No quadro “O CEO Responde” dessa semana o bate papo foi com Rodolfo Rosato. O empresário, fundador e CVO (Chief Visionary Officer) da plataforma Kannamed/TerraCannabis, falou sobre ativismo canábico, as perspectivas de expansão do mercado brasileiro e da sua experiência fora do país com produtos à base de Cannabis, especialmente nos Estados Unidos. Antes de atuar no ramo da erva medicinal, Rodolfo Rosato trabalhou com publicidade e novas tendências de mercado. Hoje, o foco do empresário é em produtos inovadores e tecnologias disruptivas. Operando desde 2019, a TerraCannabis chega ao mercado brasileiro com quase 800 formulações em diferentes concentrações, sabores e apresentações. Para fazer parte do marketplace, os produtos precisam apresentar certificações e análises laboratoriais. Hoje, Kannamed/TerraCannabis é considerada uma das maiores plataformas de acesso à Cannabis medicinal da América Latina.
Confira os detalhes na entrevista.
O que te motivou a investir no mundo da Cannabis?
Eu já faço parte do ativismo da Cannabis há mais de 30 anos. Conheço as propriedades medicinais da planta há muitos anos. Muito antes do Google, eu já pesquisava o uso medicinal da Cannabis nas bibliotecas e achei muita coisa para a época. Há 5 anos eu me interessei em trazer o medicinal para o Brasil. Em 2018, comecei a estudar o mercado. Fiz muitas pesquisas. Em 2019, tomei como missão de vida trazer a maior quantidade de produtos de qualidade para o Brasil. Eu queria baixar o preço e democratizar o acesso! Fui um dos primeiros portais a trazer produtos certificados e de alta qualidade por cerca de 60 dólares. Fomos pioneiros em disponibilizar para o paciente formulações em cápsula e produtos de uso tópico, por exemplo. Temos um critério para a entrada dos produtos. Fazemos uma seleção séria, só entram aqueles com altíssima qualidade.
A Kannamed/TerraCannabis chegou trazendo diferentes formulações para o mercado brasileiro. A empresa também espera vender produtos que já estão nas farmácias?
Na parte da Resolução 327/2019 (Anvisa), já temos produto com GMP, ou seja, estudo de estabilidade. Hoje, estamos focando nos produtos importados, porque o preço nos Estados Unidos (de produtos à base de Cannabis) está caindo bastante. A produção aumentou muito e isso levou a uma redução do valor no mercado. Eu acredito que o valor vai cair algo em torno de 30% nos Estados Unidos e essa queda também chegará para os pacientes brasileiros.
Houve um crescimento expressivo no número de empresas que operam no mercado brasileiro da Cannabis. Essa concorrência é saudável?
Sim, sempre usamos como referência o que vem acontecendo nos Estados Unidos. Centenas de produtos de qualidade, com selo de segurança, orgânicos e os preços só baixando. Mais e mais pessoas tendo acesso. Isso é ótimo para o paciente que tem acesso a um produto de excelência por um preço justo.
Qual é o produto carro-chefe da plataforma Kannamed/TerraCannabis?
Temos mais 300 produtos na nossa plataforma. Com a variação de sabores chegamos a mais de 800 variações de formulações. Temos produtos para doenças de pele, supositório para tratamentos locais de mioma ou endometriose. Temos balas de goma, que são indicadas para crianças com autismo que não conseguem aceitar muito bem o óleo. Sempre buscamos trazer formulações que são demandadas pelos médicos e pelos pacientes. Mas os óleos full spectrum são que mais vendem. Especialmente o de 50mg de CBD (canabidiol) por ml. Acredito que esse é o produto carro-chefe da maioria das empresas. Também trabalhamos com outras moléculas como o CBG, o CBC, o CBN, as formulações isoladas.
Hoje, qual é o tamanho do mercado nacional na sua avaliação?
Todos os pacientes com autismo, epilepsia, insônia, depressão, ansiedade, doenças degenerativas e dor crônica, por exemplo. Pelo menos 20 milhões de pacientes poderiam se beneficiar com o uso da Cannabis. O mercado é enorme.
Qual é o share de mercado da Kannamed/TerraCannabis no Brasil?
Não podemos revelar dados estratégicos (risos). O que posso dizer é que a TerraCannabis está muito bem-posicionada, somos o maior portal da América Latina com produtos à base de Cannabis. Nós temos a preocupação de fazer a análise de todos os produtos que entram na nossa plataforma. Só entra quem tem qualidade e fornece teste de laboratório. Nossa missão é dar segurança para médicos e pacientes.
Hoje, já se fala em medicina “on demand”. As farmácias de manipulação são importantes nesse cenário?
O futuro da medicina é a volta a ancestralidade. O homem está percebendo que não consegue criar em laboratório o que a natureza criou há bilhões de anos. Ou seja, plantas medicinais. Hoje, já temos um teste de DNA que consegue avaliar as deficiências do Sistema Endocanabinoide. A Cannabis medicinal personalizada já é realidade. Vejo que no futuro, o homem só vai recorrer ao químico quando o natural falhar. Isso ainda está distante, mas é o caminho. A gente acredita na medicina natural.
Como a empresa pretende captar e fidelizar a rede médica? A mesma estratégia da Big Farm?
Nós não trabalhamos com representantes, atuamos apenas como uma intermediadora nesse processo.
