O Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, foi criado para conscientizar sobre os desafios que envolvem o bem-estar emocional e psicológico. A data também é uma oportunidade para discutir sobre novas possibilidades de tratamento para transtornos como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e outras condições que atingem milhões de pessoas.

Nos últimos anos, a ciência têm voltado o olhar para substâncias naturais com potencial terapêutico, capazes de auxiliar nos tratamentos. Entre elas, o canabidiol (CBD), composto da planta Cannabis, vem ganhando destaque por seus efeitos antidepressivos e ansiolíticos observados em estudos. Quando usado com acompanhamento médico, o CBD pode complementar abordagens convencionais e ajudar a aliviar sintomas associados à depressão e ao estresse crônico.

CBD e estresse: o que a ciência está buscando entender

Um estudo conduzido por pesquisadores da Tailândia investigou como o CBD age em um modelo de depressão induzida pelo estresse. Os animais receberam diferentes doses de CBD (10, 30 e 100 mg/kg), e os resultados foram comparados aos de grupos que receberam placebo ou o antidepressivo escitalopram, da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS).

O resultado foi animador: os cientistas observaram que o CBD reduziu comportamentos associados ao desespero e à falta de prazer em atividades cotidianas (anedonia). Esses efeitos foram especialmente marcantes na dose mais alta (100 mg/kg), que apresentou resultados semelhantes aos do escitalopram.

Mais que alívio: o CBD ajuda o cérebro a se reconstruir

Um dos resultados mais importantes do estudo foi que o canabidiol ajudou a restaurar a plasticidade sináptica no hipocampo, região do cérebro essencial para memória, aprendizado e controle das emoções, funções que costumam estar prejudicadas em pessoas com depressão associada ao estresse. Nesse sentido, o tratamento com CBD analisado pelos cientistas aumentou o número de conexões entre neurônios e fortaleceu sinapses.

Segundo os autores, enquanto o escitalopram melhorou o humor ao aumentar a disponibilidade de serotonina, o CBD parece ter um efeito mais amplo, estimulando a comunicação entre os neurônios e favorecendo o equilíbrio geral do cérebro.

O que acontece no cérebro quando o CBD entra em ação

Para os autores, os efeitos terapêuticos do canabidiol sobre a depressão relacionada ao estresse estariam ligados a uma combinação de ações químicas e moleculares que promovem o equilíbrio cerebral. O CBD interage com o sistema endocanabinoide, responsável por regular sono, memória e resposta ao estresse.

Ele atua inibindo a enzima FAAH, responsável por degradar a anandamida, um endocanabinoide conhecido como “molécula da felicidade”. Com isso, os níveis de anandamida aumentam, ajudando a equilibrar os sistemas GABA e glutamato, que controlam a comunicação entre os neurônios e influenciam o humor.

Além disso, o CBD estimulou a produção do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), essencial para a formação de novas conexões neurais. Esse mesmo efeito ocorre com antidepressivos convencionais, mas o CBD parece agir de forma mais rápida e direta sobre essa via biológica.

Esses mecanismos combinados (equilíbrio químico e estímulo à regeneração de neurônios) ajudam a explicar por que o CBD pode aliviar sintomas de depressão ligados ao estresse de maneira mais ampla.

Diferenças entre CBD e antidepressivos convencionais

O estudo também mostrou que, enquanto o escitalopram reduziu sintomas de depressão e estresse, apenas o CBD aumentou a força das sinapses no hipocampo. Isso indica que o canabinoide pode atuar de forma mais profunda sobre os circuitos neurais afetados pelo estresse crônico.

Além disso, os pesquisadores destacam que o canabidiol pode ser útil para pacientes que não respondem bem aos ISRSs ou sofrem com efeitos colaterais desses medicamentos, como náusea, insônia ou apatia emocional.

Um campo promissor, mas que exige cautela

Embora os resultados sejam promissores, os cientistas pontuam que a pesquisa foi feita em modelo experimental. Ainda são necessárias novas análises para confirmar a eficácia, segurança e as doses ideais de canabidiol no tratamento da depressão relacionada ao estresse crônico.

O uso de medicamentos à base de Cannabis deve sempre ocorrer sob orientação de um profissional da saúde como parte de um plano terapêutico que também inclua acompanhamento psicológico, atividade física, hábitos saudáveis e estratégias para lidar com o estresse no dia a dia.

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Se precisar, busque ajuda

A depressão é uma condição complexa, influenciada por fatores biológicos, emocionais e sociais. Por isso, o tratamento costuma envolver várias abordagens. Se você ou alguém próximo está passando por um momento de dificuldade emocional, não enfrente isso sozinho. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional gratuito e sigiloso. Basta ligar para o 188 (sem custo) ou procurar um posto de atendimento em sua cidade.