A história da cirurgiã-dentista Mariana de Carvalho Maciel é um exemplo de como a entrada da Cannabis nas universidades é inevitável e só uma questão de tempo.
Formada em Odontologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), nunca viu as propriedades terapêuticas da planta ou o sistema endocanabinoide, parte fundamental do organismo, ser mencionada pelos professores.
“Durante toda minha carga horária na faculdade, nunca foi me falado sobre o sistema endocanabinoide. A Cannabis só era mencionada como droga de abuso, nunca por suas propriedades terapêuticas.”
Isso não significava que o assunto era ausente. “Eu tive bastante contato com pacientes que faziam uso de Cannabis medicinal fora da Odontologia, em projetos de extensão da faculdade.”
Cirurgiã-dentista canábica
“Mas eu comecei a conhecer mais com uma amiga minha, que fez o trabalho de conclusão de curso sobre a Cannabis. Foi assim, com ela, que comecei a pesquisar mais.”
“Eu trabalho muito com dor orofacial, que tratamos normalmente com antidepressivos, que têm vários efeitos colaterais. Com a Cannabis, a gente consegue ter uma boa resposta na analgesia, no relaxamento muscular, e sem os efeitos colaterais, que é a parte ruim do tratamento que temos atualmente.”
Após a formatura, a nova cirurgiã-dentista seguiu se aprofundando sobre a Cannabis. “Eu não me sentia segura para prescrever a Cannabis, sem antes entender como funcionava o sistema endocanabinoide.”
Cirurgiã-dentista e acadêmica
Assim, decidiu emendar sua formação com um Mestrado na própria UFSC. “O meu Mestrado tem como tema o a disfunção temporomandibular relacionada com distúrbios do sono e o tratamento com Cannabis medicinal.”
“É maravilhoso. Com as matérias do Mestrado, eu estou conseguindo aprofundar bastante e enxergar que a Cannabis não tem que ser a última escolha de tratamento. Estou fazendo farmacologia do sistema endocanabinoide na neurociências e está sendo bem proveitoso. É a primeira vez que estou tendo contato com a matéria de forma acadêmica.”
“Estou pesquisando vários temas, estudando bastante as neuropatias, bruxismo, o distúrbio do sono, que está entrelaçado. Ansiedade e estresse também. E a Cannabis tem uma grande contribuição no tratamento dessas patologias.”
Atualmente, a cirurgiã-dentista divide seu tempo entre o Mestrado e os pacientes em busca do tratamento com Cannabis medicinal. “No meu dia a dia, tem muito paciente que eu consigo manejar com a Cannabis, mas também com algumas outras terapias, inclusive farmacológicas.”
Conhecimento
Conforme Maciel se aprofunda no assunto, mais tem certeza do rumo que escolheu em sua profissão. “É um mercado que está crescendo demais, em todas as áreas, e na Odontologia não vai ser diferente. Tem cada vez mais artigos e evidências científicas de alto nível.”
“Eu entendo o receio de alguns profissionais, até porque na formação não é ensinado nada a respeito disso, e a tudo que é desconhecido, nem todo mundo se adapta.”
“Eu aconselho ir atrás de conhecimento, porque, eu acho, que daqui pra frente, vamos bater menos nessa tecla do preconceito e focar na difusão do conhecimento e, dessa forma, criar um cenário bem mais favorável para trabalhar na Odontologia.”
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