Enquanto a COP30 mobiliza líderes em Belém para discutir o futuro climático do planeta, em São Paulo um outro tipo de transformação começa a ganhar corpo — e raízes. No Cannabis Business Hub, evento oficial da ExpoCannabis Brasil, empresários, investidores e representantes do poder público se reuniram nesta terça-feira (12) para discutir o avanço do mercado canábico e como ele começa a reposicionar o Brasil — não só na economia e na saúde, mas, sobretudo, na agenda ambiental.
Entre metas climáticas e novas economias, o cânhamo ganha espaço como ponte entre inovação e sustentabilidade
Entre os temas mais quentes, o cânhamo industrial se destacou como a grande aposta para um modelo produtivo mais sustentável, capaz de conectar inovação, transição verde e desenvolvimento nacional.
A coincidência de agendas entre a conferência climática internacional e a semana da ExpoCannabis – 14 a 16 de novembro, em São Paulo-, criou um pano de fundo simbólico: enquanto o mundo discute metas de descarbonização, o setor canábico brasileiro apresenta caminhos práticos para um futuro de baixo impacto ambiental — e alto valor econômico.
Na abertura do encontro, Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil, destacou a relevância do diálogo entre o setor produtivo e o poder público na construção desse cenário.
“A ideia é que possamos, aqui, promover conexões entre empresários e investidores interessados no setor, fortalecendo o mercado brasileiro”, disse.
Ela destacou o simbolismo da presença de representantes do poder público no encontro. “Quero agradecer às instituições públicas presentes neste evento. Isso representa um marco importante para a sociedade, ao vermos o Estado se interessando pelo tema da Cannabis”, afirmou, reforçando a importância de estreitar vínculos com essas entidades, que têm papel essencial no avanço do setor.
Dados da Kaya Mind revelam o peso econômico da nova fronteira verde
O evento contou uma apresentação da Kaya Mind, consultoria referência em inteligência de mercado, que trouxe dados sobre o avanço da Cannabis medicinal e o potencial produtivo do cânhamo no Brasil.
Segundo Maria Eugênia Riscala, o país está diante de uma oportunidade histórica. “O cânhamo é uma matéria-prima extremamente versátil, que pode ser aplicada em setores como moda, construção civil, alimentos e cosméticos. E o Brasil, com seu perfil agrícola e competitivo, tem tudo para se tornar referência nesse cultivo”, explicou.
Estudos da consultoria mostram que o mercado da Cannabis como um todo poderia movimentar até R$ 26 bilhões no país — o equivalente ao setor de detergentes e produtos de limpeza — e arrecadar cerca de R$ 8 bilhões em tributos.
Apenas o mercado de cânhamo industrial tem potencial de gerar R$ 4,5 bilhões e criar cerca de 226 mil empregos diretos. Já o segmento medicinal, que hoje movimenta R$ 850 milhões com 672 mil pacientes ativos, pode alcançar um potencial de R$ 9,5 bilhões, atendendo até 6,9 milhões de pessoas nos próximos anos.
“Temos um país agrícola e competitivo, com capacidade de incluir uma nova commodity sustentável, saudável e economicamente viável”, reforçou Maria Eugênia. “Conheço agrônomos que sonham em trabalhar com o cultivo de Cannabis e aguardam apenas a regulamentação.”
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Os dados reforçam o que ela descreve como uma “janela de oportunidade verde”. Um dado inédito da Kaya Mind revela que o cânhamo pode gerar um retorno líquido por hectare até 11 vezes maior que o da soja. No cultivo de flores voltadas ao CBD, o retorno chega a R$ 23.306,80/ha, enquanto a soja entrega R$ 2.053,34/ha e o milho R$ 3.398,34/ha.
Além da rentabilidade, o cânhamo desponta como um aliado ambiental poderoso. A planta demanda três vezes menos água que o algodão — cerca de 2.900 litros por quilo produzido — e tem capacidade de capturar entre 9 e 15 toneladas de CO₂ por hectare a cada ciclo. Pode ainda ser integrada a sistemas de rotação de culturas, regenerando o solo e reduzindo o uso de defensivos agrícolas.
A sobreposição entre as pautas ambiental e canábica deu o tom do encontro. O cânhamo — historicamente subestimado — ressurge como símbolo de uma nova economia, capaz de conectar agricultura, inovação e sustentabilidade.
Com a ExpoCannabis Brasil prestes a começar, entre os dias 14 e 16 de novembro, o debate iniciado no Cannabis Business Hub antecipa a tônica da feira: um setor que amadurece, se estrutura e busca ocupar espaço nas políticas públicas de saúde, meio ambiente e desenvolvimento econômico.
ExpoCannabis Brasil 2025
A terceira edição da ExpoCannabis Brasil acontece de 14 a 16 de novembro, no São Paulo Expo (SP). O evento, que vai das 11h às 21h, oferece palestras, workshops, experiências imersivas e uma feira com marcas nacionais e internacionais do setor medicinal, industrial e de bem-estar.
Local: São Paulo Expo – Rodovia dos Imigrantes, km 1,5 – São Paulo (SP)
Data e horário: 14 a 16 de novembro, das 11h às 21h













