Médicos alertam sobre o risco de utilizar produtos cuja a procedência é desconhecida, depois de a polícia prender suposta quadrilha que usava como fachada venda de CBD para traficar drogas
A notícia de que a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) prendeu em flagrante um grupo de pessoas acusadas de tráfico de drogas, que agia em nome de uma suposta associação de pacientes da Cannabis, acendeu um alerta sobre a qualidade dos produtos que estão disponíveis no universo virtual.
O presidente da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC), Dr. Flávio Alves, afirma que em tempos de internet – onde muitas marcas ou supostas associações oferecem óleo de Cannabis sem prescrição médica e os cuidados mínimos que devem ser dispensados ao paciente – há um risco importante.
Precisão na composição
“Quando prescrevemos um produto à base de Cannabis precisamos saber exatamente o que estamos dando para o nosso paciente. Desde os fitocanabinoides presentes, até a miligramagem e saber como ele foi produzido”, detalha.
De acordo com o Dr. Alves, neurologista (CRM/SP 117104), a Cannabis é uma planta com a propriedade de absorver os metais pesados do solo. Então, o cultivo não pode ter contato com um solo contaminado ou ainda poluído com agrotóxicos.
Já pensou em produzir uma dipirona em casa?

“Tudo isso é muito importante. Estamos falando uma medicação. É a mesma coisa de tentar fazer uma dipirona caseira. Prescrever uma dipirona de origem desconhecida, feita por não sei quem, e não por um laboratório. Tudo isso pode levar risco tanto para o paciente, como para o médico prescritor”, alerta o presidente da APMC.
A Dra. Vanessa Matalobos, neurologista (CRM/RJ 5264554-0), também compartilha do mesmo entendimento. “Existem óleos e óleos. Temos de saber qual é o remédio que estamos tomando. Já existem algumas ferramentas, formas simples de testar o óleo no consultório, para saber se o paciente está tomando um óleo rico em CBD (canabidiol) ou THC (tetrahidrocanabinol)”, ensina.
Há sinal de melhora?
Para a médica, o primeiro sinal que deve ser observado por esses pacientes que usam óleo artesanal, ou de procedência desconhecida, é se há sinal de melhora.
“ O óleo custa 180 reais, mas esse óleo é feito com o que? Tem alguns que são diluídos em óleo de cozinha. Mas e se o paciente for alérgico à soja? Vão achar que a culpa é da Cannabis. Sendo que não foi feita uma anamnese correta para saber se o paciente é alérgico ou intolerante a algum alimento”, orienta.
Óleo Fake
De acordo com Matalobos, há óleos artesanais que são bons, mas outros de qualidade suspeita. “Outro dia fizemos um mutirão de atendimento em São Paulo e chegou uma senhorinha com um óleo artesanal. Quando fizemos o teste vimos que não tinha nada dentro do óleo”, alerta.
Para a neurologista é preciso redobrara atenção. Primeiro, para não gastar dinheiro à toa. Segundo, e o que é pior, colaborar para o descrédito da medicina canabinoide com o uso de produtos não confiáveis e sem o mínimo de qualidade
“A gente tem que tomar muito cuidado com essa quantidade de gente vendendo óleo artesanal, igual feira livre! E a gente, que é médico (a), tem que ter esse respaldo, e saber que existem também óleos que não funcionam”, adianta.
Óleo feito com prensado de maconha?
Segundo a médica, há casos de óleos produzidos com a maconha prensada vendida nas comunidades.

“A mãe de paciente me disse que pegou um prensado na favela. E que a maconha veio com uma cabeça de barata dentro. Eu perguntei: é esse óleo que você vai dar para o seu filho? Eu sou contra, o bom e barato não se misturam. É igual óleo e água”, conclui.
Para complementar, o Dr. Flávio Alves explica ainda que o uso contaminado de um óleo de Cannabis pode agravar o tratamento e trazer efeitos colaterais indesejados.
“Até riscos importantes para o paciente, como por exemplo, uma toxidade hepática maior”, alerta o presidente da APMC.
Operação no DF prende ONG acusada de tráfico
Com mandados de busca e apreensão, a Operação Quantum Stealh (capa de invisibilidade), deflagrada nessa manhã, encontrou uma plantação da maconha e um laboratório para manipulação da planta na região do Lago Norte, em Brasília, e na cidade de São Sebastião, no Distrito Federal.
Não há controle de qualidade ou supervisão médica
Segundo o delegado da operação, Erick Sallum, a maconha era vendida sem qualquer controle de qualidade ou supervisão médica. Além das prisões em flagrante, as contas bancárias dos investigados também foram bloqueadas.
A Polícia Civil do DF alega que “o grupo buscava a invisibilidade, ao se esconder por trás de uma suposta associação que teria a finalidade de vender o óleo de canabidiol (CBD) para uso terapêutico”.
Entretanto, como apontam as investigações, o título de associação de pacientes servia apenas para esconder o suposto crime de tráfico de drogas.
ONG não tem sede
“Os elementos de informação ainda comprovaram que essa associação não possuía nenhuma licença para manipulação de maconha, nem mesmo qualquer autorização para fabricação e distribuição de canabidiol. A própria sede indicada no estatuto não existia”, afirma a PCDF.
Para o delegado que comandou as investigações, a ONG as provas evidenciam de que se tratava de uma associação de fachada para a revenda de maconha, sob “uma camuflagem de terapia”.
Venda na internet
As provas, apresentadas pela polícia, indicam também que o comércio da substância se dava por meio das redes sociais, e via aplicativo de mensagens (WhatsApp). O óleo e a planta in natura eram vendidos sem prescrição médica.
“O canabidiol é uma substância que possui efeitos terapêuticos cientificamente comprovados, inclusive já havendo chancela do Judiciário para seu uso. Contudo, não se pode confundir o canabidiol com o THC, bem como iniciarem-se plantações caseiras desautorizadas e exploração comercial lucrativa da substância. Isso não é terapia; isso é tráfico de drogas camuflado”, afirma Sallum.
Passagem por tráfico
Um dos investigados tem passagem por tráfico de drogas. Inclusive, sob o argumento que é paciente, já havia tentado obter um habeas corpus preventivo para impedir a entrada da Polícia no cultivo.
O pedido foi negado pela 2ª Vara de Entorpecentes, ao supostamente comprovar a fraude, segundo informações da Polícia Civil.
Os investigados vão responder pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Se forem condenados, a punição pode chegar a 35 anos de cadeia.
Para concluir, a PCDF deixou um alerta para os pacientes que desejam fazer o uso medicinal da Cannabis.
“A plantação caseira e a distribuição pública de qualquer derivado da maconha é tráfico de drogas. As pessoas que realmente necessitam do canabidiol (CBD) para tratamento terapêutico devem procurar órgãos autorizados após indicação médica e autorização judicial para posse da substância”, finaliza o delegado.
O uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil
O uso medicinal da Cannabis no Brasil já é regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução da Diretoria Colegiada RDC 660 e RDC 327, desde que haja prescrição médica.
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