Há um ano presente no Brasil a The Quantic Hub chega ao mercado com uma proposta inovadora de mapeamento genético do Sistema Endocanabinoide e o desenvolvimento de fórmulas singulares – sob demanda – para atender às deficiências corporais e aumentar as potencialidades individuais de cada um. Para explicar melhor essa medicina de precisão e como a agricultura regenerativa pode impulsionar a bioeconomia no Brasil, a conversa dessa semana no quadro “O CEO Responde” foi com o André Steiner, idealizador e fundador do Instituto Quantic e da Fundação Oswaldo Aranha. Depois de mais de 30 anos morando em países como Israel e Jamaica, o empresário conta que retornou ao Brasil com a missão de promover ciência, desenvolver tecnologia brasileira e impulsionar o agronegócio através do cultivo regenerativo. Com uma visão quântica da consciência, integrada à natureza e ao bem-estar, o Chairman of the Board e Fundador da The Quantic Hub cria um pool de empresas, unindo Jamaica-Brasil-Israel à missão de proporcionar um ciclo de conscientização ambiental, saúde integrativa, alimentação inteligente, qualidade de vida e integração entre as tribos. Para entender melhor a proposta da The Quantic Hub, não deixe de conferir a entrevista exclusiva:
A The Quantic Hub chegou ao mercado brasileiro há cerca de um ano com sete fórmulas exclusivas para tratar de forma específica cada patologia. A empresa pretende vender essas formulações nas drogarias também?
A ideia é chegar nas farmácias, sim. O problema é que a Anvisa ainda não compreende exatamente o que é um fitocomplexo, e isso é um impedimento para estar nas drogarias hoje. Estamos trabalhando com o Doutor Wellington Briques, nosso futuro CMO (diretor científico), no sentido de preparar cursos especializados para explicar ao corpo técnico da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o que é um fitocomplexo, demonstrar a importância que o desenho molecular tem sobre a atuação nos receptores do corpo e as vantagens terapêuticas desta estratégia em relação ao que já existe no mercado. O que nós desenvolvemos são fórmulas distintas e aprimoradas que proporcionam reações terapêuticas intracelulares mais efetivas do que formulações tradicionais de canabidiol. A nossa ideia é desenvolver pesquisa com a FioCruz, a Universidade dos Pampas, a Universidade e Brasília, conectando com as Universidades e empresas de Israel, pioneiros nos estudos sobre a Cannabis, que já estudam com profundidade o tópico fitocomplexo.
O caminho para essa medicina de precisão é a farmácia magistral? A empresa pretende investir nesse segmento?
Sim, esse é um dos caminhos. Estamos em fase de aquisição de uma farmácia de manipulação em Alegrete (RS). Já nos conectamos com farmacêutico que é um pequeno gênio em formulações à base de moléculas naturais. Eu estou trazendo as fórmulas que desenvolvi durante meus anos de trabalho na Jamaica com base na medicina Ayurvédica. São moléculas adaptógenas, como os canabinóides, associadas a uma gama de outras moléculas encontradas na natureza. Essas moléculas, chamadas de nootropicos, trabalham para trazer equilíbrio não só ao corpo, mas também à mente, auxiliando nossos sistemas corporais atingirem seu potencial máximo. Depois de analisar o DNA do indivíduo através de um logaritmo criado especialmente para ler os genes conectados ao Sistema Endocanabinoide, ele é direcionado para nossa network de médicos integrativos, que podem atuar na medicina ortomolecular, neurologia ou ortopedia, por exemplo, para que possam prescrever fórmulas que estejam alinhadas aos genes mapeados e que atendam às necessidades únicas de cada um. Essa medicina é personalizada e de precisão.
Qual é a principal diferença entre as fitomoléculas que você desenvolve e um óleo full spectrum (com todos os canabinoides da planta) da Cannabis?
