“A Cannabis não é cura, mas pode ser um aliado importante”, pontua logo no início da nossa conversa a Dra. Greyce Lousana, fundadora presidente executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica, a SBPPC, bióloga e médica veterinária.
E não podemos negar que, ainda bem, evoluímos. E neste ínterim, as pesquisas com Cannabis têm ganhado impulso no Brasil.
“Quando a gente fala em pesquisa científica temos que entender que há um processo. Especificamente com relação à Cannabis, as alegações de propriedade da Cannabis, elas existem há muito tempo, há séculos. Então a gente tá falando aqui de um produto que não é novo. Não é novo para o Brasil e muito menos para o mundo. O que acontece é que a globalização e os avanços da ciência têm caminhado muito nos últimos anos. Na minha compreensão, o avanço da ciência, independente de ser com Cannabis ou não, ela vem acontecendo nos últimos anos, porque as coisas mudaram, a inteligência artificial evidentemente acelera processos, existem coisas boas, existem coisas ruins, mas o crescimento era inevitável”, pontua a fundadora da SBPPC.
60 instituições de ciência e tecnologia no Brasil que já atuam na área da pesquisa com Cannabis
Segundo levantamento recente, há mais de 60 instituições de ciência e tecnologia no Brasil que já atuam na área da pesquisa com Cannabis, com destaque para universidades públicas e uma crescente participação do Nordeste, que rompe a hegemonia histórica do eixo Sul-Sudeste. As pesquisas se concentram, sobretudo, no desenvolvimento farmacêutico, nas análises químicas e nas aplicações terapêuticas.
Pesquisa com Cannabis na medicina veterinária
Mas, especialmente na medicina veterinária, a Dra. Greyce Lousana afirma que, embora haja evidências promissoras para condições como epilepsia, inflamação e dor, é preciso evitar promessas de cura e acelerar a criação de normas que permitam o produtos com rastreabilidade, dosagem específica por espécie e padrões de qualidade.
“Existe uma tendência promissora, mas precisamos avançar na comprovação científica, conduzindo estudos multissetoriais, bem desenhados, com diferentes grupos de tratamento e posologias definidas”, explica a presidente executiva da SBPPC, Dra. Greyce.
Segundo a Dra. Greyce, o caminho é a regulamentação sólida, cooperação entre MAPA, Anvisa e o setor público-privado, e uma visão responsável sobre as possibilidades da Cannabis na clínica veterinária.
Além do uso medicinal, vale ressaltar que o cânhamo, parte da planta de cannabis com teor de THC menor ou igual a 0,3% em peso seco (definição dos EUA), também têm valor nutricional, podendo ser incluído na dieta animal como fonte de proteína bruta e gorduras essenciais.
“Um ponto crítico para o futuro da Cannabis na medicina veterinária é a qualidade e a segurança dos produtos disponíveis no mercado. Sem regulamentação e fiscalização adequadas, a saúde dos animais pode ser comprometida”, avalia a especialista.
Imprescindível, porém aliada: a Cannabis para a saúde animal
Igualmente, a Dra. Lousana contextualiza que a Cannabis não é tema novo, mas que a ciência moderna tem acelerado a compreensão de seus compostos nas últimas quatro décadas. Ela ressalta a importância de dados de qualidade e de desenho experimental sólido para que estudos em veterinária possam dialogar com as exigências regulatórias e com a prática clínica.
“Quando você fala em epilepsia, você fala em algumas doenças de pele, alergias, de uma maneira geral. O uso de produtos à base de Cannabis, ele é promissor em vários tratamentos, mas a gente também tem que entender, por exemplo, animais que convulsionam. O uso da Cannabis é bastante importante, mas ele é muito importante muitas vezes como coadjuvante, não como tratamento de primeira linha”, pontua.
Desafios Regulatórios no Brasil
Quando o assunto é registro de produtos à base de Cannabis para a saúde animal, a fala da Dra. Lousana se volta para três pilares centrais: rastreabilidade, origem e posologia por espécie. “Um dos grandes entraves é a rastreabilidade da cadeia produtiva e a necessidade de indicação e dosagem específicas para cada espécie, o que dificulta a certificação regulatória”, afirma.
Ela também aponta a necessidade de alinhamento entre agências reguladoras: MAPA, responsável pela parte agrícola, e Anvisa, pela inovação farmacêutica e saúde. “A cooperação entre esses órgãos, com participação de universidades e indústria, é essencial para padronizar produtos e facilitar o caminho”, diz.
Outro ponto salientado pela especialista é a necessidade de uma parceria robusta entre o setor público, privado e reguladores. A Dra. Greyce enfatiza que, para que haja avanço real, é crucial investir em “padronização de produtos e procedimentos para facilitar registros” e criar um ambiente onde a pesquisa clínica possa subsidiar as decisões regulatórias.
Para ela, hospitais veterinários e universidades devem incorporar pesquisas clínicas com conformidade regulatória para embasar o registro de novos produtos.
“Há a importância dos hospitais veterinários conduzirem pesquisa na área da medicina veterinária, quer seja com Cannabis, quer seja com outro produto. Há um papel no sentido de dizer: vamos usar, vamos usar a Cannabis, mas vamos usar com a certeza de que nós não seremos alvo de críticas”.
Crescimento da pesquisa no Brasil com Cannabis tem apoio da SBPPC
O otimismo é visível quando a Dra. Greyce comenta o crescimento do ecossistema de pesquisa sobre Cannabis no Brasil. “Está aumentando o número de instituições envolvidas, e isso deve acelerar os avanços se houver compatibilidade regulatória”, afirma.
A Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC) é uma entidade civil de finalidade não lucrativa, idealizada e fundada em junho de 1999 por um grupo de profissionais atuantes na área de pesquisa clínica. A iniciativa surgiu a partir da ideia e determinação da própria Dra. Greyce e foi a primeira associação brasileira a se preocupar com todos os profissionais que participam, direta ou indiretamente, do processo de condução de pesquisa clínica com foco na saúde humana e na saúde animal. Entre seus objetivos estão a integração dos diferentes profissionais do setor e a divulgação do tema “pesquisa clínica” para a população leiga.
Em suas atividades diárias a SBPPC procura manter uma constante e permanente troca de informações entre as iniciativas pública e privada, instituições de ensino e pesquisa, instâncias governamentais, pesquisadores e demais interessados no tema. Os membros da diretoria, conselho consultivo e comissões técnicas de assessoramento, trabalham para promover ações de interesse de seus associados e profissionais da área.
O recado é claro: o potencial do Brasil de Cannabis, especialmente na área da saúde animal, depende da construção de uma ponte entre ciência, regulamentação e prática clínica. Se depender da SBPPC, vai acontecer com seriedade e rigor científico.
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