No quadro ‘A CEO Responde’ dessa semana o bate-papo foi com a Silvia Soares. A presidente e fundadora da Bcure – uma empresa especializada em Cannabis para fins terapêuticos e dermocosméticos – falou sobre empreendedorismo e como a planta mudou o seu olhar sobre o mundo.
Há 25 anos morando nos Estados Unidos, Silvia retorna ao Brasil com a proposta de devolver ao país um pouco do que conquistou lá fora. A empresária, que abandonou o universo dos bancos para se dedicar à saúde e bem-estar, também busca gerar emprego e renda, principalmente, para as mulheres no Brasil.
Com a expertise de exportar para países como México, Portugal e Espanha, a Bcure agora chega ao Brasil com o diferencial de uma linha de produtos desenvolvidos para uso tópico pré e pós-operatório. Outra novidade são as fórmulas com fitocanabinoides que promovem o rejuvenescimento celular.
Interessante, não é?
Para conferir os detalhes da história da fundadora da Bcure e produtos inovadores à base de Cannabis, não deixe de ler a reportagem até o fim:
Qual é a sua história com a Cannabis? E quando você decidiu investir nesse mercado?
Em 2001, eu tive o primeiro contato com a planta na Califórnia. Ao observar que as pessoas que a utilizam ficavam mais calmas, relaxadas e felizes, eu decidi experimentar para acalmar minha ansiedade. Foi um sucesso imediato.
A partir dai, me aprofundei nos estudos sobre a Cannabis, como plantar, as formas de manipular e extrair o óleo, o potencial dos canabinoides, entre outros assuntos.
Também, aprendi a história do uso medicinal da planta que remonta há milhares de anos. Civilizações antigas, como os egípcios, os gregos e os chineses, já utilizavam a erva para tratar uma variedade de doenças e condições.
Na Índia antiga, a Cannabis era considerada uma planta sagrada e era utilizada em práticas religiosas e medicinais.
E você percebeu que existia um mercado em potencial e decidiu investir?
Ali, eu me apaixonei pela planta!
Durante o dia, eu trabalhava em um emprego comum, pois tinha que pagar as contas. Mas a noite e nos fins de semana, eu era voluntária em um dispensário com laboratório, onde tive a oportunidade de aprender, testar e criar produtos.
Também fiz muitas experimentações. Eu plantava e fazia as extrações. No quintal de casa eu criava esfoliante à base e Cannabis e até lubrificante íntimo. Eu levei 15 anos juntando recursos para ser sócia de uma empresa de Cannabis.
O negócio prosperou?
Sim! Apesar de sofrer muita discriminação como mulher e imigrante nos Estados Unidos, os negócios prosperaram! Eu continuo na sociedade com outras cinco pessoas na plantação, e paralelamente, fundei a Bcure, onde posso desenvolver os meus produtos exclusivos e únicos.
Apesar de várias vezes ter sido desacreditada, me mantive firme nas decisões e mostrei minha competência. Meu objetivo sempre foi ajudar mulheres e pessoas que não podiam comprar o CBD (canabidiol) de qualidade e continuo lutando por essa causa.
Ao longo do tempo, juntei a minha paixão por viagens e visitei vários países onde a Cannabis já é legalizada.
Foi assim que comecei a criar uma marca que incorporasse meus valores, a visão de mundo baseados em conhecimento, ética e transparência.
Assim nasceu a Bcure, uma empresa com foco em produtos de alta qualidade e com um propósito maior: tornar a Cannabis mais acessível e ajudar a mudar a visão estigmatizada que muitas pessoas ainda têm sobre ela.
Qual é a demanda esperada no mercado brasileiro?
O mercado brasileiro de Cannabis ainda está em desenvolvimento, e a demanda é – relativamente – baixa em comparação a outros países. No entanto, existem muitas oportunidades potenciais para as empresas de Cannabis no Brasil, a medida que o país começa a adotar abordagens mais progressistas em relação da planta.
Qual são os principais desafios de investir no mercado da Cannabis no Brasil?
O mercado da Cannabis no Brasil apresenta uma série de desafios para os investidores. A regulamentação atual é bastante restritiva e limita o potencial de crescimento do mercado.