Quando se extrai as moléculas da planta Cannabis perdemos o efeito comitiva (Entourage Effect) e mesmo depois de criarmos uma fórmula full spectrum, aonde há um desenho molecular com THC (tetrahidrocanabinol), CBD (canabidiol) e talvez outros canabinoides como o CBG (canabigerol), a depender do que se consegue extrair da biomassa, mesmo assim o efeito comitiva não retorna como acontece na flor in natura. Se olhar na bioquímica, o desenho desse complexo é X. Agora, se inserirmos terpenos específicos e outras moléculas naturais nesse processo é possível criar um outro desenho molecular mais sofisticado e melhor adaptável aos vários receptores do corpo, e não apenas aos receptores CB1/CB2. Esses desenhos moleculares mais complexos proporcionam reações terapêuticas mais profundas e de maior amplitude, com a vantagem de uma concentração e dose menores. É o caminho da desinflamação. Hoje, a indústria farmacêutica trabalha com superativação de receptores, o que cria uma inflamação generalizada no corpo e efeitos colaterais indesejados. Isso exige doses cada vez mais altas de medicamentos, sobrecarregando principalmente o fígado e os órgãos excretores como rins por exemplo. Nossa filosofia de trabalho vai no caminho contrário, desinflamando, desintoxicando e desparasitando o corpo, ao mesmo tempo que fortalece os sistemas linfático e imunológico. Assim, recalibra a nossa homeostase e o nosso equilíbrio dinâmico.
Qual é a demanda esperada pela The Quantic Hub? A medicina de precisão ainda não cabe em todos os bolsos.
Prefiro não falar em números agora. Temos as nossas projeções. Vejo a tecnologia de mapeamento genético avançando e ficando cada vez mais acessível. Em Israel, pesquisas científicas têm criado células em laboratórios para observar a interação desses desenhos moleculares com os receptores. Precisamos falar sobre mapear diferentes populações. Olhar para a fisiologia de uma população, em especial os negros, como comentaram no Cannabis Thinking, e criar formulações que se adequem a fisiologia específica destas populações, para que todos possam atingir seus potenciais epigenéticos e um bem-estar mais completo. Entramos há um ano no Brasil com a meta de poder explicar ao brasileiro as inovações que estamos lançando no mercado, e até agora, fizemos isso muito bem. Viemos com um fim específico, inovar com ciência e consciência.
Mais de 400 empresas já estão cadastradas na plataforma de autorização de importação da Anvisa. Outras 23 formulações à base de Cannabis já possuem autorização para serem vendidas nas farmácias. Como você vê o crescimento desse mercado no Brasil? A concorrência é saudável?
Acho que é super saudável. Na minha visão, a Anvisa precisa avançar com uma regulamentação no sentido de que os canabinoides que não tenham efeitos psicotrópicos, como o THC, sejam considerados como suplementos alimentares e não mais substâncias controladas, principalmente o CBD. Sobre competição no mercado, tenho as minhas ideias originais, trabalho com elas. Vejo com bons olhos a criação de empresas e novas soluções. E a melhor solução sempre irá ganhar e assim a população em geral também ganha! Eu vivo na minha bolha, sempre viajo muito para conectar várias pontas e continuar criando soluções e produtos únicos, com características distintas e de alta qualidade, nunca copiei ninguém pois adoro o processo de criação em todas as suas facetas. Quero trazer mais longevidade e regeneração celular para as pessoas. Desejo equilíbrio e saúde plena para todos. Morei muito anos em um Kibbutz (Israel) onde há competição e cooperação. Acho importante sempre a conexão entre ciência e as práticas ancestrais para melhorar a vida dos seres humanos, preservando a natureza e os rituais. Esse é o propósito da The Quantic Hub.
Qual é o perfil do mercado canábico brasileiro?
