Rose Gracie é uma empreendedora brasileira já há 26 anos dentro da indústria das artes marciais nos Estados Unidos. Embora pouco conhecida no seu país natal, ela faz bastante sucesso lá fora na organização de competições de jiu-jitsu e MMA. A Rose agora está fazendo barulho nos States por outro motivo: está em campanha pelo uso de Cannabis por atletas que sofrem da chamada síndrome da demência pugilista. Este é o nome como ficou conhecida a encefalopatia traumática crônica, uma doença neurodegenerativa progressiva.
A empresária tem as artes marciais no sangue. Ela é neta do grão-mestre Helio Gracie, o ‘pai do jiu-jitsu brasileiro’, e filha do criador do UFC, Rorion Gracie. Apesar de não ter seguido a vocação no tatame, se destacou no lado empresarial. É a criadora da série Gracie Tournament e atualmente administra mais de 50 academias pelo mundo. Recentemente se tornou empreendedora também no setor de Cannabis no esporte.
“Eu conheci os benefícios (da planta) para o alívio das dores de atletas, mas comecei a perceber como melhorava também na questão de ansiedade. E aí eu descobri o uso na encefalopatia traumática crônica, que ficou conhecida como doença do pugilista. Mas ela não é só do pugilista, porque também afeta jogadores de futebol, rugby, qualquer esporte que tenha risco de choques na cabeça”, explicou em entrevista ao portal Cannabis & Saúde.
Através da sua iniciativa Concussion Foundation, ela tem trabalhado junto com universidades dos EUA e Canadá para ampliar os estudos sobre essa doença, que causa perda de memória, depressão e tendências suicidas. O objetivo é que atletas com sintomas da doença doem seus cérebros para pesquisa.
Um dos casos mais emblemáticos é o do ex-atleta do UFC, o brasileiro Renato Babalu. Os 16 anos de carreira dele no mundo das artes marciais mistas lhe deixaram graves sequelas: “eu não consigo mais hoje em dia andar em linha reta, eu perdi minha vista esquerda, e isso é um grande preço. Eu não tenho mais equilíbrio, meu equilíbrio é quase zero”, desabafou no ano passado, em entrevista ao Portal Vale Tudo.
A empreendedora da antológica família Gracie garante que a Cannabis sempre foi parte da cultura dos lutadores: “essa negligência (de acesso à planta) é um negócio criminal, porque os atletas precisam disso para recompor o corpo, para as dores na cabeça. Então é um crime dizer que um atleta não pode usar essa substância”, argumentou.
Rose irá participar do seminário digital Medical Cannabis Summit em um painel sobre a Cannabis no esporte. Mas a empresária conversou antes com o portal e contou um pouco da sua história. Ela também lembrou do episódio envolvendo o tio dela, o Relson, que foi preso no Rio de janeiro portando frascos de CBD: “uma absoluta ignorância no assunto”.
Confira a entrevista completa!
Cannabis & Saúde: Você vem da família do Carlos e Hélio Gracie, que são os pais do jiu-jitsu no Brasil e que inclusive desenvolveram o Brazilian Jiu Jitsu que hoje é referência e praticando no mundo todo. Então, antes de falarmos sobre a Rose e sobre sua luta pelo canabidiol para lutadores, numa breve apresentação, quem foram Carlos e Helio Gracie?
Rose Gracie: Eles são os meus heróis. A minha mãe é neta do Carlos e meu pai é filho do Hélio. Minha mãe e meu pai são primos da família, e por isso eu tive o privilégio de ter bastante lutador a minha volta. Meus avós aprenderam jiu-jitsu e abriam uma academia no Rio de Janeiro em 1925. E foram ensinando jitsu desde então. Meu pai se mudou para os EUA quando eu tinha 5 anos e aqui foi o criador do UFC. O resto é história! Com 19 anos eu também fui morar nos Estados Unidos, primeiro no Havaí, mas como o UFC virou essa loucura eu tive que ir pra Califórnia trabalhar com ele.
O que a Rose Gracie faz pra manter o legado da família como protagonista da história do Jiu Jitsu no mundo
Eu trabalhei muito tempo com meu pai nas academias (são mais de 50), eu não fui pro lado da competição. Então meu lado sempre foi na parte de gerência, eu cresci nesse mundo. Fiz bastante campeonatos de jiu-jitsu, um monte de campeonato, o Gracie Worlds, Gracie Nationals e Gracie Regionals. E agora eu também faços eventos, seminários, cursos.
Qual sua relação com o CBD? Que história é essa de Garota CBD?
Não só com relação ao corpo e a mente, mas a saúde como um todo. Eu sempre soube dos benefícios do CBD para o corpo. Eu estou coberta de CBD no meu corpo nesse momento em que falo contigo. Tomei agora de manhã!
Eu conheci os benefícios para o alívio das dores de atletas, mas comecei a perceber como melhorava também na questão de ansiedade. E aí eu descobri o uso na Encefalopatia Traumática Crônica, que ficou conhecido como a doença do pugilista, mas que não se deve usar esse nome, porque também afeta jogadores de futebol, rugby, qualquer esporte que tenha risco de choques na cabeça.
