Começou nesta quinta-feira, 11, a terceira edição do Cannabis Business Hub no Uruguai. Fundado pelos mesmos organizadores da ExpoCannabis Uruguay mas com um foco no agronegócio, o CBH deu o start em suas atividades focado em negócios e conexões entre diferentes players do setor da Cannabis na América Latina e no mundo.
“A Expo Cannabis é em dezembro e começamos a fazer estas reuniões B2B nos dias anteriores à ExpoCannabis, e vamos seguir fazendo, mas a questão é que este é um negócio agroindustrial. E em dezembro já está um pouco atrasado com o momento entre a colheita e o plantio, que é o momento onde acontecem os maiores negócios. Então decidimos realizar o evento do CBH no inverno, para podermos aproveitar justamente o momento que as empresas precisam: e aí nasce a plataforma primeiro e depois a necessidade de poder realizar este evento com as principais marcas de Cannabis medicinal e industrial. Pois outra coisa que vimos dentro das necessidades do setor medicinal e industrial era separar um pouco de tudo que tem a ver com Cannabis para uso adulto”, indicou Mercedes sobre a decisão do CBH acontecer em agosto.
Potencial da América Latina no setor da Cannabis
Embora o panorama atual ainda seja de uma certa inconsistência em relação às vendas das flores de Cannabis uruguaias, vivemos, tanto no Brasil como no Uruguai, um momento de extrema importância de desenvolvimento para a Cannabis medicinal. Mercedes indica que à medida que mais países tenham marcos regulatórios em relação aos medicamentos à base de Cannabis e que permita-se que a indústria cresça, mais oportunidades de negócios irão surgir. Neste sentido, a uruguaia salienta um ponto imprescindível que pode servir de motor para as regulamentações e seus critérios: a promoção e o desenvolvimento de pesquisas científicas com a Cannabis medicinal.
44 milhões de dólares para 2025
“América Latina vai ser a grande produtora desse medicamento em todos os níveis, no comércio latino-americano. O potencial que há de desenvolvimento em nível exponencial é brutal. Estima-se que a indústria de Cannabis medicinal irá movimentar em 2025, 44.000 milhões de dólares só na América Latina. E no mundo, por exemplo, em 2028 estaria movimentando 197,7 bilhões de dólares. Ou seja, o potencial existe e há muitas estatísticas para demonstrá-lo. Existe o conflito de interesse, pois é um medicamento que tem muita resistência de outras indústrias devido ao fato de queé um medicamento que substituiria grandes mercados. São medicamentos que estão sendo vendidos hoje que tem muito mais riscos e efeitos adversos à saúde que esses produtos à base de Cannabis”, destaca Mercedes.
Cannabis e o preconceito
Sabe-se que a questão do estigma em relação à planta ainda é uma barreira que devemos superar. Mercedes acredita que parte dessa responsabilidade está em quem trabalha com Cannabis. Dialogar, educar e informar com responsabilidade sobre os benefícios que a planta pode trazer é fundamental para os avanços no setor:
“Igualmente há uma mudança geracional, há uma responsabilidade de compartilhar informações e há uma responsabilidade de tolerância. Nós da Cannabis, muitas vezes reclamamos que nos estigmatizam, mas também temos que ser tolerantes com quem não conhece a Cannabis. Porque se não nos confrontamos ninguém avança nem para um lado nem para o outro. Por isso a pesquisa e a informação científica são tão importantes”.
O fracasso da guerra às drogas
Outro ponto fundamental na discussão sobre as regulamentações dos países da América Latina é a guerra às drogas. E também é necessário entender o enorme impacto econômico positivo que uma regulamentação correta e séria poderia causar na região..
“Quem é a favor da guerra às drogas é porque não entende a guerra às drogas ou se beneficia com isso. Todos os estudos mostraram o fracasso dessa guerra. Perdemos todos e todas com a guerra às drogas. Mas mulheres, crianças e pessoas trans são as pessoas mais vulneráveis que mais perdem com a guerra em geral. Bem, se você me vê apenas do ponto de vista da medicina, são os pacientes. Mas na guerra às drogas todos perdemos. Primeiro porque os países são corrompidos e os sistemas. Mas a população mais vulnerável na guerra contra as drogas são mulheres, crianças e pessoas trans. É usada em todos os países como forma de controle social e tem sido os países do Norte, principalmente os Estados Unidos, que projetou esta guerra especificamente para poder trazer a DEA e a CIA e diferentes organizações internacionais para controlar a América Latina. Todo mundo fala dos cartéis latino-americanos, mas ninguém fala dos cartéis na Europa, nos Estados Unidos, que são os que compram dos cartéis daqui. A violência instalada nos países daqui. Somos os maiores produtores e vamos seguir sendo os maiores produtores desta substância. E essa produção deveria ser legal. Pois deveríamos estar ganhando muito dinheiro como região”.
Congresso de endocanabinologia na programação do CBH desta sexta-feira
Hoje o CBH realiza apresentações comerciais do setor e algumas conferências de interesse ao público em geral. Além disso, a agência estatal Uruguai 21 apresentará um pouco de números de exportação e de investimentos. Também terá a realização do Congresso de Endocanabinologia, onde o foco será na medicina canabinoide e contará com a Direção Acadêmica da Dra. Cecilia Corsa do Instituto Clemente Estable de Pesquisa Biológica e com a química farmacêutica Marta Vázquez, que da Universidade da República do Uruguay.
O Portal Cannabis & Saúde fará a cobertura completa do Congresso de endocanabinologia direto de Montevidéu. O objetivo do Congresso é abordar as diferentes aplicações biomédicas da Cannabis e dos canabinoides e o papel do sistema endocanabinoide em diferentes condições médicas.