O médico Roberto Beck descobriu os benefícios da Cannabis para melhorar a qualidade de vida da própria mãe, vítima de um AVC hemorrágico. Hoje, leva os benefício para muito mais gente
Médico-assistente do Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas, com doutorado em eletroneurofisiologia e membro da comissão da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, o médico Roberto Beck descobriu os benefícios da Cannabis medicinal no tratamento de uma condição que em nada se relaciona com sua especialização.
“A minha mãe teve um AVC hemorrágico em 2016. Ficou sem falar, afásica, com bastante limitação”, lembra. “Com tudo isso, ela entrou em um processo depressivo muito importante. Só chorava, apetite ruim, não dormia bem, tinha muita dor, câimbra. A gente fez várias tentativas, testamos todas as possibilidades, mas nenhum tratamento convencional apresentava uma resposta satisfatória.”
Benefícios da Cannabis em AVCs
Até que sua cunhada, que é psiquiatra, começou a tratar seus pacientes com a Cannabis medicinal e sugeriu que prescrevesse para sua mãe. “Ela teve uma resposta fantástica. Extremamente satisfatória.”
Com um mês de tratamento, percebeu que sua mãe estava dormindo melhor. Em seguida, o humor melhorou, as cãibras e dores também começaram a incomodar menos. “Apesar de ainda não falar, uma limitação que a gente não vai conseguir resolver por ser uma questão anatômica, hoje ela interage muito mais. Consegue pedir tudo o que quer. Consegue apontar as coisas que precisa, como a hora de ir ao banheiro. Está muito mais feliz. A questão depressiva que ela tinha melhorou muito.”
Médico prescrito de Cannabis
A experiência familiar o fez despertar para o uso da Cannabis medicinal, que tratou de trazer para dentro de sua especialidade. “Eu comecei a estudar. Estudei bastante por conta. Li toda a literatura disponível, me informei bastante pelo portal Cannabis & Saúde também”, conta.
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“Agora estou fazendo um curso com certificação internacional em medicina canabinoide para que eu possa me especializar cada vez mais. Ter uma segurança maior na prescrição e um conhecimento maior sobre todas as possibilidades relacionadas à Cannabis.”
Cannabis e otorrinolaringologia
Com o necessário tempo de estudo, em 2020 deu início a prescrição de Cannabis. Beck explica que dentro da otorrinolaringologia, a principal indicação do medicamento é para tratar distúrbios de sono.
“Nosso organismo tem receptores canabinoides específicos, eles ficam localizados principalmente no sistema nervoso central. Então, vai ter uma resposta mais específica, com menos efeito colateral e menos dependência. Vai aos poucos regulando o organismo, com uma melhora contínua e progressiva. É isso que os estudos mostram.”
Benefícios
Algo que também observa em sua prática clínica. “Os pacientes que me procuram geralmente são os que não tiveram sucesso com melatonina, por exemplo, e outros medicamentos. Ou que não querem ficar dependentes de medicamentos tarja preta”, afirma. “Não querem tomar indutor do sono, Rivotril Diazepam, com medo principalmente da dependência.”
“Com a Cannabis, consegue ter uma qualidade de sono muito melhor e, consequentemente, um dia-a-dia muito melhor”, continuou. “Os pacientes falam que o problema não é não dormir, mas conseguir trabalhar no dia seguinte. Então, o paciente passa a ter uma qualidade de vida muito melhor. Uma vida mais produtiva. ”
De acordo com o médico, no entanto, a prescrição da Cannabis depende de uma avaliação específica do paciente. “Tem que conversar com ele e entender suas demandas, expectativas. Normalmente já tomaram um monte de coisa, então eu ofereço essa possibilidade.”
Ele acredita que, à medida que saírem mais e mais pesquisas clínicas sobre o funcionamento do sistema endocanabinoide, mais os medicamentos de Cannabis serão comuns. “Acho que a gente ainda tem uma questão relacionada muito à discriminação. Pré-conceitos relacionados à Cannabis. A medida que as pesquisas forem melhorando, ela for se popularizando, as pessoas vão se habituar tanto a tomar, quanto prescrever, sem medo”, garante o médico, que ressalta. “Mas não pode ser uma popularização sem controle médico.”
Além de sua atuação no hospital das clínicas, Beck também atende, desde 2018, na Care Club. “É uma clínica que no princípio era voltada para a medicina esportiva, mas acabou crescendo e hoje cuida do bem-estar em geral”, explica. “Possui uma equipe multidisciplinar. Não é uma clínica de performance. É para todos os pacientes que querem viver bem, fazer exercícios e cuidar da saúde.”
“A gente está de portas abertas para todo mundo. Todas as faixas etárias. Atletas profissionais, amadores e pessoas normais em busca de bem-estar”, finaliza. “Pessoas que querem uma qualidade de vida boa. Eu falei do sono, mas a Cannabis tem diversos tipos de indicações. Temos especialistas para atender pacientes oncológicos, com autismo e todos os tipos de público. Qualquer paciente que tenha necessidade, estaremos sempre de portas abertas.”