É um mercado interessante e poderoso. Existe, hoje, um grande interesse de empresas internacionais que querem entrar no Brasil. Já o nosso modelo, prevê não só a base de cultivo de biomassa pura, no modelo regenerativo de cultivo com solo-vivo, o qual também desejamos introduzir para a agricultura em geral, no movimento de preservação dos ecossistemas. Para produzir a biomassa pura não podemos cultivar com toxinas, a produção deve ser livre de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos. Precisamos pautar esse assunto. Somos o celeiro do mundo! Todos os parceiros internacionais enxergam o Brasil como um país chave. Só falta uma legislação congruente para que o Brasil possa florescer. O que importante é não só exportar biomassa, mas produtos finalizados e de alto valor agregado. Buscar uma cooperação entre os estados, municípios e união. Com a Cannabis temos a chance de unir o povo brasileiro. Podemos fazer diferente dos Estados Unidos, onde os grandes tomaram conta do mercado. O Brasil precisa de uma classe média forte. Precisamos dar chance para os pequenos e médios produtores e empreendedores. O Brasil pode servir de modelo para um mundo melhor e menos polarizado.
A The Quantic Hub vem desenvolvendo pesquisas sobre o uso medicinal da Cannabis?
Sim, estamos desenvolvendo pesquisas com Universidades de Israel e dos Estados Unidos em alta tecnologia molecular e genética especializada. Nesse momento está em curso uma pesquisa com terpenos para analisar como o desenho molecular dessas moléculas aromáticas e como elas se conectam aos receptores do corpo, modulando o Sistema Endocanabinoide. A The Quantic Hub trabalha com algo muito parecido. Desenvolvemos desenhos moleculares mais sofisticados para promoção de reações terapêuticas intracelulares mais amplas e profundas. O nosso corpo é uma fábrica de psicotrópicos, produz de forma endógena essas substâncias para regenerar e aumentar o potencial dos seres humanos. Precisamos olhar para as plantas sem medo e entender que também estão vivas e que possuem grandes potenciais. Esse momento é de transição, entendo a resistência. Os seres humanos têm medo de mudança, mas é essencial reequilibrar e sair da zona de conforto para elevar o patamar em saúde, longevidade e regeneração celular.
Qual é o maior desafio de empreender em Cannabis no Brasil?
A falta de uma legislação que salvaguarde os investidores. Os investidores querem investir, mas aí muda o governo e muda a legislação. Precisamos dar uma base de ensino para aos legisladores e um plano de governo que contemple períodos de pelo menos 33 anos, aonde os políticos devem seguir o plano geral, mesmo com trocas de governos. Somente assim o nosso país poderá assumir o seu verdadeiro papel de líder entre as nações.
Quantos empregos diretos e indiretos a The Quantic Hub gera hoje?
Começamos a startup com 12 pessoas trabalhando. Em um ano já temos 60 funcionários. De forma indireta, geramos mais de 150 empregos e continuamos crescendo em diferentes áreas de atuação, nos preparando para a introdução da nova indústria do cânhamo (hemp), que deve revolucionar todas as outras indústrias e criar um novo momento para o Brasil e o mundo.
Você acha importante regulamentar o cultivo da Cannabis em solo brasileiro? Isso pode baratear a produção e democratizar o acesso?
Sim. Sou proponente do cultivo regenerativo em solo vivo. Isso significa dizer que a microbiologia do solo é preservada. É ela que alimenta as plantas. Quando a microbiologia é preservada, você tem uma biomassa pura que não exige agrotóxicos. A planta tem resiliência e passa essa resiliência para o corpo humano. Produtos de solo morto, aonde as plantas são alimentadas com produtos sintéticos, destrói a microbiologia do corpo e nos deixa doentes e desequilibrados mental e fisicamente. Precisamos empreender em práticas regenerativas. Juntamente com o cultivo é preciso educação. Dentro da Fundação Oswaldo Aranha, do Instituto Quantic e com a Universidade dos Pampas (UniPampa), buscamos desenvolver isso. Queremos trazer a tecnologia de Israel para o Alegrete. No município, com menos burocracia, podemos criar modelos com maestria para medir parâmetros que possam ser replicados em todo país.
Como trabalhar propaganda e informação sobre Cannabis sem violar as regras que limitam esse tipo de ação?
