Muito se fala sobre as relevantes propriedades terapêuticas da Cannabis e da importância do óleo integral (full spectrum) em comparação com o CBD isolado. Isso por conta do poder medicinal dos demais canabinoides, terpenos e flavonoides presentes nas plantas. Mas todo esse potencial terapêutico pode ser desperdiçado, caso o produto não seja conservado da melhor maneira.
Oxidação por luz, por ar e umidade são fatores que podem degradar o medicamento. Além disso, os conservantes utilizados pela indústria também tem seus prós e contras.
Por isso, o portal Cannabis & Saúde conversou com o Dr. Douglas Siqueira de Almeida Chaves, professor de farmacognosia do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal Rural do RJ (UFRRJ). Ele é mestre e doutor em Química de Produtos Naturais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador da Cannabis, ou “cânabis”, como prefere falar.
Ele está à frente de um convênio da UFRRJ com a Associação de pesquisa privada – Canapse (Canabiologia, Pesquisa e Serviços) – para viabilizar estudos farmacológicos e na área de melhoramento genético com a planta Cannabis sativa e suas variações.
Conservação e armazenamento
O farmacognosta orienta que é muito importante armazenar esse tipo de produto em frascos protegidos da radiação solar, em garrafa de vidro âmbar (aquela marrom, como a da cerveja) e sempre dentro de um armário. Guardar o óleo dentro da geladeira também é uma boa opção para pessoas que moram em regiões muito quentes.
Um óleo de Cannabis pode durar de 3 a 6 meses nessas condições de conservação. Depois de um ano, ele perde muita qualidade, mesmo com boas práticas. O professor Chaves citou o caso de uma mãe que estava administrando um óleo para o filho feito há mais de um ano, e quando analisaram os canabinoides, havia somente traços (quantidade muito pequenas) de CBD, e apenas o THC.
É importante ressaltar que o congelamento não é recomendado.
“Isso porque o descongelamento pode levar a contaminação microbiana, e quando se congela novamente as estruturas fisiológicas da planta podem se romper e levar a perda de princípios ativos.”
Já com relação aos conservantes utilizados nos produtos, Dr. Douglas Chaves explica que, em primeiro lugar, é preciso diferenciar os industrializados disponíveis no Brasil dos óleos artesanais produzidos por associações ou pelos próprios pacientes. Entre esses derivados da Cannabis, estão o Mevatyl, indicado para esclerose múltipla, e o canabidiol da Prati-Donadduzzi, usado no controle de epilepsia.
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Álcool
O Mevatyl é um medicamento fitocomplexo com dois princípios ativos isolados, CBD (25 mg/ml) e THC (27 mg/ml) em solução de etanol, o álcool. O professor Chaves explica que o líquido atua como conservante, pois pode eliminar possíveis micro-organismos que venham se desenvolver por um armazenamento errado.
Além disso, o álcool atua como veículo de administração na formulação. Porém, se mal conservado, há risco de se perder as propriedades medicinais.
“Se o paciente faz o armazenamento nas condições previstas pelo bulário, proteção de radiação, não deixar aberto, pegando luz, não deixar o frasco em alta temperatura (máximo de 25ºC para evitar degradação dos componentes), o etanol não vai aumentar a volatilização do THC e CBD, como dizem. Radiação luminosa, alta de temperatura, são grandes problemas que podem levar transformação química dos princípios ativos. O CBD pode gerar CBDA (ácido), e o THC pode gerar THCA, que não tem relação com a propriedade original do medicamento”.
Outro problema do etanol é que ele pode criar resíduo e, caso a medicação esteja num frasco plástico, pode extrair também constituintes tóxicos, como os ftalatos, que são compostos cancerígenos. Sobretudo para as pessoas que extraem o produto em casa.
“Álcool não é ideal, porque pode extrair muitas coisas além dos canabinoides. O álcool caseiro em geral é de baixa qualidade, este pode extrair o ftalato. A pessoa que faz extração em casa não vai usar o álcool industrial, mas um álcool de farmácia, que está com ftalato. Isso é um problema do paciente que cultiva em casa, então tem que ser um álcool em pote de vidro, como álcool cereais”.
BHA
O canabidiol da Prati-Donaduzzi vendido nas farmácias brasileiras tem como conservante um químico chamado Butil-Hidroxianisol (BHA), presente em cosméticos e alimentos industrializados. Por ter potencial cancerígeno, ele é banido de diversos países. Porém, o produto brasileiro tem baixa concentração deste conservante, segundo o professor Chaves. Isso não significa, contudo, segurança.
“Apesar de ser em concentração baixa, ele é um bom conservante, mas pode trazer malefícios. Então, EUA e Europa preferem utilizar antioxidantes mais naturais, porque BHA e Butil hidroxi tolueno (BHT) são sintéticos e podem ser cancerígenos. Por isso que esses países baniram sua utilização”.
Conservantes naturais
Um conservante mais seguro do que estas opções, para o farmacêutico, seria a Vitamina A. Contudo, ainda carece de estudo de interação e estabilidade para identificar como o composto poderia se comportar em uma formulação contendo canabinoides: “mas nós temos alternativas mais naturais”.
“Existem flavonoides naturais que têm propriedades antioxidantes, podendo ser uma alternativa natural relacionada aos sintéticos. Outras são os carotenos, presentes em cenouras. Mas isso tudo precisaria de estudos compatibilidade com a cânabis e/ou canabinoides”.
Para Dr. Douglas Chaves, o azeite de oliva ainda é uma das melhores opções para conservação destes óleos: “o azeite é um excelente conservante, além de um veículo para administração, eliminando o gosto do óleo que é bem amargo”.
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