Formada em odontologia em 2015, Catarina Barroso de Souza se especializou em dentística, responsável pela estética do sorriso, e harmonização orofacial. Em sua rotina, porém, era frequente ter que lidar com uma patologia de difícil controle: o bruxismo.
“Na realidade, é uma doença totalmente ligada à ansiedade. 98% dos pacientes com bruxismo sofrem com ansiedade e comecei a perceber que muitos tomam remédios para dormir e para a própria ansiedade.”
Outra limitação das abordagens que tinha à disposição era no controle da dor, principalmente na recuperação após os procedimentos. “Não é possível que não tenha alguma alternativa que não os opioides.”
Cannabis e o bruxismo
Era necessário buscar alternativas e, em meio às pesquisas, não demorou muito para perceber que a alternativa que buscava poderia ser a Cannabis medicinal. “É algo mais natural e comecei a me interessar.”
Apesar de ter engajado no estudo sobre as propriedades medicinais dos fitocanabinoides, Catarina ainda precisava conhecer os efeitos na prática antes de se sentir segura para indicar aos seus pacientes.
Por coincidência, a “cobaia” ideal estava ao seu alcance. “Eu sou uma paciente que sofro com bruxismo, então comecei fazendo um teste comigo mesma. Comecei a tomar o óleo e a perceber uma melhora na qualidade do sono.”
“Não é um tratamento que vai curar o bruxismo, mas é uma alternativa para conseguir ter controle. Passei a dormir melhor, diminuiu minha ansiedade e eu vi que, associado, por exemplo, à placa de bruxismo e, de repente, ao Botox, como relaxante muscular, o paciente consegue viver super bem com essa desordem na mordida.”
Primeiros pacientes
Com o sucesso de seu próprio tratamento, começou a prescrever aos pacientes, com benefícios para casos ainda mais graves que o seu. “Um paciente com um bruxismo violento que perdeu a dimensão vertical de oclusão. Ele range tanto os dentes que vai perdendo a estrutura dentária.”
“Ele já não tinha metade dos dentes. A gente já tava um tempo tratando com a placa de bruxismo e tinha melhorado um pouco, refazendo esses dentes que ele perdeu, mas mesmo assim ele sofria muito com a insônia.”
“Ele acordava com a musculatura muito cansada, como se ele tivesse malhado o rosto a noite inteira. Sempre reclamando do fato de não conseguir dormir bem e essa parte estava chateando ele demais. E aí a gente entrou como óleo.”
“Com um mês e meio de tratamento, ele chegou aqui extremamente feliz, relatando que estava dormindo, e querendo indicar o óleo para todo mundo, porque a vida dele tinha mudado.”
Seu caso era grave, pois, apesar de usar a placa de bruxismo durante a noite, a ansiedade o faz ranger os dentes durante o dia, o que acabava por quebrar a restauração que Catarina fez em seus dentes.
Com a Cannabis medicinal, conseguiu manter um controle maior durante o dia e preservar os dentes. “Foi o caso que mais me marcou, porque era realmente uma ansiedade muito forte.”
“Tratar problemas que são emocionais também”
Com o tempo, e divulgação que trabalhava prescrevendo Cannabis, a dentista conta que mais e mais pacientes começaram a chegar ao seu consultório em busca do tratamento canabinoide.
“Tenho muita procura, principalmente dos jovens. Já brilha mais os olhos dos mais jovens, pois estão buscando uma medicina alternativa, em que não precise tomar tanto remédio.”
O fato da Cannabis atuar em diversas frentes, para ela, é o diferencial. “Acho que é o futuro da medicina em muitas áreas da saúde para tratar problemas que são emocionais também. Vejo como uma alternativa muito boa.”
“Abrindo a mente”
Para a especialista em dentística, é questão de tempo até que a Cannabis se torne mais comum nos consultórios odontológicos. “Muita gente se interessa. Não faz muito tempo que a Cannabis foi integrada na odontologia, então é um mundo novo. Eu vejo que tem um interesse muito grande das pessoas e tem o pessoal que a cabecinha mais fechada.”
“A maior parte está buscando estudos, querendo saber mais sobre, porque a geração tá buscando bastante. Eu acho que os colegas estão abrindo mais a mente em relação a isso.”
“As pessoas são um pouco desinformadas. Muita gente liga a Cannabis à maconha e são coisas totalmente diferentes. Eu acho que falta um pouco de informação, mas, mesmo assim, acho que a tendência é crescer cada vez mais.”
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