Atualmente, as leis brasileiras permitem apenas o uso medicinal da Cannabis, mediante prescrição médica, autorização governamental (Anvisa) e aquisição controlada por meio de farmácias autorizadas.
Um dos principais obstáculos para as empresas que desejam ingressar no mercado de Cannabis no Brasil é a escassez de fornecedores confiáveis e matérias-primas de qualidade.
Além disso, obter as licenças necessárias para produção, importação e comercialização de produtos de Cannabis pode ser um processo complexo, oneroso e demorado.
Outro desafio significativo é o preconceito e estigma associados à planta, o que pode dificultar a aceitação dos produtos por parte do público em geral e limitar o potencial de crescimento do mercado.
Apesar desses desafios, muitos investidores e empreendedores estão enxergando a Cannabis como uma oportunidade de negócio promissora.
A Bcure pretende operar pela RDC 327 e colocar o produto de Cannabis nas farmácias?
A Bcure tem sim a intenção de entrar na RDC 327. Entretanto, é um projeto de longo prazo que requer alguns requisitos. Então, por agora, vamos continuar atuando na RDC 660. Já a RDC 327 é um projeto para o futuro, com certeza.
Como você vê esse o aumento da concorrência no setor? Já são 25 produtos com autorização da Anvisa para serem vendidos nas farmácias. É algo saudável?
O aumento da concorrência no setor de Cannabis medicinal no Brasil é um sinal de que o mercado está em expansão e oferece oportunidades para mais empresas entrarem no segmento.
Por um lado, isso pode ser benéfico para os pacientes, porque pode aumentar a disponibilidade de produtos e reduzir os preços.
Na outra ponta, pode ser um desafio para as empresas já estabelecidas, que precisam se adaptar à concorrência e manter sua posição no mercado.
Quanto à questão da saúde do setor, é importante lembrar que a concorrência saudável pode estimular a inovação, aprimoramento dos produtos e serviços, além de beneficiar os consumidores com mais opções de escolha.
No entanto, é importante que todas as empresas envolvidas na indústria cumpram as exigências regulatórias da Anvisa, garantindo a segurança e a qualidade dos produtos oferecidos.
A autorização de novos produtos pela Anvisa para serem vendidos nas farmácias é um reflexo da crescente demanda por produtos à base de Cannabis medicinal no Brasil.
Isso também pode ser visto como um passo importante para normalizar o uso da Cannabis medicinal no país.
Quantos empregos diretos e indiretos a Bcure gera no Brasil e fora do país?
É difícil determinar com precisão o número de empregos diretos e indiretos gerados pela Bcure. Por exemplo, nos EUA geramos empregos em laboratório de análises e desenvolvimento de tecnologias, laboratório de produção, representantes, logística e funcionários que trabalham com site, educação e demanda de vendas.
A Bcure Brasil é comandada pela minha sócia Jamila Rocha, que coordena de forma espetacular uma equipe de mais de 35 pessoas, entre representantes e consultores em quase todos os estados do Brasil.
Qual é o produto carro-chefe da Bcure?
Como uma empresa especializada em dermocosmético, nos orgulhamos de todos nossos produtos, incluindo nosso óleo de massagem e a linha de produtos especificamente desenvolvidos para uso antes, durante e pós cirurgia.
Ainda temos a linha completa de óleos que abrangem toda a área medicinal potencializando o uso terapêutico dessa planta de dentro para fora, e de fora pra dentro.
É importante ressaltar que o óleo de massagem não é apenas um produto estético, mas desempenha um papel crucial no uso medicinal.
Especialmente para pacientes que enfrentam dificuldades em tomar medicamentos na forma oral. Nosso óleo oferece a opção de administração através da pele, proporcionando uma forma terapêutica alternativa.
Para completar, temos prontos uma nova linha de produtos voltados para o segmento da dermatologia que será lançada ainda esse ano.
Qual é o perfil do paciente da Bcure?
Na verdade, eu não acredito que temos um perfil específico de pacientes. Nossos produtos abrangem a todos e a ‘todes’, incluindo crianças com patologias especificas, tanto como pessoas que só querem cuidar da saúde e ter uma melhor qualidade de vida.
Isso inclui os cuidadores dos pacientes que também necessitam de uma atenção com a saúde.
A Bcure pretende desenvolver novas formulações com moléculas como CBN, CBG, CBA (outros canabinoides presentes na Cannabis) por exemplo?
