No quadro CEO Responde dessa semana conversamos com a Ana Paula Rossi, presidente da Mahara Cannabis Group.
Nesse bate-papo, a advogada, especialista em direito ambiental, conta de que forma ingressou no mercado da Cannabis e como o trabalho se tornou um propósito de vida.
A Mahara Cannabis Group está presente no Brasil desde 2020 e também opera em Portugal, em parceria com diversos laboratórios no mundo, para trazer ao país um óleo de CBD com certificação e grau farmacêutico.
Quer saber mais sobre negócios, mercado e como pensa a CEO da Mahara Cannabis Group? Confira a entrevista com a Ana Paula Rossi até o fim!
Qual é a sua história com a Cannabis?
Antes de mais nada, eu já tinha uma certa simpatia pela planta. Até que, em 2017, numa viagem para Itália, eu conheci as lojas que vendiam canabidiol. Isso me inspirou a falar sobre o tema. Por isso, resolvi levantar essa bandeira.
Mas quando comecei a estudar sobre o cânhamo e a Cannabis para fins medicinais, me apaixonei. Há inúmeros relatos na medicina chinesa. A princípio, o uso terapêutico da Cannabis é milenar.
Foi então que eu me meti em vários cursos de médicos. Eu queria dominar o tema, ir a fundo. Então, tudo o que pude estudar, eu me aprofundei.
Um pouco depois, dois anos atrás, veio a ideia de abrir a Mahara CBD. Até então, eu não entendia a resolução de regulamentação da Cannabis. Achava tudo muito confuso.
A partir da edição das RDCs 660 e 327, eu me senti mais confortável para investir. Mas só em 2019, consegui entender como a Anvisa tratava o assunto.
Anteriormente, antes da pandemia, a ideia era investir em Portugal. Começamos lá, onde não há uma exigência de receita para a venda de canabidiol (CBD). Hoje, também operamos em Portugal.
Qual é a sua visão sobre o mercado da Cannabis no Brasil?
Atualmente, estamos abrindo o mercado e quebrando tabus. Só agora os pacientes começam a se sentir seguros para fazer o uso medicinal da planta. De fato, vejo que a demanda por canabidiol (CBD) só tende a crescer.
Mas, para isso acontecer, temos que trabalhar com a educação e formação dos médicos e dos dentistas.
Eu precisei fazer uma cirurgia na boca e a minha recuperação óssea foi surpreendente, graças ao uso da Cannabis! Grande parte dos médicos hoje não estuda o Sistema Endocanabinoide. Não conhece como a Cannabis atua no corpo.
Além disso, muitos acham que o THC (tetrahidrocanabinol) é o vilão da planta, mas essa molécula já é indicada para vários tratamentos.
Hoje, qual é o perfil do paciente que chega na Mahara CBD?
Nossa estratégia de marketing focou num público que está conectado com a natureza, mar e alta performance. Temos pacientes que chegam com ansiedade, déficit de atenção e estresse.
Atendemos a muitas crianças autistas. Inclusive, estamos vinculados à algumas ONGs, que trabalham com autismo. Também temos alguns pacientes com mal de Alzheimer, insônia, dores de forma geral.
Qual é o produto carro-chefe da empresa?
É o curinga de 1.500 mg de CBD full spectrum (com todos os canabinoides da planta). Também temos outras formulações, de 3.000 mg e 2.000, e um broad spectum (com todos os canabinoides, mas sem THC) de 1.000 mg.
No segundo semestre, vamos trazer gummies de delta 9 (THC) e pomadas de CBD, para uso tópico.
Também estamos com uma linha skincare (cuidados para a pele) de CBD e, em breve, teremos um sérum para o rosto.
Há uma gama de produtos muito grande a ser explorada. É desafiador ter que ter receita nesse mercado, isso encarece o preço do produto. Mas é com isso que podemos trabalhar.
A Mahara CBD trabalha com outras moléculas da Cannabis, para além do CBD e THC?
Estamos querendo trazer o THCV, um supressor de apetite, que ajuda a reduzir níveis de açúcar no sangue. Portanto, queremos trabalhar com formulação para atender os diabéticos. No Alzheimer, o THCV também tem sido indicado.
A Mahara CBD pretende operar via RDC 327, a resolução da Anvisa que autoriza a venda de remédios à base de canabinoides nas farmácias?
