O corpo humano é formado por vários sistemas que atuam em conjunto para manter o organismo funcionando bem — como o sistema nervoso, conhecido desde a Antiguidade, e o sistema digestivo, descrito em detalhes no século XIX. Mas foi só nos anos 1990 que a comunidade científica identificou um novo e surpreendente sistema: o sistema endocanabinoide.
Esse sistema regula funções essenciais, como emoções, sono, dor, apetite e até o sistema imunológico. Ele funciona por meio de substâncias chamadas endocanabinoides, que o próprio corpo produz e que se ligam a receptores espalhados pelo cérebro e outros órgãos.
Entre os endocanabinoides mais estudados, destaca-se o 2-araquidonoilglicerol, ou 2-AG. Essa substância se liga aos receptores CB1 do sistema endocanabinoide, que estão envolvidos em funções, como o controle da dor e do humor.
Apesar da importância do 2-AG, até agora os cientistas não sabiam exatamente como ele era liberado e transportado dentro do corpo. Um estudo realizado por pesquisadores holandeses utilizou técnicas de biologia e matemática para explicar como essa substância age.

Como o corpo libera 2-AG no cérebro: descoberta recente
Para realizar o estudo, os cientistas usaram sensores especiais que brilham quando o 2-AG é liberado no cérebro pelos neurônios. Os resultados mostraram que o 2-AG é liberado “sob demanda” — ou seja, apenas quando o corpo realmente precisa. Essa liberação ocorre por meio de estruturas chamadas microvesículas extracelulares.
Segundo o estudo, essas microvesículas são estruturas liberadas pelas células como resposta a estímulos específicos, especialmente relacionados à atividade elétrica e bioquímica dos neurônios. A liberação dessas vesículas depende da ação de:
- Proteína quinase C (PKC): ativa sinais que iniciam a liberação.
- Diacilglicerol lipase: enzima que produz de 2-AG a partir de lipídios.
- Fator de ribosilação de adenosina difosfato 6 (Arf6): regula formação de vesículas e transporte celular.
- Inibidores da difusão de endocanabinoides: controlam a distribuição do 2-AG.
Microvesículas extracelulares: como o corpo transporta o 2-AG
Assim como outras vesículas celulares, as microvesículas são envoltas por uma bicamada lipídica (membrana composta por gorduras), semelhante à membrana da célula. Elas funcionam como “carregadoras” de 2-AG, liberando o endocanabinoide de forma controlada quando o organismo precisa.
Cada microvesícula carrega, em média, cerca de 2 mil moléculas de 2-AG —um composto solúvel em gordura.
Os pesquisadores também observaram que essa forma de transporte influencia diretamente a plasticidade sináptica — a capacidade do cérebro de se adaptar, aprender e formar novas memórias. Nesse sentido, reforça-se a ideia de que o 2-AG tem um papel essencial na comunicação entre os neurônios e pode influenciar funções como dor, humor e memória.
Como os canabinoides da Cannabis interagem com o sistema endocanabinoide

Foi a investigação científica sobre os componentes da planta Cannabis que abriu as portas para a compreensão do sistema endocanabinoide. Por meio da Cannabis que os cientistas identificaram, de forma indireta, a existência desse sistema regulador essencial ao nosso corpo.
Alguns canabinoides da planta podem interagir com os mesmos receptores do sistema endocanabinoide que o 2-AG, os receptores CB1 e CB2. O ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) — um dos compostos mais abundantes na Cannabis — é capaz de se ligar e ativar tanto os receptores CB1 quanto os CB2. No entanto, com algumas diferenças:
- O 2-AG é um agonista pleno para ambos os receptores, produzindo uma resposta máxima. Já o THC também é um agonista parcial, causando uma resposta menor do que o endocanabinoide.
- Diferente do THC, o 2-AG não causa efeitos psicoativos.
Já o canabidiol (CBD) — outra substância produzida pela planta com diversos efeitos terapêuticos — não se liga diretamente aos receptores. Em vez disso, ele pode influenciar o sistema endocanabinoide de indiretamente, inibindo a degradação e aumentando os níveis de endocanabinoides.
2-AG e os potenciais terapêuticos dos medicamentos à base de Cannabis
Entender como o 2-AG é liberado e transportado no corpo pode contribuir para o desenvolvimento de novos tratamentos para condições como dores crônicas, depressão, ansiedade, epilepsia e doenças neurodegenerativas. Com essas informações, pesquisadores têm um caminho mais claro para estudar como controlar a liberação dessa substância e produzir medicamentos que imitem ou aumentem sua ação no cérebro.
Além disso, ajuda a explicar com mais detalhes como o sistema endocanabinoide funciona e a aprofundar nossa compreensão sobre os tratamentos para a saúde com medicamentos à base de Cannabis. Alguns compostos produzidos pela planta podem ter ações similares ao 2-AG no corpo, embora nenhum seja uma cópia exata.
Nos tratamentos com medicamentos à base de Cannabis, o objetivo costuma ser equilibrar o sistema endocanabinoide, suprindo possíveis deficiências. Dessa forma, os canabinoides da planta contribuem para aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Como fazer um tratamento com medicamentos à base de Cannabis
Iniciar um tratamento para a saúde com medicamentos à base de Cannabis é simples: basta consultar um médico que seja experiente nesse tipo de abordagem. Na nossa plataforma de agendamento, você pode marcar uma consulta presencial ou por telemedicina com profissionais de diversas especialidades, todos preparados para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho.
Quer experimentar os benefícios da Cannabis para a saúde? Agende sua consulta com segurança e orientação profissional.

















