Escrevo sobre Cannabis exclusivamente medicinal todos os dias. Entrevisto médicas e médicos prescritores, e que muitas vezes são pacientes também. Converso com pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela planta. Leio livros, pesquiso sobre a Cannabis e seus diferentes usos a todo momento. Além disso, vivo no primeiro país do mundo a legalizar o uso recreativo da Cannabis, o Uruguai. E é justamente por isso que a pesquisa realizada recentemente me surpreendeu pela alta reprovação em relação ao uso adulto da planta.
A pesquisa do PoderData é contemporânea: foi realizada de 29 a 31 de janeiro de 2023. E mostrou que “29% são a favor da liberação do uso da maconha para adultos e 65% são contra. Outros 6% não souberam responder. Esta é a 1ª vez que a empresa de pesquisas pergunta aos entrevistados sobre o uso da cannabis em geral. Em outros momentos, o PoderData perguntou aos entrevistados sobre a liberação para uso medicinal. Em julho de 2022, 54% se diziam favoráveis”. Você pode ler a pesquisa completa aqui.
Existem riscos no uso adulto da maconha
Certamente existem riscos sobre o uso adulto. Para ser bem clara: o uso adulto de Cannabis não é benigno. E isso é inegável.
Inclusive, o Dr. Mario Grieco, especialista no tema, já afirmou que a Cannabis é uma planta para velhos. Indicando que seu uso em idades avançadas traz benefícios tremendos e causa a neurogênese. Ou seja a criação de novos neurônios:
“A Cannabis foi castigada por muitos e muitos anos, foi discriminada. E isso veio a afetar o que está acontecendo hoje aqui no Brasil. Existem vários mitos e fatos que não são verdadeiros, mas que as pessoas utilizam e acreditam dizendo a maconha mata neurônios. E isso é totalmente errado, é ao contrário. A Cannabis causa neurogênese. Então veja como isso acontece até hoje. Tem muita gente que é contra a Cannabis medicinal. Eu até entendo, a recreativa, mas a medicinal não tem a menor possibilidade de estar fazendo mal para alguém, não existe isso, pelo contrário, a gente sabe que crianças com epilepsia estão sendo tratadas e muito bem com Cannabis medicinal. A esclerose múltipla, a dor crônica… São mais de 60 condições. Eu até coloquei todas elas no meu livro e eu já estou começando a escrever mais. Irá se chamar “Cannabis medicinal: fatos e fakes”. Pois eu quero provar tudo isso que a gente ouve e mostrar as mentiras e verdades sobre Cannabis medicinal”, explicou durante uma live do Cannabis & Saúde.
Quem também esclarece sobre os riscos do uso adulto é o neurocientista Sidarta Ribeiro em entrevista à Kaya Mind:
“Quando as pessoas fazem uso precoce abusivo da cannabis elas se expõem a um risco, que tem a ver com motivação, desempenho acadêmico, questões cognitivas… em vários estudos, foi possível perceber a síndrome amotivacional ligada ao consumo abusivo precoce de cannabis em adolescentes. Isso não quer dizer que todos os adolescentes que usam cannabis vão se dar mal, até porque depende do adolescente, da cannabis e de como o uso acontece, mas isso quer dizer que, a nível populacional, se uma pessoa não conhece nada, ela corre risco. Quando falamos de pessoas individualmente, tudo existe, agora quando você olha para isso epidemiologicamente, é um grupo de risco. A explicação que a ciência tentava utilizar para fazer a sua advertência é a que maconha mata neurônio e vai fazer você ficar uma pessoa cognitivamente piorada. Essa piora cognitiva não acontece para todo mundo, mas acontece a nível populacional – existe um debate sobre se é reversível ou não. Mas por que pode desempenhar esse papel deletério? Não é porque mata neurônio, a maconha promove neurogênese e as conexões entre os neurônios de novas sinapses. O THC em particular faz isso, que é muito demonizado pelos proibicionistas, mas é uma substância muito terapêutica e poderosa quando combinada com outras, como o CBD e os terpenos.
Mas qual a questão aqui sobre neurogênese e sinaptogênese? Se essas substâncias induzem isso, por que é ruim para os jovens? Eles já têm muitos neurônios e sinapses, mais do que os adultos e as pessoas longevas, e, portanto, um excesso de neurônios e sinapses pode ser deletério. Em biologia, quase sempre o equilíbrio é bom, os extremos são ruins. A gente poderia até dizer que na sociedade também. Os jovens precisam de consistência e formar repertório – antes de desorganizar, é preciso organizar. Os canabinoides ajudam sobretudo, mas o THC ajuda a desorganizar a nível de milissegundos a atividade de neurônios… isso é muito importante para tratar epilepsia e para explicar o aumento de criatividade, mas se uma pessoa tem um grande aumento de criatividade e ela nao tem repertório, ela pode se embananar, em vez de fazer uma criação bacana. No consumo adulto, as pessoas usam cannabis para correr a maratona, pintar um quadro, conversar, assistir um filme etc. Acho que a gente está em um novo momento de tirar as vendas, de olhar pra essa situação sem preconceito, de olhar para a ciência para que a gente possa fazer um bom uso da maconha para que possa ser remédio, utilizada para uso adulto, como é em tantos países, e que as pessoas do grupo de risco possam se proteger efetivamente”.
Entendo que a educação é um fator fundamental para uma possível regulamentação do uso adulto da maconha
Mas além dos cuidados e riscos do uso adulto principalmente sobre a idade de quem irá inalar a planta, existe a necessidade de uma educação que deve acontecer em uma sociedade que regulamentou o uso adulto da maconha. Ou que está prestes a regulamentar.
E a rejeição indicada nesta pesquisa me soa como uma grande hipocrisia em um país que é campeão no uso do Rivotril. E onde o consumo de álcool é tão popular e de fácil acesso. E sem citar o tabagismo. Já que o álcool e o cigarro podem ser drogas legais. Mas você sabia que elas causam mais dependência do que a maconha?
Neste sentido, entendo que quando o uso da Cannabis não for um tabu, tomar uma taça de vinho poderá se igualar aos efeitos relaxantes do uso adulto da planta. Claro, isso aconteceria em um ambiente com fontes seguras de flores in natura. Onde sabe-se o nível de THC e o de CBD de uma flor de maconha.
Além disso, cabe destacar a importância de pesquisas como estas do PoderData. Pois só assim poderemos conhecer opiniões da sociedade sobre o assunto.
Americanos estão trocando o tabaco pela maconha
Já nos Estados Unidos, conforme mais estados do país regulamentam a Cannabis para uso adulto, mais os americanos trocam o cigarro de tabaco pelo de maconha. Em 2022, foi registrado uma estatística histórica no país, com mais pessoas que usam Cannabis do que tabagistas.
Do ponto de vista da saúde pública, essa é uma boa notícia. Segundo dados de pesquisa realizada na Universidade do Arkansas, a Cannabis, mesmo fumada, não causa doenças que o tabaco causa, como a Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer de pulmão.
Tendência para 2023: regulamentação do uso adulto de maconha
Por fim, no final de 2022, entre as tendências pesquisadas encontramos a regulamentação do uso adulto como uma tendência internacional entre países como Alemanha, Suíça, Chile e Estados Unidos. Leia a matéria completa aqui.
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