Uma revisão científica, publicada na revista Cureus, analisou os efeitos do uso medicinal de Cannabis no tratamento de sintomas do transtorno do espectro autista (TEA) em crianças. Os resultados trazem novas perspectivas para muitas famílias: medicamentos à base de canabidiol (CBD) têm mostrado benefícios significativos, especialmente quando os tratamentos convencionais não funcionam bem.

A pesquisa analisou estudos com 494 crianças e adolescentes com autismo, com idades entre 7 e 13 anos. O objetivo foi avaliar se os compostos da Cannabis, especialmente o CBD, são seguros e eficazes no tratamento de sintomas como ansiedade, dificuldades para dormir, problemas de comportamento e interação social — situações comuns no dia a dia de uma criança com autismo.

O desafio diário de cuidar de uma criança com autismo

O TEA é uma condição que afeta o desenvolvimento neurológico e se manifesta principalmente por dificuldades na comunicação, na socialização e por comportamentos repetitivos. Hoje, não existe um medicamento específico para tratar esses sintomas. As opções disponíveis geralmente atuam apenas nos sintomas associados, como irritabilidade ou insônia, e podem causar efeitos colaterais indesejados.

Diante disso, muitos pais e profissionais de saúde têm buscado alternativas seguras e eficazes, como o uso do canabidiol — um dos compostos mais estudados da planta Cannabis. Esse canabinoide não causa efeitos psicoativos e interage com o sistema endocanabinoide do corpo, ajudando a regular emoções, sono e comportamento.

Benefícios dos medicamentos à base de Cannabis para crianças com autismo

O estudo Efficacy and Safety of Cannabinoids for Autism Spectrum Disorder: An Updated Systematic Review reuniu três ensaios clínicos controlados por placebo e outros quatro estudos observacionais. As pesquisas utilizaram diferentes formulações de medicamentos à base de Cannabis, em sua maioria com altas concentrações de CBD e pequenas quantidades de ∆9-tetrahidrocanabinol (THC).

Os principais benefícios observados foram:

1. Reduz a ansiedade

Um dos resultados mais expressivos foi a redução da ansiedade nas crianças com autismo. Em um dos estudos clínicos, as crianças que tomaram o medicamento com CBD apresentaram níveis de ansiedade significativamente mais baixos do que aquelas que receberam placebo. Houve também relatos de melhora no humor e maior tranquilidade ao longo do dia.

2. Melhora o sono

A qualidade do sono também melhorou em muitas crianças com autismo tratadas com CBD. Pais relataram que os filhos passaram a dormir melhor, acordavam menos durante a noite e estavam mais descansados pela manhã — uma melhora que impacta toda a rotina da família.

3. Favorece a interação social e a comunicação

Outro benefício observado foi o avanço na sociabilidade e comunicação. Algumas crianças com autismo passaram a se relacionar melhor com colegas, demonstrar afeto e até iniciar diálogos — comportamentos que antes eram muito difíceis.

4. Diminui a agitação e a agressividade

Os estudos também registraram queda em comportamentos agressivos, crises de agitação e movimentos repetitivos. Em muitos casos, os cuidadores relataram que a criança estava mais calma, concentrada e colaborativa.

É seguro usar CBD em crianças com autismo?

De acordo com a revisão, sim. Os efeitos colaterais foram, em geral, leves e semelhantes aos do grupo que tomou placebo. Os mais comuns foram sonolência, perda de apetite e cansaço. Em raros casos, houve aumento de ansiedade ou problemas digestivos, porém foram facilmente controlados com ajustes na dose.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em relatório de 2017, que o CBD é seguro para crianças. Segundo o órgão, o canabidiol não causa dependência nem intoxicação, oferecendo respaldo internacional para seu uso na pediatria.

Próximos passos da ciência no tratamento com Cannabis

Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que ainda são necessários mais estudos com diferentes modelos de pesquisa. Os autores destacaram direções importantes para as próximas análises.

“Pesquisas futuras devem se concentrar em metodologias padronizadas, populações de pacientes maiores e mais diversas e avaliações de segurança a longo prazo. Estudos futuros também devem explorar regimes de dosagem ideais e os mecanismos biológicos subjacentes aos efeitos dos canabinoides no TEA.”

Opinião médica sobre o uso de medicamentos à base de Cannabis em crianças com TEA

O uso de medicamentos à base de Cannabis para crianças com autismo deve sempre ser orientado por um médico. Cada organismo reage de uma forma diferente, por isso é fundamental o acompanhamento de um profissional especializado para avaliar os riscos e benefícios individualmente.

Em uma LIVE transmitida no canal do YouTube do Cannabis & Saúde, com o tema ‘autismo e Cannabis: tratamento, qualidade de vida e o que você precisa saber’, a neurologista infantil Isabelle Miranda destacou a importância do ajuste de dose de acordo com a evolução do paciente.

“Pediatras e neurologistas infantis têm que dar as mãos. As preocupações sobre a exposição ao THC em tratamentos são relevantes. Por isso, recomendo sempre começar com precaução. A dosagem do THC e do canabidiol deve ser cuidadosamente ajustada conforme o peso e os sintomas da criança, iniciando com doses baixas para monitorar reações”, enfatizou a médica.

Clique aqui e assista a entrevista completa, que também contou com a participação do vice-presidente da organização Autistas Brasil, Arthur Ataíde, e da superintendente da Associação de Amigos do Autista (AMA), Ana Maria Mello.

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Como iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis em crianças com autismo

Se você é próximo de uma criança com autismo ou tem uma na família, considere começar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis de forma responsável e segura: busque orientação médica. Acessando a nossa plataforma de agendamento, você pode marcar uma consulta com um profissional da saúde experiente nesse tipo de prescrição.

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