Observar mais de perto a realidade da profissão ainda durante a faculdade de medicina desanimou o médico de família Rogério de Souza Duarte. “A gente começa com uma ideia bastante idealizada de que vai poder ajudar a muitos pacientes de uma maneira que me sentisse realizado, mas eu não consegui me identificar em nenhuma especialização.”
“Comecei a trabalhar como clínico geral e, com o passar do tempo, vim a conhecer a medicina de família Isso me abriu para a possibilidade de uma abordagem mais centrada na pessoa. Uma visão mais holística e integrada do paciente.”
“Eu acredito em uma relação mais horizontal entre médico e paciente. Assim, a gente tem a possibilidade de tomar decisões compartilhadas em busca do que é o melhor para o paciente.”
Se especializou em medicina de família, porém, com o tempo, passou a perceber limitações nas opções terapêuticas que tinha à disposição. “Observei que a gente não está preparado para lidar com dor crônica. Passei a buscar opções e fiz uma residência em acupuntura.”
Médico de família e acupunturista
“A acupuntura me abriu todo um universo que permitiu com que eu me religasse com a medicina. Eu me reencontro com o que eu esperava que ia aprender na medicina. O conhecimento de como o corpo funciona e interage na saúde e na doença.”
“Me trouxe muitas ferramentas e também uma compreensão melhor sobre os processos que levam a dor, que mantém a dor e também os processos que ocorrem para que a pessoa possa vencer essa essas doenças.”
Atendendo aos pacientes com dor crônica, porém, passou a ter contato com mais uma possibilidade terapêutica. “Muitos pacientes vieram me trazer essa questão da Cannabis e eu comecei a me interessar.”
Médico de família e prescritor canábico
Fez cursos e, há quatro anos, é prescritor de Cannabis medicinal. “Me abriu muitas possibilidades. O que me fascina é a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do paciente, algo muito importante no tratamento da dor.”
“Como médico de família, a gente foca muito nas questões do dia-a-dia. Não é um médico que dá um remédio e pronto, mas vai abordando todos os aspectos que podem influenciar.”
“A Cannabis enriquece muito meu trabalho como médico da dor no sentido de avançar em aspectos decisivos no tratamento. Na dor, é importante uma abordagem multimodal e a Cannabis medicinal é muito preciosa pois possibilita uma melhora no aspecto emocional. Muitos pacientes me relatam que, além da dor, melhoraram em questões da mente.”
“A Cannabis traz essa possibilidade de melhorar o paciente como um todo e potencializa as abordagens complementares no estilo de vida, pois melhora o sono, a disposição e, com isso, a possibilidade de fazer atividade física. É todo um conjunto.”
“Vemos muitos efeitos colaterais positivos. Vai tratar a dor, mas melhora o sono, a ansiedade, a concentração. Não paro de me surpreender com os feedbacks positivos do uso da Cannabis.”
Expandindo fronteiras
Com o tempo, mais e mais pacientes com patologias diversas passaram a procurá-lo em busca desses “efeitos colaterais”. “No que a gente se torna conhecido por trabalhar com canabinoides, passa a ser procurado por pessoas com insônia, ansiedade, depressão.”
“É muito gratificante ver pacientes que utilizavam até três medicamentos antidepressivos sem uma resposta satisfatória se transformarem com a Cannabis e alguns ajustes no estilo de vida.”
Diante as evidências, o médico de família acredita que a tendência é que, com o tempo, o preconceito que ainda existe contra a Cannabis se dissolva. “Entre os pacientes, os preconceitos começam a cair assim que a pessoa percebe que existem formulações que não oferecem praticamente nenhum risco de efeito adverso.”
“Entre a classe médica, vejo que há cada vez mais profissionais interessados em buscar informações. Muita gente era contra, se informa e vai se convertendo até começar a usar.”
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