No quadro “O CEO Responde” dessa semana a conversa foi com o Diego Barros, presidente da Koba, a primeira farmacêutica paraguaia a exportar produtos à base de Cannabis para o Brasil. O jovem executivo, especializado em negócios, exportação e internacionalização de empresas, acaba de fechar parceria com o músico Marcelo D2. O cantor assina uma linha de produtos da Koba e vira garoto propaganda da marca com o slogan “todo usuário também é paciente”. Em associação à Câmara de Cânhamo Industrial do Paraguai (CCIP), a Koba faz parte do projeto Hemp Guarani que insere famílias dos povos originários no cultivo legal do cânhamo não psicoativo para a produção de medicamentos. Com ampla experiência em projetos agrícolas para a produção de superalimentos como chia, quinoa e grãos de soja orgânica, Diego Barros lança a Koba em julho de 2021 com o compromisso de trazer ao Brasil produtos certificados e com responsabilidade social.
Como foi trazer o Marcelo D2 para essa parceria com a Koba?

Desde que eu comecei a estudar a Cannabis sempre pensei em trazer para a nossa marca figuras que são emblemáticas, que poderiam potencializar a divulgação da informação para chegar até mais pessoas. Pensamos no Falcão do Rappa, no Criolo e claro, no D2. Ele é “o cara” referência nesse mercado. Ficamos sonhando com essa possibilidade em 2018 e 2019. Foi então, que no ano passado, conheci o pessoal do Universo D2. Conversamos sobre vários temas, e eles sugeriram uma parceria com o D2. Eu disse: como assim?? Claro! Precisamos levar informação o mais longe possível. Fechamos a parceria na hora! Apesar de a imagem do D2 estar vinculada a um “maconheiro revoltado”, hoje ele está com 54 anos e amadureceu. Agora é uma nova fase, uma pegada medicinal. O D2 agora é visto como um pai de família, ainda lutando por seus ideais. Além do ativismo, o foco é a saúde. Também fizemos uma parceria com o Instituto Adesaf (Articulação de Tecnologias Sociais e Ações Afirmativas). Para um produto, em específico, vamos vender a preço superacessível. É importante dizer que nós produzimos no Paraguai com tecnologia americana. O nosso padrão de qualidade e de pureza são analisados por laboratórios nos Estados Unidos. Queremos mostrar que os produtos do Paraguai também têm qualidade e certificação. Para isso, precisamos quebrar dois paradigmas: o preconceito com a Cannabis e a fama de que os produtos paraguaios não são confiáveis.
Hoje, qual é o tamanho do mercado nacional na sua avaliação?
Se formos levar em consideração os pacientes em potencial são quase 30 milhões de brasileiros. Cada dia mais vemos um avanço no número de prescrições e médicos aderindo à medicina canabinoide. O mercado está em fraca ascensão. Estamos com uma estimativa de venda de 10 mil frascos, no acumulado, até julho de 2023. Somos uma empresa 100% focada na produção de canabidiol (CBD) e nos demais derivados da Cannabis. Como ainda não temos uma regulação sobre o cânhamo no Brasil, sobre sementes e fibra, decidimos focar nos canabinoides. Quando vier a regulação quem sabe? Temos interesse, mas antes é preciso ter um cenário regulado.
A Anvisa autorizou a entrada de 20 medicamentos nas farmácias. Como você avalia a chegada desses novos produtos nas prateleiras. A competividade é saudável?
A competitividade é acirrada, mas ainda não é tão latente como em outros mercados. O produto ainda é muito caro e a população não tem acesso. Precisamos ampliar a demanda do mercado, independentemente de qual marca o paciente vai comprar. É preciso gerar demanda! O mercado brasileiro é muito grande. A concorrência é saudável e certamente ajuda a reduzir o preço para o paciente final.
A Koba ambiciona ingressar na Anvisa com pedido de autorização para vender nas farmácias?
