Você sabe o que é lobby e o que faz o profissional que atua nessa área? No quadro ‘A Cannabis no Congresso’ conversamos com Marcelo do Sato, diretor internacional no Brasil da Associação Latino Americana das Indústrias do Cânhamo (LAIHA).
Sato, que reúne ampla experiência como articulista político há quase três décadas, assumiu a missão de constituir no Congresso Nacional uma Frente Parlamentar em Defesa do Cânhamo.
Para quem desconhece, as frentes parlamentares são associações de deputados e senadores – de vários partidos políticos – constituídas para debater e movimentar temas de interesse da sociedade. É um espaço alternativo de militância e ativismo.
Para instituir uma frente é preciso reunir pelo menos 1/3 das assinaturas dos membros do Legislativo Federal, ou reunir o apoio de 198 políticos eleitos. Além disso, o bloco ainda precisa de ata de fundação e de um coordenador responsável.
É com esse compromisso que Sato desembarca em Brasília. Para entender melhor o trabalho da LAIHA no Congresso Nacional brasileiro e porque é importante criar um bloco de apoio ao cânhamo, não deixa de ler a reportagem até o fim.
Muita gente não sabe, mas existe o lobby do bem, o lobby educativo. É com esse propósito que você já deu início a esse corpo a corpo como os parlamentares para instruir a Frente Parlamentar em Defesa do Cânhamo?
A LAIHA está no Brasil agora, através de mim, para a gente criar a Frente Parlamentar de Apoio à Indústria do Cânhamo. É inadmissível que um país como o Brasil, com total foco no agronegócio, perca essa grande oportunidade de gerar emprego e renda, sobretudo em uma cadeia produtiva altamente sustentável. Inclusive, eu estou reparando que você está usando um vestido feito com tecido de cânhamo, é um dos produtos que poderá ser desenvolvido pela indústria de cânhamo no Brasil.
É importante mostrar para os parlamentares o que é possível fazer a partir da fibra de uma planta com produtos reais, não é mesmo?
Sem dúvidas. Além disso, precisamos desmistificar essa questão do cânhamo e da maconha. Cânhamo é uma coisa e maconha é outra. As plantas pertencem à mesma família, mas o cânhamo não possui tetrahidrocanabinol (THC), que é a molécula psicoativa da maconha, que produz o efeito adulto.
Nós estamos querendo regulamentar o cultivo da fibra que não tem em hipótese alguma, propriedades psicoativas. Então, a gente tem que acabar de vez com esse preconceito e por isso vamos trabalhar no Congresso a partir de agora recolhendo assinaturas dos deputados para que seja aprovada essa frente.
O próximo passo é reconhecer o cânhamo e regulamentar essa planta aqui no Brasil, seguindo o exemplo exitoso de países vizinhos como o Paraguai, através da Câmara do Cânhamo Industrial do Paraguai, por exemplo. Tenho certeza que nossa luta será exitosa.
Para quem ainda tem preconceito com o termo lobista, explica para essas pessoas o que o lobista faz aqui no Congresso.
O lobista nada mais é do que um instrumento facilitador para fazer as coisas acontecerem de forma mais célere aqui no Congresso.
O lobista explica para um parlamentar, que não tem domínio da matéria em questão, nesse caso o cânhamo, o porquê da regulamentação do cultivo. Nós trazemos números e dados para embasar o debate. Esse é o trabalho do lobista, levar informação e transformar um assunto polêmico em algo comum e tranquilo para ser discutido.
O lobista trabalha em prol da defesa de uma causa?
Exatamente, a gente faz a defesa de uma causa, de uma categoria, de uma profissão em prol da sociedade. Não é em benefício de uma ou outra categoria ou pessoa. É um assunto de interesse coletivo que pode trazer inúmeros benefícios para a sociedade.
E você já tem experiência no assunto, não é? Conta um pouco da sua trajetória.
Eu tenho aprendido bastante sobre Cannabis tanto para fins medicinais como para o uso industrial. Eu entrei nesse mundo da Cannabis a partir da minha própria dor, então eu sinto na pele o que é isso.
O uso medicinal da Cannabis tem melhorado muito a minha vida. Em função disso, eu assumi esse cargo na LAIHA para entrar no Brasil com força. Queremos acabar com a judicialização da importação, seja da fibra, ou do medicamento.
Inclusive, se o Congresso não se posicionar corre o risco de o Superior Tribunal de Justiça (STF) legislar sobre o cultivo de cânhamo no Brasil.
Exatamente, mais uma vez o parlamento perde a chance de cumprir o seu papel de legislador sobre um assunto que, para mim, já não é mais polêmico, foi desmistificado. Mas, entretanto, a gente encontra barreiras, sobretudo com a eleição de um Congresso mais conservador. Mas a gente vai explicar para todos eles que o cânhamo não faz mal a ninguém, não é capaz de produzir entorpecentes e que a regulamentação vai ampliar o acesso e reduzir os custos. Inclusive, muita gente poderá ter acesso à planta através desse nosso trabalho.
Esse trabalho de educação é feito no corpo a corpo, batendo de porta em porta nos gabinetes?
É de porta em porta, como a gente diz: é passar o pires. É beijar a mão de deputado e de senador e todos que possam contribuir com essa causa nobre e legítima. Creio que haverá uma ou outra resistência, mas acredito que o diálogo constrói essa revolução que será a regulação da Cannabis no Brasil.
Inclusive, nesse governo que defende tanto o meio ambiente e a ecologia, precisa também abraçar essa causa. Uma vez que o cânhamo é CO2 negativo, pode ser usado para a venda de carbono e regenera área degradas.
Você tocou num assunto sensível e importante. O cânhamo como você mesmo disse regenera o solo, age como um defensor agrícola, que por si só já mata protozoários. E a gente pode, entre uma safra e outra, usar o cultivo do cânhamo para descansar a terra e aumentar ainda mais a produtividade do solo
A absorção de carbono pela planta também é fundamental, porque os países estão na corrida para reduzir a emissão de gases poluentes, podendo até haver a venda de carbono positivo por meio do cultivo do cânhamo.
Sem dúvida nenhuma, o cânhamo é altamente produtor de carbono negativo. Mais uma potencialidade ecológica para o Brasil.
Você sabia que a Cannabis para fins medicinais já é regulamentada no Brasil pela Anvisa?
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