A LIVE do portal Cannabis & Saúde desta semana abordou o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e os benefícios do tratamento com Cannabis medicinal. Para falar sobre o assunto, convidamos o médico prescritor e portador de TDAH em tratamento com canabinoides César Jennings.
Augusto César Jennings da Silva Pinheiro é clínico geral formado na Universidade Federal do Pará, faz residência em medicina da família e comunidade, e tem a Cannabis medicinal como sua principal estratégia terapêutica atuando como prescritor em patologias como epilepsia, TDAH, autismo, insônia, fibromialgia e dependência química.
Confira os principais destaques da LIVE:
“Meu diagnóstico de TDAH foi tardio, aos 26 anos. Mas desde a pré-adolescência eu já apresentava sinais de hiperatividade e impulsividade. Não tive impacto na escola porque, de alguma forma, alguns pacientes conseguem compensar. Mas tive em outros campos sociais, familiares e tudo mais. Com a complexidade e a responsabilidade da vida aumentando, por exemplo na faculdade, foi sendo mais perceptível a desatenção característica do TDAH.”
“TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento. Durante o amadurecimento do cérebro da criança e do adolescente ocorre um processamento diferente em algumas áreas cerebrais. Sabe-se que o componente genético é crucial para o desenvolvimento do TDAH. Embora seja o principal fator, tem fatores pré-natais. Existem alguns estudos falando até de uso de ácido valpróico na gestação como causa possível de TDAH, mas são evidências que ainda precisam ser muito bem relatados.”
Quais os sintomas?
Como o próprio nome fala, os sintomas são desatenção, hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas têm que ocorrer em mais de um ambiente, senão não é considerado um transtorno. Mas o TDAH é mais que isso. É um transtorno de performance, de ação. O paciente tem dificuldade de estabelecer prioridade no trabalho, nos estudos.”
“Tem um grande problema na organização e planejamento das suas atividades, de suas ações, e nesse compasso, vai apresentar frustrações, muita dificuldade na regulação emocional, porque não tá conseguindo fazer o que normalmente as pessoas conseguem fazer. Os pacientes se sentem cansados, exaustos, por persistirem e não conseguir.”
Diferença dos sintomas em adultos e crianças?
A diferença mais evidente é a hiperatividade motora nas crianças. Aquelas mais aceleradas, que gostam de subir nas coisas e causam acidentes. Já os adultos tendem a ter uma diminuição dessa atividade motora. Apresentam uma atividade mental mais acelerada, com muitos pensamentos acontecendo.”
“Muita das vezes pensamentos aleatórios e não pensamentos ansiosos, que são coisas diferentes. Essa hiperatividade vem junto com falar demais, se intrometer demais. O adulto consegue se conter mais nos ambientes sociais do que uma criança, então acaba fazendo o mascaramento. Pode até ser hiperativo, mas vai modular o comportamento de acordo com o ambiente.”
A partir de que idade é possível detectar que o TDAH?
Existem pacientes que apresentam os sintomas realmente bem jovens, mas o diagnóstico só pode ser fechado a partir dos 4 anos de idade. Embora tenha sinais, a gente só consegue realmente fechar a partir dos quatro anos.
O tratamento convencional funciona como?
“O tratamento do TDAH se divide em duas formas: o tratamento medicamentoso e o tratamento não-medicamentoso. Em torno de 45% a 60% dos pacientes vão precisar de medicamento. A maioria vai precisar.”
“O tratamento não medicamentoso é terapia cognitivo comportamental, um dos ramos da psicoterapia mais bem a validados no TDAH.”
“O tratamento medicamentoso tem vários segmentos. O primeiro são os psicoestimulantes, que é a Ritalina. Ela tem em torno de 200 revisões sistemáticas com eficácia comprovada. É um derivado de anfetamina e faz estimulação do córtex do cérebro para que haja mais substâncias como dopamina e noradrenalina.”
“Esses medicamentos têm como efeitos colaterais a boca seca, dores no estômago, agitação. Alguns relatam um certo tanto de irritabilidade, mas normalmente são efeitos colaterais que podem passar. Alguns outros pacientes realmente não se sentem bem com a medicação e precisam trocar de linha terapêutica.”
Como a Cannabis pode ajudar no tratamento?
“A gente sabe que as substâncias que tem no cérebro que estão envolvidas ali no no TDAH no no transtorno são dopamina e a noradrenalina. O principal é a dopamina. Ela vai atuar no controle dos nossos movimentos como, por exemplo, na doença de Parkinson.”
“A dopamina atua também no aprendizado, no humor, emoções, cognição e memória. O paciente com TDAH vai ter uma desregulação de dopamina. Isso envolve todo esse controle de habilidade cognitiva no nosso cérebro. É onde a Cannabis entra. Já existem evidências de que o sistema endocanabinoide modula esse sistema dopaminérgico.”
Como foi seu tratamento de TDAH com Cannabis?
Essa ansiedade do TDAH traz a questão da insônia. Mesmo não tendo um grande problema de insônia, eu percebi que o meu sono estava mais reparador do que antes. Eu tinha o uso de outras medicações, mas consegui ver a diferença quando eu fiz esse acréscimo. Eu acho que alguns pacientes podem sim se beneficiar e é uma questão da gente fazer a prescrição de uma maneira correta e administrar bem a concentração.”
Existem evidências científicas?
Na medicina, a gente tem algumas escadas de evidências. Quando se fala que não existe evidência científica confirmada, comprovada, é porque aquele medicamento não chegou na quinta escada, a última, que a gente chama de revisão sistemática dos estudos. Na Cannabis medicinal, de fato, a gente ainda não chegou nessa escada porque agora que tá começando.”
“A tendência é os estudos agora avançarem e não vai demorar muito para a gente ter uma revisão sistemática da Cannabis para os transtornos neurológicos. Isso vale para o TDAH. O status atual sobre a eficácia dos canabinoides no TDAH é que ainda são moderados, mas isso não quer dizer que não possa funcionar. A gente tá lutando para ter mais pesquisas.”
Mensagem para pacientes e médicos que ainda mantém preconceito?
“Tudo começa com informação. É você ir atrás de informações certas, corretas. Quanto à questão do TDAH em si, como paciente, eu digo que a gente não tem culpa de ter TDAH, mas, a partir do momento que a gente assume o diagnóstico, a gente tem que ter responsabilidade. Isso leva a gente a procurar tratamentos eficazes, que possam te dar uma melhor qualidade de vida.”
“Cannabis medicinal é uma opção terapêutica. Se você acha que os medicamentos alopáticos não deram muito certo por alguma razão, porque não tentar a Cannabis medicinal, dentro de suas orientações e restrições?”
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