A médica prescritora Jéssica Durand conta como o tratamento com Cannabis medicinal transformou a vida dela
A médica Jéssica Durand não estava feliz. Em processo de formação para se tornar cirurgiã, estava frustrada com a carga horária da residência com 100 horas por semanas em um hospital. “É bem puxado. Quando é uma coisa que você gosta, é um pouco diferente”, lembra a médica. “Eu não estava me encontrando naquele caminho”, lembra a médica.”
Mas não foi de cara que percebeu que alguma coisa precisava mudar. Antes, vieram os sintomas. “Eu me sentia cansada o dia inteiro. Acordava cansada, por mais que dormisse 8, 12 horas por noite, meu sono não era reparador.”
Síndrome de Burnout e o tratamento com CBD
Jéssica foi diagnosticada com síndrome de Burnout. “É um de esgotamento físico e mental. Tive algumas crises de ansiedade também. A gente acaba parando de se reconhecer.”
Até sua paixão por esportes, praticante de musculação e corrida de rua, havia deixado de lado. “Foi quando virei paciente de Cannabis medicinal”, conta Durand. “Eu sempre me interessei. Apesar de não ter muito contato, achei que tinha muito potencial.”
Em um mês, sua vida começou a mudar. “Eu não achei que fosse tão rápido assim. O CBD tem uma propriedade ansiolítica muito importante. Pelo controle da ansiedade, conseguiu me ajudar a ter mais foco. Em um mês eu estava me sentindo mais eu mesma. ”
Benefícios do CBD
A primeira mudança foi a qualidade do sono. Mesmo dormindo menos que antes, acordava mais bem disposta. Descansada, ganhou ânimo para retornar aos esportes.
“O uso me deu muita clareza e foco mental. Me sentia mais próxima de mim mesma”, diz a médica, aos 25 anos. “Eu consegui manter minha calma, ter mais concentração, não tive mais crise de ansiedade. Foi aí que percebi que esse caminho da cirurgia geral não era para mim. ”
“Se eu não tivesse começado a usar, eu acho que ainda estaria muito infeliz na cirurgia”, continuou. “Com a Cannabis, eu reverti o meu caminho e fui fazer o que eu gosto.”
CBD no esporte
Em meados de 2020, deixou de vez a residência e resolveu se dedicar a uma pós-graduação em medicina esportiva. Enquanto estudava, e seguia o tratamento, começou a perceber que não era somente na motivação que a Cannabis medicinal ajudava na prática de esportes. “Eu consegui perceber uma melhora muito importante em minha recuperação muscular. Eu não sentia dor, mesmo depois de treinos muito intensos.”
Jéssica não teve dúvidas. Além de medicina esportiva, decidiu se especializar em Cannabis medicinal. “Eu percebi em mim os benefícios da Cannabis no esporte. Essa melhora na ansiedade, controle de foco, e fui ver todos os benefícios comprovados, mais estudos que demonstram isso, e quis trazer para minha realidade clínica.”
Cannabis para atletas
No início de 2021, começou a prescrever para seus pacientes. “A gente faz curso, estuda um monte, mas até a começar mesmo, dá um pouco de receio. Ainda mais porque é um mercado muito recente no Brasil.”
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Desde então, já atendeu atletas de diversas modalidades, do jiu-jitsu à natação. “Tem ajudado muito, desde atleta de alto nível até amador. Uma das principais queixas que eu vejo no consultório são pessoas com uma baixa qualidade de sono. Reclamando da recuperação muscular, que acaba sendo prejudicada.”
Quais as vantagens de usar Cannabis em atletas?
A lista de benefícios é grande: “Controle de ansiedade, tanto pré-competição, quanto no dia a dia. Melhora dos processos inflamatórios, o sistema imune, qualidade do sono. Isso acaba impulsionando a recuperação muscular e performance esportiva desses atletas.”
De acordo com a especialista em medicina esportiva e Cannabis medicinal, não existe no mercado um produto que consiga suplantar todos os benefícios da Cannabis medicinal.
“Os atletas, quando estão com uma dor, lesão muscular, normalmente usam anti-inflamatório, como ibuprofeno. O anti-inflamatório bloqueia completamente o processo, mas o processo inflamatório é importante para a regeneração muscular”, exemplifica.
“O CBD não. Ele modula a inflamação. Não atua como um anti-inflamatório que vai bloquear toda a inflamação. Ele potencializa a parte boa da inflamação, na parte da regeneração muscular, de conseguir ter esse processo cicatricial, mas bloqueia as partes ruins. Que é dor, o edema.”
CBD nas Olimpíadas
A Agência Mundial Antidopagem (WADA) retirou o canabidiol da lista de substâncias proibidas aos atletas e pela primeira vez, atletas que disputarem os Jogos Olímpicos poderão fazer uso de Cannabis medicinal.
“É um grande avanço em relação à Cannabis medicinal no mundo inteiro. Vamos ter atletas, não só do Brasil, como de outros países, que fazem uso. A gente tem que ficar de olho, vibrar pelas pequenas vitórias e pressionar cada vez mais o governo, as sociedade esportivas, para que consiga cada vez mais a flexibilização”, defende a médica.
“A gente está criando um movimento global para tentar tirar também o THC dessa lista”, afirma. “Costumam olhar o THC como vilão, mas não é. Todos os fitocanabinoides, a parte ativa da planta da Cannabis, tem benefícios medicinais muito importantes.”
Ela explica que o uso de THC, no entanto, não é para todos, e deve ser evitado, por exemplo, em pessoas com predisposição à psicose. “Mas tem propriedades medicinais analgésicas muito importantes. Aumenta o apetite, que para alguns atletas é interessante. Também tem propriedade anti-inflamatória muito boa.”
A liberação do THC seria benéfico para a maioria dos atletas. “É um passo importante que a gente precisa dar. Temos que parar de banalizar os componentes da Cannabis e tentar entender que eles em conjunto tem propriedades medicinais e são capazes de melhorar a qualidade de vida das pessoas.”
O futuro da Cannabis medicinal
A tendência, segundo Durand, é que, no futuro, a Cannabis mude de prateleira na farmácia, se juntando a outros complementos alimentares. “Nos EUA é uma realidade a Cannabis como suplemento, mas vai demorar muito aqui. Recentemente tivemos uma pequena vitória, que foi o voto positivo em relação a PL. 399.”
“Pequenas vitórias, longos retrocessos. Com todas essas questões do governo, ainda vai ser contestada”, continuou. “A partir do momento que começarem a enxergar a Cannabis como um mercado rentável, com vários investidores interessados, a gente vai ter mais pressão para que consigamos essa regularização, produção e consumo aqui no Brasil.”
No entanto, nada dispensa o acompanhamento médico. “Acho que para a Cannabis, o caminho na medicina esportiva seja como suplemento, mas a gente tem que reiterar que a dosagem não é universal”, alerta. “Depende muito das condições clínicas do paciente. Acompanhamento médico é vital para que a gente consiga compreender as particularidades, e conseguir encontrar a dose ideal, tratamento ideal e produto ideal para cada um.”