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Diretor médico da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla afirma que Cannabis tem “papel interessante no tratamento da condição”

Diretor médico da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla afirma que Cannabis tem “papel interessante no tratamento da condição”

Conversamos com o Dr. Guilherme Sciascia do Olival, Neurologista e Neurocientista, e também Diretor médico da  Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a ABEM.

Publicado em

16 de maio de 2025

• Revisado por

Fala, escreve e pesquisa sobre Cannabis, saúde e bem-estar. Mestre em Comunicação e Cultura, com passagem pela Unesco, já produziu milhares de histórias e conversas que mostram como a Cannabis transforma vidas. Mãe de dois, acredita em um mundo onde conhecimento e consciência caminham junto da planta.

dr.gui

Conscientizar, divulgar e esclarecer sobre a Esclerose Múltipla, suas terapias e melhores práticas em saúde, para pessoas com Esclerose Múltipla no Brasil”. Esta é uma das missões da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a ABEM, uma entidade beneficente, sem fins econômicos, fundada em 1984. 

Conversamos com o médico Guilherme Sciascia do Olival, Neurologista e Neurocientista, e também Diretor médico desta associação, para entender de que maneira a entidade observa a utilização da Cannabis em tratamentos para a esclerose múltipla.

O médico destacou que, até pouco tempo atrás, o uso da Cannabis era praticamente ignorado pela ciência, apesar de seu potencial.

“Uma das coisas que me deixa muito curioso é como que nós, médicos, permanecemos cegos aos efeitos medicamentosos dessa substância, a Cannabis, por tanto tempo. Uma substância tão presente na sociedade, no primeiro momento como uso recreacional. E aí, realmente, a ciência permaneceu cega a isso”, pontua Dr. Guilherme.

Segundo o profissional, existem razões “muito mais políticas ou sociais do que técnicas científicas propriamente ditas” sobre o gap de estudos e usos da Cannabis medicinal em diferentes tratamentos de saúde, incluindo a esclerose múltipla.

CBD e THC para a Esclerose Múltipla

Nesse contexto, o profissional destaca que o uso da Cannabis medicinal – especialmente do CBD e do THC – passou a ser incluído em pesquisas clínicas recentemente e que há uma movimentação brasileira, e internacional, neste sentido.

“Tenho observado uma crescente no conhecimento sobre Cannabis medicinal nos últimos anos, como não tivemos nos últimos 100 anos, de 3 anos para cá, o que a gente não aprendeu em 100 anos de uso dessa substância. E temos receptores endocanabinoides em todos os sistemas do nosso organismo”, observa.

Além disso, no caso da esclerose múltipla, o Dr. Guilherme está de acordo com o fato de que pacientes e médicos relatam benefícios potenciais na redução de espasmos musculares, melhora do sono e alívio da dor em quem tem a condição. E que o alívio destes sintomas pode, de fato, promover maior qualidade de vida.

Papel da Cannabis Medicinal no alívio dos sintomas da Esclerose Múltipla

Conforme Dr. Guilherme observa, quando se fala em tratamentos modernos para esclerose múltipla, o tema da Cannabis medicinal sempre desperta debates na comunidade médica e entre pacientes. Em sua visão de um profissional que acompanha de perto a evolução dessas terapias, está claro que a Cannabis ocupa hoje uma posição de apoio, mais focada no alívio dos sintomas do que no combate direto à doença em si.

“Minha opinião é que os medicamentos à base de Cannabis devem ser colocados ainda como algo sintomático para esclerose múltipla. Por exemplo, sintomas de dor crônica, sintomas de ansiedade, sintomas de insônia e principalmente, o principal sintoma que sempre foi estudado na esclerose múltipla, é algo chamado de espasticidade, que é uma rigidez muscular anômala e cujo os medicamentos à base de Cannabis são extremamente potentes e com muitas vezes menos efeitos colaterais do que qualquer outro remédio”.

