Nos últimos anos, o termo “neurodivergentes” tem ganhado destaque ao descrever pessoas cujos cérebros funcionam de maneira diferente da maioria, incluindo condições como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro Autista (TEA), dislexia, entre outras. Essas formas de funcionamento cerebral levantam reflexões sobre diversidade cognitiva, inclusão de novas terapias como a Cannabis medicinal e modos de aprendizagem.
“Ainda tem muito preconceito com neurodigerventes, assim como na Cannabis medicinal. É necessário uma mobilização para levar informação às pessoas sobre a questão. São pessoas que funcionam muito bem, assim como eu”, pontua a médica Dra. Cinthia Valadão Santana, diagnosticada com TDAH e prescritora e estudiosa de Cannabis medicinal.
Veja a entrevista com a Dra. Cinthia
“A Cannabis está trazendo muita resposta positiva. Quando encaminho o paciente e ele volta, a cada 8 meses a 1 ano, observo qe a utilização da Cannabis para diminuir os prejuízos dos transtornos é muito positiva, com uma resposta muito boa. E, muitas vezes, fico encantada com o que vejo. Pesquisas mostram que a medicina integrativa tem trazido resultados e com baixos efeitos colaterais. Espero que o preconceito caia, pois as famílias ainda têm preconceitos por não conhecer”, completa a pedagoga e neuropsicopedagoga Samantha Oliveira, fundadora do projeto social “Lexia TDAH Amor de Mãe“.
Cannabis medicinal como aliada de terapias complementares
Portanto, ao mesmo tempo que cresce a conscientização sobre neurodivergentes, surgem abordagens terapêuticas inovadoras, como terapias e o uso medicinal da Cannabis, que pretende proporcionar a qualidade de vida de parte desse público e também dos seus familiares, principalmente no caso do TEA e do TDAH.
“O uso da Cannabis tem mostrado resultados significativos na melhoria da qualidade de vida de indivíduos neurodivergentes, aliviando tanto os sintomas quanto a dor emocional. É importante ressaltar que o tratamento deve ser combinado com outras terapias e medicamentos, quando necessário”, ressalta Dra. Cinthia.
A integração de terapias complementares aos tratamentos convencionais podem ser imprescindíveis. Abordagens como terapia ocupacional, terapia comportamental e práticas de relaxamento, incluindo mindfulness, podem oferecer suporte adicional aos pacientes.
“O primeiro passo é entender que esse cérebro tem um funcionamento diferente. A partir disso, é essencial para a vida dessa pessoa fazer terapia porque ela vai levar esse transtorno para o resto da vida. E as terapias vão fazer com que esse cérebro, ou seja esta pessoa, conheça estratégias melhores para ele se desenvolver na vida”, avalia Samantha.
As diversas opções de terapias disponíveis hoje vão além da simples redução dos sintomas, oferecendo um tratamento que aborda o bem-estar integral do indivíduo. Essas terapias, que incluem opções como a terapia cognitivo-comportamental, a terapia ocupacional e a terapia de grupo, são projetadas para atuar em múltiplos níveis, ajudando não apenas a aliviar as manifestações de distúrbios emocionais e comportamentais, mas também a aprimorar as habilidades sociais e emocionais dos pacientes.
“Não se trata de promover um “encaixe”, mas sim de buscar um alinhamento possível — natural, quando possível — entre o funcionamento cerebral neurodivergente e as condições que foram pré-estabelecidas para a vida típica. Nesse processo, a terapia atua no desenvolvimento de regulação emocional, organização, enfrentamento da procrastinação, autoestima, autonomia, atenção, e também no campo profissional e da formação. Para isso, é essencial que o profissional tenha preparo para trabalhar com uma abordagem que não patologize a experiência, mas ajude a pessoa a se posicionar com mais clareza dentro da sociedade”, explica a psicóloga Eneida Brasil Ferreira, que criou um grupo de estudos de TDAH em Fortaleza.
Através de técnicas específicas e personalizadas, os profissionais de saúde mental conseguem desenvolver um plano de tratamento que reconhece a singularidade de cada paciente, promovendo um cuidado holístico. Dessa forma, ao considerar as necessidades individuais, essas abordagens terapêuticas não apenas proporcionam alívio imediato, mas também cultivam um desenvolvimento contínuo das competências do paciente, resultando em uma melhoria significativa em sua qualidade de vida e em suas interações sociais.
“Hoje não podemos pensar em apenas uma estratégia para pessoas com TEA, pensamos neles inseridos na sociedade aqui na FADA, queremos incluir em ganhos e habilidades, como, por exemplo, o banho através de uma avalaiação específica de cada um. Temos psicomotricistas, com programas específicos para os mais novos. E depois mudamos conforme a idade, avançando de habilidades básicas para funcionais. Temos também academia funcional adaptada e protocolos, com oficinas, para parte de coordenação motora fina com uma profissional artista plástica. Temos módulos na fisioterapia também”, observa Edson dos Santos Telis, psicólogo da FADA (Fundação de Apoio e desenvolvimento do Autista).
