A Alma Lab chega ao mercado brasileiro em janeiro de 2021 com um propósito: fornecer informação científica e facilitar o acesso a terapias canabinoides no Brasil. Os produtos Alma Lab, desenvolvidos nos Estados Unidos e no Paraguai, possuem formulações de variados canabinoides, que vão além do CBD como: CBG, CBN, THC, CBD-V, terpenos, fitocanabinoides, flavonoides, antioxidantes, suplementos e extratos de ervas em óleo MCT. As formulações que passam pelo processo de extração em dióxido de carbono (CO²) são purificadas em instalações com certificação do Food Drug and Administration (órgão regulador dos Estados Unidos) e atendendo às regras das boas práticas de fabricação. Para falar sobre a empresa, convidamos a Thaise Alvarez, fundadora e CEO da Alma Lab, para o quadro “A CEO Responde” dessa semana. Nesse bate papo, a empresária, que é advogada e fisioterapeuta, faz uma análise do mercado e conta por que decidiu investir no universo canábico. Confira!
Qual é a sua história com a Cannabis? E quando você decidiu investir nesse mercado?
Tudo começou em dezembro de 2019, um pouco antes da pandemia. Eu li uma publicação sobre canabidiol, achei muito interessante, porque sou fisioterapeuta e advogada, e comecei a pesquisar. No ano seguinte, eu fui até o Uruguai para conhecer o cultivo e a política de tratamento da Cannabis. Me aprofundei. Até então, eu não conhecia esse tipo tratamento e tinha até um certo preconceito. Foi aí que eu tomei como missão trazer e divulgar informação científica sobre a Cannabis. Eu comecei a usar o óleo, assim como a minha família e os amigos próximos. Todos nós tivemos melhoras de fato, já na primeira semana de tratamento. Logo depois, eu conheci um grupo de mães com filhos autistas e me aprofundei ainda mais.
Como que foi esse trabalho com as mães autistas?
Durante um ano trabalhamos com foco na causa autista. As mães sofrem um preconceito e um estigma enorme. Além da dificuldade de cuidar das crianças e ter acesso ao tratamento à base de Cannabis. Neste grupo que estamos acompanhando com mais de 200 mães, cerca de 90% das crianças apresentaram uma melhora considerável com o uso do canabidiol (CBD). É importante dizer que os medicamentos convencionais não são satisfatórios para muitas crianças e trazem sérios efeitos colaterais. Já os derivados da Cannabis são produtos 100% naturais que têm trazido mais qualidade de vida não só para o autismo. Nosso diferencial é o tratamento humanizado dos pacientes. Fazemos um monitoramento mensal, tiramos dúvidas. Temos uma enfermeira para trazer segurança aos pacientes e auxiliar os médicos. Atualmente, a Alma tem mais de 1200 pacientes.
Qual é a demanda esperada no mercado brasileiro?
Até janeiro de 2020 nós tínhamos muita dificuldade de achar informações como essa. Não havia. De cada 10 pessoas que eu falava do mercado em geral, 8 desconheciam ou achavam que eu trabalhava com droga. Nesses últimos dois anos o crescimento do mercado brasileiro foi muito evidente. De 10 pessoas com quem falo agora, 10 conhecem o tratamento com a Cannabis. A comunidade médica e odontológica também estão se abrindo e buscando estudar. Por mais que a maioria ainda não prescreva, não há um desconhecimento completo sobre o assunto. De acordo com uma reportagem da Forbes, o número de autorizações de importação de produtos à base de Cannabis no Brasil cresceu de forma assustadora, 243%, de 2018 para 2021. Até 2025, o Brasil teria um potencial de arrecadar até 8 bilhões de reais, se fosse o cultivo para a produção medicinal e industrial fosse autorizado e regulamentado no país. Então, a demanda só cresce. Não tenho um número exato.
Qual são os principais desafios de investir no mercado da Cannabis no Brasil?
O principal desafio ainda é a burocracia para acessar o produto. Obter todas as cerificações para trabalhar com importação. Outra coisa muito complicada é conseguir pagar fornecedores nos Estados Unidos. Por se tratar de Cannabis, há toda uma burocracia para mandar dinheiro para fora. Ainda há demora na liberação da entrada do produto e os pacientes não podem esperar. Essa dificuldade de acesso físico e financeiro encarece ainda mais o produto. O que precisamos é desburocratizar a importação para torná-la mais acessível e rápida.
A Alma Lab pretende operar pela RDC 327 e colocar o produto de Cannabis nas farmácias?
