Na estreia do quadro “O CEO Responde” conversamos com o Gustavo Palhares, que é presidente e um dos fundadores da Ease Labs. A empresa multinacional, criada em 2018, está situada em Belo Horizonte (MG) e atua no desenvolvimento, produção e distribuição de soluções naturais à base de canabinoides. A Ease Labs é uma das primeiras indústrias a produzir e desenvolver fórmulas exclusivas em território nacional.
Antes de fundar a Ease Labs, Palhares atuou durante onze anos com estruturação de negócios como advogado internacional e em diversos processos de fusões e aquisições de empreendimentos. Gustavo Palhares é mestre em Direito pela Northwestern University em Fusões e Aquisições e pós-graduado em Direito Societário pela FGV/SP.
A Ease Labs entrou com força total no mercado brasileiro da Cannabis.
Foto: Divulgação Ease Labs
Já sabemos quando o produto da Ease Labs estará disponível nas prateleiras das farmácias para o paciente?
Estamos com uma expectativa muito grande, aguardando que os nossos produtos estejam nas farmácias ainda nesse ano. Trabalhamos muito até chegar a esse processo de lançamento. Tivemos que criar toda infraestrutura, qualificação, importação, desenvolvimento de fórmulas, testes, produção, até finalmente chegarmos nas vendas, finalmente. Serão duas ou três formulações focadas em doenças neurológicas e psiquiátricas. Somos uma farmacêutica que tem se especializado no Sistema Nervoso Central e em desenvolver medicamentos voltados ao tratamento de ansiedade, insônia e depressão, um mal que atinge grande parte da população atualmente. Vislumbramos grandes mercados, com foco no bem-estar e na melhora da qualidade de vida. Soluções naturais e disruptivas.
Qual é a demanda esperada?
Temos a expectativa de uma demanda muito grande. Não dá para cravar um número exato, mas só para ter uma ideia cerca de 1/3 da população brasileira sofre com dor crônica. Esperamos que em seis meses haja uma curva de engajamento e tração. Mas antes, precisamos trabalhar a educação e a formação de novos médicos prescritores. Ainda falta informação de qualidade, isso é essencial e fará a diferença nesse mercado. Cabe a nós levar essa informação e propagar os estudos científicos que comprovam a eficácia do uso medicinal da Cannabis.
Como a empresa avalia a entrada de novos medicamentos no mercado? A Anvisa já autorizou a comercialização de 19 produtos nas drogarias. A concorrência é algo saudável para esse mercado da Cannabis?
Acho muito importante a entrada de novas empresas nesse mercado. Imagina ter que trabalhar a educação e a conscientização das pessoas de forma isolada? Se nós tivéssemos que criar tudo do zero e sozinhos seria muito mais difícil. Mas é importante dizer que nem todas essas empresas que conseguiram autorização da Anvisa para comercializar nas farmácias vão conseguir cumprir todas as exigências e autorizações para conseguir colocar tudo em prática e disponibilizar o medicamento nas prateleiras. Por isso, apostamos no nosso modelo. Além da Prati Donaduzzi, apenas a Ease Labs tem fabricação local e desenvolvimento de formulações inéditas. Nós escolhemos o caminho mais longo e desafiador – isso a curto prazo. Mas a longo prazo, apostamos que a produção vai baratear e iremos alcançar o nosso pilar principal que é a acessibilidade. Esse é o nosso propósito, queremos impactar e mudar as vidas das pessoas, não apenas aquelas que hoje conseguem custear o medicamento.
Hoje, qual é o tamanho do mercado nacional na avaliação do senhor?
O público em potencial da Cannabis pode chegar a 54 milhões de brasileiros, de acordo com algumas projeções. Mas, claro, sabemos que nem todos irão buscar esse tipo de tratamento e nem todos os médicos irão prescrever. Por isso, precisamos investir em educação médica e informação de qualidade.
Qual é o perfil do paciente brasileiro?
