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Mielopatia associada ao HTLV-1 e os canabinoides como aliados no enfrentamento da condição

Mielopatia associada ao HTLV-1 e os canabinoides como aliados no enfrentamento da condição

O neurologista Dr. Marcos Prandine compartilha sua visão sobre o potencial terapêutico dos canabinoides no tratamento da mielopatia associada ao HTLV-1 (HAM/TSP), condição neuroinflamatória que afeta a medula espinhal e leva à disfunção motora progressiva, dor crônica e outros comprometimentos neurológicos

Publicado em

14 de maio de 2025

• Revisado por

Jornalista e pós-graduada em Filosofia e Literatura, com 13 anos de experiência em comunicação, conteúdo e estratégias digitais. Atuou como repórter, redatora, roteirista, ghost writer e head de conteúdo. Especialista em Thought Leadership e storytelling, acredita no poder das narrativas para conectar pessoas e ideias.

Em meio ao avanço silencioso e incapacitante da mielopatia associada ao HTLV-1 (HAM/TSP), uma condição neurológica inflamatória ainda cercada de lacunas clínicas, um novo estudo traz evidências promissoras sobre o papel dos canabinoides na modulação dessa doença.

A pesquisa, publicada na Multiple Sclerosis and Related Disorders por cientistas da Universidade de Ciências Médicas de Mashhad, no Irã, aponta que os receptores CB1R e CB2R — já amplamente estudados em patologias neurodegenerativas — podem exercer influência direta na resposta do organismo ao HTLV-1.

Mais do que aliviar sintomas, os dados sugerem que esses receptores estão envolvidos em mecanismos de proteção neurológica e imunológica, especialmente entre portadores assintomáticos do vírus. A constatação abre espaço para uma discussão clínica: a Cannabis não apenas como ferramenta paliativa, mas como potencial agente modificador da progressão da HAM/TSP.

Mielopatia associada ao HTLV-1: uma doença esquecida, com impactos profundos

A HAM/TSP afeta principalmente a medula espinhal na altura torácica, provocando rigidez muscular, dor crônica, alterações motoras e sensoriais progressivas. Não há cura. E até hoje, não há um tratamento capaz de conter seu avanço de forma consistente.

É uma condição inexorável, e os recursos terapêuticos atuais ainda são insuficientes diante da agressividade do quadro clínico”afirma o neurologista Dr. Marcos Prandine. Ele acrescenta: “O maior desafio terapêutico é controlar a espasticidade sem piorar a função motora residual.”

Com o tempo, os pacientes sofrem uma deterioração funcional severa. Passam a ter dificuldade para andar, perdem a noção da posição do próprio corpo, apresentam alterações no controle dos esfíncteres e sentem dor contínua — que, frequentemente, atinge os níveis mais altos nas escalas clínicas de dor neuropática.

HAM/TSP não é esclerose múltipla — mas há pontos de contato terapêutico

Apesar de algumas comparações recorrentes na literatura médica, a mielopatia associada ao HTLV-1 (HAM/TSP) e a esclerose múltipla são condições profundamente distintas — tanto na origem quanto na progressão clínica.

A primeira tem um componente infeccioso claro: trata-se de uma complicação neurológica causada pela infecção pelo retrovírus HTLV-1. Já a esclerose múltipla é uma doença autoimune, em que o próprio sistema imunológico ataca a bainha de mielina dos neurônios.

“A comparação só faz sentido até certo ponto”, esclarece o neurologista. “A HAM/TSP é uma doença de base viral, com um processo inflamatório desencadeado por um agente externo. Já a esclerose múltipla tem uma origem degenerativa autoimune, sem nenhum vírus por trás.

No entanto, Prandine explica que, sob o ponto de vista neurofuncional — que busca entender os mecanismos fisiopatológicos por trás dos sintomas, e não apenas classificações clínicas —, algumas similaridades permitem paralelos terapêuticos.

“Ambas compartilham elementos como inflamação crônica, perda de neuroproteção e desorganização do sistema neurológico”, explica Prandine. “E é nesse nível que os canabinoides entram como possíveis aliados.”

