Você sabia que existe a probabilidade dos seus pais ou irmãos terem também, caso você tenha o diagnóstico? Mas o que define essa transmissão de pais para filhos? Por que eu tenho TDAH e meu irmã ou irmã não tem?
Hoje eu vou falar um pouco sobre a genética do TDAH e sua hereditariedade
Frequentemente, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade/Impulsividade é uma condição que se inicia na infância e adolescência. Como principais sintoma, há uma grande dificuldade de inibição dos estímulos externos e de suas ações, trazendo prejuízos atencionais, atitudes impulsivas e graus de hiperatividade, sejam estas motoras ou mentais.
Nesse meio tempo, estudos genéticos chegaram à conclusão de que os genes DRD4, DAT1 e DRD5 estão associados à origem do TDAH (genes relacionados ao sistema de dopamina). Entretanto, sabemos que a instabilidade de dopamina não é o único problema qe pode causar o TDAH. Nesse sentido, pesquisas genômicas verificaram outros genes relacionados, como ADRA2A, 5HTT, TPH2, MAOA, SNAP-25 e CDH13, que podem estar implicados no transtorno.
Transtorno altamente genético
Como vocês viram acima, o TDAH acontece de uma combinação de vários genes, cada um contribuindo um pouco para as manifestações dos sintomas. Assim, não existe um único gene para essa patologia. Por isso, o TDAH não é considerado um transtorno hereditário, pois não há um único gene causador. Todavia, é um transtorno altamente genético.
Ainda que estes genes sejam passados de pais para filhos, não podemos afirmar que estas crianças irão desenvolver o TDAH. Nesse sentido, ss condições de nascimento e o ambiente em que aquela pessoa nasce e cresce parece fazer parte do desenvolvimento do TDAH também. É o que chamamos de causa multifatorial.
Certos fatores podem desencadear o desenvolvimento do TDAH e muitos desses fatores estão relacionados à gestação. Estes fatores ambientais são exemplos de que o transtorno pode ser altamente genético, mas pouco hereditário. De fato, o consumo de algumas substâncias na gestação aumenta o risco de desenvolver o transtorno para o bebê. Inclusive, estudos indicam que fumar tabaco durante a gravidez é um fator importante.
Foi verificado que a prematuridade e o baixo peso – bebês que nascem antes do tempo e/ou com baixo peso ao nascer, ou seja, menos do que 2,5 kg, têm mais risco de desenvolver o problema. Por outro lado, é preciso lembrar que esses fatores não são exclusivos. Ou seja, é preciso que haja uma carga genética relacionada ao TDAH.
Então, “Por que eu tenho TDAH e meu irmã ou irmã não tem?”
Um estudo publicado na revista Jama Pediatrics encontrou resultados surpreendentes a respeito dessa aptidão para herdar o distúrbio. Segundo o estudo, se um irmão mais velho tem TDAH, o irmão mais novo apresenta 13 vezes a chance de ter TDAH. De fato, um número alto. Ainda assim, é possível que irmãos, além de não terem TDAH, apresentem condições diferentes, com apenas traços ou outro tipo de diagnóstico.
Na prática clínica, é muito comum o paciente com diagnóstico de TDAH ter na família alguns parentes diagnosticados também. Da mesma forma, é frequente a ocorrência de outros transtornos relacionados, como autismo, esquizofrenia, transtorno bipolar – que são transtornos muito relacionados com a genética. Veja só: as crianças com irmãos mais velhos autistas têm 3,7 vezes mais chances de ter TDAH; e aquelas com um irmão mais velho com TDAH têm 4 vezes mais chances de serem autistas.
Sabemos que mais estudos são necessários para explicar os mecanismos ligados à hereditariedade do TDAH. Trata-se de um transtorno com uma complexidade genética enorme e com desdobramentos de sintomas variáveis, sendo crucial você procurar ajuda profissional, pois o TDAH é o transtorno mais tratável da medicina. Cuide-se!
Até a próxima!
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:
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