Existe a previsão de a Kannamed/TerraCannabis fornecer formação continuada aos médicos ou terceirizar esse tipo de serviço?
Deixamos a cargo dos parceiros especializados. Já existem algumas pós-graduações em Cannabis com a participação de médicos renomados, nós damos o maior apoio! A educação é fundamental para esse setor.
Como trabalhar propaganda e informação sobre a Cannabis sem violar as regras de limitam esse tipo de ação?
A TerraCannabis não faz nenhum tipo de propaganda. O que a gente propicia é o caminho para acessar o site nos EUA para que o paciente compre um produto de qualidade mediante indicação médica. Quando falamos sobre Cannabis, fazemos a divulgação dos benefícios que a planta pode trazer de forma geral, nunca falamos em produtos.
Quantos empregos diretos a Kannamed/TerraCannabis gera atualmente?
Oito empregos diretos. Todos os funcionários trabalham em homeoffice, um sistema que perpetuamos pós-pandemia. Nossos colaboradores moram em diferentes cidades e até em outros países.
Você acredita que é importante autorizar e regulamentar o cultivo da Cannabis no Brasil? Afinal, somos o terceiro maior país agrícola do mundo.
O Brasil tem tudo para ser o segundo produtor mundial da Cannabis. Não é questão de se vai regulamentar, mas quando. A informação corre solta, há inúmeras pesquisas sendo produzidas e comprovações médicas. Os ruralistas já perceberam que estão perdendo dinheiro. Muita gente não sabe, mas o cânhamo é usado para revitalizar o solo e tem inúmeras utilizações na indústria. Seja por motivos econômicos ou políticos, essa regulamentação vai acontecer. No começo, talvez, a produção para fins médicos fique cara. Mas temos tudo para ser um dos principais produtores. Hoje, a matéria-prima representa menos de 20% do custo final do produto. Para mim, o Projeto de Lei 399 tem que ser revisto e já nasce velho. Não contempla devidamente as associações e o auto cultivo que vem sendo autorizado por decisões judiciais. Isso precisa ser revisto.
Como que a Kannamed/TerraCannabis se vê daqui a 5 anos? E em 10 anos, onde pretende chegar?
Acredito que temos a vocação de produzir, queremos cultivar aqui no Brasil. O ideal seria fazer a produção da Cannabis por meio de agroflorestas. Em cinco anos, nos vemos firmes atuando nesse mercado que é apaixonante. Tenho um desejo de vida: trazer uma diferença para o mundo. Antes eu trabalhava com publicidade, mas essa atividade não traz ganhos para o planeta, só tira. Sempre quis atuar num mercado que pode mudar a vida de famílias inteiras. Isso traz satisfação pessoal. É o meu propósito de vida! Eu vou continuar lutando para descriminalizar a planta e democratizar o acesso ao maior número de pessoas possíveis.
Qual é o seu grau de satisfação em relação à regulamentação sobre Cannabis existente hoje no Brasil?
A Anvisa faz um bom trabalho, apesar de terem recebido uma bomba no colo. Claro, não estou satisfeito! Querem controlar algo que não deveria ter controle, a natureza! Deveríamos ter regras para o controle de venda, assim como é feito com o álcool e o cigarro. O que mais causa violência é a guerra às drogas. A proibição é o que causa violência, o surgimento do crime organizado e o encarceramento em massa. Já o mercado da Cannabis pode gerar emprego, renda e imposto.
Se, hoje, você pudesse fazer um pedido à Anvisa qual seria ele?
Liberta a planta! Nenhum ser humano tem autoridade para discutir com o universo ou Deus. Seja qual for a religião em que você acredita. Ninguém tem a menor autoridade de legislar sobre a natureza. Há dezenas de plantas tóxicas na natureza. Há chás abortivos que não são proibidos. Em mais de 20 mil anos de literatura médica chinesa sobre o acompanhamento terapêutico da planta nunca houve uma morte sequer.
O que falta para o mercado da Cannabis expandir no Brasil?
Tempo e difusão de informação. Estamos ficando para trás. É como se fosse uma represa prestes a rachar e o governo tenta segurar as rachaduras. Não tem como segurar. O Estado do Colorado, nos Estados Unidos, precisou lançar um plebiscito para saber como usar o dinheiro arrecadado com o importo gerado pelo mercado da Cannabis, do tanto que arrecadou! Precisamos de um jornalismo canábico forte, voltado a promover informação de qualidade e independente. Não vejo a grande mídia fazendo um trabalho sério para cobrir a Cannabis com conhecimento e independência.
Qual é o maior desafio de empreender hoje em Cannabis no Brasil?
O maior desafio é o Brasil que nos apresenta as piores condições para empreender. Precisamos trabalhar para derrubar o lobby contrário à descriminalização da planta. Pagamos impostos absurdos e a burocracia é um grande entrave. As grandes indústrias farmacêuticas sabem que perderão dinheiro se as pessoas descobrirem a ação medicinal da planta e fazem de tudo para disseminar informações falsas. Dizem que não há estudos, isso é uma falácia. Ainda existem campanhas de desinformações propositais. Para mim, o principal entrave é o custo Brasil.
Cite três empresas do universo canábico que admira.
Bluebird Botanicals, a Indeov e a Onixcann.