No quadro ‘A CEO Responde” dessa semana, a convidada é a vice-presidente do grupo TegraPharma, Ana Gabriela Baptista.
A pesquisadora, especializada em fitocomplexos, assume o segundo posto da multinacional focada em trazer para o Brasil produtos de excelência à base de canabinoides, que possam ser acessados pela população em geral.
Antes de tudo, com o objetivo de atender às dores do pacientes que podem se beneficiar da medicina canabinoide e às demandas dos profissionais de saúde, a TegraPharma se consolida no Brasil como uma das principais empresas especializadas em produtos à base de Cannabis, com certificações de controle de qualidade e selo de produção orgânica.
Além disso, a TegraPharma tem um portfólio de quase 30 produtos, que vão além de óleos concentrados em CBD (canabidiol), disponibilizando também aos pacientes o THC (tetrahidrocanabinol) isolado e formulações de uso tópico e odontológico.
Com expertise acadêmica, Ana Gabriela assume ainda a Direção da Vigo Academy. Em resumo, o braço acadêmico-científico da empresa tem a missão de promover capacitação e formação continuada, para profissionais de saúde que querem se aprofundar na medicina canabinoide.
Quer conhecer melhor essa história? Então, não deixe de ler a entrevista completa com a Ana Gabriela Baptista!
Qual é a sua história com a Cannabis, até entrar na TegraPharma? E quando você decidiu investir nesse mercado?
Antes de mais nada, eu sempre estudei fitoterápicos. Principalmente, quando comecei a estudar medicina funcional. Em outras palavras, os derivados das plantas medicinais sempre me atraíram. Eu já desenvolvi alguns estudos com a Cúrcuma, a Passiflora, a Melissa e a Copaíba. Essa última, por exemplo, também se conecta com os receptores do Sistema Endocanabinoide.
Posteriormente, há 7 anos eu fui estudar a Cannabis para fins medicinais em outros países. Na sequência, fui convidada a trabalhar na Indeov, uma das primeiras empresas de Cannabis a entrar no Brasil, com estudos científicos e acadêmicos.
Então, eu me aprofundei. A partir dos estudos que desenvolvi, algumas portas se abriram. Entre 2018 e 2019, eu ministrei uma série de aulas. Apareceram algumas oportunidades internacionais como consultora técnica, na parte de compliance e desenvolvimento de novos produtos.
A formação na área é essencial para quem quer investir em Cannabis?
Sem dúvida! Eu fiz cursos internacionais, para entender a parte da genética das cepas, produção, extração, entre outras. Eu me desenvolvi nessa parte técnica. Mas 2018 foi um grande marco. Eu entendi a ação da planta Cannabis Sativa L. no Sistema Endocanabinoide.
Foi aí que eu compreendi que havia um mundo a ser trabalhado no Brasil, com vários campos para desenvolver. Na Tegra, eu comecei na parte de desenvolvimento de produtos com soluções inovadoras e nova biodisponibilidade. Depois, assumi a também Vice-presidência, para organizar novos projetos.
Meu foco dentro da área de saúde sempre foi a melhora na qualidade de vida das pessoas. Esse sempre foi o meu propósito de vida. Tenho vários sonhos e um deles é democratizar o acesso à Cannabis. Essa é a medicina do futuro! Estamos resgatando os conhecimentos ancestrais das plantas medicinais.
Hoje, conhecendo o mimetismo molecular dos canabinoides e dos endocanabinoides – que nós produzimos internamente -, o uso medicinal da Cannabis se torna algo mais fisiológico e natural.
Qual é a demanda esperada no mercado brasileiro?
O acesso, infelizmente, ainda não é para todos. Mas todos os dias vemos que cada vez mais pessoas têm buscado esse tipo de tratamento. O que nós observamos é que o mercado está em franco crescimento.
Mas, na minha visão, o acesso só será possível para todos, quando existir uma regulamentação de cultivo da planta no país, e permissão para desenvolver produtos e tecnologias dentro do próprio Brasil. Nós ainda pagamos caro por esse atraso.
Quais são os principais desafios de investir no mercado da Cannabis no Brasil?
O desafio maior para o uso do derivado da Cannabis é o regulatório. Isso precisa estar melhor alinhado à realidade e à demanda da população brasileira.
Nós podemos observar que, hoje, muito se fala sobre o uso medicinal da Cannabis para epilepsia refratária. No entanto, o Brasil é o país que mais registra dor crônica no mundo e não olha para dentro.
São inúmeras patologias que podem se beneficiar dos canabinoides, para além da epilepsia.
Também é importante dizer que o (CBD) canabidiol não é a única molécula medicinal da Cannabis. Há um erro conceitual, quando querem reduzir o uso da Cannabis ao canabidiol.
Isso é inadequado para a ciência. Conhecendo o mecanismo de ação fisiológica e bioquímica de ação dos canabinoides no corpo, é muito complicado falar apenas da ação de uma molécula e desprezar os mais de 500 compostos com funções metabólicas sinérgicas no metabolismo.
A TegraPharma pretende operar pela RDC 327 e colocar o produto de Cannabis nas farmácias?
Sim. Hoje, a TegraPharma tem processo em análise na Anvisa, para autorização sanitária, em parceria com a Endogen. Nós já temos um produto de acesso imediato nas farmácias, que é o Zion 200mg/ml, de extrato full spectrum de Cannabis Sativa. Atualmente, disponibilizamos o acesso a quase 30 produtos pela RDC 660 para o paciente, com segurança e agilidade.