Hoje, a maior parte dos pacientes no Brasil ainda faz a importação direta do medicamento. São pessoas com as mais diversas patologias. Doenças neurológicas, dores crônicas, ansiedade, insônia e depressão, autismo e epilepsia, por exemplo.
Hoje, qual é o produto carro-chefe da Ease Labs? A empresa estuda a possibilidade dispensar outros tipos de canabinoides como o CBN, CBG, CBC, por exemplo?
Estamos na pontinha do iceberg. Vemos a oportunidade de ampliar o desenvolvimento de novas fórmulas a partir de outros ativos encontrados na Cannabis. Mas antes, ainda precisamos ter uma evolução interna dentro dos órgãos reguladores para determinar esses canabinoides como os marcadores principais das formulações. Por agora, nosso portfólio está completo. Temos fitofármacos isolados e com todo o espectro de canabinoides e fitocomplexos com alto teor de THC, numa razão de 1 para 1 com o CBD. Essas fórmulas, ricas em THC, são mais indicadas para uso oncológico e casos irreversíveis, onde precisamos garantir maior bem-estar ao paciente.
Quais são as pesquisas que a Ease Labs vem desenvolvendo nesse momento relativas à Cannabis?
Nossa empresa é especializada em Sistema Nervoso Central e as pesquisas seguem nesse caminho. Precisamos sempre nos manter atualizados quanto aos avanços da ciência para desenvolver novos produtos naturais e com menos efeito colateral. Investimos fortemente no desenvolvimento farmacotécnico e em parcerias com institutos de pesquisa no Brasil e no exterior. Contamos com parceiros estratégicos para ampliar nossos conhecimentos técnicos. Eles estão localizados no Brasil, América do Norte e Europa. Assim, conseguimos ter uma sinergia completa entre nossa missão, visão e valor, assim como uma cadeia produtiva robusta e inovadora.
Qual é o maior desafio de empreender hoje – em Cannabis – no Brasil?
Empreender é sempre um desafio. No Brasil, então, nem se fala. Demoramos dois anos para montar e estruturar o nosso plano de negócios. Fizemos tudo com calma e muito planejamento. Nosso business foi desenvolvido antes mesmo da edição da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) RDC 327. A publicação desse documento encurtou muito o nosso caminho. Trabalhamos para colocar no mercado um produto que tenha comprovação de eficácia e segurança e é isso que a Anvisa exige.
Quantos empregos diretos e indiretos a Ease Labs gera no Brasil e fora do país?
Atualmente, empregamos 60 pessoas de forma direta. Estamos verticalizando o processo e adquirindo uma farmaquímica que tem outros 30 empregados. Com a expansão, precisaremos ampliar a força de venda e contratar mais gente. Também estamos buscando novos mercado no Uruguai e no Japão, onde já apresentamos três formulações e as negociações estão bem avançadas.
O senhor acredita que é importante autorizar e regulamentar o cultivo em solo brasileiro?
Sem dúvida, quanto mais etapas da cadeia de produção estiverem em solo brasileiro melhor para o paciente e para a empresa produtora. Isso encurta burocracia. Cada ponta da cadeia produtiva tem um cálculo e um preço. Precisamos dominar todas as pontas nessa cadeia de produção. Estimamos que o cultivo da Cannabis em solo brasileiro possa baratear de 40% a 60% do valor final do produto.
Hoje, já se fala em medicina “on demand”. As farmácias de manipulação são importantes nesse cenário? A empresa tem perspectiva de atuar nesse nicho?
Por enquanto, as farmácias de manipulação não estão no nosso escopo de atuação. Mas queremos ser fornecedores de insumos para essas empresas. Essa medicina de precisão é muito interessante e caminha para o futuro. Acreditamos que é preciso conhecer e a participar de toda a jornada do paciente.
Como trabalhar propaganda e informação sobre a Cannabis sem violar as regras que limitam esse tipo de ação?
