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Ministério da Saúde nega pesquisa com CBD contra dependência química pela UnB

Ministério da Saúde nega pesquisa com CBD contra dependência química pela UnB

Pesquisadora afirma que estudo sofreu sabotagens constantes até ser reprovado, mesmo que a verba já estivesse garantida: "conflitou com a orientação ideológica deste governo”

Publicado em

26 de janeiro de 2021

• Revisado por

Jornalista, radialista e marqueteiro especialista em Cannabis medicinal.

A professora da UnB Dra. Andrea Gallassi é uma das maiores referências em pesquisa com dependência no Brasil. Ela é doutora pela Faculdade de Medicina da USP e pós-doutora pelo Centro de Dependência Química e Saúde Mental da Universidade de Toronto, no Canadá. A cientista estava à frente de uma pesquisa inovadora sobre o uso do canabidiol, derivado da maconha, no controle da dependência química. Porém, relata que seu estudo não recebeu parecer favorável do Ministério da Saúde para realizar a fase II, que ampliaria o número de participantes da fase I.

A primeira fase foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). Entre os resultados iniciais do estudo, estavam o de que o CBD se mostrou uma terapia promissora no tratamento da dependência de cocaína e promoveu a redução na auto administração da droga.

Segundo a pesquisadora, a fase II do estudo com dependentes de crack tratados com CBD deveria iniciar no segundo semestre deste ano, depois que o grupo dela concluiu a fase pré-clínica, com a publicação do artigo científico “Avaliação do uso potencial de canabidiol no tratamento do transtorno por uso de cocaína: uma revisão sistemática”.

A cientista salienta que o estudo foi autorizado pelo CNPq e todas as exigências da Anvisa foram cumpridas: “tínhamos nova autorização para importar canabidiol, além da já obtida para a fase I, autorização de guarda da substância e para realizar o estudo”. Os recursos viriam através de uma emenda parlamentar da deputada federal Erika Lokay (PT-DF). Mas por se tratar de verba federal, seria necessária autorização do Ministério da Saúde.

É aí que começa o processo que Andrea classifica como “mais angustiante, sofrido e odioso que vivi ao longo da minha trajetória profissional”.

“Foram ao todo 12 diligências emitidas pela área técnica do MS, incomum para projetos de emenda parlamentar. E a cada resposta minha para cada diligência, semanas se passavam até que viesse a resposta, com nova diligência emitida e com questionamentos que não se referiam à resposta que eu havia dado. A cada nova diligência que chegava, se desenhava claramente o objetivo daquilo tudo: fatiar “dúvidas” sobre o projeto e demorar para apreciar minhas repostas era o modo mais legítimo para, deliberadamente, não aprovar um estudo que conflita com a orientação ideológica deste governo”.

Entre os argumentos utilizados pelo Ministério da Saúde para reprovar a pesquisa foram de que um estudante de fisioterapia faria as análises toxicológicas. Contudo, inexiste essa atribuição para o estudante, esclarece Andrea. E também o de que a pesquisa seria apresentada em um congresso que já havia acontecido, sendo que o evento referido no projeto foi onde a fase I havia sido apresentada. Para Andrea Gallassi, os argumentos não fazem sentido e demonstram má-fé.

O portal Cannabis & Saúde solicitou ao MS uma posição sobre a negativa da pesquisa, mas não obteve retorno até agora. O fato é que o governo federal, desde 2019, tem feito campanha contra a promoção da Cannabis medicinal. O Ministério da Justiça chegou a enviar uma moção de repúdio ao PL 399, projeto que legaliza o plantio de Cannabis para fins medicinais e industriais no Brasil. Já o Ministério dos Direitos Humanos publicou a chamada Cartilha da Maconha, um documento repleto de informações falsas e distorcidas.

No dia 28 de dezembro, sem surpresas por parte da pesquisadora, veio a reprovação do Ministério.

“Ou seja, o recurso destinado por uma parlamentar não irá financiar coisa alguma. Não haverá projeto, ele simplesmente se perdeu”, lamentou a cientista.

“A pesquisa dela é a pesquisa mais importante sobre Cannabis no brasil, porque traz o uso medicinal, mas específico no tratamento de dependentes em crack. É um ataque nos alicerces da proibição no Brasil. Hoje ainda ecoa nas massas que a pessoa começa no baseado e depois vai pro crack e morre. Então essa pesquisa mostra a Cannabis como porta de saída”, destacou o advogado da cientista, André Feiges, que também é integrante da Rede Reforma.

O advogado informou ao Cannabis & Saúde que está em buscas de soluções jurídicas para garantir a sequência da pesquisa.

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