O chamado “efeito entourage” ocorre quando diferentes compostos da Cannabis atuam juntos, potencializando seus efeitos terapêuticos — algo já observado em casos como dor crônica, epilepsia e ansiedade. Agora, pela primeira vez, pesquisadores comprovaram que esse fenômeno também acontece na pele.
Em estudo publicado recentemente na revista Pharmaceuticals, cientistas italianos demonstraram que o extrato completo da planta Cannabis teve melhor desempenho na redução de inflamações cutâneas do que o canabidiol (CBD) isolado.
No laboratório, os cientistas notaram que a combinação natural de compostos — como canabinoides, flavonoides e outros —foi mais eficaz do que cada substância isoladamente.
Esses dados abrem caminho para o uso mais eficaz da Cannabis em produtos dermatológicos e cosméticos, reforçando a importância de extratos padronizados que preservem a complexidade química da planta.
Entendendo o “efeito entourage”
O conceito do “efeito entourage” (ou “efeito comitiva”, em tradução livre) foi proposto pela primeira vez pelo químico Raphael Mechoulam e sua equipe. Considerado o “pai da pesquisa em Cannabis”, Mechoulam foi pioneiro na identificação da estrutura do CBD e da anandamida.
Embora a ideia de que os componentes de uma planta trabalham em sinergia seja antiga na fitoterapia, a equipe de Mechoulam foi a primeira a aplicá-la de forma sistemática à Cannabis.
Em outras palavras, os compostos da Cannabis funcionam como instrumentos em uma orquestra: sozinhos podem soar incompletos, mas juntos criam uma sinfonia terapêutica equilibrada.
Por isso, os extratos de Cannabis full spectrum — que contêm todos os compostos da planta — podem ser mais eficazes para fins terapêuticos do que produtos à base de extratos broad spectrum ou compostos isolados.
Testes com extrato full spectrum em células da pele
O estudo testou um extrato padronizado de Cannabis, que continha 5% de CBD e menos de 0,2% de ∆9-tetrahidrocanabinol (THC). O objetivo era observar se esse extrato conseguiria reduzir a inflamação em culturas de queratinócitos — células que formam a camada mais externa da pele.
Quando a pele fica irritada — como acontece em casos de psoríase ou acne — os queratinócitos liberam substâncias inflamatórias. Esse mecanismo ajuda a defender o corpo, mas, se desregulado, pode causar sintomas como coceira, vermelhidão e desconforto.
Os pesquisadores observaram que o extrato foi capaz de reduzir significativamente a produção de interleucina-8 (IL-8), uma citocina inflamatória liberada pelos queratinócitos, e de NF-κB, um dos principais reguladores da resposta inflamatória.
Como o “efeito entourage” foi observado na pele
Em seguida, os cientistas fracionaram o extrato em partes para entender melhor quais os grupos de compostos estavam causando os efeitos.
Quando testado isoladamente, o CBD realmente reduziu a atividade inflamatória. Porém, outros compostos como o canabigerol (CBG) também mostraram um efeito poderoso, às vezes mais forte do que o do CBD. No entanto, a mistura de compostos isolados (como CBD, CBG e THC) não foi tão eficaz quanto o extrato da planta inteira. Isso sugere que separar esses compostos pode fazer a sinergia se perder.
Os terpenos — compostos responsáveis pelo sabor e aroma da planta — também passaram por testes, porém não mostraram efeito anti-inflamatório relevante, mesmo em altas doses.
Já os flavonoides da Cannabis, especialmente as canaflavinas, parecem contribuir de forma importante para os efeitos observados.
Policosanóis: compostos promissores para a pele
O estudo também destacou a presença de um grupo pouco conhecido de compostos chamados policosanóis. São álcoois de cadeia longa com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, capazes de modular o estresse oxidativo na pele.
Apesar de ainda serem pouco estudados, os pesquisadores apontam que esses compostos podem contribuir para os bons resultados observados com o extrato.
Pomadas e cremes com Cannabis mais eficazes
Esse tipo de pesquisa é importante para o desenvolvimento de cosméticos e medicamentos dermatológicos à base de Cannabis. Produtos com aplicação local — como pomadas e cremes — se beneficiam do uso da planta por atuarem diretamente na área afetada, sem causar os efeitos sistêmicos da ingestão oral.
Estudos anteriores já destacavam as propriedades cicatrizantes do CBD na pele, especialmente pela capacidade de reduzir inflamações, combater o estresse oxidativo e inibir a proliferação de bactérias.
Ao confirmar a ocorrência do “efeito entourage” na pele, os pesquisadores italianos abrem caminho para o desenvolvimento de produtos tópicos mais eficazes e personalizados.
Como iniciar um tratamento dermatológico com Cannabis
A pesquisa sobre o uso tópico da Cannabis para condições dermatológicas tem crescido nos últimos anos, impulsionada pelo entendimento do sistema endocanabinoide presente na pele. Os medicamentos à base de canabinoides têm mostrado potencial para tratar:
- Dermatite atópica (eczema)
- Psoríase
- Acne
- Epidermólise bolhosa
- Dor e inflamação
No entanto, é importante destacar que o uso de medicamentos à base de Cannabis para tratar condições dermatológicas deve ser feito com o acompanhamento de um dermatologista experiente nesse tipo de tratamento.
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