Precisamos seguir as regras da indústria farmacêutica e dos produtos controlados, não tem escapatória. Mas entendo que é possível trabalhar um marketing indireto por meio da divulgação de dados comprovados e pesquisas científicas, por exemplo.
Existe a previsão de fornecer formação continuada aos médicos brasileiros?
Não pensamos em criar uma estrutura própria para fornecer esse tipo de educação. A ideia é trazer outras empresas que já tem expertise no assunto e plugar na nossa estrutura, sem inchar o nosso quadro atual.
Se, hoje, o senhor pudesse fazer um pedido à Anvisa qual seria ele?
A Anvisa faz um trabalho sensacional! A Agência tem um nível técnico altíssimo e uma forma muito profissional de lidar com o assunto Cannabis. Muita gente não entende o caminho, mas a Anvisa trabalha para atender às demandas do mercado sem colocar em risco a saúde dos brasileiros. Meu pedido à Anvisa seria continuar fazendo o trabalho que vem sendo feito com seriedade e sem retrocessos. Nós trabalhamos para cumprir as exigências e estamos com a nossa parte técnica redonda.
Qual é o grau de satisfação do senhor em relação à regulamentação sobre Cannabis existente hoje no Brasil?
A regulamentação atual atende às empresas que querem construir algo sólido no Brasil. Atende bem, mas claro, sempre pode melhorar na questão de registro de novos medicamentos. Tornar o processo mais ágil. Estamos assistindo avanços globais e esperamos que o caminho no Brasil se espelhe nesses avanços.
O que falta para o mercado brasileiro expandir na opinião do senhor?
Entendo que o mercado brasileiro vai explodir num curto período de seis a 12 meses. Mais produtos na farmácia mudam a lógica do mercado e impulsiona o setor de forma geral. O medicamento nas farmácias traz, inclusive, mais segurança ao paciente.
O que não pode faltar no empreendedorismo canábico?
Consistência e persistência. Enxergar que a construção do mercado e da demanda é a longo prazo. Quem entra nesse negócio não deve esperar ganhos imediatos.
O que motivou a empresa a investir no mundo da Cannabis?
Propósito de vida pessoal e profissional. Meu desejo era impactar na vida das pessoas, democratizar o acesso e trazer mais qualidade de vida para os brasileiros. Eu sou paciente da Cannabis, uso para melhorar o meu sono. Durante 12 anos eu morei em São Paulo, já precisei tomar alguns medicamentos pesados para conseguir dormir. Eu sei que esse é um problema que atinge uma parcela expressiva da população e nós podemos ajudar. Também é importante dizer que eu nunca vi algo tão promissor como o mercado da Cannabis. Isso está acontecendo no mundo inteiro. É uma questão de projeção econômica. Eu estou muito satisfeito até agora.
Como que a empresa se vê daqui a 5 anos? E em 10 anos, onde quer chegar?
Em três anos, espero estar com um faturamento de 240 milhões/ano. Em cinco anos, queremos ter um portfólio ainda mais amplo. Temos uma empresa sólida que acredita na migração das drogas sintéticas para os produtos naturais. Esperamos em 10 anos ter uma geração de caixa consistente. Ampliar o acesso ao medicamento e atuar junto com as grandes indústrias farmacêuticas. A nossa pretensão em 10 anos é cultivar o próprio insumo, ampliar o número de pesquisas, atender a jornada do paciente e chegar à medicina de precisão. Sempre atuando na ponta da inovação, trazendo soluções naturais com certificações. Nossos pilares são: verticalização, inovação e geração de caixa.
Cite três empresas especializadas em Cannabis que são destaque na opinião do senhor.
Vou citar duas que admiro: GW Pharmaceuticals, uma empresa inglesa pioneira na Cannabis para fins medicinais e a CuraLeaf, uma das maiores empresas dos Estados Unidos que atua nesse setor de forma compromissada e de vanguarda.