A atuação do Sistema Endocanabinoide em doenças neuroinflamatórias vem sendo cada vez mais estudada, especialmente pelo impacto positivo na dor, espasticidade, sono e equilíbrio emocional. O estudo iraniano, citado no começo desta matéria, fortalece essa linha de investigação: ao analisar os receptores CB1R e CB2R em pacientes sintomáticos, portadores assintomáticos e indivíduos saudáveis, os autores identificaram níveis mais altos desses receptores no grupo assintomático — especialmente do CB2R, associado à modulação imunológica.

Essa descoberta sugere que a ativação desses receptores pode ajudar a reduzir a replicação viral e, potencialmente, retardar a progressão da HAM/TSP — uma hipótese que reforça o potencial da Cannabis não apenas como tratamento sintomático, mas também como uma estratégia com impacto sobre a fisiopatologia da doença.

Modulação, neuroproteção e alívio sintomático

A atuação do Sistema Endocanabinoide em quadros de neuroinflamação é cada vez mais compreendida como multifatorial: modula a dor, regula o tônus muscular, influencia a atividade imunológica e interfere diretamente na homeostase neuronal.Na prática, isso se traduz em benefícios em múltiplas frentes para pacientes com HAM/TSP. O Dr. Prandine explica:

Espasticidade e rigidez muscular

“A espasticidade e rigidez muscular são características muito comuns da HAM/TSP, e os canabinoides têm mostrado potencial para reduzir a hiperatividade dos neurônios motores, ajudando a aliviar os espasmos involuntários, que são uma das principais causas de dor e perda funcional para os pacientes” explica.

Dor neuropática

Com a destruição progressiva das fibras nervosas, o sistema de modulação da dor entra em colapso. Os canabinoides atuam justamente nos canais disfuncionais dessa via. “A dor neuropática é uma das manifestações mais desafiadoras da HAM/TSP. A Cannabis pode ajudar ao atuar diretamente nos canais envolvidos na modulação da dor, fornecendo alívio importante para o paciente.”

Equilíbrio emocional e sono

A instabilidade emocional causada pela dor crônica e pelas limitações físicas tende a ser agravada por distúrbios do sono. Compostos como o CBD ajudam a regular os ciclos de sono-vigília e reduzem a ansiedade — elementos fundamentais em doenças progressivas. Nesse sentindo, o neurologista destaca: “é importante não apenas tratar a dor, mas também a questão emocional. O CBD tem mostrado eficácia na redução da ansiedade e na melhoria da qualidade do sono, algo essencial para pacientes com doenças progressivas como a HAM/TSP.”

Entre a evidência e o protocolo

Ainda que os resultados sejam promissores, a inclusão da Cannabis nos protocolos de tratamento da HAM/TSP exige cautela, validação clínica e diretrizes claras. O uso médico de canabinoides — ainda incipiente para doenças raras — esbarra em barreiras regulatórias e falta de conhecimento entre profissionais de saúde.

Dr. Prandine enfatiza:

“Embora as evidências iniciais sejam bastante promissoras, a Cannabis ainda é um tratamento emergente, especialmente para doenças raras como a HAM/TSP. Isso significa que é preciso cautela, tanto na aceitação clínica quanto na regulamentação. Existe uma falta de protocolos claros e um desconhecimento considerável por parte de muitos profissionais da saúde. A progressão para um uso mais amplo e seguro depende de mais estudos clínicos e da validação dessas terapias dentro de um sistema regulatório mais robusto.”

No entanto, os argumentos técnicos se acumulam. “Há um movimento claro, baseado em evidências, que indica que os canabinoides não são apenas coadjuvantes: eles podem, de fato, desempenhar um papel central no controle de doenças complexas, inclusive aquelas de origem viral e autoimune”, afirma o Dr. Prandine.

Importante!

No Brasil, o uso de medicamentos à base de canabinoides é permitido, desde que seja prescrito por profissionais qualificados e realizado sob acompanhamento adequado. Por isso, é fundamental contar com médicos especializados, que poderão avaliar seu caso e oferecer as melhores orientações.

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