Sim. Já fizemos o levantamento das mudanças que precisaremos fazer na indústria para atender às exigências da Anvisa. A nossa expectativa é de que no primeiro semestre de 2023 estaremos com tudo pronto para dar entrada na solicitação para que em 2024 possamos entrar nas farmácias.
Qual é a projeção de crescimento do mercado brasileiro a partir da regulamentação do cultivo nacional na sua perspectiva?
A regulamentação de qualquer mercado precisa ser feita para ter avanço da indústria, seja Cannabis ou chicletes. Precisamos de uma regulamentação firme. Quando chegar, com certeza os medicamentos ficarão mais acessíveis à população. Nesse cenário, vamos ter a oportunidade de desenvolver novos produtos, pesquisas, métodos de extração mais eficientes. Isso vai incentivar avanços tecnológicos com novas soluções. Também precisamos falar sobre reparação histórica. A guerra às drogas não se combate com bombas e prisão, mas com informação e educação. Hoje, com o Hemp Guarani conseguimos impactar positivamente na vida de 4.500 pessoas. Outros 6 mil habitantes do Paraguai são impactados indiretamente. Essas pessoas agora podem cultivar legalmente no quintal de casa, sem serem exploradas pelo narcotráfico e pelo crime organizado. De forma legal é possível permitir o ingresso econômico real dessas famílias no mercado da Cannabis, sem intermediadores.
Qual é o produto carro-chefe da Koba? A empresa estuda a possibilidade dispensar outros canabinoides como o CBN, CBG, HHC…?
Entramos no mercado com três formulações. O canabidiol (CBD) 1.500mg (R$ 350 reais sem frete), o CBD de 3.000mg (R$ 420 sem frete) e o CBD de 6.000 mg (R$ 630 sem frete). Todos são full spectrum, com até 0,3% de THC (tetrahidrocanabinol) e vêm num frasco de 30 ml. No ano que vem haverá o lançamento da linha de flores e linha de cremes para dor. Pesquisas relativas a outros canabinoides ainda estão muito incipientes. Antes de desenvolver produtos, precisamos gerar demandas, repito. Há empresas mais consolidadas que já trabalham com novas formulações, mas ainda falta pesquisa. E antes, precisamos fazer com que o mercado cresça em informação e educação. Lançar produtos de novos canabinoides, sem estudos, pode não entrar corretamente no mercado e acabar queimando a terapia canabinoide.
Como que a empresa se vê daqui a 5 anos? E em 10 anos, onde pretende chegar?
Em cinco anos a gente vê a Koba já participando do mercado de uso recreativo, com produtos disponíveis já nas farmácias, e o produto medicinal sendo distribuído pelo Sistema Único de Saúde. Em 10 anos, esperamos avanços no uso adulto e no mercado do cânhamo com o desenvolvimento de novos alimentos e fibras para a produção de plástico biodegradável, por exemplo. Como Hemp Hub, nos vemos na pontinha do iceberg diante das inúmeras possibilidades na indústria.
Qual é o maior desafio de empreender hoje em Cannabis no Brasil?
É a falta de informação da população em geral. Até pessoas próximas, que não entendem sobre o mercado da Cannabis, trazem consigo preconceito e desinformação. Precisamos seguir avançando nas regulações, trabalhar na formação médica e educação continuada. Ainda é importante promover inclusão social na indústria. Nesse mercado não podemos ter luta de classe, mas integração. Se conseguirmos integrar a parte social e a parte sustentável alcançaremos um resultado final muito positivo no desenvolvimento da indústria como um todo.
Como a empresa pretende captar e fidelizar a rede médica? A mesma estratégia da Big Farm?
A gente precisa dar uma renovada nesse processo, mas a estratégia da Big Farma de visitação médica é o que sido feito por enquanto. E é o que traz resultado, sem que haja incentivo econômico por traz. Trabalhamos de forma ética e profissional para que os médicos conheçam a medicina canabinoide.
Existe a previsão de fornecer formação continuada aos médicos ou terceirizar esse tipo de serviço?
