Pesquisadores americanos analisaram impacto de fitocanabinoides em pacientes com estágios avançados da doença
O câncer se manifesta de diversas formas, variando de caso a caso. Um dos maiores desafios para os pacientes, no entanto, é como lidar com os efeitos colaterais, tanto da enfermidade quanto dos tratamentos. Dores, náuseas e ansiedade estão entre os impactos mais comuns sentidos por quem recebe o diagnóstico, e sua mitigação é um dos maiores objetivos da medicina.
Uma boa notícia, apresentada por diversos estudos recentes, é que o uso da Cannabis medicinal pode ser efetiva no combate a esses sintomas. Desde os anos 2000, mais de 20 estudos demonstram o impacto positivo do uso de fitocanabinoides no tratamento de sintomas relacionados ao tratamento do câncer.
Os dois maiores deles, cada um contando com mais de 4 mil participantes, indicaram que a Cannabis medicinal ajuda a aliviar os sintomas e também diminuir o uso de opioides — medicamentos conhecidos por seus efeitos adversos — e outras drogas por parte dos pacientes.
No entanto, é notório que, mesmo com uma grande variedade de produtos à base de Cannabis disponíveis para tais casos, seu uso ainda é pouco recomendado por médicos. De acordo com um estudo americano, cerca de ¾ dos pacientes em tratamento de câncer recorreram a seus médicos em busca de medicamentos com fitocanabinoides; ainda assim, apenas 15% dos pacientes receberam prescrições para usá-los.
Para investigar o impacto do uso de Cannabis medicinal em pacientes com casos avançados de câncer, um estudo controlado e randomizado analisou os efeitos do uso “adiantado e adiado” dos medicamentos canabinoides para diminuir as dores associadas ao tratamento de câncer e bem como a possível redução do emprego de opioides — ou seja, quais as vantagens e desvantagens de fazer uso de medicamentos canábicos de forma antecipada, imediata, em comparação com seu uso tardio, parcimonioso.
A pesquisa combinou esse teste com um exame dos benefícios experimentados pelos pacientes no seu bem-estar geral, sua satisfação com o tratamento alternativo e a viabilidade dos tratamentos, calibrando a progressão necessária das doses.
Modelo e métodos do estudo
Participaram do estudo pacientes maiores de 18 anos com câncer incurável ou em estágio 4 de evolução — quando a doença atinge outros órgãos –, que já faziam uso de opioides há pelo menos 1 mês e com pelo menos 3 meses de expectativa de vida. Cumprindo esses requisitos, 30 pacientes iniciaram os testes, divididos em grupos iguais para testar o uso de Cannabis medicinal de forma “adiantada” e “atrasada”.
O primeiro grupo recebeu 3 meses de tratamento com medicamentos canábicos; enquanto o segundo continuou com o tratamento de opioides por 3 meses, para então iniciar um período de mais 3 meses com medicamentos à base de Cannabis. Desse universo, no entanto, apenas 9 pacientes de cada grupo completaram o estudo.
O monitoramento envolveu questionários em que os pacientes reportavam seus sintomas mensalmente, bem como uma avaliação das dores relacionadas e um diário em que listavam os analgésicos e opioides que utilizados no período. Esses dados foram organizados de forma a mostrar a quantidade equivalente de medicamentos canábicos empregados para suprir o uso de opioides.
Na média, o uso de THC por paciente foi o dobro do uso de CBD (34,4mg de THC contra 16,6mg de CBD).
Percepção de dor e uso de opioides
Os resultados obtidos pelos pesquisadores indicam que a medicina canábica tem potencial claro para aliviar a dor dos pacientes e também diminuir o uso de opioides — dois objetivos centrais para pacientes e médicos quando o assunto é tratamento de câncer. Para determinar o efeito da Cannabis medicinal nesses dois cenários propostos, o estudo analisou a resposta dos pacientes nos 3 primeiros meses de testes.
No geral, os relatos de dor e a expectativa de melhora eram similares em todos os pacientes — todos partiam de um mesmo patamar. A diferença entre os dois grupos se evidenciou nas análises dos benefícios observados nos primeiros 3 meses: aqueles que iniciaram o tratamento com Cannabis medicinal imediatamente reportaram uma melhoria na sua expectativa de alívio da dor em 44% (de 2 entre 9, para 4 entre 9); já entre os que seguiram com medicamentos convencionais, a expectativa acabou caindo em 11% (de 3 entre 9, para apenas 1 entre 9).
Em relação ao emprego de opioides, no grupo de pacientes tratados com Cannabis medicinal seu uso permaneceu estável; enquanto nos pacientes do tratamento convencional houve um aumento de 57% nas doses diárias. Vale notar também que apenas no grupo tratado com fitocanabinoides foi observada uma diminuição no uso diário de opioides, que caiu pelo menos em 20% para alguns pacientes.
Efeitos colaterais?
Nenhum paciente relatou efeitos adversos. A média de “impactos negativos” experimentados pelos pacientes e relatados em seus questionários foi de 2,8 — em uma escala organizada em: 1 = nenhum efeito negativo; 4 = alguns efeitos negativos; 7 = muitos efeitos negativos. Já os benefícios sentidos pelos pacientes receberam uma nota de 4,9 — sendo: 1 = nenhum benefício; 4 = alguns benefícios; 7 = muitos benefícios.
Adicionalmente, 44% dos pacientes que fizeram uso de Cannabis medicinal afirmaram que continuariam o tratamento à base de Cannabis mesmo após a pesquisa.
Conclusões
Segundo os pesquisadores, apesar da significativa taxa de desistência de pacientes devido ao avanço da doença, o método e o modelo do estudo são sólidos e apontam para uma área que pode render ótimos resultados em pesquisas futuras no uso de fitocanabinoides.
Os dados coletados apoiam evidências de análises anteriores, indicando que a Cannabis medicinal é eficiente na diminuição da dor e do uso de opioides em pacientes de diversas doenças. Eles ainda frisam que mais pesquisas rigorosas podem beneficiar toda a comunidade para delinear uma forma segura, precisa e eficaz de incorporar o uso da medicina canábica aos tratamentos de câncer.
Agende uma consulta com médicos que tratam o câncer e seus efeitos com Cannabis medicinal.