A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu, no dia 15 de maio, aumentar o controle sobre a prescrição e receita do medicamento Zolpidem. A partir de agora, qualquer medicamento contendo esse composto deverá ser prescrito através da Notificação de Receita B (azul), pois ele se encontra na lista de substâncias psicotrópicas, dentro da lista de substâncias controladas no Brasil.
A mudança para a receita azul foi implementada por conta de uma preocupação da Anvisa sobre o uso irregular e abusivo do zolpidem. De acordo com a análise da Agência, houve um aumento no consumo dessa substância e cresceram os relatos de efeitos adversos relacionados ao uso.
Com a mudança, o Zolpidem deixa de fazer parte da lista de substâncias que exigem a receita C1 para requerer a receita do tipo B1. Na prática, a Anvisa passa a reconhecê-lo como um medicamento com maior potencial para dependência e abuso do que reconhecia anteriormente.
Além disso, medicamentos da lista B1 geralmente possuem mais restrições de vendas em farmácias, como vendas apenas para maiores de 18 anos e apresentação de documento de identidade. Já da parte de quem prescreve, a receita do tipo B requer que o profissional da saúde esteja cadastrado previamente na autoridade local de vigilância sanitária.
Mudando a compreensão sobre o Zolpidem
As normas começam a valer a partir do dia 1º de agosto de 2024 para evitar que os pacientes sofram com a descontinuidade do tratamento. O prazo também vai servir para que os prescritores que não possuam cadastro para a Notificação de Receita Azul tenham tempo para fazê-lo.
Conversamos com o Dr. Felipe Neris, para entender como isso pode impactar a vida das pessoas que usam o medicamento, além de alternativas para tratar distúrbios do sono. Ele nos explicou como a percepção dos médicos sobre o Zolpidem foi se transformando com o passar do tempo e como os pacientes influenciaram a decisão da Anvisa.
“Quando surgiu o Zolpidem, eu estava na faculdade ainda. Lembro que o meu professor de Psiquiatria falava: ‘caso de insônia, pode passar Zolpidem. Não vicia, a ação é rápida, tem poucos efeitos colaterais’.
A gente acreditava que era o perfil da droga naquele momento. Acontece que, com o passar dos anos, a gente foi vendo casos de pacientes que realmente abusam. Eu conheci pacientes que começaram a acordar no meio da noite para tomar outro Zolpidem.
Outra coisa que a gente não imaginava e com que fomos nos deparando é a piora de algumas parassonias. Então, se o paciente tem algum tipo de sonambulismo, muitas vezes acaba piorando com o uso.”
O Zolpidem no nosso corpo
Com um alto potencial para dependência e tolerância, o Zolpidem chegou ao Brasil na década de 1990, como um medicamento para o tratamento da insônia a curto prazo. A recomendação é de que o uso desse remédio não ultrapasse o limite de três a quatro semanas, para lidar com distúrbios do sono.
No entanto, alguns pacientes começaram a usá-lo por períodos mais prolongados que o indicado, levando algumas pessoas à condição de dependentes. Do mesmo modo, se tornou popular o uso do Zolpidem em outros contextos, como para aliviar a ansiedade e o estresse.
Assim, cresceu a ocorrência de efeitos colaterais desencadeados pelo uso do medicamento, com problemas de memória, alucinações e sonambulismo, entre os mais comuns.
No nosso corpo, o Zolpidem age aumentando a atividade de um neurotransmissor inibitório conhecido como GABA. Assim, ele produz efeitos hipnóticos e sedativos, que contribuem para induzir o sono.
O que muda para os médicos e para os pacientes
Aqui no Brasil, antes da decisão da Anvisa, o Zolpidem era um fenômeno de vendas. A Agência estima que, em 2022, os brasileiros adquiriram mais de 21 milhões de caixas do remédio. Os números astronômicos de vendas podem passar a impressão de que se trata de um produto inofensivo, porém o Dr. Felipe nos contou que a decisão da Anvisa deve mudar esse entendimento.
“Para os pacientes, eu acho que aumenta a conscientização sobre o uso da medicação e o potencial de abuso. Dificultar o acesso ao Zolpidem aumenta a conscientização do paciente que está utilizando a medicação. Ele começa a notar que não está usando uma medicação inerte.”
Felipe também explicou que, para os médicos que prescrevem esse medicamento, as mudanças significam maior responsabilidade e supervisão.
“A gente tem que explicitar para que está usando, para quem e qual a quantidade. O controle é muito mais restrito para o médico, dificulta muito mais a prescrição. Às vezes, dificultar a prescrição de algo que é potencialmente danoso pode fazer bem no final das contas.”
Como trocar Zolpidem por produtos com Cannabis
Produtos derivados da Cannabis para uso medicinal vêm ganhando um crescente interesse para o tratamento da insônia e outros distúrbios do sono. Os componentes da planta ajudam a dormir, atuando sobre alguns neurotransmissores diferentes daqueles nos quais o Zolpidem atua.
Estudos vêm destacando o potencial dos canabinoides, graças a sua grande eficiência em promover um sono reparador, sem provocar efeitos colaterais graves. Há, inclusive, ensaios clínicos, afirmando que o CBD pode ser superior à melatonina para casos de insônia.
Contudo, o Dr. Felipe Neris Nora destacou que a planta nos oferece muitas possibilidades com os canabinoides e os produtos derivados da Cannabis.
“A gente tem, hoje, potencial para tratar insônia com canabidiol isolado, mas eu recomendo mais o full spectrum, que tem um pouquinho de THC junto, 0,3%, que ajuda a induzir mais o sono.
A gente tem o canabinol, que é o CBN. Ele não tem tanto efeito psicoativo quanto o THC e não altera a estrutura do sono. Ele induz o sono de uma maneira mais light do que o Zolpidem.
A gente tem o CBG, que, em doses baixas, consegue induzir o sono.
Então, você pode trabalhar tanto CBD full spectrum + CBN; CBD full spectrum + CBN + CBG.”
Entretanto, o Dr. Felipe ressaltou que o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) também se inclui nesse repertório de possibilidades para lidar com a insônia. O canabinoide psicoativo da Cannabis seria uma alternativa ao Zolpidem para alguns casos pontuais.
“O THC, eu vejo, a curto prazo, sendo o mais eficaz para substituir o Zolpidem.
Eu gosto de deixar o paciente bem controlado com o CBD e ele usa o THC em pontos específicos. Por exemplo, numa sexta-feira depois de uma semana corrida, usar uma dose de 10 mg de delta-9-THC geralmente é o suficiente para deixar o paciente dormir bem e acordar descansado.”
Porém, além da abordagem com medicamentos, há outras atitudes que podemos tomar para combater distúrbios do sono. Essas estratégias podem complementar os efeitos dos remédios, evitar altas doses e consequentemente mitigar os efeitos colaterais. Não existe solução mágica, apenas algumas dicas valiosas:
- Reduzir gradualmente as luzes de casa, conforme vai chegando o horário de dormir;
- Evitar a exposição excessiva a telas, como smartphones, tablets e televisores antes de dormir;
- Se foi para cama e não dormiu, tente sair da cama e fazer alguma atividade que dê sono, como ler um livro;
- Evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de nicotina perto do horário de dormir.
O caminho para tratar insônia com Cannabis
Porém, em ambos os tratamentos, é fundamental o acompanhamento de um médico especializado. Se você lida com a insônia e quer experimentar um tratamento natural e sem efeitos adversos, a Cannabis pode ajudar.
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