Como você vê esse aumento da concorrência no setor? Já são 25 produtos com autorização da Anvisa para serem vendidos nas farmácias. É algo saudável?
Acho muito importante existirem opções para os pacientes. Entretanto, sinto que os produtos que estão disponíveis nas farmácias são muito semelhantes. Nós não vemos estratégias para promover novas formulações.
Não há nada inovador. Por outro lado, eu entendo que o regulatório da 327 é restrito. A regulamentação não está aberta a novas tecnologias. Não dá oportunidade para novas possibilidades – já disponíveis em outros países do mundo -, que são interessantes para tratar diversas alterações clínicas.
O que começamos a ver nas farmácias são soluções diluídas. Extratos com baixíssimas concentrações de canabinoides. Prejudicando possíveis estratégias terapêuticas e podendo levar ao descrédito da terapia com canabinoides. É preocupante.
Quantos empregos diretos TegraPharma gera hoje no Brasil?
São mais de 80 pessoas trabalhando diretamente, fora os parceiros que temos no Brasil e em outros países. Muitos empregos também são gerados de forma indireta, para que o produto chegue efetivamente até as mãos do paciente.
Qual é o produto carro-chefe da TegraPharma?
Hoje o produto que é mais prescrito pelos médicos e profissionais da saúde é o Tegra Usaline 6000mg de CBD, full spectrum, em um frasco de 30ml. A formulação tem sido muito bem aceita pelos pacientes, que buscam tratamento para muitas alterações de saúde. Mas também a Tegra dá acesso a outras formulações à base de CBG (Canabigerol), CBN (Canabinol) e THC (Tetrahidrocanabinol), produtos para uso tópico, onde os efeitos colaterais são quase inexistentes.
Há novos produtos em desenvolvimento?
Sim! Os produtos estão sendo desenvolvidos fora do país, em parceria com empresas de biotecnologia. Há uma série de estudos em desenvolvimento, para aliar moléculas da Cannabis a outras substâncias naturais. Além disso, também há o desenvolvimento de diferentes apresentações, como produtos com nanotecnologia patenteada. Em breve, os profissionais de saúde prescritores poderão ter acesso.
Qual é o perfil do paciente da TegraPharma?
Crianças com autismo e epilepsia, de um lado. De outro, muitos idosos com dor crônica, Mal de Alzheimer e Parkinson. Mas também há pacientes com depressão, ansiedade e problemas relacionados ao sono.
Para você, a educação médica é o caminho para a expansão da terapia canabinoide?
Certamente. Por isso, assumi a direção da Vigo Academy. Montamos essa plataforma de educação continuada, visando a levar conhecimento aos médicos e profissionais de saúde, que querem trabalhar com Cannabis – para fins medicinais – de forma segura e científica.
A primeira turma a se formar será de cirurgiões-dentistas. No segundo semestre, daremos início ao curso de Pós-Graduação de 360h, com certificação do MEC, em parceria com a São Leopoldo Mandic.
Na sua visão, a regulamentação do cultivo no Brasil poderia tornar o produto mais barato?
Com certeza! Além de o produto ficar mais barato, o paciente teria acesso mais rápido. Com a regulamentação do cultivo, é mais fácil o controle sobre a produção e qualidade. Além de gerar emprego, desenvolvimento de tecnologia, renda e arrecadação de impostos para o país. Hoje, como a importação ainda é a principal forma de acesso aos produtos no Brasil, essa geração de riqueza fica com o mercado internacional.
Na sua opinião, o que falta para esse mercado expandir?
O mais importante é ter um desenho regulatório assertivo e fazer essa informação chegar até quem tem o poder decisório. Ainda existe um certo preconceito contra o uso medicinal da planta. Precisamos saber comunicar, para não errar.
Se você pudesse fazer um pedido à Anvisa, qual seria ele?
Pediria para que a Agência autorizasse a produção em solo brasileiro. Há toda uma cadeia produtiva a ser explorada aqui. Desde o trabalho da genética da semente, ao cultivo, à extração, até a venda do produto ao paciente. A RDC 327 precisa ser reavaliada com rapidez. Ainda há muita limitação para o paciente. Por exemplo, pelo regulatório, ainda não é possível comprar um produto tópico à base de Cannabis na farmácia.
O que não pode faltar no empreendedorismo canábico?
Ter um conhecimento aprofundado sobre canabinoides e o uso medicinal da planta. Me preocupa, às vezes, conversar com empresas e startups que estão interessadas no mercado e não têm informação sobre o regulatório e as formas de acesso. Ainda vejo que há empreendedores com muita boa vontade e pouco preparo.
Como você vê a TegraPharma daqui há 10 anos?
Se o regulatório mudar até lá, vislumbro uma empresa produzindo nacionalmente de forma verticalizada (cultivo, extração e distribuição). Vejo toda a cadeia da Cannabis estruturada no Brasil, com exportação para vários outros países.
Quais modelos regulatórios deveriam ser seguidos no Brasil, na sua opinião?
Não acho que há um regulatório perfeito sobre Cannabis, em nenhum país. Acho que devemos criar o nosso próprio regulatório, com ética, respeitando nossos valores e as nossas peculiaridades. Cada país tem uma realidade. Não vejo nenhum país de exemplo. Mas acho que estamos no caminho, construindo a nossa própria história.
E você? Sabia que a Cannabis para fins medicinais já é regulamentada no Brasil?
São mais de 30 patologias que podem ser tratadas com os canabinoides. Quer saber mais? Nossa plataforma de agendamentos reúne mais de 25o profissionais, altamente qualificados para atendê-lo. Quer saber mais? Marque já a sua consulta.