A médica ortomolecular Janaína Barboza só incluiu a Cannabis em seus tratamentos em 2018. “Ela é a cereja do bolo” conta Janaína, que mapeia e rastreia toda a fisiologia de seus pacientes para tratar as doenças e não apenas seus sintomas. Na contramão da indústria farmacêutica, ela denuncia os lobbies, a politização da medicina e desconfia do recente cancelamento de sua conta no Whatsapp.
Com o mesmo número de telefone há treze anos, Janaína usava o Whatsapp Business há um mês em busca de agilidade, já que participa de vários grupos de discussão com médicos, pacientes e alunos. Recentemente, fez um post lembrando que em julho de 2019, o então ministro da Cidadania Osmar Terra tinha feito reunião com a única farmacêutica autorizada a produzir medicamentos com Cannabis, reforçando um monopólio que dificulta a entrada no mercado brasileiro. Depois de dez horas do post, descobriu que sua conta no aplicativo tinha sido banida do Whatsapp.
Janaína lembra que em 2019 já tinha sofrido um caso semelhante: depois de questionar o mesmo Osmar Terra no Conselho Federal de Medicina, pedindo que ele dissesse quais são as moléculas da maconha que fazem mal à saúde, a médica perdeu o acesso à sua conta no Twitter. “Essa é uma política de cancelamento”, reclama.
Dessa vez, ela teve que trocar de número de celular e recriar os grupos de médicos, alunos e pacientes que administrava. Avisou quem pôde sobre a perda do número antigo e teme que seus contatos sejam de alguma forma desinformados por quem quer que seja que esteja com o número bloqueado. Ao mesmo tempo, ela planeja acionar seu advogado e investigar como esse cancelamento pode ter acontecido, já que tentou questionar o Whatsapp mas não obteve resposta.
Médica de família
Santista criada em Florianópolis, Janaína vem de uma família médica. Seu bisavô tinha uma farmácia, o avô era médico, assim como o pai, que é oftalmologista. Já com oito anos queria seguir o mesmo caminho. Depois de se formar na Faculdade Evangélica do Paraná, em Curitiba, já sentia que faltava algo na medicina tradicional. Durante o curso, perguntou a um professor a respeito da Cannabis, desconfiava que a planta pudesse ser aplicada na medicina. O professor riu e simplesmente respondeu que não dava para falar a respeito nas aulas.
Descontente com a forma de prescrição que aprendeu na faculdade, Janaína não entendia os remédios como algo benéfico para os pacientes. Como gostava da ideia de ajuste fisiológico do corpo, buscou a medicina ortomolecular e encontrou o curso na Sociedade Brasileira de Medicina Estética (SBME) no Rio de Janeiro. Ela se emociona: “encontrei o que fazer na vida, descobri que mitocôndrias são tratáveis”.
Janaína sempre amou física e química (chegou a pensar em fazer astrofísica). E é isso que ela usa quando atende seus pacientes: rastreia com exames compreensivos e trata o que está errado, indo na contramão da indústria farmacêutica e do caminho tradicional que é o de tratar uma doença ou sintoma localizados sem verificar o que pode ter causado o mal.
A serviço do paciente
O tratamento começa com uma consulta de uma hora, onde Janaína conhece profundamente seu paciente: idade, sexo, meio de vida, hábitos, histórico familiar. Ela faz um check-up completo, com exames de sangue, saliva, urina, imagens, cardíacos, próstata, ginecológicos, oftalmológicos. Tudo isso dá uma grande foto do metabolismo, se há marcadores para câncer, um relatório completo. No retorno, ela lê todos os exames junto com o paciente para que ele entenda como está seu corpo e cada prescrição que ela fizer.
Aí ela já inclui a Cannabis, para tratar a disbiose (desequilíbrio da flora intestinal), que ela explica que é fundamental para a saúde humana. “Onde houver queixa eu vou atuando, é uma obrigação do médico colocar toda a tecnologia que existe a serviço do paciente”, ela esclarece.
