Desvalorização que ultrapassa 70% pode ser chance de investimento a longo prazo, diz CIO da Empiricus Investimentos
O impacto da regulamentação da Cannabis na economia global, seja para fins médicos ou recreativos, salta os olhos de qualquer leigo e desperta a ganância dos investidores mais graduados. De acordo com um levantamento feito pela Prohibition Partners (2021), o comércio da Cannabis para uso medicinal no mundo e, especialmente na América Latina, deve movimentar mais de US$ 105 bilhões até 2026. Outro relatório produzido pela Clarivate Analytics e Derwent sobre Cannabis – Pesquisa, Inovação e Tendências de Mercado, revela que a cadeia produtiva da planta legal pode gerar mais US$ 55,3 bilhões em 2024. Uma terceira pesquisa, dessa vez englobando o impacto também do cânhamo na indústria, da norte-americana Mérida Capital Holdings, revela números ainda mais ambiciosos – um mercado que deve injetar US$ 1 trilhão na economia mundial até 2027.
Mas se os números são tão promissores, por que os fundos de Cannabis no Brasil estão despencando e fecham 2022 com a maior queda desde quando entraram no mercado financeiro em 2019? Quem explica é o sócio fundador e CIO (Chief Investment Officer ou diretor de gestão) da Empiricus Investimentos, George Wachsmann, idealizador dos Fundos Vitreo Canabidiol FIA IE e Vitreo Cannabis Ativo Fim. “A Empiricus research existe há 13 anos e estuda diferentes classes de ativo para vender aos assinantes. Em 2017, relatório Money Rider, através da seção Green Rider – sobre o setor da Cannabis – demonstrou um cenário bastante promissor com a tese de que a legalização da planta e a venda de canabidiol iriam explodir. A Vitreo nasceu com a proposta de ajudar os assinantes da Empiricus a investir. No setor da Cannabis, particularmente, o investidor tem dificuldade de executar, porque há restrições de investimentos”, explica George.
Apesar de os investidores do setor canábico amargarem prejuízos nesse ano, Wachsmann afirma que o Fundo da Vitreo Canabidiol chegou a ter uma valorização de 156% nos primeiros meses de 2021. “Na pandemia o fundo despencou, depois subiu loucamente. É uma dinâmica do próprio setor. Pequenas empresas foram infladas, startups da Cannabis entraram nessa onda. E a bolha estourou. Aí, as ações começaram a cair. Em novembro desse ano o Fundo Canabidiol teve uma recuperação de 6,13%. Mas fecha o ano com uma queda de 70%. O Cannabis Ativo (versão mais popular de investimento) também se comportou de forma semelhante. Em novembro teve alta de 4,95%, mas no ano fecha em 76% negativo”, detalha o CIO.
O número é o pior desde a criação do fundo em 2019. Naquele ano, as ações do fundo tiveram valorização de 0,53%. No ano seguinte, o fundo também registrou alta de 17,43%. Já em 2021, as ações começaram a despencar e fecharam em 15% negativo. Mas nesse ano, quem apostou em empresas de Cannabis registrou perdas ainda mais significativas.
“No início de 2021, os fundos de Cannabis tiveram um ‘boom’ movido pela euforia da eleição de Joe Biden (presidente dos Estados Unidos). Existia no mercado uma expectativa de que eleito, seriam aprovadas legislações que regulassem o desenvolvimento do setor. Mas isso ainda não aconteceu”, analisa o investidor.
George Wachsmann se refere a projetos de lei como o Secure and Fair Enforcement Act (SAFE Banking Act) e o Marijuana Opportunity Reinvestment and Expungement Act (MORE Act). De forma resumida, a primeira proposta permite que o setor da Cannabis se integre ao sistema financeiro. E a segunda, propõe retirar a Cannabis da lista de substâncias controladas no país, legalizando tanto o uso recreativo, como o uso medicinal nos Estados Unidos. Atualmente, o chamado uso adulto e o uso terapêutico da Cannabis são regulados pelos estados naquele país.
Com essas expectativas frustradas, as ações dos fundos canábicos começaram a cair influenciadas também pelo o cenário de alta de juros. “Essas empresas que atuam no setor da Cannabis estão em fase de crescimento, ou seja, precisam de muito dinheiro para de desenvolver. O cenário de taxa de juros altos é mortal para esse tipo de empresa. O aumento nas taxas de juros no mundo todo aumenta o custo do endividamento das companhias, que, ainda operam com baixa geração de caixa”, explica o economista.
O que são e como funcionam os fundos?
Fundo de investimento é uma forma de aplicação onde vários investidores se unem para viabilizar um investimento financeiro, sem personalidade jurídica, formando uma espécie de condomínio, com o objetivo de gerar o maior lucro possível com risco reduzido. Esse patrimônio é dividido em cotas que valorizam ou desvalorizam, conforme o resultado dos investimentos do gestor. “Nós nos inspiramos no relatório da Impiricus para selecionar as empresas que vão receber dinheiro do fundo”. No caso dos Fundos Canabidiol e Vitreo Cannabis Ativo, os recursos dos investidores são aplicados em 19 empresas americanas e canadenses – selecionadas pela equipe técnica da Empiricus Investimentos – relacionadas ao processo de cultivo legal, galpões, farmacêuticas, marketing ou logística de distribuição de Cannabis para fins medicinais, industriais e recreativos.
Há potencial de valorização?
Para George Wachsmann, ações em queda podem significar boas oportunidades de negócio.
“Você gostaria de apostar que isso tudo vai ser maior do que é hoje? Você acha que a pauta de legalização do uso medicinal da Cannabis está caminhando no Brasil? Você acha que o setor vai crescer e despontar nos próximos anos? Se a respostas forem positivas, então vale a pena investir com a visão de longo prazo. Eu tenho uma tese de que tudo isso será maior. Se você também pensa assim, essa deveria ser a sua motivação para investir”, ensina o CIO.
Seguindo a lógica de Wachsmann, para investir hoje em um fundo de Cannabis no Brasil é preciso ter menos da metade do dinheiro de três anos atrás. “O mercado ainda não explodiu. E não há nada que desabone a tese de que vai explodir. Nos últimos cinco anos só saíram notícias positivas sobre o uso medicinal da Cannabis. Agora esse é um investimento de longo prazo. A sensação é de que esse assunto é de um futuro que ainda não chegou. Se você me perguntar se vai ganhar dinheiro até o carnaval, eu vou dizer que, eu acho que não. Até o final de 2023? Não sei. Daqui há cinco anos? Eu acho que vai! Se eu achava que isso fazia sentido três anos atrás, hoje eu acho que faz ainda mais sentido”, conclui o CIO.