Ou seja, ainda segundo seu relato, o papel primordial da Cannabis ainda é proporcionar uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes.

Perspectiva da ABEM sobre Cannabis medicinal

Mas de que maneira uma associação tão relevante do Brasil observa a crescente utilização da Cannabis em pacientes com EM? Vivenciando de perto a busca constante por alternativas terapêuticas que promovam qualidade de vida aos portadores de esclerose múltipla, Dr. Guilherme percebe que um dos maiores desafios reside justamente em filtrar e difundir informações que tenham real embasamento científico, levando em conta também relatos e experiências do cotidiano dos pacientes.

“A ABEM é uma associação de pacientes e tem um papel importante em filtrar informações, em avaliar o que tem embasamento do ponto de vista científico. A ABEM se posiciona favorável a qualquer tratamento que beneficia o paciente. A ABEM não tem nenhum posicionamento político ou viés comercial. A gente vai mostrar as opções e de alguma maneira disseminar o conhecimento de qualquer opção que tenha se mostrado efetiva e comprovada como tem sido a medicina endocanabinoide”, pontua.

Portanto, o papel da ABEM nesse cenário é de extrema responsabilidade: apoiar escolhas terapêuticas que realmente beneficiem o paciente, assegurando sempre um posicionamento neutro, livre de influências políticas ou comerciais.

“Temos um papel muito mais neutro nessa discussão, nosso objetivo é dar apoio aos pacientes, mas existe um olhar muito positivo por ser uma opção interessante. A gente sabe que não são para todos os pacientes, mas que em alguns casos pontuais, realmente, pode trazer uma melhora de qualidade de vida muito grande. E nesse sentido, a ABEM se posiciona favorável ao paciente sempre. Como uma associação, nosso papel muitas vezes é gerar informação, é filtrar o que é fake ou fato. E, dentro desse sentido, a Cannabis tem sido um medicamento que tem se posicionado cada vez mais como uma opção muito interessante, que ainda precisa receber mais pesquisas para a gente ter toda a profundidade do efeito, a especificidade, qual subtipo de extrato a gente deve utilizar, em qual situação, qual dose, para qual paciente”, observa.

Esclerose múltipla: o grande desafio ainda é o diagnóstico

Apesar desses avanços, outro desafio permanece: o diagnóstico precoce da esclerose múltipla. 

“A gente fez um levantamento recente na ABEM, que o tempo médio de diagnóstico de um paciente ainda fica entre 2 e 5 anos. E é o tempo mais precioso para que a gente comece o tratamento”, pontuou.

Trata-se de uma enfermidade que acomete aproximadamente 2,8 milhões de pessoas globalmente, com cerca de 40 mil brasileiros convivendo com a doença, segundo dados do Ministério da Saúde.

A esclerose múltipla é uma doença crônica e autoimune que afeta o sistema nervoso central, provocando sintomas como fadiga, dor muscular, espasmos, alterações de mobilidade e, em casos mais avançados, comprometimento motor acentuado. O tratamento tradicional busca controlar sintomas e retardar a progressão, mas muitos pacientes relatam limitações com os métodos convencionais.

Evolução no tratamento da esclerose múltipla

Dr. Guilherme contextualiza que nos últimos 15 anos, a condição passou por transformações notáveis no que diz respeito à forma de tratamento e ao prognóstico dos pacientes.

A perspectiva de 15 anos atrás era realmente de uma doença com um caráter e sequelas muito graves. Muitos pacientes evoluíram para cadeira de rodas ou para síndromes demenciais e realmente a gente teve uma revolução com medicamentos de eficácia muito maior e mais seguros do que a gente usava no passado. E isso trouxe uma perspectiva realmente de uma doença tratável, de uma condição que você consegue contornar. E, inclusive, alguns pacientes que podem permanecer assintomáticos. Não é a regra para todos. Mas é uma possibilidade que antes praticamente não havia”.

