Os medicamentos à base de Cannabis vêm ganhando destaque na medicina para tratar desde dores crônicas até epilepsia e transtornos de ansiedade. No entanto, ainda existe um desafio importante: boa parte dos compostos da planta, como THC e CBD, se perde antes de chegar ao sangue.
Quando consumidos como óleos, cápsulas ou gotas, esses canabinoides enfrentam uma digestão difícil e um processamento intenso pelo fígado, o que reduz bastante sua eficácia. Isso ocorre porque não se dissolvem bem em água e grande parte é eliminada na chamada “primeira passagem” pelo fígado.
Nanotecnologia: aliada para maior absorção de compostos da Cannabis
Para contornar o problema da baixa biodisponibilidade, cientistas investigam novas técnicas na formulação de medicamentos com canabinoides. Nesse sentido, a nanotecnologia surge como uma das mais promissoras, pois pode aumentar a absorção dos derivados da Cannabis e acelerar sua ação no corpo. Esse método pode representar uma transformação na forma de administrar medicamentos à base de Cannabis, tornando-os mais eficientes e de ação mais rápida.
Pesquisadores realizaram um estudo clínico comparando dois formatos:
- Óleo (o mais usado atualmente)
- Pó nanoemulsionável, desenvolvido com nanotecnologia
Óleo vs. pó nanoemulsionável
O estudo Enhancing cannabinoid bioavailability: a crossover study comparing a novel self-nanoemulsifying drug delivery system and a commercial oil-based formulation, publicado no Journal of Cannabis Research, envolveu 14 voluntários adultos saudáveis. Cada um tomou 8 mg de ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) e 8 mg de canabidiol (CBD), primeiro na forma de pó e, um mês depois, como óleo — ou vice-versa.
A equipe coletou amostras de sangue em vários intervalos, durante 10 horas, para monitorar a concentração dos compostos ativos e seus metabólitos.
Resultados: absorção mais rápida e eficaz
Os resultados mostraram diferenças marcantes entre o óleo e o pó emulsionável.
O THC em pó foi mais absorvido e atingiu uma concentração três vezes maior no sangue:
- Pó: 32,79 ng/mL
- Óleo: 10,17 ng/mL
O CBD em pó também foi mais aproveitado, com uma concentração no sangue duas vezes maior do que o óleo:
- Pó: 7,23 ng/mL
- Óleo: 3,30 ng/mL
Além de concentrações mais altas, o pico de ação também foi mais rápido.
THC
O principal metabólito ativo do THC, o 11-OH-THC, atingiu o pico em apenas 52 minutos com o pó, enquanto levou em média 4 horas e meia com o óleo.
CBD
Para o CBD, a velocidade também foi surpreendente: o principal metabólito do CBD, 7-OH-CBD, atingiu a concentração máxima em cerca de 1 hora com o pó, contra quase 5 horas com as gotas.
Percepção dos efeitos pelos voluntários
Além dos números obtidos no laboratório, os voluntários relataram maior intensidade e rapidez na percepção dos efeitos psicoativos do THC, principalmente a sensação de euforia. De acordo com os relatos, os efeitos foram percebidos mais rápida e intensamente com o pó emulsionável.
- Pó: média de 5,9 pontos (escala de 0 a 10)
- Óleo: média de 3,8 pontos
Após 4 horas, os efeitos se igualaram entre as duas formas e nenhum efeito colateral grave ocorreu. No geral, os efeitos colaterais foram leves e passageiros, desaparecendo sem necessidade de intervenção médica. Os mais relatados foram:
- Dor de cabeça
- Tontura
- Fadiga
- Batimentos cardíacos acelerados
- Redução do apetite
Como funciona a tecnologia nanoemulsionável
A grande diferença está na forma como o pó é produzido. Ele contém uma mistura de óleo à base de Cannabis com açúcares e emulsificantes. Durante a fabricação, o óleo passa por um processo de nanoemulsificação de alta pressão e depois é transformado em pó por congelamento com uma matriz de açúcar.
O resultado é um produto sólido, fácil de armazenar, que quando misturado em água forma uma solução com gotículas microscópicas. Essas nanoemulsões aumentam a superfície de contato do óleo com as paredes do intestino, melhorando a passagem dos compostos para o sangue. Assim, perde-se menos no processo de digestão e metabolização pelo fígado.
Por que isso é relevante para os pacientes
Para muitos pacientes que precisam de ação rápida — como quem vive com dores ou crises epilépticas — a nanotecnologia promete maior eficácia e rapidez de resposta.
Além disso:
- Doses menores podem ser suficientes para atingir o efeito necessário, reduzindo o risco de efeitos adversos.
- O pó tem maior estabilidade e prazo de validade mais longo, enquanto óleos podem se deteriorar com o tempo ou com variações de temperatura.
Nanotecnologia: um futuro promissor para os medicamentos à base de Cannabis
Embora sejam necessárias mais pesquisas em grupos maiores e em pacientes com diferentes condições, o estudo abre caminho para uma nova geração de medicamentos com canabinoides: mais potentes, mais rápidos e mais práticos.
Para pessoas com condições de saúde grave e que dependem diariamente dos benefícios do THC, CBD e outros canabinoides, essa tecnologia pode representar mais qualidade de vida e segurança no tratamento.
Como iniciar um tratamento com canabinoides
Apesar dos resultados do estudo serem promissores, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não autoriza a venda de medicamentos à base de Cannabis com nanotecnologia nas farmácias brasileiras. É possível que, com a revisão das regras da RDC 327, o órgão passe a permitir. Então, por enquanto, a única forma de adquirir medicamentos com essa técnica é pela via da importação, regida pela RDC 660.
Em ambas as vias de acesso, a exigência é a mesma para começar um tratamento: uma prescrição médica. A Anvisa exige o acompanhamento de um profissional da saúde para comprar os produtos de forma segura e legal.
Portanto, se você deseja incluir medicamentos à base de Cannabis na sua rotina de cuidados, acesse a nossa plataforma de agendamento e marque uma consulta. Lá, você encontra centenas de médicos experientes nesse tipo de prescrição. Acesse já e comece essa jornada de forma responsável.