Nos últimos anos, casos como o da brasileira Carolina Arruda, que recebeu autorização judicial para cultivar Cannabis para uso no tratamento da neuralgia do trigêmeo, chamaram atenção para essa condição de saúde. Conhecida como “a pior dor do mundo”, ela continua sendo um grande desafio clínico, pois as opções convencionais oferecem alívio insuficiente ou causam efeitos colaterais importantes.
Nesse contexto, um grupo de pesquisadores brasileiros publicou um estudo de caso descrevendo a recuperação surpreendente de uma paciente com neuralgia do trigêmeo tratada com uma combinação de canabidiol (CBD) e canabigerol (CBG), dois compostos da Cannabis.
O relato reforça um movimento crescente: o uso de medicamentos com canabinoides como uma alternativa promissora para dores neuropáticas de difícil controle.
Como surge a “pior dor do mundo”
A neuralgia do trigêmeo é um tipo de dor neuropática que afeta o nervo trigêmeo, responsável por transmitir sensações da face para o cérebro. Quando ocorre compressão, inflamação ou lesão, ele passa a enviar sinais exagerados de dor ao sistema nervoso central. O resultado são choques intensos, pontadas ou queimas repentinas, muitas vezes desencadeadas por ações simples como falar, escovar os dentes ou mastigar.
A condição pode surgir sem causa definida ou estar associada a outras doenças, como infecções virais ou esclerose múltipla. Por comprometer atividades básicas e a qualidade de vida, a busca por tratamentos mais eficazes é contínua.

Quando o tratamento convencional não basta
No estudo, pesquisadores da Unichristus e da Universidade Federal do Ceará acompanharam uma paciente que tinha 57 anos quando recebeu o diagnóstico de neuralgia do trigêmeo, em 2019. Na época, ela sentia dor intensa no lado esquerdo da face, com sensibilidade exagerada ao toque. O primeiro tratamento incluiu:
- Oxcarbazepina 300 mg duas vezes ao dia;
- Fotobiomodulação (laser de baixa intensidade aplicado na face e no couro cabeludo).
Durante quase dois anos, a dor ficou controlada. Mas, em 2021, o quadro mudou.
A paciente voltou ao consultório com lesões de herpes zoster acima dos olhos e dor mais intensa, agora chegando a 9 de 10 na escala visual de dor. A condição evoluiu para neuropatia pós-herpética, um tipo de dor crônica que pode persistir por meses ou anos após a reativação do vírus da catapora.
Novos tentativas terapêuticas foram testadas, entre elas:
- Aumento da oxcarbazepina para três vezes ao dia;
- Acyclovir (antiviral);
- Pregabalina 75 mg;
- Capsaicina com lidocaína;
Mesmo assim, a dor seguia alta e afetava o sono, o humor, a autonomia e as atividades diárias. Então, os médicos perceberam que era necessário tentar algo diferente.
A virada com a Cannabis
Em março de 2023, os médicos iniciaram uma abordagem complementar com medicamentos à base de Cannabis, usando duas formulações:
- CBD de espectro completo;
- CBG isolado.
Os óleos eram administrados por via sublingual, de acordo com a prescrição. O estudo, no entanto, não detalhou as doses exatas nem possíveis ajustes ao longo do tratamento.
Em apenas 15 dias, a paciente voltou ao consultório sem dor alguma. Isso permitiu:
- Suspender pregabalina;
- Suspender capsaicina;
- Reduzir oxcarbazepina;
- Encerrar as sessões de laser.
Além do desaparecimento da dor, a paciente relatou:
- Retorno às atividades diárias;
- Diminuição do nervosismo;
- Sono mais estável;
- Menos ansiedade;
Além disso, ela recebeu a primeira dose da vacina contra herpes zoster, reforçando a prevenção.
CBD + CBG: como essa combinação funciona

De acordo com o estudo, os efeitos nos sintomas da neuralgia do trigêmeo podem ser explicados pela interação entre os compostos da Cannabis e o sistema endocanabinoide. A combinação do CBD com CBG pode ter atuado de forma sinérgica, ajudando a estabilizar vias neurológicas hiperativas.
Canabidiol (CBD)
- Modula receptores envolvidos na transmissão da dor;
- Tem ação anti-inflamatória;
- Atua como antioxidante, oferecendo neuroproteção;
- Interage com receptores de serotonina, contribuindo para redução da ansiedade e melhora no bem-estar.
Canabigerol (CBG)
- Atua em vias de dor periféricas e centrais;
- Tem propriedades analgésicas e anti-inflamatórias;
Tratamento seguro com canabinoides
À medida que os estudos avançam, cientistas do mundo todo reconhecem a eficácia dos canabinoides no tratamento de dores causadas por lesões ou disfunções nos nervos. Nesse sentido, além da neuralgia do trigêmeo, pesquisas indicam que os compostos da Cannabis podem tratar outros tipos de dores neuropáticas, incluindo:
- Neuropatia associada a diabetes;
- Neuropatia pós-herpética;
- Neuropatia periférica induzida por quimioterapia.
Contudo, é importante ressaltar que o tratamento com derivados da Cannabis deve sempre ser acompanhado por um médico. O profissional deve analisar a condição do paciente para definir doses, formulações e monitorar possíveis interações com outras medicações.
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