O tratamento da dor norteia a carreira do médico Gilson Carone. Quando ainda cursava a pós-graduação em dor no Instituto Israelita Albert Einstein, em 2018, fez uma viagem ao Canadá para aprender com alguns dos principais especialistas do mundo em sua área.
“Chegava uma hora que eles não tinham mais recursos para tratar os pacientes, apesar de toda a aparelhagem e equipamentos mais modernos, e os encaminhavam para a clínica de Cannabis medicinal. Os pacientes tinham bons resultados.”
Ao concluir sua formação, que ainda contou com uma especialização em fisiopatologia e terapêutica da dor na Universidade de São Paulo, buscou colocar em prática com seus pacientes as melhores opções terapêuticas que observou ao longo de mais de uma década de formação, com Cannabis medicinal entre elas. “Repliquei o que via no Canadá em meus pacientes.”
Além do tratamento da dor
Já em sua primeira prescrição, Carone pode observar que os benefícios da Cannabis vão além da dor. “Ele tinha insônia e tomava vários antidepressivos à noite para dormir. Eu introduzi o canabidiol e ele conseguiu retirar os medicamentos e acordar com mais disposição.”
“Os resultados, no geral, têm sido bons, principalmente em relação à ansiedade, depressão, insônia”, afirma.
“As pessoas têm dor há tanto tempo que se tornam pacientes psiquiátricos. Ficam depressivos. Principalmente nesses pacientes, eu tenho usado a Cannabis e tem um resultado legal. A gente consegue diminuir um pouco os remédios e dar uma melhor qualidade de vida..”
Há dois anos trabalhando com a prescrição de Cannabis, Carone conta que muitos já o procuram em busca do tratamento canabinoide. No entanto, explica que nem sempre é a indicação.
“Se o paciente já fez um monte de tratamentos e não funcionou, às vezes, pode ser a minha primeira escolha para ele”, diz. “Alguns pacientes passam por alguns médicos que não são especialistas em dor e chega para mim com a cabeça de que quer utilizar a Cannabis, só que ele não tratou a dor de forma correta.”
Efeito sinérgico
Para Carone, reduzir a quantidade de medicamentos que os pacientes usam regularmente é a principal vantagem da Cannabis.
“Em alguns pacientes, consegui reduzir muito a dose de opioides. Melhorar a qualidade de vida pois tirou os efeitos colaterais de outros medicamentos. A Cannabis é uma medicação para ajudar a reduzir a dose das outras.”
“Eu tive uma paciente, senhora com mais de 80 anos e dor na coluna que não conseguia andar. Eu consegui acrescentar o canabidiol no tratamento dela e reduziu os opioides, ela conseguiu fazer a fisioterapia, começou a se movimentar, diminuiu muito a sonolência de outros medicamentos também.”
“Às vezes, a pessoa faz o uso de uma medicação em dose muito alta e não faz mais efeito. A pessoa cria tolerância”, explica.
“A Cannabis tem um mecanismo de ação diferente, e às vezes sinérgico, ao das outras medicações. Quando você entra com um medicamento que é sinérgico, você potencializa o outro medicamento e ele volta a fazer o efeito e pode até reduzir a dose.”
Normalizar a Cannabis
Carone acredita que, no futuro, medicamentos feitos à base de Cannabis serão comuns. “A gente (a medicina moderna) tem pouca experiência com o uso, mas é um medicamento que é usado há milhares de anos e sobreviveu ao tempo.”
“A história mostrou que tem um potencial para várias coisas. Se não funcionasse, não passaria de geração em geração. O que a gente está tentando fazer agora é só comprovar os melhores usos para essa medicação.”
“Eu acho que a tendência é ser utilizado amplamente. Principalmente a geração mais nova, eu acho que vai aceitar melhor. Os estudos vão demonstrar cada vez mais resultados, e as pessoas vão passar a aceitar. Sempre foi um medicamento normal e, na medicina moderna, é questão de tempo para que volte a ser.”
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