Sim, nós já estamos desenvolvendo novas formulações com moléculas como CBC, CBDa e o THCV. Produtos com CBN e CBG nós já temos no nosso portfólio, assim como o uso de terpenos canábicos nas nossas formulações.
Na sua visão, a regulamentação do cultivo no Brasil poderia tornar o produto mais barato?
A regulamentação do cultivo da Cannabis no Brasil pode ter o potencial de tornar o produto mais barato, mas isso dependeria de como essa regulamentação seria implementada.
A regulamentação do cultivo da Cannabis poderia aumentar a oferta de produtos no mercado interno, o que poderia levar a uma redução nos preços e tornar os produtos mais acessíveis à população que não tem como comprar um produto importado.
Na sua opinião, o que falta para esse mercado expandir?
Existem alguns desafios para a expansão do mercado de Cannabis no Brasil. Alguns dos principais obstáculos incluem a falta de regulamentação clara e a percepção negativa da planta pela sociedade.
Para que o mercado de Cannabis possa expandir, é necessário que haja uma regulamentação clara e bem definida em relação ao uso da Cannabis entre pessoas, pacientes e profissionais da saúde.
Se você pudesse fazer um pedido à Anvisa, qual seria ele?
Atualmente, a regulamentação da Cannabis para uso medicinal no Brasil é bastante restrita e limitada, o que dificulta o acesso de pacientes que poderiam se beneficiar do uso da planta.
Por isso, meu pedido seria que a Anvisa agilizasse a regulamentação do uso medicinal da Cannabis, diminuindo a burocracia para o paciente, principalmente. na área de importação, pois acaba saindo muito custoso para o paciente receber o produto que vêm de fora.
Qual é a experiência que você traz dos Estados Unidos?
Ainda falta muita educação no aspecto global e é um mercado que está se construindo e em ascensão. Como modelo de regulamentação da Cannabis, os Estados Unidos oferecem uma experiência interessante e complexa, uma vez que a regulamentação varia amplamente de estado para estado.
Alguns estados legalizaram completamente a Cannabis para uso adulto e medicinal, enquanto outros permitem apenas o uso medicinal, e há ainda aqueles que mantêm a proibição da planta.
Nos estados em que a Cannabis é legalizada, há uma ampla variedade de modelos regulatórios. Alguns estados, como Colorado e Califórnia, permitem a venda de Cannabis em lojas especializadas.
Enquanto outros, como Vermont, permitem o cultivo doméstico. Além disso, a regulamentação dos produtos de Cannabis, como comestíveis e concentrados, também varia de estado para estado.
Como resultado, a indústria da Cannabis nos Estados Unidos tem crescido rapidamente, com investimentos significativos em pesquisa, desenvolvimento e produção de produtos de alta qualidade e segurança. Há uma grande variedade de produtos disponíveis no mercado, desde flores e comestíveis até concentrados e tópicos.
No entanto, também há desafios, como a falta de padronização na regulamentação e a necessidade de desenvolver pesquisas mais robustas sobre os efeitos e riscos do uso da Cannabis. Além disso, a Cannabis ainda é considerada uma substância controlada pelo governo federal nos Estados Unidos, o que limita o financiamento e a pesquisa em alguns aspectos.
Em resumo, a experiência dos Estados Unidos na regulamentação da Cannabis oferece uma visão interessante e diversificada, com muitas lições a serem aprendidas e adaptadas para o contexto brasileiro.
Quais modelos regulatórios deveriam ser seguidos no Brasil, na sua opinião?
É sempre bom a gente analisar os erros a acertos desses países. Já existem diversos modelos regulatórios que poderiam ser seguidos pelo Brasil para a regulamentação da Cannabis, por exemplo:
O Uruguai foi o primeiro país a legalizar completamente a Cannabis, desde o cultivo até o consumo. O modelo regulatório uruguaio permite o cultivo em casa, o cultivo em clubes e o cultivo comercial regulamentado pelo governo.
Além disso, a Cannabis é vendida em farmácias autorizadas pelo governo, que garantem a qualidade e a segurança do produto. Esse modelo poderia ser adaptado ao contexto brasileiro, com a devida atenção às particularidades e desafios do nosso país.
