O paracetamol (acetaminofeno) é um dos medicamentos mais usados no mundo para tratar dores e febre. É encontrado em medicamentos vendidos sem receita médica, amplamente recomendado por médicos e considerado uma opção segura para pessoas com restrições ao uso de anti-inflamatórios como ibuprofeno ou diclofenaco.
Mas, até pouco tempo atrás, a ciência ainda não compreendia completamente como o paracetamol age no corpo para aliviar a dor. Agora, um estudo realizado por cientistas dos Estados Unidos e dos Países Baixos trouxe uma revelação surpreendente: o paracetamol age ativando o sistema endocanabinoide — o mesmo influenciado pelos compostos da Cannabis.
Esses achados podem mudar a forma como entendemos o funcionamento do paracetamol e abrir caminho para novas terapias contra a dor com menos efeitos colaterais.
O que é o sistema endocanabinoide e por que ele importa
O sistema endocanabinoide é uma rede de comunicação entre células essencial para o funcionamento harmonioso do organismo. Sua principal função é manter o equilíbrio (homeostase) — ou seja, o bom funcionamento do corpo — regulando várias funções fisiológicas.
Ele é composto por três elementos principais:
- Endocanabinoides: moléculas mensageiras naturais do corpo. Os mais conhecidos são anandamida e 2-AG.
- Receptores canabinoides: proteínas localizadas na superfície das células às quais os endocanabinoides se ligam. Os dois tipos principais são os receptores CB1 (abundantes no sistema nervoso central) e CB2 (encontrados nas células do sistema imunológico e tecidos periféricos).
- Enzimas metabólicas: responsáveis por sintetizar (produzir) e degradar (quebrar) os endocanabinoides, garantindo que sua ação seja rápida e precisa.
Quando o corpo percebe um desequilíbrio — como dor, inflamação, estresse ou problemas no sono —, os endocanabinoides são produzidos e liberados para se ligarem aos receptores CB1 e CB2, enviando sinais para restaurar o equilíbrio.
Os compostos da Cannabis interagem com esse sistema, ajudando a modular essas funções fisiológicas e aliviando sintomas de diversas condições de saúde hoje tratadas com medicamentos à base de canabinoides.
Como o paracetamol ativa o sistema endocanabinoide para aliviar a dor
No estudo Acetaminophen attenuates pathological pain through a mechanism that requires CB1 cannabinoid receptors and the enzyme diacylglycerol lipase in mice, os pesquisadores analisaram o efeito do medicamento em modelos animais de dor e identificaram que o paracetamol só funciona quando o sistema endocanabinoide é ativado.
Mais especificamente, o paracetamol:
- Ativa o receptor CB1 no cérebro;
- Depende da ação da enzima diacilglicerol lipase (DAGL), que produz o endocanabinoide 2-AG, conhecido por suas propriedades analgésicas.
Em outras palavras, ao ser metabolizado no organismo, o paracetamol estimula a produção de substâncias semelhantes às da Cannabis, que se ligam aos receptores CB1 e ajudam a reduzir a dor.
Como os cientistas testaram o paracetamol em animais
Os pesquisadores utilizaram dois modelos clínicos de dor em animais:
- Dor inflamatória
- Dor pós-operatória
Nos dois casos, o paracetamol reduziu significativamente a dor. No entanto, quando os cientistas bloquearam o receptor CB1 ou a enzima DAGL, o remédio deixou de fazer efeito. Isso reforça a ideia de que o paracetamol só alivia a dor se o sistema endocanabinoide estiver funcionando.
Além disso, o uso de um bloqueador que atua apenas fora do cérebro (AM6545) não interferiu no efeito do medicamento, indicando que sua ação ocorre principalmente no sistema nervoso central, e não no sistema nervoso periférico.
Outros efeitos do paracetamol observados no estudo
Além da redução da dor, o estudo observou que doses elevadas de paracetamol causaram:
- Queda da temperatura corporal (hipotermia)
- Diminuição da atividade motora (os animais se moveram menos)
Esses efeitos são semelhantes aos observados quando o sistema endocanabinoide interage com outras substâncias. No entanto, os cientistas concluíram que esses efeitos colaterais não dependem do mesmo caminho usado para o alívio da dor, sugerindo que o paracetamol atua por múltiplos mecanismos no organismo, não apenas os ligados ao CB1.
Outro ponto interessante: o medicamento não foi eficaz em um teste de dor aguda (o teste da cauda com estímulo térmico). Isso ajuda a explicar por que o paracetamol é mais eficiente em dores inflamatórias ou pós-operatórias.
Perspectivas futuras
Saber que o paracetamol age no sistema endocanabinoide representa um avanço na farmacologia da dor. Além de explicar melhor seu mecanismo de ação, pode levar ao desenvolvimento de novos analgésicos que atuem nos mesmos caminhos do sistema endocanabinoide, mas com menos efeitos colaterais.
Também ajuda os profissionais da saúde a prescrever o paracetamol com mais precisão, identificando os tipos de dor em que ele é mais eficaz.
E reforça a importância de continuar estudando o sistema endocanabinoide, que vem sendo associado a tratamentos promissores para dor crônica, ansiedade, epilepsia e doenças inflamatórias.
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Nos últimos anos, cientistas de todo o mundo vêm estudando a importância do sistema endocanabinoide como alvo terapêutico para diferentes condições de saúde. A forma mais conhecida e eficaz de ativá-lo é com os medicamentos à base de Cannabis.
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