O que acontece? O CBD tem muitas propriedades restaurativas neurológicas. Muitos atletas com essa doença também sofrem com depressão, ansiedade, comportamento irracional, perda de memória, parkinsonismo, tendência suicida, vício em drogas e álcool. E eu descobri com o neurologista brasileiro Dr. Renato Anghinah, que apoia o uso da Cannabis, os benefícios da cannabis para esses sintomas. Neurologicamente falando, os benefícios do cbd para essas doenças é incrível, eu mesma virei fã. É uma planta que nos dá roupa, comida e ainda faz essas maravilhas para o corpo.
Você tem amigos, conhecidos ou atletas que tenham essa doença?
Sim, e que está se tratando com Cannabis! É uma coisa muito nova pra entender o que eles estão passando. Na verdade, a maioria nem sabe que existe, nunca ouviram falar. Então são vítimas dessa doença degenerativa sem saber.
Eu estou vendo resultados extremamente positivos. A gente tem que achar a sintonia correta para saber o que funciona para cada um. o maior problema no CBD no mundo ainda é, mesmo aqui nos eua que é liberado total, é a dosagem. Porque a dosagem incorreta pode não servir para nada. Mas ao mesmo tempo não é nada perigoso.
O UFC e as artes marciais estão fazendo as pazes com a Cannabis. Já tem até marca de CBD patrocinando eventos e atletas. Como está esse momento da Cannabis e as lutas?
O CBD e a Cannabis sempre foram parte da cultura de lutas. Hoje, com tudo que existe aqui, eu trabalho com uma empresa de CBD que é registrada pelo FDA (A Anvisa dos EUA) é GMP (boas práticas de Fabricação). Mas se fosse uma escolha minha, deveria ser liberado geral, como já é na Califórnia. Inclusive o THC, porque também pode ser medicinal se reduz a dor do cara.
Isso não quer dizer que ele vai ter uma vantagem na hora da luta. A loucura desse pensamento não faz sentido. Essa negligência (de acesso à Cannabis) é um negócio criminal, porque os atletas precisam disso para recompor o corpo, para as dores na cabeça. Então é um crime dizer que um atleta não pode usar essa substância. Então, a gente usa hoje o CBD. Mas, eventualmente, tem que haver medidas muito mais amplas para os atletas, principalmente com essa situação da doença (Encefalopatia Traumática Crônica) que precisam da Cannabis para sua qualidade de vida. É tão parte da cultura das artes marciais que ter qualquer tipo de estigma só vai fazer mal aos atletas.
Em janeiro, o seu tio Relson Gracie foi preso no RJ com posse de produtos de CBD. Ele foi solto logo em seguida, mas houve uma situação embaraçosa. Teve de deixar o passaporte com a Polícia Federal. Como foi esse episódio?
É a coisa mais inocente o tio Relson! Tinha uma promoção na loja de CBD aqui perto de casa, e na compra de um óleo ganhava outro. Antes do tio Relson voltar para o Brasil, e ele tem a carteirinha do uso do CBD, então aqui é que nem comprar Coca-cola. Ou seja, ele já está acostumado.
Como isso nunca foi um problema, ele não imaginava que o CBD seria ilegal no Brasil. O tio é um idoso, ele tem 67 anos. E aí ele foi. Quando chegou no Brasil, ele me contou que foi preso! E aí, eu tomei as ações para resolver o problema e foi quando eu descobri o que está acontecendo aí Brasil.
Na minha opinião, isso é uma absoluta ignorância no assunto. Eu tive que explicar que era um idoso, com receita, com recibo, tudo certo. O problema é que ele pegou um voo para ir pro Brasil. Mas ele precisa desses remédios para sobreviver. Ele tem dor no corpo todo e precisa disso. Jamais na nossa cabeça ele seria preso por levar CBD pra casa!
Você vai trazer CBD para o Brasil? Quais seus planos?
Nessa loucura com o tio Relson, veio a minha vontade de trazer esses produtos para o Brasil. A gente tem uma empresa, a The Honest Globe, a gente produz canetas, óleo, flores, roupas. mas o nosso carro chefe é a nossa marca Elixicure. É um creme que tem de 100 mg a 1000 mg de CBD e, se a pessoa está com cólica, usa o creme, artrite, dor no joelho, o creme é bom até pra mordida de mosquito (risos)!
E aí eu quero trazer esse produto pro Brasil. Eu comecei a pesquisar sobre a autorização da Anvisa, como faz pra exportar. Mas a minha intenção é trazer isso a um preço muito mais baixo. Porque é um absurdo, o que está custando R$ 2100 aí na farmácia do Brasil se paga 10 dólares aqui.
O que dá pra adiantar do painel sobre Cannabis no esporte para as mais de 16 mil pessoas inscritas no evento, na data de hoje?
Eu achei maravilhosa essa ideia do Summit. Estou super apoiando. Todo mundo tem que se informar, é através da informação que você se conecta com o mundo. Então, eu estou animada para descobrir mais sobre o Brasil, eu já moro há 26 anos aqui nos Estados Unidos, né, e também compartilhar essa minha experiência de como funcionam as coisas aqui. Se eu ajudar uma pessoa eu já estou feliz!