A Liga de Futebol Americano dos EUA (NFL) anunciou nesta segunda-feira a concessão de US$ 1 milhão (ou R$ 5,3 milhões) em financiamento de pesquisas para duas equipes de pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego e da Universidade de Regina. Os estudos investigarão os efeitos dos canabinóides no controle da dor e na neuroproteção da concussão em jogadores de futebol de elite, respectivamente.
A concussão é uma lesão cerebral causada por uma pancada na cabeça ou uma agitação violenta da cabeça e do corpo. Caso a lesão seja frequente, pode levar a problemas psiquiátricos.
A NFL concedeu um total de US$ 1 milhão para os seguintes estudos:
1. Dor e recuperação de lesões
“Efeitos dos canabinóides na dor e recuperação de lesões relacionadas ao esporte em atletas de elite: um ensaio clínico randomizado”. Este é o nome do estudo tocado pela Universidade da Califórnia em San Diego.
O objetivo principal deste ensaio clínico é avaliar a eficácia terapêutica e os efeitos adversos do THC, CBD e os dois combinados em comparação com placebo, para alívio da dor e das lesão em atletas. Os jogadores irão vaporizar a Cannabis após as lesões relacionadas, com os resultados sendo monitorados por meio de aplicativos de telefone.
As descobertas deste estudo fornecerão dados importantes sobre a possível eficácia dos canabinóides para lesões relacionadas ao esporte e dar início a futuros estudos maiores
2. Neuroproteção
O estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Regina se chama “Canabinóides produzidos naturalmente para controle da dor e neuroproteção de concussão e participação em esportes de contato”.
O objetivo específico deste projeto é determinar se CBD e THC podem ser usados com segurança e eficácia para o controle da dor e reduzir o uso de medicamentos prescritos, incluindo opioides, no pós-operatório.
Atletas com síndrome de concussão
Um objetivo adicional é avaliar as propriedades neuroprotetoras dos canabinoides para reduzir a incidência ou gravidade de concussão aguda e crônica em jogadores profissionais de futebol. O projeto fornecerá uma base para explorar cuidados médicos alternativos relacionados a trauma cerebral e dor musculoesquelética crônica para jogadores profissionais de futebol.
“Embora o ônus da prova seja alto para os jogadores da NFL que desejam entender o impacto de qualquer decisão médica em seu desempenho, somos gratos por termos a oportunidade de financiar esses estudos cientificamente sólidos sobre o uso de canabinóides que podem levar à descoberta de evidências baseadas em dados que podem afetar o gerenciamento da dor de nossos jogadores”, disse Dr. Allen Sills, diretor médico da NFL.
“Em última análise, este estudo tem o potencial de mudar não apenas a vida de jogadores atuais e ex-jogadores da NFL, mas também a vida de qualquer pessoa que possa sofrer uma concussão”, disse o Dr. Patrick Neary, fisiologista do exercício e professor da Faculdade de Cinesiologia. e Estudos de Saúde da Universidade de Regina.
Os resultados dos estudos, no entanto, não terão impacto sobre o Programa sobre Substâncias de Abuso. Ou seja: apenas atletas profissionais de elite fora da NFL participarão desses estudos financiados. Os jogadores da NFL não estão autorizados a participar.
“NFL está olhando para o futuro”
Para o jornalista esportivo Danilo Lacalle, especializado na cobertura do futebol americano para o público brasileiro e colunista do portal LANCE, ver a NFL incentimento essas pesquisas com Cannabis mostra que a liga “está olhando para o futuro”.
“Nós vimos nos útlimos anos atletas impedidos de jogar pelo uso adulto e até o medicinal da Cannabis, como no caso do Josh Gordon, dos Patriots. Ele ficou alguns anos sem poder jogar pela presença do THC no sangue”.
A mudança, segundo o jornalista, veio em função da importância que os próprios jogadores estão dado ao tema.
“O Rob Gronkowski, dos Buccaneers, se aposentou por causa das dores. Durante a aposentadoria, ele realizou um tratamento com Cannabis e deu tão certo que ele voltou a jogar e venceu o Super Bowl 55 (a final do campeonato nacional) ao lado do Tom Brady (marido de Gisele Bundchen)”.
Para Lacalle, A NFL está mesmo interessada em resolver o problema das dores e concussões dos atletas: “não é a toa que são US$ 1 milhão!”. Recentemente, lembra o jornalista, a liga também anunciou que não irá mais suspender jogadores pela presença do THC.
Médico brasileiro pesquisa CBD contra lesões cerebrais em atletas
Aqui no Brasil também acontece um estudo parecido sobre CBD no controle de lesões cerebrais. O neurologista Dr. Renato Anghinah é referência no Brasil em estudos e tratamentos para distúrbios do cérebro, sobretudo dentro do esporte, e é o médico do Sindicato dos Atletas de São Paulo.
Também é pesquisador e prescritor de Cannabis medicinal há anos. Em 2020, tornou-se diretor médico global da HempMeds, uma das principais empresas de canabidiol dos EUA com atuação no Brasil.
Ele está à frente de um estudo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP sobre Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), o nome oficial da doença que atinge esses atletas. Leia aqui nossa entrevista com o Dr. Renato Anghinah.