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As pacientes de Janaína não fazem mamografia, por exemplo. Ela pede ressonância nuclear magnética. Se o paciente precisa ajustar alimentação, ela encaminha a um nutricionista. Se o problema for fisiológico, ela ajusta com suplementação alimentar, vitaminas, plantas, aminoácidos, minerais, fitoterapia. Não costuma receitar alopáticos, no máximo um ajuste hormonal. “Mas só com substâncias que o corpo naturalmente secreta, que são os não patenteáveis”. Ela lembra que há casos em que não pode atuar sozinha. Câncer na tireoide, por exemplo, tem que consultar um endocrinologista. Hipotireoidismo, ela trata. Grávidas, precisam de acompanhamento com obstetra, ela acompanha. Menopausa, andropausa, tudo resolvido com ortomolecular.
Desmame
Janaína trata de famílias inteiras, e desmama todos os pacientes. São inúmeros exemplos, como pessoas com doenças degenerativas tomando remédio para colesterol, cujos efeitos colaterais prejudicam o quadro. Metformina para tratar diabetes, que mantém o paciente doente. Nesses casos, a solução é a reeducação alimentar, exercícios físicos.
“O paciente come mal e toma remédio, não significa que a pessoa esteja bem, tem que tratar o problema”. Outro exemplo é a demonização do colesterol: os remédios para baixar o colesterol estão entre os mais vendidos, entretanto, o colesterol é importantíssimo para reparação celular, atuando como um curativo para um corpo inflamado. Novamente, a solução está na redução de açúcar e reequilíbrio da fisiologia. Janaína lembra que apenas um exame ‘normal’ não quer dizer que o paciente esteja curado, e alerta que a curva normal do tratamento tradicional não é tratar o indivíduo.
A serviço da indústria
Janaína afirma que a indústria farmacêutica comprou a medicina, pelo menos entre 1939 e 1977. Ela lembra que o avô aprendeu remédios naturais, receitava mel para tosse. Já seu pai foi ensinado a zombar de medicamentos naturais.
Ela se recusa a trabalhar com a indústria farmacêutica, mas sim com o paciente. “Nos Estados Unidos a Cannabis é um complemento alimentar. Aqui, precisa de receita azul e amarela”. Ela responsabiliza essa dificuldade aos lobbies da indústria, e chama de criminosos os que dificultam o uso da Cannabis, uma vez que está na Constituição que o governo deve zelar pela saúde.
Como trata todos os tipos de doenças, ela entende que a planta pode ajudar a praticamente todas as condições, e lembra que sintéticos isolados de Cannabis podem ser muito prejudiciais. O exemplo é o Rimonabanto, que atuava diretamente no sistema endocanabinoide, no receptor CB1 e era usado para emagrecimento. Por não contar com os demais canabinoides, ele foi proibido em todo o mundo porque causou suicídios. Em contrapartida, a Cannabis com todos os seus canabinoides, ajusta a fisiologia como um todo, com inúmeros benefícios.
Barreiras para prescrição
Por conta da dificuldade de informação, Janaína demorou para descobrir a Cannabis – apenas em 2018, quando pediu ajuda em um grupo de médicos no Whatsapp. Queria saber como prescrever. Carolina Nocetti, a quem chama de “número 1 em Cannabis medicinal”, contou que ela já podia prescrever há tempos.
“Como o meu Conselho (Federal de Medicina) não me avisou?” ela perguntou chocada. Carolina indicou os autores, leituras, estudos. Janaína comprou literatura estrangeira, buscou pesquisas, estudou a fisiologia canabinóide. Em uma semana já estava prescrevendo com a mentoria de Carolina, e a adaptação à sua prática foi imediata. “A medicina ortomolecular prescinde da natureza, e não de moléculas patenteadas”. Janaína lembra que essa é a base da luta contra a Cannabis, o fato de que a planta não é patenteável.
Desde 2019, ela ministra aulas para médicos, advogados, farmacêuticos e pessoas interessadas, onde ensina legislação, panorama da Cannabis no mundo e no Brasil, aspectos farmacológicos e químicos da planta. “Para desmontar as mentiras e fornecer munição para uma conversa científica, moral e ética”. Nos cursos para médicos, ela também ensina como prescrever, e, assim como atende todo tipo de paciente, ensina a toda a classe de médicos que, como ela, sentiram que havia algo muito errado na prescrição indiscriminada.
Ela acha descabido que não haja mais cursos de medicina ortomolecular nem de Cannabis medicinal, uma vez que são focadas na fisiologia humana. Apesar de saber que o médico que não prescreve patenteados é demonizado na medicina, ela diz: “Não desisto pelos meus pacientes”.