Embora tenham semelhanças estruturais e nomes quase idênticos, ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) e tetrahidrocanabivarina (THCV) apresentam propriedades farmacológicas distintas. Ambos atuam no sistema endocanabinoide, mas produzem efeitos diferentes no organismo e na percepção.
Para compreender melhor como o THC e THCV interagem, pesquisadores canadenses conduziram um estudo com animais. Os resultados indicam que a relação entre esses canabinoides é mais complexa do que se pensava.
As diferenças entre THC e THCV
O THC é o principal composto psicoativo da Cannabis. Por ter alta afinidade aos receptores CB1 do sistema endocanabinoide, ele pode gerar efeitos como alteração da percepção, euforia, aumento do apetite e modulação da dor. Por isso, ele é estudado e utilizado como complemento terapêutico em condições como:
- Dor crônica
- Náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia
- Espasticidade
- Perda de apetite

Estrutura do THCV e do THC.
Já o THCV é um canabinoide considerado promissor e ainda pouco explorado. Encontrado em baixas concentrações em algumas variedades de Cannabis, estudos em animais e humanos sugerem ações relacionadas ao metabolismo e ao sistema nervoso central. Ele tem sido investigado principalmente para:
- Controle de apetite (efeito anorexígeno)
- Redução dos níveis de glicose
- Regulação do humor (efeito ansiolítico)
Estudos anteriores já apontavam que o THCV pode modular alguns efeitos do THC, especialmente quando usados em conjunto. Para aprofundar essa relação, o estudo canadense utilizou o método de discriminação de drogas, que identifica os efeitos subjetivos que cada substâncias provoca no comportamento.
Como os cientistas testaram os efeitos
O modelo de discriminação de drogas é amplamente utilizado porque o comportamento dos ratos costuma refletir bem o que humanos relatam sobre os efeitos psicoativos, incluindo os provocados pelo THC. Na primeira etapa, os animais são treinados a apertar uma alavanca e receber comida após a administração do canabinoide. Em seguida, os pesquisadores testaram o THCV em diferentes doses para observar como o comportamento muda.
Os resultados mostraram um padrão que os cientistas chamaram de “U invertido”:
- Em dose moderada (3 mg/kg), o THCV gerou efeitos parcialmente semelhantes aos do THC
- Em doses menores ou maiores, esses efeitos diminuíram ou desapareceram
Esse padrão reforça que o THC e o THCV têm interações dependentes da dose. Além disso, os dados sugerem que o THCV poderia se ligar parcialmente com os receptores CB1.

Quando THC e THCV atuam juntos
Em seguida, os pesquisadores investigaram o efeito da administração conjunta dos compostos. Os dados mostraram que, quando o THCV foi aplicado em dose alta (6 mg/kg) junto com THC em baixa dose, ele bloqueou o efeito psicoativo do THC.
Análises de sangue indicaram que as concentrações de THC e de seu metabólito ativo, 11-OH-THC, não mudaram na presença de THCV. Assim, os cientistas sugeriram que a interação entre os dois compostos ocorre diretamente nos receptores, e não por alterações metabólicas.
A dose muda tudo
Os resultados mostraram que o THCV apresenta um comportamento dose-dependente:
- Em doses moderadas, produz efeitos semelhantes aos do THC
- Em doses mais altas, reduz significativamente os efeitos do THC
Além disso, a dose que mais se aproximou dos efeitos do THC também aumentou a atividade física dos animais, o que pode indicar um efeito estimulante.
Tratamentos seguros com canabinoides
Os resultados do estudo indicam que a relação entre THC e THCV envolve mecanismos complexos, que variam de acordo com a dose e o contexto em que cada canabinoide é administrado. Essa compreensão é importante para profissionais de saúde que prescrevem compostos da Cannabis, especialmente para propor ajustes ao tratamento.
Para incluir medicamentos à base de Cannabis na sua rotina de cuidados, é necessário ter orientação médica. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige a prescrição para garantir a segurança dos tratamentos. Então, para iniciar um tratamento de forma responsável, acesse nossa plataforma de agendamento. Lá, você pode marcar uma consulta com médicos experientes na terapia com canabinoides.













