Atualmente, não existem medicamentos capazes de tratar os sintomas centrais do transtorno do espectro autista (TEA), como dificuldades de comunicação e interação social. Os fármacos disponíveis são usados, geralmente, para controlar sintomas associados, como irritabilidade, agitação, insônia e agressividade, causando efeitos colaterais importantes em muitos casos.
Diante dessas limitações, muitas famílias buscam alternativas terapêuticas. Entre elas, os produtos à base de Cannabis ganham destaque, especialmente aqueles ricos em canabidiol (CBD).
Nesse cenário, uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Neurociência Comportamental (LabNeC) da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), em parceria com cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de instituições da Itália e do Canadá trouxe novas evidências sobre o uso de CBD no autismo infantil.
Publicado na revista científica Clinical Neuropsychopharmacology, o trabalho avaliou a segurança e a viabilidade do uso de um óleo rico em CBD, inclusive em situações em que houve redução ou retirada de medicamentos psicotrópicos com acompanhamento médico. Ao todo, o estudo acompanhou 30 crianças entre 2 e 15 anos, ao longo de 24 meses.
A viabilidade e a segurança do CBD no TEA
De acordo com o pesquisador e coordenador do LabNeC, Rafael Mariano de Bitencourt, o principal objetivo do estudo foi investigar, de forma científica, uma prática já presente na vida de muitas famílias.

Rafael Mariano de Bitencourt coordena o LabNeC, na UNISUL | Foto: Divulgação
“A ciência precisa olhar para o que já acontece na vida real. Muitas famílias vêm utilizando produtos à base de CBD de forma empírica, e cabe à pesquisa investigar, de maneira ética e responsável, os potenciais benefícios e riscos dessas práticas.”
Quando a ciência investiga o que acontece na prática
No estudo, as crianças receberam diariamente um óleo rico em canabidiol, com uma proporção aproximada de 14,5 partes de CBD para 1 de tetrahidrocanabinol (THC). Parte dos participantes fazia uso de medicamentos antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos e estimulantes.
Ao longo do acompanhamento, 16 crianças conseguiram reduzir ou suspender pelo menos um medicamento, sempre com supervisão médica. As demais mantiveram o tratamento habitual ou não utilizavam fármacos. Nesse sentido, o foco da pesquisa foi avaliar se essa abordagem é viável e segura ao mesmo tempo.
Os benefícios do uso de CBD no autismo infantil
Com base em avaliações clínicas e questionários respondidos pelos pais, os pesquisadores observaram relatos de melhora em diferentes aspectos do desenvolvimento e do comportamento, como:
- Comunicação e linguagem;
- Sociabilidade;
- Comportamentos repetitivos;
- Irritabilidade e agitação;
- Atenção, hiperatividade e sono.
Esses benefícios surgiram progressivamente e foram observados tanto em crianças que reduziram medicamentos quanto nas que mantiveram o tratamento anterior.
Além disso, o óleo foi bem tolerado pela maioria dos participantes: cerca de 90% das crianças completaram o estudo. Os efeitos colaterais foram leves e transitórios, incluindo aumento do apetite, agitação leve e boca seca. Não houve diferenças relevantes entre os grupos.

Um caso que chamou a atenção dos pesquisadores
O médico e pesquisador Alysson Madruga de Liz, um dos autores do estudo, destacou que alguns casos chamaram especialmente a atenção da equipe.
“Dentre os casos, um dos mais notáveis envolveu um paciente pediátrico de 10 anos, com um quadro neuropsiquiátrico complexo e refratário. Ele fazia uso de altas doses de neurolépticos, como clorpromazina e risperidona.”
De acordo com o médico, após a introdução do CBD como tratamento adjuvante, o paciente apresentou uma melhora clínica ampla:
“O paciente ficou mais calmo, apresentou redução importante da irritabilidade e aumento significativo da assiduidade escolar. Isso permitiu uma diminuição de praticamente 100% das medicações neurolépticas.
Os sintomas que mais melhoraram foram a agitação psicomotora e a irritabilidade. Além disso, observamos um impacto positivo na saúde mental dos pais.”
Menos estresse para as famílias
Um dos achados mais consistentes do estudo foi a redução do estresse parental. Questionários aplicados aos cuidadores mostraram que, à medida que os sintomas das crianças diminuíam e o uso de medicamentos era reduzido, o impacto emocional sobre as famílias também caía.
Para os pesquisadores, esse é um ponto central. O cuidado de crianças com autismo costuma exigir grande dedicação física e emocional, especialmente quando há múltiplas comorbidades. Segundo Alysson de Liz, alguns perfis podem se beneficiar mais:
“É possível que os pacientes que mais se beneficiem sejam os que manifestam múltiplas comorbidades neuropsiquiátricas, como déficit de atenção, ansiedade e transtorno alimentar restritivo.”
Um caminho para pesquisas futuras
Apesar dos resultados positivos, os autores ressaltam as limitações do trabalho. Por ser um estudo aberto, retrospectivo, sem grupo placebo e com número reduzido de participantes, não podemos estabelecer relações diretas de causa e efeito.
Ainda assim, os dados são importantes por oferecerem sinais concretos de segurança e viabilidade do uso de CBD no autismo infantil, um passo fundamental para orientar pesquisas futuras.
Nesse sentido, os pesquisadores defendem a realização de ensaios clínicos randomizados e controlados, com maior número de participantes, produtos padronizados e acompanhamento de longo prazo.
Uso medicinal da Cannabis exige acompanhamento médico
Se você ou alguém próximo deseja incluir medicamentos à base de Cannabis no tratamento, é fundamental ter acompanhamento médico. Além de garantir a segurança e os benefícios, essa é uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adquirir os produtos legalmente.
Então, acesse a nossa plataforma de agendamento e marque uma consulta presencial ou por telemedicina. Lá, você pode escolher entre médicos de diferentes especialidades, todos experientes nesse tipo de prescrição.













