No terceiro dia do Medical Cannabis Summit, maior congresso sobre medicina canabinoide no Brasil 100% online e gratuito, foi a vez dos pacientes ganharam voz. O segundo painel da noite de quarta-feira (24) trouxe o caso clínico de um paciente grave: “Cannabis na Traumatologia. Controle de dor e inflamação no pós operatório”.
No painél, o médico Dr. Jimmy Fardin Rocha, ortopedista especialista em cirurgia do joelho e prescritor de Cannabis, contou sobre o tratamento do Marcone Alexandrino, um baiano de 35 anos, biólogo, capoeirista e que sofreu um acidente de motocicleta em novembro do ano passado.
Além da fratura do fêmur esquerdo, o paciente agonizou muito com uma infecção pós-operatória. Cerca de 40 dias após a cirurgia, a fratura apresentou secreção. O Marcone precisou voltar à emergência do hospital. No quinto mês após a intervenção cirúrgica, a fratura ainda estava sem sinais de consolidação ou melhora dos sintomas.
Foi nesse período que o paciente, pesquisando sobre tratamentos com Cannabis, conheceu o Dr. Jimmy. Iniciou com canabidiol (CBD) já naquele quinto mês, inicialmente com duas doses baixas de CBD ao dia.
Na palestra, o médico ressaltou que foram semanas de tentativa e erro até encontrar a posologia ideal de CBD e THC. Após duas semanas, introduziu o THC, com apenas 2,5 mg. Chegou a aumentar o composto para até 30 mg, mas hoje ele faz o tratamento com 10 mg de THC e 80 mg de CBD por dia, conforme o quadro abaixo.
“Ele finalmente formou o calo ósseo, que não estava se formando até então. Com 30 dias de tratamento já víamos o calo se formando. Nós temos receptores CB1 (canabinoide) na medula óssea, que modulam essa atuação dos osteoblastos, que fazem a formação do osso. Essa formação é acelerada quando você tem esses receptores sendo ativados”, explicou o médico.
“A própria inflamação vai ser degradada mais rápida, e o corpo vai reagir melhor, diminuindo citocinas inflamatórias”, concluiu.
Além disso, o médico lembrou que a dor nunca vem sozinha.
Ela sempre tem um componente emocional que pode agravar ainda mais o quadro. Nesse contexto, o paciente necessita de opioides, que vão do tramal à morfina. São produtos importantes e com benefícios relevantes, mas causam efeitos colaterais graves no fígado, rins e na parte cognitiva. Nesse sentido, como a Cannabis também atua nos receptores opioides, propicia a diminuição da taxa de uso desses opiodes e, por consequência, os efeitos colaterais.
Significa qualidade de vida para o paciente e até mesmo o controle de ansiedade. Durante o painel, Marcone contou que era uma pessoa muito ativa, praticava capoeira, estava estudando intensamente para concursos, mas com a fratura acabou perdendo a força de vontade.
“(Após a Cannabis) eu percebi melhora no aspecto do humor, do sono, da confiança, de ter uma perspectiva melhor. Eu ficava muito para baixo, achando que não haveria solução para o problema. E eu fiquei mais confiante. Eu deixava o óleo embaixo da língua e ia fazer caminhada sem ficar preocupado.”
No final da apresentação, o Dr. Jimmy mostrou um vídeo do Marcone praticando capoeira normalmente.
Assista gratuitamente o Medica Cannabis Summit
A quarta-feira teve ainda outras duas palestras, estas bem mais voltadas aos médicos. Foram elas a “Quality of Life and a Surveillant Endocannabinoid System”, quando o Dr. Ricardo Reis, doutorado em Biofísica Neuroquímica (UFRJ) e pós-doutorado em Neurobiologia. O cientista apresentou a mais recente revisão de estudos já realizados sobre a Cannabis para fins medicinais.
Por fim, o Dr. Ricardo Ferreira, médico ortopedista e maior especialista em dor do país com o uso da Cannabis medicinal , palestrou sobre posologia de A a Z para dor crônica. O médico ministrou uma aula com sugestões de posologia com base em sua experiência clínica e respondeu dúvidas da audiência.