Sim. Acho que todos que trabalham nesse ramo têm interesse em operar pela 327. Sabemos que o caminho é longo, demorado, custoso, mas está no bussiness plan (plano de negócios) da empresa.
Como você vê a concorrência no Brasil? Mais de 20 formulações já têm autorização da Anvisa para serem vendidas nas drogarias e quase 500 empresas operam por meio de importação. É saudável?
Acho bom, porque são mais empresas empreendendo. Só temo pela segurança do produto que chega ao Brasil.
As RDCs 660 e 327 são regulações distintas. A padronização da RDC 327 traz segurança para o público e para o médico que prescreve.
Já pela RDC 660 entram muitos produtos que a Anvisa não consegue fiscalizar. Na minha visão, o Brasil é imaturo para ter o CBD nas prateleiras, apenas como suplementação.
Sempre vejo o CBD como uma suplementação, que regula a imunidade e os hormônios, além de ajudar a manter o corpo saldável. Nunca tive ideia de acesso ao CBD como farmácia, apesar de aqui ser regulado assim. A padronização é importante para o paciente e traz a segurança para o médico.
A Mahara CBD investe em pesquisa?
Estamos firmando parceria com a Universidade Federal de Uberlândia para realizar uma pesquisa envolvendo CBD e a doença de Alzheimer.
Nós queremos nos consolidar como uma marca que tem o respaldo de cientistas. É muito importante nesse setor ter parceria e desenvolver pesquisas com as universidades.
Quantos empregos diretos a Mahara CBD gera hoje?
Temos uma equipe de 20 pessoas, por enquanto.
Você acha importante regulamentar o cultivo da Cannabis em solo brasileiro?
Certamente. Regulamentar o cultivo da Cannabis e do cânhamo, que não produz THC e ainda impacta ambientalmente na recuperação do ar e de áreas degradadas.
O cânhamo aprisiona gás carbônico, pode ser um diferencial na agricultura regenerativa, impactando na sustentabilidade do país. Estamos só engatinhando. São inúmeras espécies da Cannabis, precisamos aprender o que é possível fazer com cada cepa.
De acordo com a Forbes, o mercado da Cannabis no mundo vai chegar a US$ 57 milhões em 2027. E o mercado brasileiro? É possível fazer uma previsão?
Não sei dizer em termos de cifra. Temos um país com uma densidade demográfica gigante. Ainda há muito o que desenvolver, em questão de geração de emprego e renda.
Vendemos de três a quatro vezes mais do que em 2020. Conseguimos fidelizar a marca. Ajuizamos ações para pacientes. Vemos o mercado em expansão.
Qual é a sua avaliação sobre a atual regulação da Cannabis no Brasil?
A RDC 660 é totalmente diferente da RDC 327. Como advogada, vejo inúmeras brechas. Enquanto a RDC 660 é super flexível, a 327 é super rígida.
Acho que deveria haver uma padronização. De um lado receita azul, de outro receita branca. Isso confunde a cabeça do paciente e do médico também. Sempre é preciso explicar.
Como você avalia o trabalho das associações de pacientes, que têm conquistado na Justiça o direito ao cultivo para a produção medicinal?
Eu acho que isso é ótimo. Amplia as opções para o paciente ter acesso. Sabemos que o produto não é barato, não é viável para a maioria dos pacientes.
As associações batem de frente com todo o sistema. É algo temeroso, há uma insegurança jurídica. Mas o que importa é que pessoas estão sendo beneficiadas por elas.
Se você tivesse um pedido para fazer à Anvisa, qual seria ele?
Facilitar a entrada de outros produtos derivados da Cannabis no Brasil, como por exemplo, os cosméticos.
Há inúmeros subprodutos, diferente do óleo de CBD, que poderiam ser vendidos aqui. Inclusive sem canabinoides, produzidos só com o óleo da semente da planta.
Brasília já tem uma lei distrital que fornece o canabidiol dentro do Programa de Atenção à Pessoa com Epilepsia e agora São Paulo sancionou uma lei nesse sentido, mas ampliando para outras patologias, e vai fornecer via SUS. Como você vê a distribuição de CBD via SUS?
Acho justo. Por outro lado, vejo que há um caminho fechado para as empresas que operam pela 327, mas acho interessante que esse tipo de remédio seja fornecido pelo SUS.
Cite 3 empresas do universo canábico que você admira.
A italiana Inecta. Também admiro a Charlotte’sWeb (EUA), os primeiros que conseguiram isolar o canabidiol e a CBDMd.
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