A Adesaf está desenvolvendo, em parceria conosco, um curso sobre Cannabis, perspectivas e apresentação da medicina canábica. Entendemos que é preciso perseguir esse processo de capacitação e formação continuada. Lançando esse curso gratuito de apresentação da medicina canabinoide. Depois vamos ver as demandas. A ideia é oferecer capacitação para médicos e estudantes de medicina que, preferencialmente, atendam por meio do SUS.
Hoje, já se fala em medicina “on demand”. As farmácias de manipulação são importantes nesse cenário? A empresa tem perspectiva de atuar nesse nicho?
Vejo de forma positiva, traz mais acessibilidade e assertividade no tratamento. Ajuda a desenvolver o ecossistema. Essa é a chave de sucesso. Quanto mais players, a demanda será gerada pelos mais diversos canais. Vejo com bons olhos, desde que haja padrão de qualidade aliado às boas práticas.
Como trabalhar propaganda e informação sobre a Cannabis sem violar as regras de limitam esse tipo de ação?
É um desafio, porque as regras são muito restritas e limitam o alcance. Não podemos fazer impulsionamento, por exemplo, e nem usar as redes sociais para divulgar nosso produto. A melhor propagando ainda é o famoso “boca a boca”. As pessoas se surpreendem com o tratamento e replicam para as demais.
A Koba está investindo em alguma pesquisa atualmente?
Ainda não. Temos o anseio de desenvolver trabalhos clínicos. Assim que chegar a autorização da Anvisa para vender em farmácias daremos início às pesquisas, principalmente em ansiedade.
Quantos empregos diretos a empresa gera?
No Paraguai e Brasil geramos 24 empregos.
Se, hoje, o você pudesse fazer um pedido à Anvisa qual seria ele?
Que a população também possa opinar sobre os processos decisórios da Agência e que os processos não sejam tão burocráticos. Entendo que a Anvisa tem feito um bom trabalho. Mas ainda é preciso melhorar a comunicação entre o setor público e o privado.
Qual é o seu grau de satisfação em relação à regulamentação sobre Cannabis existente hoje no Brasil?
De 0 a 10, na minha opinião, a regulação da Anvisa tem nota 6. Entendo que é importante a Anvisa olhar para a subdivisão dos produtos à base de Cannabis em duas classes: os canabinoides para suplementos e os canabinoides para medicamentos. Os países que estão à frente possuem regulação distinta para isso. É preciso colocar no radar o uso dos canabinoides como suplementação, por exemplo. O consumo do CBD dessa forma tem funcionado para questão de suplementação de atletas, recuperação muscular, como neuroproteção e melhoramento da qualidade de vida. Isso precisa avançar aqui no Brasil.
Na sua opinião, o que não pode faltar para a expansão do mercado no Brasil?
Educação, informação e capacitação médica.
O que te motivou a investir no mundo da cannabis?
Me mudei em 2015 para o Paraguai com o objetivo de trabalhar com a chia e os superalimentos. Até então, eu era completamente leigo sobre a indústria da Cannabis. Posso dizer até que era preconceituoso, não gostava do tema. Foi aí que eu viajei o mundo, conheci outras culturas e percebi que esse era o mercado do momento. O mercado da chia já havia se consolidado e se transformou numa commodity. Eu queria um projeto novo e desafiador. Na CCIP, ao lado Marcelo Demp (presidente da instituição), passei a ser sócio do Hemp Hub para desenvolver a indústria dos canabinoides. Entendemos que ainda é preciso educar esse mercado com informações científicas e sérias. Querendo ou não, ainda existe muita falta de desinformação. Para nós, já está monótono falar sobre a Cannabis, mas a grande massa da população ainda não conhece as propriedades medicinais da planta.
O que não pode faltar no empreendedorismo canábico?
Constância e consistência em busca dos objetivos. Para empreender em Cannabis é preciso matar um leão por dia e a gente não pode parar. O empreendedor tem que ser fanático no Brasil para conseguir superar inúmeras barreiras.
Cite três empresas canábicas que você
A norte-americana Charlotte’s Web, por ser pioneira e pela história da menininha Charlotte, a GoldBar e a Tilray.