Na última sexta-feira (03), o Globo Repórter, programa da maior emissora de TV aberta do país, foi integralmente dedicado à Cannabis Medicinal, levando informação para um grande número de pessoas e desmistificando o uso da planta para o tratamento de diversas enfermidades.
Apresentado pela jornalista Sandra Annemberg, o programa trouxe temas importantes como o posicionamento de médicos, cientistas e órgãos públicos. Além de mostrar histórias de pacientes e o trabalho de familiares para a regulamentação do uso da planta para tratamentos medicinais.
Priscila Mazzola, professora da Unicamp, abriu a reportagem falando sobre a importância do reconhecimento dos recursos terapêuticos da Cannabis e suas possibilidades de tratamento para as diversas doenças. Reforçando o potencial de uso da planta em rede nacional.
“O principal é que a gente capilarize conhecimento e que esse conhecimento chegue cada vez mais longe, a partir de informações de qualidade, com embasamento científico, que deixe a população segura desse uso e que vá quebrando os tabus e crenças que existem hoje em relação ao uso da Cannabis”, diz.
As diferenças entre CBD e o THC
Com o auxílio do neurocientista Renato Malcher, da UnB, o programa explicou as distinções psicoativas entre o CBD e o THC.
“O CBD atua como um agente calmante e ansiolítico, induzindo o relaxamento e facilitando o sono. Por sua vez, o THC, em doses reduzidas, também pode ter propriedades calmantes, porém, à medida que a dose aumenta, torna-se euforizante e, em certos indivíduos, pode desencadear ansiedade”, explica Malcher.
Entretanto, é importante pontuar que a Cannabis possui mais de 1500 componentes, incluindo mais de cem fitocanabinoides, cada um com propriedades medicinais distintas. Neste artigo, você pode entender melhor algumas das principais substâncias, como o CBD, CBG, CBN e CBC.
Globo Repórter aborda os avanços da pauta no Brasil
Em 2020, a Cannabis foi removida da lista elaborada pelas Convenções Internacionais de Controle de Drogas da ONU e passou a integrar a chamada lista 1, que inclui substâncias consideradas entorpecentes com propriedades terapêuticas.
Neste trecho do programa, a Fiocruz, uma das instituições de saúde e pesquisa mais respeitadas no Brasil, é citada como uma das responsáveis por chancelar o uso do medicamento no país.
A instituição divulgou, em abril de 2023, uma nota técnica em que coloca como fundamental o investimento científico, além da regulamentação que viabilize a produção, prescrição e o acesso ao medicamento pelo Sistema Único de Saúde.
O documento tem o intuito de fornecer embasamento teórico para legisladores, profissionais técnicos, pesquisadores e demais partes interessadas que desejem discutir o assunto.
Além disso, a nota ressalta a importância de promover pesquisas científicas e capacitar profissionais de saúde para lidar com o uso terapêutico da Cannabis no Brasil.
O documento traz ainda as condições de saúde que apresentam sintomas específicos, respaldadas por evidências científicas robustas que garantem a eficácia, segurança e aplicabilidade terapêutica da Cannabis medicinal, tais como:
- Dor crônica
- Epilepsia refratária
- Espasticidade
- Náuseas
- Perda de apetite
- Parkinson
- Distúrbios do sono
Francisco Netto, coordenador responsável pela nota, afirmou para a reportagem que a ideia do documento é dar segurança aos atores que defendem a necessidade de avanços nessa produção nacional e complementa:
“O grau de evidência, o grau de robustez que a gente tem é inquestionável”, destaca.
Cannabis no SUS
José Luiz da Costa, coordenador do centro de ensino e pesquisa da Unicamp, que tem feito o controle de qualidade de vários óleos produzidos por associações de todo o país, falou sobre a importância da regulamentação da Cannabis Medicinal no SUS, no estado de São Paulo.
“Eu entendo que foi um passo muito importante o Estado de São Paulo colocar essa regulação e começar a oferecer a medicação através do SUS. Tenho certeza que ela também vai ter que evoluir para abarcar outras doenças também”
Atualmente, as indicações de tratamento contemplam a Síndrome de Dravet, Síndrome de Lennox Gastaut e Esclerose Tuberosa.
