena Rafaela, portadora de epilepsia e autismo, que chegou a sofrer com insuportáveis 120 convulsões diárias. Com o CBD, ela passou a ter uma vida normal e as terríveis convulsões, hoje, fazem parte do passado.
Também ficaram no passado as dores da gaúcha Fabiana Rocha. Diagnosticada com fibromialgia, uma doença que causa dores musculares e cansaço crônico, ela ainda sofria com outros problemas de saúde graves, como endometriose e câncer.
Apesar disso, depois de administrar o óleo de Cannabis, tudo passou a ser diferente e, como ela mesma descreve, “parecia que eu estava dormindo numa nuvem, estava bem, estava neutra”.
Como ter acesso à Cannabis medicinal no Brasil?
Desde março de 2020, quando as regras da RDC Nº 327/2019 da Anvisa passaram a valer, farmácias e drogarias brasileiras podem vender produtos à base de canabidiol aprovados pelo órgão.
O CBD vem sendo prescrito por cada vez mais médicos, contudo, o mercado brasileiro ainda é muito restrito, com poucas opções disponíveis nas farmácias.
Como a oferta para compra de canabidiol em território nacional tem limites, a maioria dos pacientes que se trata com CBD ainda precisa importar os produtos, de acordo com os procedimentos que a Anvisa regularizou, em 2015.
Para isso, elas precisam da receita médica, documento indispensável para fazer a solicitação de compra junto à Anvisa. O primeiro passo, então, é encontrar um médico prescritor de Cannabis medicinal como medicamento. Nesta página, você pode agendar uma consulta.
Ou então, converse com seu médico de confiança, exponha o conhecimento que você obteve, pesquisando sobre o canabidiol e sua aplicação no caso em questão. Um bom profissional terá, no mínimo, abertura para discutir essa possibilidade.
O passo a passo para importar Cannabis medicinal
Com a receita em mãos, é preciso preencher um formulário e enviar para a Anvisa, solicitando a autorização para importar o produto. Além disso, o processo pode ser totalmente online, via portal do governo federal.
Atualmente, a Anvisa estima em 10 dias úteis o prazo de análise, dentro do qual retornará ao paciente com a autorização, a exigência de alguma informação adicional ou o indeferimento (recusa) do pedido.
Com a autorização em mãos, basta proceder com a compra, obedecendo aos critérios estabelecidos pelo órgão, e iniciar o tratamento receitado pelo médico.
O paciente ou o seu representante nomeado por procuração consegue dar entrada no pedido de importação. Ele pode fazer isso, contatando diretamente as empresas exportadoras de medicamentos à base de Cannabis. De qualquer forma, antes de fazer o primeiro contato, vale consultar a Anvisa, para saber quais são os fármacos autorizados e quais empresas contam com o seu aval.
Produtos diversos que podem usar a Cannabis
Atualmente, existem diversos produtos que usam a Cannabis em sua constituição, aproveitando as propriedades da planta. Além disso, ainda há os medicamentos, já citados anteriormente.
Eles vão desde cosméticos, como máscaras faciais para tratamentos de rugas, hidratantes corporais e muito mais, passando por petiscos para cachorros, cervejas com infusão de cânhamo, balas com efeitos alucinógenos, chás com infusão de Cannabis, roupas feitas com cânhamo, bioplástico, papel e vários outros
Além das propriedades medicinais e recreativas da Cannabis, ela se mostra também uma planta muito versátil, que apresenta infinitas possibilidades, para um mercado que ainda está apenas começando a explorá-la.
Conclusão

Assim, quando as autoridades, a comunidade médica e a sociedade em geral se informarem melhor sobre o potencial terapêutico da Cannabis, o acesso ao tratamento será maior.
O uso da planta, como remédio, já ocorre há milhares de anos. Apenas nas últimas décadas, é que seu uso foi proibido e criminalizado. Claro, há muita gente mundo afora que consome a planta na forma de cigarro, por conta do efeito psicoativo causado pelo THC.
Mas a Cannabis é muito mais do que isso: contém centenas de outros canabinoides além do THC, entre eles o CBD, ou canabidiol, famoso pelo poderoso efeito medicinal.
Portanto, ajude a difundir a informação sobre a Cannabis medicinal, capaz de curar doenças e eliminar sintomas, sem os efeitos colaterais observados em outros medicamentos.
Acima de tudo, continue acompanhando os artigos do portal Cannabis & Saúde, para ficar por dentro das novidades relacionadas à Cannabis medicinal, tanto na legislação, quanto no mercado e na ciência.