A violência, quando não deixa marcas físicas, pode deixar sequelas psicológicas que acompanham os sobreviventes por muito tempo. De todas possíveis respostas do corpo diante de eventos traumáticos, a condição diagnosticada como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é a mais grave. Apresenta-se com casos de extrema ansiedade, que se reflete no sentimento de medo intenso, pânico, horror e impotência.
O que é o Estresse Pós-Traumático
Apesar de subdiagnosticada, a condição atinge pelo menos 6,5% da população brasileira, sendo as principais causas assaltos, sequestros, e todas as formas de violência urbana. Já nos EUA, a condição atinge principalmente veteranos de guerra. Em qualquer lugar, porém, em comum a dificuldade do tratamento. Mesmo os remédios mais modernos raramente chegam a uma eficácia de 60%, sendo a maioria dos casos resistentes aos tratamentos convencionais.
Casos refratários de TEPT podem desenvolver lesões na região do cérebro chamada de hipocampo, causada pela hiperatividade da amígdala e baixa atividade pelo córtex pré-frontal medial. Esse desequilíbrio na atividade do cérebro está diretamente relacionado aos principais sintomas da doença, como o aumento da ansiedade e dificuldade de esquecer memórias traumáticas. E o sistema endocanabinoide pode regular a atividade nessas áreas do cérebro.
Tratamento de Estresse Pós-Traumático com Cannabis
Um grupo de pesquisadores de diversas universidades dos EUA testou a eficácia do tratamento com Cannabis medicinal em um grupo de veteranos de guerra. Apesar de ser legalizado em 24 estados do país norte-americano, muitos médicos ainda resistem em indicar as substâncias derivadas da planta. O principal motivo é a falta de estudos clínicos que comprovem sua eficácia.
Pensando nisso, os pesquisadores acompanharam durante um ano 150 pacientes diagnosticados com TEPT. Ele tinham média de 50 anos de idade. Metade deles recebeu doses de Cannabis. Diversas evidências científicas sugerem que o sistema endocanabinoide está diretamente envolvido no desenvolvimento e manutenção de quadros de estresse pós-traumático.
Como esse sistema possui receptores que se conectam com fitocanabinoides extraídos da planta, sendo o canabidiol (CBD) e o delta-9-tetrahydrocannabinol (THC), os mais conhecidos, esses aparecem como possíveis fontes de tratamento. Testes com animais de laboratório já haviam demonstrado que a administração desses canabinoides, e a mistura deles, induz à extinção da memória traumática, que se reflete no sentimento de medo, em ratos.
Resultados
O estudo sobre o uso de Cannabis em pacientes com Estresse Pós-Traumático, publicado em dezembro de 2020, traz resultados animadores. Em geral, os usuários de Cannabis relataram uma maior redução na gravidade dos sintomas de TEPT após um ano, em relação ao grupo de controle. Apresentaram uma taxa de remissão da doença maior que o dobro dos pacientes submetidos ao tratamento convencional.
Apesar de apontarem a necessidade de estudos mais abrangentes, os pesquisadores sugerem que a cannabis atuou para evitar a hiperexcitação do cérebro e, assim, contribuiu para a redução dos sintomas.