O professor conta ainda que estabelecer um laboratório de controle de qualidade é uma empreitada dispendiosa para as associações, exigindo investimentos substanciais que podem alcançar a cifra de um a dois milhões de reais. Nesse contexto, as universidades desempenham um papel crucial ao fornecerem apoio à sociedade nessa área. Em troca desse suporte, as universidades recebem os óleos, que são essenciais para o funcionamento eficaz do laboratório e o avanço das pesquisas.
O trabalho das associações
Duas associações de destaque na reportagem são a Apepi (Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal) e a Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança).
Apepi
Diante do diagnóstico de sua filha, Sofia, com o raro transtorno CDKL5, Margarete Brito e Marcos Langenbach decidiram iniciar o cultivo da Cannabis. Começaram em casa e depois estabeleceram parcerias com universidades e farmacêuticos.
“Ela chegava a ter até dez convulsões por dia. Hoje, passa dois ou três dias sem nenhuma”. Em 2014, obtiveram autorização judicial para expandir o cultivo, com o objetivo de ajudar outras famílias.
Margarete reforça: “Sempre vi a proibição como algo tão injusto que precisava ser combatido. Esconder-se parecia pior, como se estivéssemos fazendo algo errado.”
Abrace
A Abrace, localizada em João Pessoa, na Paraíba, enfrentou batalhas judiciais prolongadas, encerradas somente em 2023, quando o STF concedeu à associação permissão permanente para o cultivo e fabricação de medicamentos à base de Cannabis. Fundada por Cassiano Gomes em 2014, a Abrace conta com quase 47 mil associados.
Uma delas é a Analu, que enfrentou desafios significativos devido ao seu diagnóstico de epilepsia e hidrocefalia desde o nascimento. Seus medicamentos convencionais a deixavam sonolenta durante o dia, mas desde que começou a utilizar o óleo de Cannabis, suas convulsões cessaram e ela recuperou a qualidade de vida.
“Quando a Cannabis entrou na nossa vida, minha filha começou a sorrir, coisa que ela não fazia”, afirma Grazy, mãe da Analu.
Histórias de pacientes
Além da comovente jornada de Analu, o programa também compartilhou outras histórias igualmente inspiradoras.
Breno, um jovem de 18 anos, enfrenta desafios diários por conta do transtorno do espectro autista. Sua mãe, Flávia da Conceição Gregório, descreve um passado de crises intensas e agressivas: ‘Ele me agredia fisicamente, era muito agressivo. Isso me machucava e também o machucava.’
Através do tratamento com medicamentos à base de cannabis, Breno apresentou uma melhora expressiva, como relata Flávia:
‘Eu posso afirmar com segurança que ele está muito melhor do que antes. Comecei a conceder mais autonomia a ele. Ele vai à escola e à academia sozinho. Acredito que as pessoas precisam de informação. Muitas vezes, têm muito medo do desconhecido.’
Outro paciente, Nicolas, hoje com 12 anos, enfrentou desde cedo um diagnóstico desafiador de microcefalia, paralisia cerebral e epilepsia. Seus pais, Camila e Gabriel, recordam um período marcado por crises constantes, chegando a 60 por dia. No entanto, após encontrar o tratamento adequado com a cannabis, Nicolas experimentou uma transformação notável.
‘Ele começou a mostrar um outro lado que a gente não conhecia. Ele corre, dá risada, interage com as pessoas’, destaca Gabriel.”
Unifesp
No Brasil, a Unifesp foi uma das primeiras instituições a iniciar pesquisas sobre o uso medicinal da Cannabis, especialmente na década de 1950, sob a liderança do professor Elisaldo Carlini. No entanto, sua pesquisa enfrentou resistência e ele foi detido aos 87 anos, sob acusações relacionadas à apologia ao crime.
