A história do psiquiatra Jorge de La Rocque começa no longínquo ano de 1966. Havia alguns anos o Brasil estava vivendo sob uma ditadura militar, o que serviu de incentivo para que deixasse o País para cursar medicina em Lisboa.
Embora fosse um estudioso fascinado por psicologia e filosofia, sua habilidade manual o levou a optar pela neurocirurgia. “Eu queria operar.”
Porém, ainda jovem, ficou ainda mais encantado com o continente europeu e decidiu trancar os estudos e viajar. Nesse período, ainda chegou a frequentar por um ano o curso de medicina em Paris como ouvinte.
De volta a Lisboa após dois anos “batendo perna” pelo continente, engajou novamente na faculdade de medicina, mas sua visão sobre a profissão já não era a mesma. Uma passagem difícil, porém, o levou de vez para a psiquiatria.
O psiquiatra Jorge de La Rocque
Após o fim de um relacionamento, sua ex-companheira tentou o suicídio e foi internada no Hospital Psiquiátrico de Lisboa.
“Os psiquiatras portugueses eram pessoas muito inteligentes, brilhantes, e aquele mundo estranho, que eu tive que acessar de maneira bem diferente que a prática médica, fez eu sair da primeira visita a minha ex-mulher dizendo que eu era um psiquiatra e nunca mais mudei essa opinião.”
No quarto ano de medicina, diante do nascimento de seu filho, retornou ao Brasil para concluir sua formação na Universidade Federal Fluminense. Em Niterói, passou a acompanhar experientes psiquiatras e, ao se formar, no ano de 1975, já acumulava um vistoso currículo.
Aperfeiçoamento em psicologia médica, psiquiatria e imunologia pela UFF, além de aperfeiçoamento em anatomia em Lisboa. Já médico, ainda se especializou em administração dos sistemas de educação e concluiu mestrado em educação, ambos pela instituição fluminense.
Com tanto empenho, logo assumiu o papel de professor na mesma UFF, mas sem nunca deixar de lado seus próprios pacientes psiquiátricos.
O psicoterapeuta La Rocque
“No início no início do meu trabalho, a minha abordagem era mais psicoterápica. De certa maneira, ainda continua sendo. Eu uso conceitos de aproximação, de abordagem centrada no paciente, no meu dia a dia. Mas antes era bem mais, porque a farmacologia psiquiátrica era muito muito rudimentar e pobre”, afirma.
“Na verdade, ainda é. Agora, com o conhecimento da farmacogenética, nós estamos começando ainda a engatinhar no tratamento farmacológico ao conhecer os mecanismos de trocas de mensagens químicas entre as células, o papel fundamental da probiótica.”
“Nós estamos numa avalanche de conhecimento novo que me faz a cada momento achar que eu tô começando a estudar tudo do zero.”
Em meio século de psiquiatria, La Rocque observou o progresso dos medicamentos voltados à saúde mental, mas, ainda hoje, estão longe de atender a necessidade de todos os pacientes.
“Em 50%, nós conseguimos encontrar respostas farmacológicas e mudar radicalmente a vida dos pacientes, mas, em 50%, nós ficamos batendo na parede de olhos fechados.”
Novas alternativas
Psiquiatra, psicopedagogo, psicoterapeuta e professor emérito da UFF, tem acesso constante às novidades da ciências sobre novas opções de tratamento e teve acesso a trabalhos que abordavam a ayahuasca, uma bebida indígena utilizada pela religião do Santo Daime; e o LSD, ácido lisérgico; e a Cannabis, indicando potencial de sucesso terapêutico.
“Eu sou uma pessoa extremamente curiosa e os desafios me fascinam. Desafios são o norte da minha vida. É como se eu tivesse que, a cada momento, comprovar perante mim mesmo que eu sou capaz.”
Foi quando soube que os Estados Unidos haviam aprovado um medicamento à base de cetamina (ketamina) para a psiquiatria. Um anestésico com uma forte ação psicoativa, e por isso utilizado ilegalmente como droga de uso adulto, com autorização para o uso em pacientes com depressão resistentes, principalmente ideações suicidas.
“Aquilo foi uma espécie de clique. As substâncias psicoativas têm o seu lado negativo, mas quando usadas de maneira inteligente. Quando estudadas e se sabendo o mecanismo de ação dela, podem ser úteis ao cérebro e ao ser humano. Aí eu comecei a estudar mais profundamente.”