Portanto, o salto tecnológico e científico permitiu o desenvolvimento de novos medicamentos, muito mais eficazes e seguros do que aqueles que estavam disponíveis uma década e meia atrás.

A importância dos sinais de alerta da EM

Por fim, Dr. Guilherme ressalta que viver os sintomas neurológicos que surgem de forma sutil ou mesmo recorrente é, para muitos pacientes, o ponto de partida de uma longa jornada em busca de esclarecimentos.

Sinais como formigamentos em uma parte do corpo, fraqueza inesperada, distúrbios no equilíbrio ou até alterações visuais podem passar despercebidos ou ser confundidos com situações passageiras do dia a dia.

“Os principais sintomas da esclerose múltipla são formigamento em uma região do corpo, fraqueza em um membro, desequilíbrio ou alteração visual, mas são muitos outros sintomas. Nós temos sintomas, por exemplo, de fadiga, incontinência urinária, o sinal de Lhermitte, que é um choque na região da coluna”.

No entanto, quando esses sintomas persistem por mais de 24 horas, especialmente de modo recorrente, acende-se um verdadeiro sinal de alerta.

E, justamente esse alerta que pode determinar o futuro de quem tem a condição, já que a rapidez na investigação diagnóstica e no início do tratamento tem impacto direto na qualidade de vida e nos resultados a longo prazo. O tempo, nesse contexto, é precioso:

“Há uma janela de oportunidade. Os primeiros anos da doença, se você trata o paciente, trata corretamente, ele tem uma evolução muito superior. E se você atrasa, você pode perder essa oportunidade. E aí já ter uma sequela instaurada ou até mesmo, mesmo que você entre, se você entrar atrasado com tratamento, pode ser que o prognóstico já mude no futuro. E isso é bastante sério, bastante importante”, finaliza.

O que diz a ciência sobre Cannabis no tratamento da esclerose múltipla?

Portanto, podemos afirmar que a utilização da Cannabis para o tratamento da esclerose múltipla tem ganhado destaque no cenário científico, com estudos explorando seus potenciais benefícios no alívio de sintomas como dor e espasticidade.

Pesquisas indicam que terapias à base de Cannabis podem diminuir a percepção da espasticidade pelos pacientes, embora não reduzam necessariamente a rigidez muscular em si. Além disso, tal qual Dr. Guilherme explicou, alguns estudos apontam para efeitos positivos no alívio da dor neuropática. Embora os resultados possam variar entre os indivíduos.

Ensaios clínicos têm demonstrado a eficácia de medicamentos à base de Cannabis, na redução da intensidade da dor e dos distúrbios do sono em pacientes com esclerose múltipla

Este estudo de 2005, por exemplo, revelou que o extrato de Cannabis foi superior ao placebo na redução da dor e na melhoria do sono em pacientes com dor neuropática central associada à EM.

Adicionalmente, a pesquisa científica tem se aprofundado na compreensão dos mecanismos biológicos pelos quais a Cannabis exerce seus efeitos na esclerose múltipla. Estudos apontam para a interação dos canabinoides com o sistema endocanabinoide do corpo humano, que desempenha um papel crucial na regulação de funções como dor, humor e resposta muscular.

Acredita-se que a Cannabis possa ajudar a restaurar o equilíbrio afetado pela esclerose múltipla. E proporcionar alívio dos sintomas e melhora na qualidade de vida.

Leia mais:

Como iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis para esclerose múltipla

Para incluir medicamentos à base de Cannabis entre as diferentes abordagens para a esclerose múltipla, é fundamental ter a prescrição de um médico. Acessando nossa plataforma de agendamento, você tem centenas de médicos à disposição para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho.

Com o acompanhamento médico adequado, não só a vida do paciente ganha em qualidade, mas de todas as pessoas que vivem ao seu redor. Então, inicie o tratamento precoce para aumentar as chances de sucesso. Marque já uma consulta!

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