Soraya Smaili, que colaborou com Carlini, participou da reportagem para falar sobre os efeitos dos compostos da Cannabis nas células nervosas. Ela destacou o interesse da equipe em explorar os efeitos da planta na Doença de Parkinson, uma condição neurodegenerativa sem cura definitiva.
Soraya enfatizou que, embora não haja uma cura direta, os Canabinoides podem desempenhar um papel importante no retardamento ou redução dos efeitos da doença, especialmente na diminuição do acúmulo de uma proteína que é tóxica associadas à condição.
“Alfa-Sinucleína é uma proteína que é tóxica, e esse acúmulo precisa ser evitado para barrar a morte do neurônio”, explica.
Sistema endocanabinoide
Renato Malcher, finaliza falando sobre as pesquisas em andamento na Universidade de Brasília, sobre enzimas e receptores que explicam os bons resultados da Cannabis. “Esse sistema recebeu o nome de sistema endocanabinoide, por ser organizado por substâncias que o nosso corpo produz que são imitadas pela planta”
E complementa: “Há uma quantidade de estudos extraordinária não só para compreender o potencial médico, mas para compreender a importância desse sistema na própria vida. Ficou claro que é um sistema que está na raiz de todo o controle do nosso bem-estar”, finaliza o neurocientista.
Tratar a questão sem preconceito e com base científica
A reportagem consultou o Ministério da Saúde que reforçou que o foco atual é direcionar esforços para promover pesquisas clínicas.
O secretário da Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, enfatizou a necessidade de abordar essa questão com base científica, sem preconceitos. Além disso, destacou a importância da decisão do Ministério da Saúde, que influencia as políticas de saúde do país e disse que “é fundamental permitir que a ciência siga seu curso, já que o uso inadequado de medicamentos pode trazer sérios prejuízos à população.”
Pela proposta legislativa atual, o Ministério da Saúde seria o órgão responsável por autorizar o plantio da Cannabis para fins medicinais. Com Projeto de Lei já aprovado em Comissão Especial na Câmara, a autorização para o cultivo passaria para o Ministério da Agricultura. Enquanto o Ministério da Sáude e a ANVISA, ficariam responsáveis pela regulação da produção e da venda dos produtos à base de Cannabis. Pelo regulamento da Câmara, o projeto já aprovado deveria ir direto para o Senado, mas a bancada conservadora dos deputados, entrou com um recurso pedindo para que seja votado em plenário e ainda não há data para a votação.
Já a Anvisa, diz que está em fase de regulação dos produtos à base de Cannabis e por isso não poderia antecipar avaliações. O Conselho Federal de Medicina, por sua vez, afirma que se posicionou favorável para síndromes de Lennox-Gastaut e de Dravet, como também para os casos de Esclerose Tuberosa – que inclusive, recentemente, foi aprovado para distribuição no SUS.
Para as demais indicações, o órgão diz que os estudos são promissores, mas ainda faltam certezas de “rigor científico”
Como iniciar um tratamento com Cannabis?
O Portal Cannabis & Saúde se destaca como o principal canal independente de informações e notícias sobre Cannabis Medicinal no Brasil. Aqui, oferecemos um guia abrangente sobre medicina canabinoide para tratar uma variedade de transtornos e patologias, como ansiedade, depressão, insônia, fibromialgia, dores crônicas, Alzheimer, Parkinson, autismo, epilepsia, câncer (para cuidados paliativos) e muitas outras condições que respondem ao tratamento com a Cannabis.
Além de promover a educação e conscientização sobre o uso medicinal da Cannabis, simplificamos o acesso aos tratamentos à base de Cannabis por meio da nossa plataforma de consultas.
Nossa prioridade é facilitar essa conexão entre médicos e pacientes, assegurando um acesso seguro e humanizado ao tratamento com Cannabis. Conforme as leis brasileiras, é essencial que um médico ou dentista acompanhe o paciente e recomende a dose e o produto mais adequados.
Se você está interessado em iniciar um tratamento com a planta, não hesite em acessar nossa plataforma de agendamentos. Lá, você encontrará mais de 300 médicos e dentistas prontos para avaliar seu caso e recomendar o melhor caminho.