Com muita educação e ensino em todos os níveis. Não precisamos falar de Cannabis, por exemplo, mas sim, de canabinoides. É importante separar o que não é psicotrópico como o CBD, do psicoativo, o THC. O Cânhamo, por exemplo, não tem THC em proporção alta, e é a planta que mais coleta gás carbônico no mundo e fixa carbono no solo. A segurança nacional do nosso país depende do desenvolvimento de tecnologia que fixa carbono no solo. Não dá mais para vender o Brasil! Precisamos gerar riqueza no país para o povo brasileiro.
A The Quantic Hub pretende trabalhar com formação médica continuada?
Sim. Dr. Welligton Briques está entrando no nosso ecossistema e vai dar início ao projeto de formação dos médicos na área de mapeamento genético e na ciência das moléculas fitocomplexas e suas importantes conexões atômicas com os diferentes receptores do corpo humano.
Se você pudesse fazer um pedido para a Anvisa, qual seria ele?
Conseguir trazer os fitocomplexos para dentro das farmácias com menos burocracia e ampliar a permissão para que possamos promover um marketing mais explicativo. Hoje, a Cannabis entra nas farmácias como um remédio tarja preta, a população não entende. A gente precisa educar as pessoas. Da forma como é hoje traz mais confusão do que informação. E educação liberta!
Qual é o seu grau de satisfação em relação à regulamentação da Cannabis em vigor hoje no Brasil?
A legislação serviu até esse momento. Em 2023 deve avançar. Precisamos criar fóruns para que os estudiosos e investidores possam ser ouvidos também. Precisamos criar regulação com segurança, especialmente com relação aos psicotrópicos para que não seja um tiro no pé.
O que falta para o mercado da Cannabis no Brasil expandir na sua opinião?
Educação para os empreendedores. É preciso educar e parar de copiar o que está sendo feito lá fora. É essencial conhecer a ciência e a planta, antes de liberar o uso recreativo, por exemplo. Nos Estados Unidos esse movimento (legalização da maconha) ocorreu de forma muito rápida, na minha visão. Entendo que foi um trabalho da indústria farmacêutica para legalizar o uso recreativo da maconha. Quem está liderando não pode perder o poder, não é? Na Califórnia, os pequenos e médios precisam queimar suas produções porque não conseguem vender com preço justo e pagar suas operações. Os grandes estão quebrando os pequenos. O Brasil tem a chance de fazer de forma correta, mais uma vez, dando oportunidades para que os pequenos e médios também possam fazer parte desse ecossistema, cultivando biomassa pura e de altíssima qualidade, gerando produtos com selos exclusivos e com terroir de cada região e talvez até criando novas cooperativas que sejam autossustentáveis no interior do nosso país, que é vasto.
O que te motivou a voltar para o Brasil e trabalhar com a Cannabis?
O que mais me motivou é saber o que o brasileiro tem: a criatividade, o coração, uma natureza incrível que devemos preservar e explorar com novos olhos. Isso me motivou a fazer e acontecer aqui! O meu tesão é estar no Brasil para unir as pontas e criar uma nova realidade em nosso país. Estou disposto a lutar pela causa com inteligência. Quero ajudar a colocar o Brasil onde ele deve estar. Estamos criando uma nova trilha para outros seguirem, e isso é muito importante.
Como a The Quantic Hub se vê daqui a 5 anos? E em 10 anos?
A The Quantic é um conglomerado de várias empresas. Meu desejo é que seja um modelo correto a ser seguido pelas demais. Nossa missão é trazer educação, agricultura regenerativa e produtos de alta qualidade, com ciência e consciência. Queremos nos tornar a empresa referência do Brasil para mundo dentre as novas indústrias que inovam todo um ecossistema.
Cite três empresas do universo canábico que você admira?
A Endocanna Health, na parte do mapeamento genético do Sistema Endocanabinoide. Em Israel, a Syqe Medical, que inova com tecnologia de inalação e flor in natura e também em Israel a na Holanda, a Bedrocan que trabalha com cultivo para fins farmacêuticos.