A importância da informação sobre neurodivergentes e também sobre Cannabis medicinal
A disseminação de informações precisas e acessíveis sobre neurodivergência e o uso de Cannabis medicinal é fundamental para desestigmatizar essas questões e promover uma compreensão mais ampla das necessidades e desafios enfrentados por pessoas neurodivergentes.
Segundo Samantha a iniciativa de criar o grupo Lexia TDAH Amor de Mãe surgiu de sua experiência como mãe de duas crianças com dislexia e TDAH. “O projeto nasceu de uma falta de informação”, explica.
Quando seu filho Rodrigo começou a apresentar sinais de dificuldade, mesmo sendo educadora, ela não conseguiu identificar que se tratava de TDAH e dislexia. Após um período de dificuldades na escola, onde ele sofreu até ser diagnosticado, Samantha percebeu que muitas outras mães também enfrentavam essa dor e a falta de informações acessíveis.
Foi no contexto da pandemia que ela decidiu agir. Em 2020, Samantha lançou o projeto, realizando lives e cursos de forma gratuita, focando sempre na disseminação de informações científicas. “O maior objetivo do projeto é passar informações para quem precisa, de uma forma acessível”, afirma.
Com o mesmo objetivo de difundir informações sobre o TDAH, a psicóloga Eneida Brasil Ferreira, criou o grupo de estudos de TDAH em Fortaleza. “No grupo eu comecei a estudar sobre o TDAH para compreender melhor esse transtorno, a partir também de vários mitos e ideias falsas oriundas de propagações em redes sociais de pessoas que não entendem sobre o TDAH e que muitas vezes trazem uma ideia deturpada do que é o transtorno e criam uma ideia falsa, midiática, distorcida sobre o que é, e banalizam o transtorno”, pontua.
No contexto do autismo, Edson destaca a importância de conscientizar sobre a utilização de medicamentos à base de Cannabis em conjunto com tratamento convencional. Segundo sua experiência, o progresso é bastante expressivo em crianças com autismo no que se refere à linguagem expressiva, tanto na compreensão quanto na forma de se expressarem. Essa evolução é observada, normalmente, em crianças com idade média entre quatro e cinco anos, geralmente classificadas como tendo autismo nível dois.
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Cannabis e TDAH
Estudos têm sugerido que os canabinoides podem influenciar positivamente algumas disfunções neurais associadas ao TDAH. Por exemplo, uma pesquisa publicada na Journal of Psychiatry Research (2018) demonstrou que o uso de CBD pode atenuar os sintomas de hiperatividade e melhorar a atenção em modelos experimentais de TDAH. A modulação das vias dopaminérgicas pelo CBD é um dos possíveis mecanismos para esses resultados positivos.
Outro estudo, publicado na Frontiers in Pharmacology (2019), examina o uso de THC e sugere que ele pode trazer melhorias cognitivas em indivíduos diagnosticados com TDAH, promovendo um controle mais eficaz dos sintomas. A pesquisa indica que a Cannabis pode se apresentar como uma alternativa para aqueles que não obtêm os resultados desejados com tratamentos convencionais.
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Por fim, as profissionais fazem coro ao afirmar que o acompanhamento médico é imprescindível para pessoas neurodivergentes, especialmente na utilização de Cannabis medicinal, uma vez que essa abordagem pode apresentar variações significativas a de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.
Profissionais de saúde qualificados são essenciais para monitorar a resposta ao tratamento, ajustar dosagens e identificar potenciais efeitos colaterais. Além disso, o acompanhamento permite a integração de terapias complementares e convencionais de forma harmoniosa, garantindo um manejo mais eficaz dos sintomas e melhorando a qualidade de vida dos indivíduos.
“A relação entre paciente e médica próximos é um pilar fundamental na busca por soluções terapêuticas com Cannabis medicinal que realmente atendam às especificidades de cada pessoa neurodivergente”, finaliza Dra. Cinthia.
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Portanto, à medida que avançamos em direção a um futuro mais inclusivo, é necessário promover a compreensão e o respeito pela neurodiversidade. A luta contra a desinformação e o preconceito é um esforço coletivo que pode transformar a experiência de pessoas neurodivergentes e suas famílias.
A coragem de compartilhar suas histórias e motivações, como a de Samantha, de Eneida e a Dra. Cinthia, destaca a importância de disseminar informação acessível e acolhedora sobre TDAH, TEA e o uso medicinal da Cannabis. É por isso também o propósito do portal Cannabis & Saúde.
A ideia é inspirar uma geração a se impor e a buscar tratamentos que realmente façam diferença em suas vidas – como pode ser a Cannabis medicinal.
Juntos, podemos formar uma rede de apoio que empodera pessoas neurodivergentes a prosperar, fazendo com que a diversidade cognitiva seja reconhecida e respeitada.

