É um grande sonho. Precisamos, antes, aumentar a demanda. Não adianta ter nas prateiras e não ter demanda. Hoje, ainda é muito burocrático liberar o produto para chegar nas farmácias. Seria muito bom para o paciente encontrar o produto mais barato com pronta entrega. Entretanto, ainda está difícil viabilizar o produto na farmácia. Eu busquei um orçamento para fazer o registro e não sai por pelo menos dois milhões de reais para registrar por meio da RDC 327. Nesse momento, estamos fazendo um trabalho de consultoria para abrir as portas para investidores. Em dois ou três meses vamos abrir a empresa para novos sócios. Estamos em processo de “valuation”. Queremos deixar a empresa bem redonda para que os investidores tenham segurança para investir no mundo da Cannabis dentro de uma empresa séria.
Como você vê esse o aumento da concorrência no setor? É algo saudável?
Atualmente, há cerca de 400 marcas importadas que giram no Brasil. No primeiro momento, isso aumenta a concorrência, mas não vejo bem assim. Primeiro, precisamos ajudar o mercado brasileiro a crescer e se consolidar. Nos Estados Unidos, há de três a quatro lojas de Cannabis, por quadra, vendendo CBD. Há espaço para todos, o Brasil é enorme. Se nos unirmos seremos um mercado forte, de melhor acesso ao paciente. Ainda não atingimos 20% das pessoas que teriam indicação para se tratar com Cannabis. Então, há muito trabalho pela frente.
Quantos empregos diretos a Alma Lab gera?
Temos hoje 20 colaboradores.
Qual é o perfil do paciente da Alma Lab?
Metade dos nossos pacientes buscam tratamento para saúde mental e qualidade de vida. Não só para controle de sintomas, mas de forma preventiva para doenças neurodegenerativas, efeitos antioxidantes e ansiolíticos. Há estudos que indicam os benefícios dos canabinoides para prevenção e qualidade de vida. A outra metade dos nossos pacientes dizem respeito a patologias como autismo, epilepsia e dor crônica.
A Alma Lab pretende trabalhar com novas formulações?
Todos as formulações da Alma Lab vêm com CBG, CBDV e CBDA. A versão nova do sleep contém CBN, uma molécula da Cannabis super inovadora. O balm para dor que é um full spectrum 200mg de CBD contém vários fitoterápicos como a aloe vera, que atua também no controle da dor, assim como nas doenças de pele. Nós vamos trabalhar com todas as moléculas que a ciência demonstrar eficiência.
Na sua visão, a regulamentação do cultivo no Brasil poderia tornar o produto mais barato?
Com certeza, se for feito de forma consciente, dentro de regras que viabilizem o cultivo vai gerar emprego, arrecadar impostos e trazer conhecimento. O dia que isso acontecer, o Brasil vai receber toda a cadeia de produção que hoje está fora do país. Não é só a empresa e o paciente que ganham, a economia do país como um todo ganha e muito! Agora, enquanto o cultivo não avança com a votação do PL 399 no Brasil, nós poderíamos – pelo menos – ser beneficiados com regras mais simples para a importação.
Na sua opinião, o que falta para esse mercado expandir?
As leis ajudam, mas paralelamente é fundamental educar a população. Isso representa 50% na minha visão. Levar informação de qualidade para o paciente e para a classe médica. Muita gente não sabe que o canabidiol é 100% natural, que não vicia e não contém aditivo. Então, o setor precisa investir em informação e educação.
Se você pudesse fazer um pedido à Anvisa, qual seria ele?
Facilitar o processo de importação para o paciente e o desembaraço da entrada dos produtos à base de Cannabis no Brasil. Já houve avanços, mas o processo ainda é lento e o paciente que tem dor, não pode esperar!
O que não pode faltar no empreendedorismo canábico?
Ter coragem de entrar em um mercado instável, sem uma regulamentação. O mercado da Cannabis é 100% novo. Nós somos pioneiros, estamos ajudando a construir o mercado. Nesse sentido, precisamos de resiliência e muita dedicação.
Como a Alma Lab se vê daqui há 10 anos?
Estamos criando um cenário para que a Alma possa receber investimentos para os próximos 5 anos e assim conquistar pelo menos 10 vezes o marketshare que temos hoje no mercado, com um portfólio ainda mais diverso, com tecnologia específica para tratar as mais diversas patologias. A meta é se tornar uma empresa global, chegar em todos os países.
Cite três empresas do mundo da Cannabis que admira.
A Grencare, o Portal Sechat e o Portal Cannabis & Saúde. Essas três empresas me inspiraram a entrar no mercado na Cannabis.