O Canadá é outro país que tem um modelo regulatório avançado. No Canadá, o cultivo, a produção, a venda e o consumo de Cannabis são regulamentados pelo governo federal. A Cannabis é vendida em lojas licenciadas e os produtos são testados para garantir a qualidade e a segurança.
Esse modelo poderia ser inspirador para a regulamentação da Cannabis no Brasil, mas é importante destacar que o Canadá tem uma economia e uma cultura muito diferentes da do Brasil.
Dessa forma, é importante destacar que a escolha do modelo regulatório deve levar em consideração as particularidades do Brasil, incluindo a cultura, a economia, a diversidade regional e os desafios de segurança pública e saúde.
Além disso, é fundamental que o modelo escolhido seja capaz de garantir a qualidade e a segurança dos produtos, além de proteger a saúde pública e reduzir os danos relacionados ao uso de drogas.
Na sua avaliação, a eleição de um governo mais progressista pode acelerar a tramitação dessa pauta no país?
A eleição de um governo mais progressista pode ter um impacto positivo na tramitação da pauta da Cannabis no Brasil com uma postura mais aberta para debate assunto e buscar soluções mais flexíveis para a regulamentação do uso medicinal, e eventualmente, recreativo da planta.
Além disso, um governo mais progressista pode ser mais favorável à pesquisa científica e investimentos no setor, o que poderia acelerar o desenvolvimento da indústria canábica no país.
O que não pode faltar no empreendedorismo canábico?
Conhecimento sobre a planta no contexto amplo como a genética, o cultivo e o manejo. Entender o potencial da Cannabis nos diversos segmentos, pensando sempre na qualidade dos produtos para o consumidor final. Também como a responsabilidade social e ambiental.
Como você vê a Bcure daqui há 10 anos?
Uma empresa líder e bem estabelecida no mercado de Cannabis. Acredito que a empresa terá experimentado um crescimento significativo, impulsionado pelo progresso e pela ascensão do mercado brasileiro e internacional.
Nossa visão é contribuir para a consolidação do setor no Brasil, buscando uma regulamentação clara e objetiva que permita o cultivo e a produção da planta no país. Ao longo dos próximos anos, esperamos que a Bcure se torne uma referência em qualidade, inovação e pesquisa científica.
Pretendemos investir em tecnologia de ponta e parcerias estratégicas para garantir que nossos produtos sejam reconhecidos pela excelência e eficácia.
Além disso, estamos comprometidos em educar e conscientizar a população sobre os benefícios do CBD e seu potencial terapêutico, contribuindo para a desmistificação da Cannabis e a quebra de estigmas associados a ela.
Nossa visão é ser reconhecidos como uma empresa responsável, comprometida com práticas sustentáveis e com o bem-estar de nossos clientes.
Cite três empresas do mundo da Cannabis que você admira.
Existem diversas empresas do mundo da Cannabis que estão fazendo um trabalho admirável, mas vou citar três que se destacam na minha opinião:
Canopy Growth Corporation: É uma das maiores empresas do mundo da Cannabis, com sede no Canadá.
Pioneira no setor, tem investido pesadamente em pesquisa e desenvolvimento para criar produtos inovadores e de alta qualidade. Além disso, a empresa tem feito parcerias com empresas farmacêuticas e de consumo para expandir seus negócios.
Charlotte’s Web Holdings: com sede nos Estados Unidos, a empresa é conhecida por seus produtos à base de CBD de alta qualidade, especialmente para uso medicinal. A empresa tem um forte compromisso com a segurança e a eficácia de seus produtos, e tem sido elogiada por sua transparência e responsabilidade social.
Aphria Inc.: Outra empresa canadense, que foi comprada por uma empresa Estadunidense Tilray, a Aphria Inc. é uma das maiores produtoras de Cannabis do mundo.
A empresa tem se destacado por sua estratégia de diversificação, investindo em diferentes segmentos do mercado, incluindo produtos farmacêuticos, de consumo e de lazer. E também tem sido elogiada por seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social.
Precisa de tratamento?
Aqui no Brasil, como bem mencionou a CEO da Bcure, o uso medicinal da Cannabis é permitido com receita médica.
Para ter acesso, o primeiro passo é consultar com um médico ou um cirurgião-dentista prescritor.
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