“Tem isso dentro da gente!”
Paralelamente aos estudos, pacientes resistentes ao tratamento farmacológico tradicional passaram a questioná-lo sobre a possibilidade do uso da Cannabis medicinal. “Eu fui afunilando.”
“Eu fiquei estarrecido. Saber que na década de 60 a gente descobriu os receptores canabinoides no organismo e nosso organismo produz canabinoides, como a anandamida. A gente tem isso dentro da gente! E aí começou.”
“Acho que os próprios canabinoides que meu cérebro produzia deu um start no meu lóbulo pré-frontal e na minha amígdala e comecei a receber pacientes e receitar, sempre estudando muito.”
La Rocque conta que atende pacientes com Cannabis principalmente para síndrome de Tourette, dor crônica, principalmente fibromialgia, problemas severos com sono, ansiedade, depressão, TDAH e autismo que relataram uma melhora impressionante na qualidade de vida.
“Terapêutica muito individualizada”
“A Cannabis tem substâncias que se somam ao nosso arsenal terapêutico para tentar encontrar uma resposta a problemas do nosso paciente. Não é uma coisa mágica e quando não usada de forma adequada, pode provocar efeitos colaterais.”
“Tem alguns pacientes que não respondem de forma positiva. Nós estamos engatinhando ainda. É uma terapêutica muito individualizada, muito personalizada, onde nós não temos ainda aqueles parâmetros que tem na farmacologia tradicional.”
“Como toda droga, vai funcionar de forma maravilhosa em muitas pessoas e, provavelmente, algumas não vão. Nós temos que ter muita atenção com as interações no organismo com a medicação tradicional para não causar danos aos pacientes.”
“A Cannabis é mais uma resposta na busca de uma solução para os pacientes. Uma resposta que não é só química. É de como conduzo verbalmente minha terapia e oriento o paciente a modificar seus hábitos de vida. Não ter receio de assumir novos compromissos e sonhos. Tudo isso é importante. Um tratamento emocional e químico.”
O mais importante
Sobre as restrições de muitos colegas de psiquiatria sobre o uso da Cannabis, La Rocque admite que ainda faltam estudos profundos e guide lines bem estabelecidas sobre o uso da Cannabis.
“Como não tem nenhum grande laboratório por trás dessas pesquisas , que custam caro, é natural que muitas sejam feitas de uma forma individualizada. Com pouco apoio científico.”
“Mas tem uma outra coisa importante, que nós chamamos off label. Em nossa prática diária, pelo conhecimento dos fármacos, usamos muitas medicações em algumas patologias que não estão devidamente sacramentadas e nós obtemos bons resultados com isso.”
“Para mim, no dia a dia, do meu consultório, quando o paciente vem e me abraça, é com o que estou preocupado. Claro que as guide lines, as pesquisas, me ajudam a pensar. Me trazem informações novas, mas eu tô muito mais preocupado com a resposta que o paciente quando chega na minha frente. É o mais importante.”
“Parte dessa resistência cabe a muitos de nossos colegas falando nas redes como se a Cannabis fosse uma droga mágica, que fosse resolver tudo. Isso é uma mentira. Profissionais ficam com receio de abraçar essa causa sem estudos profundos, que ainda não existem. Esse embate está acontecendo.”
“Uma nova visão do tratamento do indivíduo”
No entanto, o psiquiatra vê um futuro promissor. “Nós temos uma série de drogas psicoativas, como o Santo Daime, uma variedade de cogumelos e muitas substâncias que nós não conhecemos ainda, mas que estão sendo pesquisadas.”
“A única coisa que eu posso dizer com certeza é que o canabidiol veio abrir uma porta que estava hermeticamente fechada e que trouxe uma luz que vai abrir uma perspectiva para futuros tratamentos. Uma nova visão do tratamento do indivíduo e do cérebro que nós estamos começando a conhecer mais profundamente agora.”
Agende sua consulta
Você pode marcar uma consulta com o psiquiatra Jorge de La Rocque agora mesmo. Basta clicar aqui e preencher um breve formulário.
O professor da UFF é mais um dos mais de 200 médicos prescritores que você encontra na plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde.