Em 2015, o Brasil vivenciou um dos surtos mais devastadores de sua história recente, marcado pelo surgimento da Síndrome Congênita do Zika Vírus. Mais de 4,5 mil crianças nasceram com microcefalia, uma condição caracterizada pelo desenvolvimento anormal do cérebro, causada pela infecção do vírus durante a gestação. Esse surto gerou uma série de desafios médicos, científicos e sociais, que perduram até hoje.
Passados dez anos desde o pico da epidemia, as crianças que nasceram com microcefalia estão em diferentes estágios de vida, enfrentando diversas sequelas neurológicas. A evolução nos tratamentos é notável, com destaque para o uso de terapias inovadoras, como o Canabidiol (CBD), que tem mostrado resultados promissores no controle de convulsões e na melhora da coordenação motora.
Conversamos com o neurologista pediátrico Dr. Mauro Reis para entender como a medicina tem evoluído no tratamento das sequelas da Zika e o impacto desses avanços nas crianças afetadas. A seguir, a entrevista com o especialista, que acompanha de perto o desenvolvimento das crianças com a síndrome.
1. Quais são as principais sequelas neurológicas observadas nas crianças com a Síndrome Congênita do Zika?
“A Síndrome Congênita do Zika pode resultar em várias sequelas neurológicas, com a microcefalia sendo a mais visível. Além disso, muitas crianças desenvolvem epilepsia, espasticidade, distúrbios motores, paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento global e até deficiências intelectuais. Ao longo do tempo, também é possível observar alterações comportamentais, que se manifestam como dificuldades em socializar ou lidar com situações cotidianas.”
2. Quais são os maiores desafios no tratamento das sequelas do Zika?
“Um dos maiores desafios é lidar com as sequelas complexas, como a epilepsia e os distúrbios motores. O manejo dessas condições exige um tratamento multifatorial e um planejamento terapêutico contínuo. O tratamento deve ser individualizado, e o acompanhamento de profissionais diversos, como terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, é essencial para o desenvolvimento da criança.”
3. Quais são os tratamentos convencionais mais utilizados para as crianças com microcefalia e outras sequelas do Zika? E quais têm mostrado melhores resultados ao longo dos anos?
“Tradicionalmente, o tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar. Nos casos de epilepsia, utilizam-se medicamentos anticonvulsivantes, mas muitas crianças com crises refratárias não respondem bem às medicações convencionais. Nesse contexto, terapias como o uso de Canabidiol têm mostrado resultados promissores, principalmente na redução das convulsões e na melhora da qualidade de vida.”
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4. Estudos indicam uma redução importante das convulsões com o uso de CBD. Quais outras melhorias motoras têm sido observadas nesse tratamento?
“Além da redução significativa das convulsões, o CBD tem mostrado benefícios como a melhora na espasticidade e o aumento da interação social das crianças. Muitos pais relatam uma diminuição da irritabilidade e até uma melhora no controle motor, o que permite que as crianças consigam realizar movimentos mais coordenados. A eficácia do CBD é especialmente notável em crianças com crises refratárias, que não respondem aos tratamentos tradicionais.”
5. Qual a importância de uma abordagem interdisciplinar no cuidado dessas crianças?
“A abordagem interdisciplinar é fundamental para garantir que todas as necessidades da criança sejam atendidas. Cada criança com microcefalia pode apresentar desafios diferentes. O trabalho conjunto permite que possamos otimizar o desenvolvimento e proporcionar a melhor qualidade de vida possível para essas crianças.”
6. Após dez anos, quais lições a comunidade científica aprendeu sobre o tratamento das sequelas do Zika?
“Uma das lições mais importantes foi a relevância da estimulação precoce no desenvolvimento dessas crianças. A epilepsia continua sendo um dos maiores desafios, mas o acompanhamento neurofuncional intensivo tem mostrado grandes avanços, especialmente na qualidade de vida. A reabilitação, quando realizada de forma adequada e contínua, pode melhorar significativamente a vida dessas crianças.”
7. Quais são as principais orientações para os profissionais de saúde que acompanham essas crianças?
“É essencial que os profissionais de saúde estejam constantemente atualizados sobre as novas terapias e abordagens, já que as necessidades de cada criança podem ser muito específicas. O tratamento deve ser individualizado, respeitando as particularidades de cada paciente. Também é fundamental que os profissionais reconheçam a importância de uma abordagem integrada, com o envolvimento de diversos especialistas, para garantir o melhor acompanhamento e resultados para as crianças com sequelas do Zika.”
Casos reais
Dez anos após o surto de Zika, as crianças que nasceram com microcefalia e outras sequelas continuam enfrentando desafios, mas os avanços no tratamento oferecem novas esperanças. O uso de terapias como o canabidiol, combinado com uma abordagem interdisciplinar e o apoio contínuo de profissionais de saúde, tem permitido que muitas dessas crianças melhorem sua qualidade de vida e alcancem marcos importantes no seu desenvolvimento.
Cannabis medicinal uma alternativa para o tratamento de múltiplas condições, incluindo microcefalia
A Cannabis medicinal tem se mostrado uma opção eficaz no tratamento de condições neurológicas, como no caso de O.C., uma jovem de 16 anos com microcefalia, autismo, TDAH e deficiência intelectual. Após tentativas frustradas com tratamentos convencionais, a família decidiu utilizar a Cannabis em 2023, com resultados imediatos. A jovem apresentou redução significativa da ansiedade, maior estabilidade na rotina e até perdeu 20 kg, melhorando seu bem-estar físico e psicológico. O acompanhamento médico contínuo tem sido essencial para ajustar o tratamento e garantir os melhores resultados para sua qualidade de vida.
Tratamento com cannabis reduz convulsões e transforma a vida de Nicolas
Outro caso é o de Nicolas, que atualmente tem 12 anos e desde cedo foi diagnosticado com microcefalia, paralisia cerebral e epilepsia. Seus pais, Camila e Gabriel, lembram de um período difícil, com até 60 crises diárias. Contudo, após iniciar o tratamento com cannabis, Nicolas passou por uma transformação impressionante.
“Ele começou a mostrar um lado que não conhecíamos. Agora, ele corre, sorri e interage com as pessoas”, conta Gabriel.
Importante!
Para iniciar o tratamento com Cannabis, é essencial contar com a orientação de um médico, já que cada pessoa reage de maneira distinta. A escolha do tipo de produto e da dosagem ideal deve ser feita com base na análise detalhada da saúde de cada paciente.
De acordo com as regulamentações da Anvisa, os medicamentos à base de Cannabis devem ser prescritos por profissionais de saúde. Se você está pensando em seguir por esse caminho, agende uma consulta em nossa plataforma.